Outubro de 2020 – Vol. 25 – Nº 10

Walmor J. Piccinini

 

Neste momento de pandemia, registramos algumas mudanças que talvez venham para ficar, mas antes de pensar nelas vamos examinar as mudanças provocadas pelas guerras e como aprendemos e esquecemos muitas coisas. Nossa fonte maior de informação vem do livro de História da Psiquiatria Americana de 1944 a 1994 publicada pela Associação Americana de Psiquiatria e organizado pelos doutores R. Menninger e John Nemiah.

Alguns pontos tinham sido tratados em outros artigos. A importância das exigências militares para um melhor diagnóstico das doenças mentais: (https://www.polbr.med.br/2019/08/01/revendo-a-historia-das-classificacoes-psiquiatricas-i/)

Além do diagnóstico que evolui até o DSM, tivemos profundas alterações na relação médico-paciente a partir do Julgamento de Nuremberg. Surgiu a Bioética para aperfeiçoar a pesquisa e o atendimento médico, profundamente feridos durante a segunda guerra mundial.

O terceiro ponto que pretendo destacar é o da saída dos psiquiatras de dentro dos asilos e sua convivência com os pacientes na frente de batalha.

O quarto ponto é a noção de proximidade em relação aos combates. Aos poucos os psiquiatras foram descobrindo que o afastamento para bem longe do teatro da guerra era contraproducente, os pacientes não mais se recuperavam e retornavam.

O quinto ponto a destacar era o da abordagem terapêutica, não mais a longo prazo e sim a curto ou curtíssimo prazo.

Poderíamos ir enumerando uma série de outros pontos, mas seria projeto para um livro e não para um trabalho curto com será este.

Quando se pensa numa guerra se imagina uma união de patriotas na defesa do seu país, das liberdades e de uma força moral contra um inimigo visto como ameaçador e totalitário. Os dois lados pensam no mesmo sentido. Em síntese, todos se acham cobertos de razão. Do fervor patriótico a pegar em armas e matar os inimigos vai uma grande distância. É difícil imaginar que um jovem, temente a Deus, vá desenvolver um ódio a um inimigo desconhecido e desejar sua morte e, principalmente, utilizar uma arma para matá-lo. Para que isto aconteça, é necessário muito treinamento, organização grupal, amizade entre os soldados , espírito de corpo. Segundo observadores, o maior estresse vivido pelo soldado é no batismo em combate e após algum tempo que para alguns foi estabelecido em cinco semanas, onde a morte de muitos camaradas, a renovação do batalhão de combate e a falta de ligação afetiva com os novos companheiros, deixa o soldado muito intranquilo.

Os psiquiatras aprenderam a lidar com o stress de combate e manejá-lo na frente de batalha: Um resumo disto pode ser visto no seguinte quadro:

Fatores de estresse em combate:

  1. Fatores biológicos que aumentam as baixas por estresse: Fadiga, Desidratação e fome. Privação sensorial e do sono. Situações adversas no meio ambiente, como o calor, frio etc.

Alteração do ritmo circadiano. Doenças infecciosas, inflamatórias e metabólicas

  1. Fatores intrapsíquicos que aumentam as baixas por estresse:

Medo da morte, da mutilação.

Medo de aparentar ou mostrar covardia

Não acreditar na causa.

Crença que a guerra está perdida

Colapso das defesas narcísicas

Perda do sentido de invulnerabilidade

Perda da crença que os outros se importam

Perda da fé na ordem celestial

  1. Fatores interpessoais que aumentam as baixas por estresse

Ruptura da coesão na Unidade

Liderança prejudicada

Perda de um amigo íntimo

  1. Situações que aumentam as perdas por estresse

Situação militar: situações estáticas têm mais — e manobras de ataque e recuo

têm menos – baixas de estresse.

Fogo indireto (artilharia, bombas) produz mais baixas de estresse

Armas inesperadas (por exemplo, guerra de gás na Primeira Guerra Mundial)

Ataque de surpresa.  (Jones)

Quando o fogo varre o campo, seja no Sinai, Pork Chop Hill ou ao longo do

Costa da Normandia, nada impede um homem de fugir, exceto uma sensação de

honra, de obrigação vinculada às pessoas ao seu redor, de medo do fracasso

em sua visão que pode eternamente desonrá-lo.

Em resumo, a Segunda Guerra Mundial ensinou psiquiatras de combate que as baixas psiquiátricas baixas são uma consequência inevitável de hostilidades de risco de vida, que

eles não podem ser eficientemente examinados com antecedência, que seus números dependem sobre fatores ambientais individuais, unitários e de combate, e que se apropriam

intervenções podem devolver a maioria ao dever de combate. Depois da Segunda Guerra Mundial, psiquiatras militares, seguindo a liderança de William Menninger ((1948), que tinha desenvolvido a nomenclatura psiquiátrica do Exército que se tornou a base para o primeiro Diagnóstico e Estatística da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-1952) começou a aplicar esses princípios em configurações não-combatentes

 

 

 

 

 

 

 

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