Abril de 2022 – Vol. 27 – Nº 4
Sérgio Telles
- É frequente o questionamento sobre a saúde mental dos dirigentes mundiais, como ocorreu nos Estados Unidos em relação a Trump, entre nós com a figura de Bolsonaro e atualmente com a beligerância de Putin. É interessante lembrar que essa é uma antiga problemática e o próprio Freud, junto com Bullit, examinaram a personalidade do Presidente norte-americano Woodrow Wilson, responsabilizado pelo desastroso encaminhamento dos tratados de paz no final da Primeira Guerra Mundial, criando condições para o desencadear da Segunda Guerra. Para Freud, Wilson teria uma ambição messiânica enraizada numa homossexualidade reprimida e na obsessão pela figura do pai. O estudo sobre Wilson da parceria Freud-Bullit foi publicado muitos anos depois da morte de Freud e foi recebido com restrições. Recentemente o cientista político francês Patrick Weill lançou o livro “Le President, est-il devenu fou?” (“O presidente enlouqueceu?”), onde revê as circunstância políticas que levaram à Guerra e o papel exercido pelo Presidente Wilson. Weill enfatiza que o manuscrito original de Freud sofreu mais de 300 cortes, supressões e censuras por parte de Bullitt, em função do momento político e a necessidade de preservar a imagem pública de Wilson.
- Nesse momento em que Putin invade a Ucrânia e teme-se que haja a conflagração de uma guerra na Europa, é oportuno esse resumo informativo da BBC que lembra a troca de correspondência entre Einstein e Freud em 1933, a convite de uma instituição pacifista.
‘Por que a guerra?’: as cartas que Einstein e Freud trocaram há 90 anos – BBC News Brasil
- Longa e interessante entrevista publicada no importante site “Mad in America” com a psicanalista Lynne Layton, defensora da psicanálise social, que, sem esquecer os conflitos intrapsíquicos individuais, enfatiza a importância da realidade e do convívio social na gênese das doenças mentais. Critica as condições do neoliberalismo e o que considera desvios atuais da psicanálise no distanciamento dos problemas do racismo, das diferenças sociais e do sexismo.
- Hélène Cixous tem seu livro “O Riso da Medusa” traduzido no Brasil quase 50 anos após seu lançamento na França. Poeta, dramaturga, feminista pioneira dos estudos de gênero e amiga de Jacques Derrida, Cixous é admiradora de Clarisse Lispector e defensora de uma escrita feminina, que – a seu ver – procura recuperar a linguagem e a voz da mulher sequestradas pelo discurso patriarcal, no qual inclui a psicanálise (“é ridícula e falsa a ideia da inveja do pênis”, diz ela).
- Conhecida feminista autora de um livro de referência – “Women and madness” (1972), relata de modo crítico e irônico um congresso dominado pelos excessos e desvios decorrentes do dogmatismo identitário que tomou conta dos estudos sobre a mulher,
Woke Women’s Studies – Tablet Magazine
- Entrevista com Elisabeth Roudinesco sobre seu recente livro “O eu soberano”, no qual critica o que chama a “deriva das questões identitárias”, em que causas legitimas perdem sua força em função de excessos, radicalismos e desvios teóricos.
- Bracha L. Ettinger, psicanalista israelense e produtiva artista plástica, expõe agora sua pintura em Nova York. Em interessante artigo em que analisa um sonho próprio, uma psicanalista comenta a relação da arte de Bracha com sua produção teórica centrada no conceito de “matricial”, pertinente às realidades do corpo feminino ligados à menstruação, gravidez e maternidade, bem como aos estágios mais arcaicos e fusionais da relação mãe-bebê.
Trauma, transference, and the art of Bracha L. Ettinger – Artforum International
- O autor faz uma severa crítica a Lacan, apontando o que considera erros, apropriações indébitas e distorções de outros autores, muitas vezes não creditados.
Lacan’s Mistake | The Smart Set
- Elisa Maria de Ulhoa Cintra faz uma pequena síntese das ideias de Melanie Klein como introdução para um número da revista Cult que publicou um dossiê sobre aquela psicanalista.
Melanie Klein e o direito de sentir – Outras Palavras
- Considerações sobre a tradução literária, onde é sublinhada a questão da “ressonância” das palavras, algo que transcende seu significado fixado nos dicionários e que evoca uma rede associativa muito mais ampla, como foi estabelecido por Freud e Lacan.
- Interessante artigo mostrando uma primeira sessão (provavelmente fictícia) de uma paciente com o psicanalista francês Robert Neuburger, e o desfecho, no qual a paciente resolve não se engajar numa psicoterapia, pois, como diz o analista, o sintoma pode ser um problema e uma solução, e ela não estava pronta a enfrentar as dores implicadas na mudança e no enfrentamento com antigos sofrimentos.
Première séance : “Je n’arrive pas à m’attacher” | Psychologies.com
- Comentários de Christian Dunker sobre o deputado “Mamãe falei” e o vazamento de um vídeo feito na Ucrânia, onde estava em suposta missão humanitária. O episódio dá margem a Dunker se estender sobre o público e o privado, a verdade e a mentira, a hipocrisia social, as diferenças entre a palavra falada e a escrita.
Psicanálise: Arthur do Val confessa verdade íntima obscena (uol.com.br)
- Resenha de dois dos últimos livros do conhecido psicanalista inglês Adam Phillips, “On getting better” e “On wanting to change”, com os quais procura mostrar que a psicanálise não é um “luxo neoliberal”, como alguns depreciativamente pensam.
The complex pleasures of Adam Phillips – Prospect Magazine
- Robin Kirman, psicanalista e ficcionista, autora de romances, fala dos desastres amorosos e a forma como foram tratados por autores pre-freudianos, e como Freud e seguidores abordaram a questão. A cegueira do amor e a negação da loucura do parceiro amoroso são ilustradas com comentários das séries “The Undoing” e “Big little lies”, com Nicolle Kidman.
Seeking Insight on Disastrous Love, from Literature and Psychoanalysis ‹ Literary Hub (lithub.com)
- Eleutério, F. S. Prado, professor titular de economia da USP, é o autor do texto que explora as proximidades entre Freud e Marx.
Em busca de uma interação entre Marx e Freud – Outras Palavras