Março de 2024 – Vol. 29 – Nº 3

Por Jorge Jaber*


O último relatório da Organização Mundial da Saúde sobre o
tabagismo traz uma informação alvissareira: o consumo de tabaco
vem se reduzindo no planeta. Em 2022, por exemplo, cerca de 20% dos
adultos fumavam, enquanto no ano 2.000 o percentual ultrapassava
os 30%. Diante dos comprovados danos do fumo ao organismo, a
queda deve ser celebrada, mas com ressalvas, pois ainda há cerca de
1,25 bilhão de fumantes no mundo.
Temos, além disso, uma nova ameaça no ar: os “vapes”, ou cigarros
eletrônicos. Associados por uma massiva campanha comercial a um
perfil moderno e tecnológico que omite seus riscos, o produto vem
sendo adotado por muitos jovens como um substituto seguro do
cigarro tradicional. Um erro cujos impactos na saúde pública serão,
infelizmente, sentidos em breve.
A queda foi constatada em 150 países — entre eles, citado como
exemplo positivo, o Brasil. Desde 2010, reduzimos o consumo em 35%,
superando a meta de 30% estabelecida pela própria OMS, que
recomenda medidas como a criação de espaços livres da fumaça e a
regulamentação da publicidade para combater a epidemia.
Sim, trata-se de uma epidemia, inclusive com impacto econômico. No
Brasil, por exemplo, o atendimento direto às vítimas do tabagismo
custou mais de 50 bilhões em 2022. Considerando-se as licenças
médicas e aposentadorias por invalidez ou morte, temos outros 42
bilhões. Uma conta alta, paga por toda a sociedade, com recursos que
poderiam se converter em escolas, hospitais ou serviços para a
população.
O problema, portanto, ultrapassa a seara da saúde, e a redução obtida
pelo Brasil não significa apenas – o que não é pouco, claro – vidas
preservadas. O relatório mostra que somos capazes de planejar e
executar, de forma consistente e independente dos governos desta ou
daquela ideologia, um trabalho sério, coordenado e com resultados
efetivos. Ainda há muito a fazer, em diversos setores, mas esta

conquista prova que podemos superar os desafios que temos pela
frente. Uma boa notícia para todos os brasileiros.
*Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina e professor de
Psiquiatria da PUC-Ri

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