Dezembro de 2020 – Vol. 25 – Nº 12

 

Sérgio Telles

 

  • “Psicanálise e a Pós-Verdade” traz uma entrevista muito lúcida e atual com os participantes de um seminário sobre como a psicanálise pode iluminar as turvas águas da pós-verdade, onde medram a força das mídias sociais, a difusão e popularização das teorias conspiratórias, o declínio das verdades compartilhadas e da confiança na opinião de especialistas, sem falar no populismo e nas ameaças à democracia. Uma pergunta importante – Trump é uma ameaça à democracia mundial ou sua ascensão é, em si, uma evidência do condição deplorável dos valores democráticos em seu país? Teria um núcleo de verdade a teoria conspiratória que afirma serem os bilionários quem efetivamente controla a imprensa e a política? Frente ao tumulto generalizado, que pode fazer a psicanálise a não ser analisar e captar a verdade que ali se esconde?

 

Psychoanalysis and Post-Truth – Public Seminar

 

 

  • Textos homenageiam o psicanalista Moustapha Safouan, recém falecido aos 99 anos. Nascido em Alexandria, no Egito, residia há mais de 70 anos em Paris, onde durante muito tempo foi tido como um lacaniano ortodoxo. Tradutor para o árabe da “Interpretação dos sonhos” de Freud e de obras literárias importantes, nas últimas décadas deixou de lado a produção mais acadêmica e voltou-se para a cultura, produzindo livros onde discutia as questões do mundo atual, especialmente as do mundo árabe. Sempre ativo, lançou seu último livro em janeiro desse ano.

O jornal egípcio reproduz uma longa entrevista com ele, de 2009, quando do lançamento de seu livro “Why are the arabs not free – the politics of writing”.

 

https://www.marianne.net/societe/moustapha-safouan-entre-orient-et-occident-un-psychanalyste-dans-le-siecle

 

The Egyptian Oedipus: Remembering psychoanalyst MoustaphaSafouan – Culture – Al-Ahram Weekly – Ahram Online

 

 

  • O artigo fala sobre o impacto trazido pelas duas guerras mundiais sobre a compreensão da saúde mental e a psiquiatria, impacto bem mais amplo do que os óbvios estudos sobre o estado de choque, a neurose traumática e a síndrome de estresse pós-traumático delas decorrentes. Levando-se em conta o número de soldados que voltaram traumatizados da Primeira Guerra, procurou-se realizar uma seleção mais acurada dos recrutas, quando se constatou que a “normalidade” ou “saúde mental” da população era bem diferente do que se pensava. Um milhão de homens foram rejeitados para o serviço militar por apresentarem problemas psíquicos e mais de um milhão de soldados que participaram da segunda guerra receberam tratamento psiquiátrico, internações, etc.Por causa dessa demanda do pós-guerra, a psiquiatria que até então era ignorada ou desprezada socialmente e dentro da própria medicina, teve seu prestígio imensamente expandido. A partir da década de 70, mais uma vez e por motivos diversos, a psiquiatria voltou a ter suas práticas criticadas.

 

https://www.psychologytoday.com/ca/blog/short-history-mental-health/202011/world-war-ii-and-mental-health

 

 

  • Tema não muito corrente entre nós, mas bem presente no mundo “psi” dos Estados Unidos, é a “mindfulness” – misto de psicoterapia e meditação, que teria alguma aproximação com o budismo. O artigo mostra a posição precursora de Erich Fromm no interesse pelas religiões e técnicas de meditação orientais, que nas décadas seguintes tanto se popularizariam. No final dos anos 50, empenhado em estabelecer ligações entre a psicanálise e o zen-budismo, Fromm lançou, juntamente com J.D. Suzuki, o livro “Psicanálise e zen-budismo”, que teve imenso impacto popular, vendendo mais de 1 milhão de cópias no mundo. O artigo aponta as discrepâncias entre a concepção que Fromm tinha do budismo (especialmente a modalidade zen) como sendo uma religião humanística, sem deuses e não autoritária, algo bem diferente da forma como efetivamente é ele praticado em seus países de origem. Além disso, mostra como os temas que preocupam atualmente os praticantes da “mindfulness” foram antes abordados por Fromm.

 

https://tricycle.org/magazine/erich-fromm/

 

 

  • O artigo aborda uma questão importante: o que a psicanálise tem a dizer sobre o significado simbólico das medicações psiquiátricas? Que a medicação tem uma forte conotação simbólica é sabido de longa data, como mostra o conceito de “placebo”, indispensável nas pesquisas para avaliar o efetivo poder fisiológico de um fármaco. Esse aspecto deve estar sempre presente para aqueles que prescrevem a medicação.A dimensão simbólicade uma medicação tem uma faceta universal, “icônica” e uma pessoal, singular, própria de cada indivíduo. O autor coloca pequenas vinhetas clínicas para ilustrar a argumentação.

O site Mad in America (trocadilho de Made in America–uma loucura própria dos Estados Unidos) é uma ponta de lança de movimentos críticos ao poder da psiquiatria e sua problemática relação com a indústria farmacêutica.

 

https://www.madinamerica.com/2020/11/psychoanalysis-can-tell-us-symbolic-meanings-psychiatric-drugs/

 

 

 

  • Tocante fragmento do livro “Seu paciente favorito – 17 histórias extraordinárias de psicanalistas”, no qual a jornalista francesa Violaine de Montclos junta relatos de analistas sobre pacientes que os marcaram.

No segundo link, nossa colega Noni Kon conversa sobre o livro com duas outras psicanalistas, Clélia Prestes e Marise LevyWahrhaftig(que é a tradutora da obra).

 

https://www.sul21.com.br/colunas/coluna-appoa/2020/11/seu-paciente-favorito-ou-a-persistencia-da-linguagem/

 

Bate-papo de lançamento – Seu Paciente Favorito, de Violaine de Montclos – YouTube

 

 

  • A “parurese” ou “síndrome da bexiga tímida” impede determinadas pessoas a realizarem suas necessidades fisiológicas urinárias em banheiros que não sejam os de suas casas. Como é uma condição que faz parte das fobias sociais, como tal deve ser tratada.

 

https://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/36968-parurese-como-superar-o-medo-de-urinar-fora-de-casa

 

 

  • Wolfgang Pauli, o físico ganhador do Prêmio Nobel, fez dois anos de análise com Jung, início de uma relação produtiva entre os dois que se manteve até a morte do primeiro. Pauliregistrou por escrito milhares de sonhos seus que serviram de base para escritos de Jung, além de juntos especularem (aparentemente sem muito sucesso) sobre o conceito junguiano de “sincronicidade”.

 

http://m.nautil.us/issue/93/forerunners/the-synchronicity-of-wolfgang-pauli-and-carl-jung

 

 

  • A psicanalista Marcia Neder cunhou o termo “pedocracia” para caracterizar o poder crescente que as crianças exercem no seio de suas famílias, uma consequência das modificações socioculturaisque modificaram o patriarcado e o convencional lugar nele ocupado pelas mulheres.

 

Pedocracia: psicanalista fala sobre dificuldade de impor limites aos filhos (portalr10.com)

 

 

 

  • Carla Bruni, cantora e ex-primeira dama francesa, faz no Instagram uma homenagem a seu analista Christian Simatos, recém-falecido.

 

Carla Bruni endeuil :sonvibranthommage à cethommequil’a « tantaidée » – Gala

 

 

 

  • A psicanalista Maria Homem conversa sobre a pandemia e os impactos psíquicos dela decorrentes numa live do jornal Valor Econômico.

 

Live do Valor: A psicanalista e escritora Maria Homem fala sobre o impacto psíquico da pandemia; assista | Lives do Valor | Valor Econômico (globo.com)

 

 

  • Notícia do lançamento do livro “Metamorphosedessubjectivités” da psicanalista e filósofa Elsa Godart. A noção filosófica de “sujeito” teria ficado obsoleta com o advento da psicanálise? Não na opinião da autora desse trabalho – dividido em três volumes: “O sujeito da consciência”, “O sujeito do inconsciente” e “O sujeito do virtual” – que lhe exigiu 18 anos de estudos e pesquisas.

 

“Métamorphose des subjectivités”, d’ElsaGodart | Philosophie Magazine (philomag.com)

 

 

  • Um terapeuta comportamental propõe uma forma (simplista?) de contornar os mandatos imperativos do superego em casos graves de neurose obsessiva-compulsiva: adotar uma atitude competitiva e desafiante frente tais ideias e com isso virar o infindável círculo vicioso próprio dessa condição.

 

https://www.psychologytoday.com/us/blog/all-about-anxiety/201802/use-absurd-talk-take-control

 

 

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