Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

 

Novembro de 2011 - Vol.16 - Nº 11

História da Psiquiatria

FRAGMENTOS DA HISTORIA DA PSIQUIATRIA NO RIO GRANDE DO SUL

Walmor J. Piccinini

Nota introdutória.

Um assunto que tem ocupado minha atenção é o da Historia da Psiquiatria no Rio Grande do Sul. Como pode ser constatado na bibliografia deste artigo. Graças a Psiquiatria On Line e seu editor Giovanni Torello tenho publicado muitos artigos sobre esse tema. O atual, Fragmentos da História da Psiquiatria no Rio Grande do Sul me foi solicitado pelo Dr. Carlos Degrazia, editor de um número especial da Revista Amrigs, comemorando os 60 anos da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS). O Dr. Degrazia se mostrou um editor compenetrado e exigente. Recebi o convite em outubro de 2010, para ser publicado em outubro de 2011. Imaginei começar a escrever em março de 2011, mas após trinta dias começaram os telefonemas do Dr. Degrazia cobrando o artigo. Quando já estava numas 50 páginas ele me informa que eu teria oito a dez páginas para contar tudo que poderia ser contado sobre a história da psiquiatria nas terras do sul. No final aceitou que fossem dez páginas, isto tornou o artigo bem enxuto, sintético. Publicada a Revista, descobri que a tiragem seria limitada a 500 exemplares.  Considerando esse aspecto e mais o fato de que a Revista está excelente, resolvi republicar meu artigo na Psiquiatria On Line e facilitar o acesso a Revista em formato digital que está no site da AMRIGS (http://www.amrigs.com.br/revista/revista_historica.pdf).

 

Fragmentos da história da Psiquiatria no Rio Grande do Sul

 

Para entender a história da psiquiatria no Rio Grande do Sul, vamos estabelecer algumas relações com a história da especialidade.

 

Alguns historiadores costumam descrever três momentos revolucionários:

1 – Primeira revolução psiquiátrica: Philippe Pinel (1745-1826) e o Tratamento Moral cujo marco foi o lançamento do livro “Tratado

Médico-filosófico sobre a alienação mental ou a mania”, em 1801. (Traduzido e Editado pelo Simers e Editora da UFRGS). Neste mesmo

ano, o Rio Grande do Sul estabelecia seus limites territoriais. Pinel propôs o tratamento “moral” que consistia em usar de amabilidade,

firmeza, atenção às necessidades psicológicas e físicas, uma relação humanitária entre o paciente e aqueles que o cuidam; diversões sadias,

otimismo dependente do prognóstico dos pacientes alienados. Seu discípulo Esquirol (1772-1840) propôs que o local ideal para essa

recuperação era uma instituição semelhante aos monastérios e nasceu aí a idéia de isolar e recolher os insanos a instituições asilares. O

que parecia revolucionário naquele tempo era a noção que a doença mental podia ser causada pelas experiências de vida, corrigíveis num

ambiente físico e social adequados e que as doenças mentais não eram uma conseqüência natural e inevitável das lesões cerebrais. Nas

palavras do próprio Pinel. Eu, então, descobri que a loucura era curável, em muitos casos, por meio do tratamento e a atenção exclusiva

à mente, e, quando a coação era indispensável,esta poderia ser aplicada eficazmente sem indignidade corporal.

Este modelo chegou ao estado na segunda metade do século XIX, mais precisamente em 1884, com a inauguração do Hospício São

Pedro. Porto Alegre, na época, era uma cidade com cerca de 50.000 habitantes. O historiador Edson Cheuiche (1), do Serviço de Memória

Cultural do HSP vem realizando um paciente trabalho de coleta de informações sobre o Hospital Psiquiátrico São Pedro.

2 – Segunda revolução psiquiátrica: Freud e a influência da psicanálise sobre a psiquiatria.

No final do século 19 e albores do século 20 começaram a despontar os trabalhos de Sigmund Freud (1856-1939) que traziam uma

nova visão dos fenômenos mentais. Atribui-se a ele a Segunda Revolução da Psiquiatria. A idéia do inconsciente, repressão, associação

livre, concepção da mente, a teoria dos instintos,a importância da sexualidade, a influências das experiências infantis marcaram a psiquiatria,

a sociedade, a cultura. A psicanálise se desenvolveu no estado a partir de 1947 com a chegada de Mário Martins em Porto Alegre.

A ele seguiram-se José Lemmertz, Celestino Prunes e Cyro Martins que constituíram o núcleo inicial de formadores de analistas.

Atualmente existem três Sociedades (SPPA, SBPPA, Círculo Psicanalítico) filiadas à Associação Psicanalítica Internacional e alguns

outros Centros formadores. Essa pujança psicanalítica teve reconhecimento internacional com a eleição de um psicanalista gaúcho para

presidir a Associação Psicanalítica Internacional,o Dr. Cláudio Laks Eizirik, psicanalista da SPPA e professor da UFRGS.

3 – Terceira revolução psiquiátrica: Iniciava--se com descoberta da ação da Clorpromazina (França, 1952) a terceira revolução psiquiátrica

que viria a mudar o ambiente dos hospitais,contribuir para que muitos fossem desativados e surgimento de uma nova especialidade a psicofarmacologia.

Os chamados Psicofármacos determinaram o esvaziamento dos macro-hospitais. Antes deles, a penicilina tinha causado uma revolução nos hospitais psiquiátricos determinando

o fim da sífilis terciária, responsável pelos casos de Paralisia Geral Progressiva e a diminuição de quadros orgânicos cerebrais. Com os psicofármacos

os doentes ficavam mais colaborativos,menos destrutivos e mais acessíveis a outras formas de tratamento. Isso permitiu uma revolução

no atendimento hospitalar, surgiram novos hospitais, com destaque para a Clínica Pinel de Porto Alegre (março de 1960), fundada por

Marcelo Blaya que voltara de uma residência em psiquiatria nos EUA, na Clínica Menninger de Topeka, Kansas. Se partirmos da idéia de revoluções

psiquiátricas como momentos de grandes mudanças, temos que encarar outros momentos,também importantes, mas que apareceram como

reformas da psiquiatria. Algumas de dentro para fora e outras de fora para dentro.

Uma primeira reforma surgiu com o fracasso da proposta asilar: os psiquiatras do final do século XIX, reunidos em Paris em 1889,

passaram a propor uma alternativa ao asilo que seriam as Colônias, tentativa de utilizar uma estrutura mais simples que a hospitalar

e desenvolver trabalhos agrícolas com os enfermos.O Rio Grande do Sul também criou a sua, primeiro nas margens do Jacuí e depois

em Itapuã, anexa ao Leprosário.

 

No início do século XX, segundo as palavras de Luís Guedes, predominava a “tríade terapêutica magnífica”: isolamento, clinoterapia

e balneoterapia (“sedação mecânica ao sistema nervoso exacerbado, reparador de forças esgotadas”). Os recursos medicamentosos

eram pouco eficazes.

A partir dos anos 30 começaram a ser utilizados métodos intervencionistas, malarioterapia (1929), choque cardiazólico, choque insulínico, neurocirurgia

cerebral e eletrochoqueterapia. Com a entrada dos psicofármacos em 1956, esse modelo intervencionista foi sendo desativado, permaneceu

apenas o ECT, sofrendo uma barreira de críticas que tornaram seu uso muito restrito.

A psicanálise sob forma de psiquiatria psicodinâmica entrou no hospital. Difundiram-se os ambulatórios, o atendimento em consultórios,

a psiquiatria comunitária e o atendimento de massa pelo INAMPS.

Nos anos 90 começa uma nova Reforma, desta vez para acabar com o modelo de institucionalização e criação de uma rede de atendimento

que se antecipasse às hospitalizações e com o propósito de fechar os antigos hospitais.

Os problemas surgiram em seguida, não houve a criação de uma rede alternativa suficiente,fecharam-se os leitos e a população doente ficou

sem alternativa. Com a epidemia do Crack, todas as deficiências dessa reforma começaram a chamar a atenção. Agora temos uma situação

deveras complicada que vai exigir o estudo de um novo ou pelo menos de um melhor modelo de atendimento em saúde mental.

A necessidade de colocar os fatos mais significativos da história da psiquiatria no Rio Grande do Sul dentro das limitações naturais

de um artigo que não pode ser muito extenso exigiu uma abordagem objetiva e direta. Dentro desta premissa resolvemos estabelecer alguns

momentos significativos que são os seguintes:

1. De 1884 a 1957, a história da psiquiatria se mescla com a história do Hospital Psiquiátrico São Pedro.

2. De 1957 a 1984, na Divisão Melanie Klein do HPSP funciona o Curso de Formação em Psiquiatria ligado a Faculdade de Medicina da UFRGS. (organizado pelos

profs. David Zimmermann e Paulo Luiz Viana Guedes.)

3. A Psicanálise influencia o pensamento psiquiátrico.

Surge a Clínica Pinel de Porto Alegre (1960) revolucionando a maneira de se tratar o paciente psiquiátrico em nível hospitalar. É criada a Divisão Melanie

Klein do HPSP em 1961 até a transferência para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre em 1984. Jubilado da UFRGS David Zimmermann segue com seu curso de formação

de psiquiatras na Fundação Universitária Mário Martins.

4. Interiorização da psiquiatria, criação de novas faculdades de Medicina.

5. A pós-graduação em psiquiatria da UFRGS tornando a psiquiatria do Rio Grande do Sul uma das mais produtivas na formação de mestres e doutores com reconhecimento

nacional e internacional.

 

A história da psiquiatria no RGS segue as mesmas linhas da história mundial da psiquiatria.

Começa com a construção de um grande asilo para onde eram transferidos os doentes que tinham sido recolhidos às Santas Casas e às prisões ou os que eram mantidos restritos

pelas próprias famílias.

De asilo para hospital, o Hospício São Pedro, depois Hospital São Pedro, até os anos 50 foi o centro do atendimento psiquiátrico no

RGS. Inaugurado em 1884, até a proclamação da República foi administrado pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Com a proclamação da República, imediatamente passou

a ser administrado pelo Estado do RGS.

Seu primeiro diretor foi o Dr. Carlos Lisboa, (1859-1888). Formado no Rio de Janeiro veio trabalhar na sua terra. O Hospício São Pedro, como vimos, foi entregue para a Santa

Casa para ser por ela administrado. O escolhido para primeiro diretor foi esse jovem médico que recém chegara da capital da república.

Carlos Lisboa assumiu, mas ficou pouco tempo no cargo, de 1884 a 88: uma doença fulminante o vitimou na flor da idade; era clínico e estruturou o atendimento de acordo com esse

conhecimento, tendo falecido no cargo. Foi substituído pelo Dr. Olinto de Oliveira (1865-1956) tendo exercido sua funções de 1988 a 1989. Ele entregou o cargo ao Dr. Francisco

Dias de Castro que o ocupou de 1889 a 1901.

Foi substituído pelo Dr. Tristão de Oliveira Torres no período de 1902 a 1908. Logo depois, de 1908 a 1924, foi diretor o Dr. Dioclécio Sertório Pereira. Com o falecimento do

Dr. Dioclécio assumiu o hospício o Dr. José Carlos Ferreira. Em 1926 o Dr. Jacinto Godoy, que já era Diretor do Manicômio Judiciário,assume a Diretoria da Assistência a Alienados

que englobava os dois cargos de diretor, do manicômio e do HSP.

Existem vários livros e artigos sobre os primeiros anos do Hospício São Pedro, como os, de Yonissa Marmitt, e de Decio Soares de Souza relacionados na bibliografia.

Vamos mencionar alguns fatos menos explorados pelos historiadores. Um deles é que os diretores, depois que o hospício passou para o Estado, eram castilhistas e positivistas,

mas após, com Jacinto Godoy, borgistas e positivistas. Uma das consequências da influência política era uma relação distante da Faculdade de Medicina, que lutava contra os

positivistas devido a uma das normas da Constituição de 1891 que pregava a liberdade para a prática médica, não havendo exigência de diploma para o exercício da medicina (Orientação

positivista).

Nos relatórios dos diretores do hospício uma queixa era constante, a superlotação e o encaminhamento inadequado dos doentes mentais por parte da autoridade policial. Os

doentes vinham sem dados de identificação,sem acompanhamento de familiares e surgiram aí os “inominados”, pacientes sem identificação.

Se no século XX era a chefia de polícia que exigia a hospitalização, agora são os juízes que a exigem.

Em 15 de agosto de 1924 foi assinado o Decreto 3.356 que regulamentou à assistência a alienados determinando que fossem duas as instituições estaduais destinadas a assistência

aos alienados, o Hospital São Pedro e o Manicômio Judiciário do Rio Grande do Sul a ser criado (em 5 de outubro de 1925), e o mesmo decreto estabelecia a fiscalização do Estado

nas instituições particulares.

Até 1926, o Hospício São Pedro foi dirigido por clínicos ilustres, o último foi o Dr. Dioclécio Pereira que permaneceu 20 anos no cargo. Com a posse do Dr. Jacinto Godoy (Em

novembro de 1926, o Decreto 3704 extinguiu os cargos de Diretor do Hospício São Pedro e do Manicômio Judiciário do RGS e criou o cargo de Diretor da Assistência aos Alienados,

que foi ocupado pelo Dr. Jacinto Godoy), que vinha de estagio em Paris, no Serviço do Professor Pierre Marie. Finalmente o Hospício tinha na direção um neuropsiquiatra com

formação no exterior e que, segundo suas próprias palavras, transformou o hospício num hospital. Os ventos da política que abateram o ex-governador Borges de Medeiros em 1932,

determinaram a demissão de Jacinto Godoy do Hospital São Pedro. (Afastado do São Pedro, Jacinto Godoy fundou o Sanatório São José no Bairro da Glória). Assumiu no seu lugar

o Professor Luís José Guedes. Em 1937, com a nova constituição, ficou proibido o acúmulo de cargos federais e estaduais. O professor Luís Guedes optou pela Faculdade de Medicina

e isso deu nova oportunidade para o Dr. Jacinto Godoy que, reassumindo o hospital ficou até 1950 quando novas mudanças políticas determinaram sua demissão do cargo.

No ano de 1957 aconteceu uma crise entre o Governo Meneghetti e médicos do Hospital São Pedro que foi resolvida com a nomeação do Dr. Dyonelio Machado para a Direção do

Hospital.

Nesse mesmo ano foi criado no Hospital São Pedro o Curso de Formação em Psiquiatria da disciplina de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFRGS,

organizado pelos profs. David Zimmermann e Paulo Luiz Viana Guedes.

A partir dos anos 60 o hospital começou a receber os novos psiquiatras formados na Divisão Melanie Klein e alguns da Clínica Pinel. Munidos dos conhecimentos psicanalíticos

e com grande entusiasmo começaram a enfrentar os graves problemas do hospital,superpopulação, atendimento precário e abandono.

Uma das experiências marcantes foi a da setorização do hospital por área de proveniência dos pacientes, estabeleceram-se vínculos com as comunidades de origem, os familiares foram

contatados, os médicos da rede pública treinados, os médicos do São Pedro começaram a encaminhar seus egressos para ambulatórios em suas cidades de origem. Nesse

processo, o número de pacientes internados baixou de 5.000 para 1.200 num trabalho de quase dez anos. O diretor do hospital era o Dr.Hans Ingomar Schreen que deu andamento ao

plano organizado pela equipe de saúde mental da Secretaria da Saúde liderada pelo Dr. Carlos Gari Faria. Nesse mesmo período surgiram os ambulatórios como o do Murialdo sob a liderança

do Professor Ellis Busnello, a Central de Psiquiatria sob a chefia de Isacc Sprinz, o Serviço de Egressos liderado pelo Dr. Bernardo Brunstein. Estes dois últimos serviços estavam

sob a coordenadoria do INAMPS, sob a chefia do Dr. Paulo Juchem.

 

Enquanto em Porto Alegre, com a participação importante dos ex-alunos do Curso de Formação em Psiquiatria da UFRGS eram feitas estas reformulações, muitos psiquiatras começaram

a interiorizar a atenção psiquiátrica. O pernambucano Oswaldo Barbosa em Rio Grande, Denizard de Souza e Milton Shansis em Santa Maria, Darcy Abuchaim e Olivé Leite em Pelotas, Dr. Carlos Hechtheuer em Passo

Fundo, Antonio Bonalume em Caxias. Com a criação de Faculdades de Medicina muitos outros começaram a se fixar pelo interior e hoje já são em expressivo número.

Em 1984 o Curso de Formação em Psiquiatria foi transferido para o Hospital de Clínicas, logo em seguida o Professor David Zimmermann é jubilado e continua seu curso

na Fundação Mário Martins.

O Hospital São Pedro sofre um esvaziamento, a Clínica Pinel termina com sua formação em Psiquiatria, o Professor Manoel Albuquerque inicia a formação psiquiátrica no

Hospital São Lucas da PUC. O eixo do atendimento sai dos hospitais e centra-se em ambulatórios.

Nos anos 90, começa a desmontagem dos hospitais e o atendimento passa a ser feito através de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).

Somente em 2007, com a profícua administração de Luiz Ilafont Coronel e Gilberto Brofman, o Hospital Psiquiátrico retoma sua missão histórica de ser um Centro formador

de pessoal, e pioneirismo no enfrentamento da nova epidemia que se alastra entre nós, a epidemia do Crack.

Os primeiros diretores, como já referi, eram clínicos e procuravam dar a melhor assistência possível aos doentes. Depois deles tivemos o primeiro diretor com conhecimentos

de psiquiatria, o Dr. Jacintho Godoy Gomes (1926-32 e 1937-1950). No intervalo de 1932 a 37 o Dr. Luis Guedes foi o diretor.

Jacintho Godoy era corajoso; logo após a Primeira Guerra Mundial,em 1919, reuniu a família e viajou para a França em busca de conhecimento.

Seu interesse mais imediato era a Medicina Legal, mas logo derivou para a psiquiatria forense e finalmente a psiquiatria.

No seu retorno fundou o Manicômio Forense e terminou sendo nomeado diretor do Hospício São Pedro. Transformou o São Pedro de asilo

em hospital e introduziu na sua organização os conhecimentos e técnicas da psiquiatria francesa.

Colônias de Crônicos, Serviço Aberto de Profilaxia Mental (Posto Municipal de Psicopatas na Azenha) Laboratório de Patologia,

Curso de enfermagem Psiquiátrica e Colônia Agrícola na Chácara da Figueira (83 ha, área do Jardim Botânico). Como o próprio Jacintho

dizia, a história da psiquiatria está vinculada a outra história, a do Hospício São Pedro. O primeiro concurso para psiquiatras foi realizado

no HSP em 1938, sendo aprovados Luis Ciula,Mário Martins, Cyro Martins e Victor de Brito Velho. Nesse mesmo ano foi fundada a

Sociedade de Neurologia e Psiquiatria do Rio Grande do Sul.

 

No início do século funcionava em São Leopoldo o Sanatório Santa Elizabeth (1910).

Consta que os Drs. Luis Guedes e José Carlos Ferreira encaminhavam seus pacientes para lá.

Na época, São Leopoldo tinha dois importantes colégios, o de moças que era o São José e o de rapazes que era o Colégio Conceição. Eram

colégios para ricos, mas Jacintho Godoy que era pobre, se valeu de uma vantagem concedida ao melhor aluno, ganhar bolsa de estudos e

com isso pode estudar e se formar no Colégio Conceição.

A revolta constitucionalista de São Paulo em 1932 provocou muitas alterações nas hostes Borgistas do Estado. Borges de Medeiros

aderiu aos paulistas, foi derrotado por Flores da Cunha e seus seguidores perderam os cargos. Entre eles o intrépido Jacintho Godoy.

Nesse período de 1932 a 1937, sem muitas perspectivas, foi estimulado a abrir seu próprio hospital e acabou fundando o Sanatório

São José, na Glória.

No início do século os espíritas eram perseguidos e muitas vezes seus cultos eram tratados como caso de polícia. Aos poucos foram

se organizando em torno de atividades caritativas. Embora escrevam que sua história começou em 1912, foi em 1941 que o Hospital

Espírita foi inaugurado, lá em Teresópolis.

No interior do estado, em Pelotas, no ano de 1931 foi fundado o Sanatório Roxo, depois Sanatório Olivé Leite. Depois de longa história

fechou suas portas e hoje a Universidade Católica de Pelotas ocupa seu prédio. Registre-se que Manfred Sakel, de passagem para

Buenos Aires deu demonstrações do seu método em Pelotas, no Sanatório Roxo.

Em Pelotas, também, surgiu o Sanatório Espírita que é local de estágio das Faculdades de Medicina daquela cidade. Sua história está

marcada pela presença da família Abuchaim,liderada pelo Professor Darcy Abuchaim.

Em Santa Cruz tivemos a Casa de Saúde Bela Vista, depois Sanatório Kaempf, Casa de Saúde Vida Nova e agora, seguindo a nova situação

hospitalar em psiquiatria, é uma pousada.

 

Resumindo:

Período asilar: dirigido por clínicos (Carlos Lisboa – Dioclécio Pereira) até 1926.

Período hospitalar clássico; 1926-1932; 1937-1950 Jacinto Godoy,Luiz Guedes. (1932-37)

1925 – Fundação do manicômio judiciário, hoje IPF (Instituto Psiquiátrico Forense Dr. Maurício Cardoso).

1931 – Fundação do Sanatório Roxo em Pelotas, depois Clínica Olivé Leite

1938 – Primeiros psiquiatras por concurso público: Luiz Ciula, Mário Martins, Cyro Martins e

Victor de Brito Velho.

1938 – Fundação da Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul.

1947 – Mário Martins inicia a prática da psicanálise no RGS.

1957 – Primeiro Curso de Especialização em Clínica Psiquiátrica.

(Curso dos Profs. David Zimmermann e Paulo L.V. Guedes.

1958 – É criada a Divisão Melanie Klein, mas inicia suas atividades em 1961.

1959 – É fundado o Centro de Estudos Luis Guedes em 22.12.1959.

 

Congressos e Jornadas

Em 1962 é realizado o I Congresso Sul--Rio-grandense de Higiene e surgem as propostas de interiorização da assistência psiquiátrica.

Denizard de Souza apresentava estatísticas de internação da metade sul do Estado no período de 1958-61, aonde 2.964 pacientes vieram

para o HSP. Nesse mesmo Congresso, Marcelo Blaya apresenta um trabalho “A Unidade Psiquiátrica no Hospital Geral como Célula

da Assistência Psiquiátrica Hospitalar”. Apresenta um plano de criação de 25 unidades em Hospital Geral disseminadas pelo Estado do

RGS. Em 1965 a SS publica a Síntese do “Plano de expansão dos Serviços de Assistência Psiquiátrica do Estado do Rio Grande do Sul”.

Plano elaborado sob coordenação de Luiz Carlos Meneghini. Criava ambulatórios de saúde mental nas Unidades Sanitárias e Unidades

Psiquiátricas em Hospitais Gerais

Em 25 de outubro de 1969 era inaugurada em Santa Maria a Clínica Prof. Paulo Guedes com 20 leitos. Em 1972 era inaugurada em

Ana Rech outra clínica com o mesmo nome e com 100 leitos.

Em 1974 o Hospital Universitário Setor Psiquiátrico, da Universidade Federal de Santa Maria, abria uma unidade de internação com 20 leitos.

Em 1980, no interior do estado existiam 874 leitos (620 contratados pelo INAMPS (71%) e 254 particulares ou conveniados pelo Estado.

Existiam 29 psiquiatras atendendo INAMPS no interior do estado. (Luiz Antônio Pereira, 1980).

Em 1979 existiam no interior do estado nove hospitais para assistência psiquiátrica, 32 psiquiatras, sete residentes em psiquiatria, cinco enfermeiros

(dos quais, dois especializados), dois psicólogos, cinco assistentes sociais, 95 ATs (Auxiliar Psiquiátrico ou Atendente Psiquiátrico).

São tradicionais as Jornadas de Psiquiatria Dinâmica (abrangendo um total de 25 encontros), o Congresso da Associação Psiquiátrica

do Rio Grande do Sul e a Jornada Paulo Guedes da Fundação Universitária Mário Martins.

1960 – Primeiro Hospital de orientação Psicodinâmica – a Clínica Pinel de Porto Alegre.

1960 – Primeira Jornada Gaúcha de Psiquiatria Dinâmica.

1973 – Psiquiatria Comunitária. Projeto Murialdo

1973 – Setorização do São Pedro. Interiorização da Psiquiatria.

Anos 70-80. Expansão do Ensino Médico. Novas Faculdades de Medicina.

1992 – Lei da Reforma Psiquiátrica estadual. (Lei 9.176 de 7 de agosto de 1992, com alterações pelo projeto de lei 200/2004)

2001 – Lei Federal de n? 10.216 de 2001 estabelece critérios para a assistência psiquiátrica.

Revistas Psiquiátricas segundo o Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria (www.biblioserver.com/walpicci)

Revista de Psiquiatria editada pelo CELG (Centro de Estudos Luiz Guedes) (1961) (44 artigos)

Arquivos da Clínica Pinel. (1961/3-1978/81) (108 artigos)

Revista de Psiquiatria Dinâmica. (1964-1974) (77 artigos)

Revista de Psiquiatria do RS (1979...) com 954 artigos publicados

Arquivos de Psiquiatria, Psicoterapia e Psicanálise (45 artigos)

Revista. Bras. Psicoterapia (1999- (162 artigos)

A Revista AMRIGS (Associação Médica do Rio Grande do Sul) publica artigos em psiquiatria e temos 46 relacionados.

O mesmo com a Revista do HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) com 21 artigos.

Em 1981, Carlos Gari Faria, Hans Ingomar Schreen e Walmor J. Piccinini apresentaram um plano de assistência psiquiátrica para o

Estado do Rio Grande do Sul, consistindo em:

Descentralização do Atendimento. Redução de leitos no HPSP. Convênios com Hospitais Gerais, como os de Livramento, Uruguaiana e

Bagé. Prover 20 municípios com equipes multidisciplinares.

INAMPS (13 hospitais, 19 ambulatórios e cerca de 100 Psiquiatras credenciados).

21 hospitais particulares.

Na 10ª Jornada em 1981 se discutiu a Psiquiatria no RS.

Foram tratados vários assuntos de relevante importância como: Psiquiatria Multidisciplinar.

Evitar Hospitalização. Unidades Psiquiátricas em Hospital Geral. Internações de curta duração. Psiquiatria comunitária. Equipe de

Saúde Mental. Treinamento de generalistas da Rede Pública. Setorização e Reestruturação do HPSP. Levantamento epidemiológico da

doença mental. Interiorização. Ambulatórios de Saúde Mental. Ambulatório de Alcoolismo.

Programa de Recuperação Agrícola (CAR).

Reciclagem, Treinamento, cursos para técnicos.

Integração da saúde Mental na Educação.

 

Psiquiatria nos últimos 50 anos.

Uso generalizado de psicofármacos. Redução significativa do tempo de internamento. Uso de Técnicas Psicoterápicas breves: Cognitivo Comportamental

e Psicoterapia. Interpessoal. Integração com as demais especialidades médicas.

Inter-consulta. Co-morbidade. Maior precisão diagnóstica. Casos mais graves e presença importante de álcool e drogas. Afastamento da

psicanálise do meio acadêmico.

BIBLIOGRAFIA

1.    Cheuiche, E. Está à disposição em: http://www.saude.rs.gov.br/dados/1293452639276A%20Historia%2029%20nov.pdf

 

    2. Wadi, Y. M. Palácio para guardar doidos. 2002. Edição da UFRGS.

    3. Souza. D. S. de. História do São Pedro

 

ADENDO

Trabalhos publicados pelo autor disponíveis on line.

1. Piccinini, Walmor J. ANTONIO LUIZ BENTO MOSTARDEIRO

(12.05.28 – 9.01.2007). Psychiatry On Line Brazil. 2009;14 (3). (http://www.polbr.med.br/ano09/wal0309.php)

 

2. Piccinini, Walmor J. Breve história da psiquiatria do Rio Grande do Sul à luz das suas publicações. R. Psiquiatr. RS. 1999; 21(2): 95-103.

3. Piccinini, Walmor J. Caminhos Cruzados de dois grandes realizadores da psiquiatria brasileira: Antonio Carlos Pacheco e Silva e Jacintho Godoy. Psychiatry

On-Line Brazil. 2008; 13(1).  http://www.polbr.med.br/ano08/wal0108.php

 

4. Piccinini, Walmor J. CYRO MARTINS (1908-1995).Psychiatry On-Line Brazil. 2008; 13(7). http://www.polbr.med.br/ano08/wal0708.php

 

5. Piccinini, Walmor J. Internamento Psiquiátrico: a experiência do Rio Grande do sul. Psychiatry On Line Brazil. 2008; 13(12).  http://www.polbr.med.br/ano08/wal1208.php

 

6. Piccinini, Walmor J. Jacinto de Godoy Gomes (1886-1959). Psychiatry On-Line Brazil.  2004; 9(4). Notes: http://www.polbr.med.br/arquivo/wal0404.htm

 

7. Piccinini, Walmor J. O Asilo Terapêutico, uma experiência brasileira. (Apreciação do Relatório do Dr. Carlos Lisboa à Direção da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, em 1884).

 (I). Psychiatry On Line Brazil. 2009; 14(5).  http://www.polbr.med.br/ano09/wal0509.php

 

8. Piccinini, Walmor J. O Asilo Terapêutico, uma experiência brasileira. (Apreciação do Relatório do Dr. Carlos Lisboa à Direção da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, em 1884.

 (II). Psychiatry On  Line Brazil. 2009; 14(6).  http://www.polbr.med.br/ano09/wal0609.php

 

9. Piccinini, Walmor J. Preservando a memória do velho hospital. R. Psiquiatr. RS. 2007; 29(2). Notes: Editorial sobre a Capa

10. Piccinini, Walmor J. Professor Paulo Luís Vianna Guedes grande expressão da psiquiatria do Rio Grande do Sul. Psiquiatria On-Line Brazil. 2002; 7 (1) http://www.polbr.med.br/ano02/wal0102.php

 

11. Piccinini, Walmor J. Psiquiatras e Comunistas. 2. Dyonélio Tubino Machado. Psychiatry On-Line Brazil. 2008; 13(6). http://www.polbr.med.br/ano08/wal0608.php

 

12. Piccinini, Walmor J. Publicações Psiquiátricas Gaúchas. R. Psiquiatr. RS. 1999; 21(2): 104-193.

 

13. Piccinini, Walmor J. A Pós-Graduação em Psiquiatria no Rio Grande do Sul. Psychiatry On Line Brazil. 2009; 14(1).  (http://www.polbr.med.br/ano09/wal0109.php)

 

14. Piccinini, Walmor J. “Tratamento Hospitalar com Orientação Psicanalítica”. Psiquiatria On_Line Brasil.2005; 10(12).

 

15. Piccinini, Walmor J. Um pouco da História do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Psiquiatria On-Line Brasil. 2007; 12 (6). http://www.polbr.med.br/ano07/wal0607.php

 

16. Piccinini, Walmor J. Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria. Psiquiatria On-Line Brasil. 2005; 10(10). http://www.polbr.med.br/ano05/wal1005.php

 

17. Piccinini, Walmor J. and Costa, Gley P. Professor David Zimmermann (1917-1998). Psychiatry on-Line Brazil. 2004; 8.Notes: http://www.polbr.med.br/arquivo/wal0804.htm

 

18. Piccinini, Walmor J. and Schmid, Helena. Bruno Russomano de Mendonça Lima. Psiquiatria On-Line Brasil. 2007; 12(1). http://www.polbr.med.br/ano07/wal0107.php

 

19. Piccinini, Walmor J. Hospital São Pedro Linha do Tempo. Psychiatry On-line Brazil, 2010; 15 (8) http://www.polbr.med.br/ano10/wal0810.php

 

20. Revista da Associação Médica do Rio Grande do Sul – Edição Histórica. 20011, outubro. www.amrigs.com.br/revista/revista_historica.pdf


TOP