Julho de 2025 – Vol. 31 – Nº 7
Sérgio Telles
- Extensa resenha do livro “Tacts – Remanier da psychanalyse avec les feministes e les queers” (“Tato – Reformulando a psicanálise com feministas e queers”) de Fabrice Bourlez, psicanalista e filósofo belga.
Como já havia feito em dois livros anteriores, Bourlez retoma o embate psicanálise versus teóricos queer e feministas. Ao contrário de alguns radicais, ele não propõe o descarte da psicanálise, e, sim, a correção do que nela vê como marcas de eurocentrismo, colonialismo e heteronormatividade, só recentemente explicitadas. Para mostrar a marginalização no pensamento analítico das sexualidades não binárias e outras minorias, Bourlez lança mão de um artifício, ao compará-la com a marginalização que ocorre no campo teórico com um de nossos sentidos, o mais diretamente ligado à corporeidade – o tato. Manejando com habilidade a ambiguidade do significante tato – delicadeza na abordagem de temas e manifestação do contato físico – Bourlez mostra como a psicanálise o relega a um segundo plano em benefício do visual e da fala, deixando como intocáveis práticas sexuais e modos de viver e pensar que não se enquadram no padrão majoritário.
Fabrice Bourlez : Trouble dans la psychanalyse (Tacts – Diacritik
- Um longo artigo sobre neurose obsessiva compulsiva (atualmente “transtorno obsessivo-compulsivo”), assunto capa da conhecida revista norte-americana “Harpers”. O articulista – que confessa ser um obsessivo compulsivo veterano de várias abordagens terapêuticas – faz um apanhado sobre a alta incidência dessa doença naquele país, cita dados estatísticos e discorre sobre o fracasso das grandes esperanças depositadas nas novas medicações e na aplicação das neuroimagens de petscan para localizar no cérebro a sede dos distúrbios mentais. O artigo culmina com o relato dos procedimentos do 28º.Congresso Anual de TOC realizado em San Francisco. Descreve as grotescas manobras terapêuticas de “exposição”, em que os acometidos dessa condição psicopatológica se dispõem a realizar atos contra os quais ergueram grandes rituais defensivos. O mais chocante é constatar nesse longo artigo a completa ausência de qualquer referência à Psicanálise, o que mostra o quando o conhecimento de Freud encontra-se reprimido e negado naquele país. Toda a riqueza simbólica do Homem dos Ratos abandonada e substituída por constrangedoras sessões onde os “congressistas”, liderados por um “terapeuta” saem do hotel em busca de um deposito de lixo onde todos se obrigam a tocar em alguma coisa ali depositada e depois lamber a própria mão, “vencendo” com isso fobias e obsessões, ou ainda cumprimentar e abraçar um imundo sem-teto dormindo na rua!
Shadow of a Doubt, by Andrew Kay
- As redes sociais estão inundadas por psicanalistas e terapeutas, divulgando a psicanálise e opinando sobre os mais variados assuntos. Traria isso benefícios ou malefícios para a psicanálise? Christian Dunker, Maria Homem, Ana Suy, André Alves e Daniela Bormann dizem o que pensam a respeito
- É possível conciliar duas tradições que parecem opostas? Para a psicanálise, a origem do sofrimento está no sujeito; para o marxismo, está na sociedade. Pietro Bianchi, o autor desse artigo, argumenta que, longe de serem incompatíveis, ambas operam de forma semelhante: não em suas teorias, mas por possibilitarem intervenções críticas que revelam os sintomas ocultos nas estruturas sociais e psíquicas. A psicanálise, não se baseia em conceitos positivistas ou saberes empíricos. Seu trabalho está nos “cortes” no discurso do paciente—naquilo que escapa, nos lapsos, nos silêncios. O saber não vem do que se diz, mas no ato de dizer e do que é omitido. Por sua vez, Marx não propôs uma ciência econômica alternativa, mas sim uma crítica às categorias da economia clássica, que naturalizam o capitalismo e escondem seus antagonismos. Assim como a psicanálise lida com os sintomas no sujeito, o marxismo escuta os sintomas do sistema: guerras, crises, pobreza, desequilíbrio estrutural. Tanto para Freud quanto para Marx, os sintomas são mensagens cifradas que apontam para a verdade do sujeito ou do sistema. Em vez de ignorá-los ou medicá-los, é preciso escutá-los: eles são a brecha por onde algo novo pode emergir—tanto no nível individual quanto coletivo.
Power to the Symptoms! – Notes – e-flux
- A autora Cynthia Fleury fala da dimensão política da clínica psiquiátrica, que teria se perdido nos dias de hoje na França. Apoia sua argumentação no livro “Pour une clinique du réel” de Florent Gabarron-Garcia, que discorre sobre a dimensão política da psicanálise tendo como modelo a Clinica La Borde, que evita os papeis convencionais dos profissionais da instituição psiquiátrica, aplicando os princípios da comunidade terapêutica
Psychanalyse et politique – PressReader
- Um curioso artigo envolvendo psicanálise e Inteligência Artificial. O articulista fez uma experiência: pinçou alguns posts de Donald Trump publicados em sua plataforma Truth Social e pediu que a inteligência artificial GROK, de Elan Musk as psicanalisasse. O resultado é bem interessante, as interpretações dadas pela IA são pertinentes ao apontarem para o narcisismo de Trump, bem como as projeções no exterior de seus conflitos internos. Conclui a IA dizendo que os posts da Truth Social são como um palco e um espelho para a psique de Trump.
What Does Musk’s Grok AI Think Of Trump’s Truth Social Posts? Here’s The Psychoanalysis Report
- Vera Iaconelli fala sobre seu novo livro “Análise” (publicado pela Zahar), no qual aborda de maneira franca os motivos que a levaram à análise. A partir de sua experiencia como paciente e como psicanalista, reflete sobre o andamento do processo analítico, procurando desfazer equívocos e idealizações.
Vera Iaconelli vai de analista a analisada em novo livro de memórias e teoria psicanalítica
- Resenha do livro “O ESCURO DE NOSSO TEMPO – ENSAIOS: PSICANÁLISE E CULTURA” de Lúcia Serrano Pereira, Robson de Freitas Pereira e Eneas de Souza – psicanalistas da APPOA.
O escuro do nosso tempo: uma poética dos dizeres (Coluna da APPOA) – Sul 21
- Artigo na Folha de São Paulo afirma que, acompanhando uma tendência mundial, milhões de brasileiros estão usando a IA como psicoterapia, fenômeno que não podemos ignorar.