Maio de 2023 – Vol. 28 – Nº 5

Walmor Piccinini
Editor da Psychiatry Online Brasil

Walmor Piccinini
Tenho orgulho de ser psiquiatra por inúmeras pessoas que pude ajudar a construir uma vida digna, a adquirirem a liberdade de gerir seus destinos. Por ter colaborado na formação de outros psiquiatras que estão
trabalhando de forma digna e com muito amor pelos seus pacientes.

Nascido em Encantado, criado em Bento Gonçalves na serra gaúcha, Walmor Piccinini, fez
parte da primeira turma do Colégio Mestre Santa Bárbara de Bento Gonçalves. Aos 18 anos
foi para Porto Alegre prestar vestibular na Faculdade de Medicina da UFRGS e desde esta
época mora na capital gaúcha. Imaginava ser cirurgião, mas a necessidade de trabalhar o
levou a ser atendente psiquiátrico na Clínica Pinel de Porto Alegre. “Descobri a psiquiatria
através do contato diário com os pacientes e isso aconteceu há 53 anos.” Com a descoberta
da psiquiatria veio o desejo de ser psiquiatra. O aprendizado como atendente o levou
naturalmente para a Residência em Psiquiatria. Desde o início aprendeu a conviver e a ajudar
os doentes. A clínica foi estruturada tendo como modelo a Clínica Menninger de Topeka,
Kansas. Na época, 1960, tornou-se um centro de formação reconhecido nacionalmente. Já na
Residência, tinha colegas de Pernambuco e São Paulo.
 
O título de Especialista em Psiquiatria foi obtido em exame pela Medicina da UFRGS. Mais
adiante, tornou-se especialista em psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria. De
1968 a 1977 foi professor titular de Psicopatologia no Curso de Psicologia da PUCRS. Após
treinar psicólogas assistentes que pudessem substituí-lo solicitou desligamento. Já naquela
época defendia a ideia que os psicólogos tinham que ter modelos próprios. Desde 1997
Walmor Piccinini é professor e supervisor de clínica psiquiátrica na Fundação Universitária
Mário Martins de Porto Alegre. Entidade que forma Psiquiatras através de Curso e Residência.
 
Em 1995 acelerou a aposentadoria e foi para a Universidade de Michigan junto com a esposa que fez pós-doutorado em Endocrinologia. Na Universidade foi convidado a participar do
programa de psiquiatria informática. Dessa experiência trouxe algumas ideias que pôs em
prática. A primeira foi organizar o índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria que está online,
www.biblioserver.com/walpicci, com mais de vinte mil referências bibliográficas. Com este
banco de dados passou a escrever sobre história da psiquiatria, nesta área tem mais de 120
trabalhos publicados, vários capítulos de livros e participações em congressos. Na gestão do
Professor Miguel Jorge e por indicação do Professor Josimar França assumiu a organização do
site da ABP. Foi um trabalho que partiu da escolha e registro do nome abpbrasil.org.br e a
publicação dos estatutos, regulamentos e a história da ABP. Quando os congressos passaram a
ser feitos via site, a missão tornou-se excessiva para uma pessoa só continuar. O site foi
profissionalizado e está aí para todos admirarem e participarem.
 
“Minha ligação com a ABP vem desde os trâmites para sua fundação. Assisti o primeiro
Congresso da ABP em 1970 em São Paulo, fui delegado pela APRS no Congresso Mundial
de Psiquiatria no Havaí.” Walmor Piccinini também foi membro do conselho fiscal da ABP na
gestão Marcos Ferraz. Foi coordenador do Departamento de Informática e ajudou na
fundação e foi coordenador do Departamento de História.
 
A grandeza territorial do Brasil, a intensa atividade psiquiátrica expressa em Simpósios,
Jornadas e no Congresso da ABP exige muito da sua diretoria. A atual diretoria tem se
revelado de um dinamismo excepcional que vai ser difícil encontrar quem possa manter este
ritmo. As iniciativas na área política mostram uma diretoria protagonista e com penetração em
áreas antes apenas imaginadas, afirma o psiquiatra.
 
Para ele, o grande desafio da profissão é propiciar atendimento de qualidade a todos os
pacientes, os que dispõem de recursos e os menos abonados. “Quem consegue pagar seu
tratamento recebe um tratamento adequado, os que dependem do sistema de saúde público,
com exceção dos serviços universitários recebem um atendimento precário, desigual e
desumano,” conclui.
 
Nos anos 70 o psiquiatra participou da equipe liderada pelo médico Carlos Gari Faria, que
diminuiu o número de pacientes do Hospital Psiquiátrico São Pedro de 5.000 para 1.200. A
redução de leitos foi feita de forma gradual. “As comunidades e serviços médicos do interior e
da capital foram sendo treinadas para recolocar os pacientes com suas famílias, seguir o
tratamento indicado e os resultados foram aparecendo. Infelizmente vimos funcionar outro
modelo, tipicamente neoliberal proposto por governos que se dizem de esquerda com a
posição de primeiro fechar leitos e depois ver como fica. Muitas mortes depois e com
perseguições a psiquiatras do serviço público assistimos uma sucessão de erros no
atendimento público.”
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Este artigo foi primeiramente publicado em 2013, depois disto muitas coisas aconteceram.
Passaram-se dez anos. Com o afastamento do seu fundador assumi a Psychiatry on-line Brasil e
a venho mantendo desde então. O site biblioserver.com que hospedava meu Índice
Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria cessou suas atividades e fiquei sem casa, sem
hospedeiro. Foi uma pena porque o site publicava páginas feitas com o ProCite, até hoje o
melhor indexador bibliográfico que conheço, mas que foi descontinuado pelos seus
proprietários (Thomson-Reuters). No Índice colecionei 22.582 referências bibliográficas de
tudo que os psiquiatras brasileiros publicaram ao longo do tempo. Nestes dez anos a
Associação Brasileira de Psiquiatria teve um crescimento extraordinário, tanto do ponto de
vista econômico quanto de realizações científicas. Suas publicações são de primeira linha e

seus congressos são dos mais concorridos do mundo. Estamos estudando uma forma da
Psychiatry on-line Brasil se unira esta entidade. Nesse período participei como professor na
Associação Psiquiátrica Cyro Martins. Atualmente deixei de participar no ensino nas duas
entidades que me acolheram e curto um período de descanso destas atividades ou melhor, me
aposentei por vontade própria, chegou a hora de abrir espaço para os mais jovens.

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