SOCIABILIDADE
O trabalho em equipe pode ser o elemento que diferenciou os humanos dos demais animais e levou ao desenvolvimento de um cérebro tão grande segundo um estudo publicado pela revista “Proceedings of the British Royal Society”. Em comparação com de seus antecessores homelidio o cérebro do homo sapiens pode ser visto como de um gigante. Segundo pesquisadores irlandeses e escoceses, a resposta pode ser bem simples para sobreviver o ser humano precisou cooperar com seus semelhantes e, portanto, precisou s dotar de um cérebro suficientemente grande para navegar na complexidade das relações sociais, segundo eles o trabalho em equipe e a potência cerebral estimulam uns aos outros. “A mudança para as sociedades mais cooperativas, mais complexas, pode levar à evolução de um cérebro maior”. Então o caráter se desenvolve através dos sentimentos mais diferenciados que chamamos de sociabilidade, as funções das individualidades e da sociabilidade devem estar integradas, a integração se deve ao amadurecimento psicológico. Segundo Brahma Kumaris a maturidade é o poder de controlar a raiva e de resolver problemas se violência e destruição, maturidade é paciência, é disposição de abrir mão de um prazer imediato com vistas a uma vantagem a longo prazo, maturidade é perseverança. É empenhar se fundo em um trabalho a despeito da oposição dos contratempos desalentadores, maturidade é abnegação é atender as necessidades alheias. Maturidade é a capacidade de enfrentar o desagradável e a decepção sem se tornar amargo.
A sociabilidade é o nosso melhor atributo, nos faz ter vontade de seguir em frente com nossos projetos nos sacrificar nos por aquilo em que acreditamos, nos solidarizar-nos por pessoas, grupos e causas sócias, enfim, é o que dá sentido à nossa existência e nos torna humanos, o sujeito com defeito nas funções da sociabilidade vive apenas para satisfazer as suas próprias necessidades, faz de tudo para que os outros apenas se preocupem consigo mesmo e, como nem sempre conseguem alguém para injuriar, muitas vezes sentem a vida vazia e sem sentido, justamente pela falta de propósitos que as pessoas de bom caráter tem. Estão certos que o mundo tem a obrigação de lhes atender em tudo que desejarem e como isto nem sempre acontece, apesar de toda a maldade que empregam para atingirem os seus propósitos egoístas, frustram se e a vida lhes parece desinteressante, dessa forma estão frequentemente ameaçando se matar, uma paciente que vinha com a mãe não tomava banho. A mãe me dizia “Dra. Ela quando senta no meu sofá ou na minha cama fica tudo fedido, ai eu pego um paninho com agua e limpo as partes dela, essa paciente tinha 17 anos e era obesa, só tomava banho quando ia para a balada, ai eu lhe disse fulana, você tem 17 anos e não tem sentido a sua mãe ter que passar paninho em você, ao que ela me responde “mais ela é minha mãe e tem a obrigação de fazer tudo que eu quero, ai eu lhe disse não, a sua mãe não tem essa obrigação, ao que ela me respondeu “então eu me mato” o que a mãe faz? Passa paninho. Ela já estava cheia de cortes nos braços em falsas tentativas de suicídio.
Quando o sujeito for muito bem informado nessas funções da sociabilidade eles podem chegar a sumir a sua forma máxima que é conhecida como altruismo. Doutrina que se resume nos imperativos “viver para outrem” “amar o próximo mais que a ti mesmo”.
Para se fazer o diagnóstico de defeito do caráter é necessária uma história de vida desde o nascimento em busca do tipo de relacionamento interpessoal que o sujeito tem, então é assim, na infância eles são bebes que choram muito deixando os pais enlouquecidos, muitas vezes tem crise de birra quando contrariados em seu querer, já de criancinhas costumam mentir muito e fazer intrigas. Dizem para o pai ou para a mãe que o irmão ou a irmã fez isso ou aquilo, que um tio disse isso ou aquilo, enfim, são habeis em inventar histórias de forma caluniosa.
54% dos psicopatas são crianças hiperativas. Das crianças em idade escolar 5,2% são hiperativos. Desse universo é que 54% vão sofrer uma síndrome persistente de desatenção, hiperatividade e impulsividade que prejudicam o funcionamento tanto em casa como na escola antes dela completar os 7 anos de idade. 14% apresentam transtorno de conduta e 40% apresentam transtorno de oposição desafiante na infância. Solange Rubim de Pinho (13) fez um trabalho entre os adolescentes cumprindo medidas de privação de liberdade em instituições correcionais, neste trabalho ela encontrou 75% dos sujeitos com transtornos diruptivos e 58% com défice de atenção. Na Holanda outros autores encontraram entre adolescentes cumprindo medida de privação de liberdade os mesmos valores encontrados por Solange Rubim de Pinho. Outro estudo na Bahia realizado com 150 crianças do ensino fundamental a correlação entre hiperatividade e comportamento antissocial foi de 75% (15). Brown Et Al. 2001 encontraram comorbidade com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em 35,2% das crianças com transtornos desafiante opositor e 25,7% com desordem de conduta o que dá um total de 60,9%. A prevalência de transtorno desafiante opositor na população em geral é de 07 a 5,5% e a prevalência de desordem de conduta é de 02 a 2,3%”.
Se o pesquisador perguntar para a mãe: ”mãe, o seu filho foi hiperativo na infância” a mãe vai responder: “não, não foi, mas se você perguntar se o filho gostava de coisas perigosas a mãe vai responder: ”nossa, adorava. Ele adorava andar no telhado da casa e não sentia medo, punha fogo nas coisas por pura curiosidade, maltratava animais também por curiosidade de ver a reação deles”. Enfim o que queremos dizer é que desde a infância eles têm uma necessidade de estímulos muito grande. Eles adoram um perigo, uma aventura, uma novidade. É deste jeito que funciona a hiperatividade deles.
Um estudo1 realizado pela Universidade de São Paulo e Universidade de Londres, coordenados por Bilyk e Goodman, analisou 662 meninos e 589 meninas, com idades de 7 e 14 anos, provenientes de 22 escolas públicas e de quatro escolas privadas, todos moradores da cidade de Taubaté, cidade paulista que abriga cerca de 244 mil habitantes, este estudo encontrou prevalência de 7% de transtornos do comportamento entre os alunos, os quais “(…) demonstram intensa agressividade e constante desafio às normas sociais. Provocam brigas, praticam pequenos furtos, enfrentam autoridades, maltratam animais, causam incêndios e utilizam armas”. Verificou-se também, entre outras coisas, que a hiperatividade prevalecia em 1,5% da amostra. “(…) o quadro combina agitação em excesso, dificuldade para se concentrar e atitudes impulsivas”.
Quando a criança entra para a primeira escola, para ser alfabetizada, ela está com 6 a 7 anos, quando apresentam transtorno de conduta, verifica-se que elas matam muitas aulas. Todos nos matamos algumas aulas em nossas vidas, mas esse tipo de criança não tolera ficar sentado escutando uma professora falando, eles são hiperativos e preferem jogar futebol, brincar na rua do que assistir aula. O pesquisador deve perguntar o que os professores falavam dele. Eles podem mentir e dizer que os professores o adorava, mas deve se insistir nesta pergunta. Ainda na primeira escola eles aparecem em casa com coisas que não são deles e a mãe pergunta: ”menino, onde você arrumou isso” e ele responde: ”Ah eu achei” o que a mãe o faz devolver imediatamente porque percebe que ele roubou o objeto. Seja uma caneta, um agasalho ou um brinquedo. Eles costumam ser muito agressivos e daí se queixam de falta de amigos porque as outras crianças evitam de brincar com eles pela violência do seu comportamento e, costumam a mentir muito.
Quando se tornam adolescentes surge a necessidade sexual daí eles tem relações sexuais com vários parceiros, de forma descuidada e são agressivos com os parceiros. Mas na relação sexual eles querem tirar o maior proveito da situação, eles não têm nenhuma inibição e querem sentir o prazer máximo naquela relação. O companheiro ou companheira se acha muito sortudo por ter encontrado um parceiro sexual que é tão ativo, ou seja, um atleta na cama. E normalmente as pessoas se casam com psicopatas por eles serem muito bons no sexo. Depois é que vão perceber a besteira que fizeram. Um paciente meu me disse: ”Doutora, eu casei com ela, por que ela era muito intensa no sexo, ela até me propunha coisas que eu não aceitava fazer por achar demais. ”
Na vida adulta eles continuam a mentir, são embusteiros, irresponsáveis, extremamente irritáveis, pródigos, e apresentam instabilidade laborativa. Não toleram ordenes de chefia. São extremamente teimosos e argumentam até a exaustão, mas não conseguem ter responsabilidade para um trabalho ou uma vida em família para cuidar de filhos, enfim, para a cidadania de forma geral. Além da insensibilidade aos outros, o que os leva a crueldade eles são totalmente instáveis e incoerentes de ideias e iniciativas. Um colega ficou de refém numa cadeia e assim me contou: ”eu estava sentado junto com vários bandidos que me fizeram de refém e eles comentavam que o diretor da cadeia tinha sido bem legal com eles por determinado motivo. ” Nesse momento um deles vira e fala: ”o diretor não foi tão legal assim, pois ele me empurrou. ” Os demais presos então viraram, se levantaram e falaram, então vamos matar o diretor da cadeia. Esse meu colega pensou que estava perdido porque eles não têm nenhuma coerência de ideia e iniciativa e por isso poderia facilmente vir a ser morto por eles, o que felizmente não aconteceu.
1 Matéria publicada no Jornal “Folha de São Paulo”, de 20 de Abril de 2003.