Agosto de 2022 – Vol. 27 – Nº 8

SÉRGIO TELLES

 

  1. “Brainwashed: a new history of thought control” é o oportuno livro do psicanalista Daniel Pick recém-lançado, mostrando que a “lavagem cerebral” expressão popularizada nos anos 50 pelo governo norte-americano para denunciar práticas dos estados comunistas, na verdade é algo que ocorria também nos Estados Unidos e que é corrente no mundo todo. A manipulação das massas tomou notável impulso com o trabalho do genial Edward Bernays, sobrinho de Freud, que inventou a profissão de relações públicas e criou as bases da publicidade/propaganda comercial naquele país, baseado em conhecimentos psicanalíticos.

Brainwashed: A New History of Thought Control by Daniel Pick review | History books | The Guardian

 

  1. A editora Flammarion (Paris) anuncia que publicará a correspondência de Freud com a Princesa Marie Bonaparte, que consta de mais de 1000 cartas. Tal material, de grande interesse para a psicanálise, ficou sob a guarda da Biblioteca do Congresso (Library of Congress) norte-americano e será lançado no dia 19 de outubro próximo, em livro de mais de 1000 páginas.

Carta inédita de Freud será publicada por editora francesa (msn.com)

 

  1. O desprestigiado sentido do olfato voltou ao centro das atenções com a pandemia de covid, na medida em que um dos sintomas mais desagradáveis deste quadro viral é sua perda. Este curioso artigo recupera a relação de Freud e Fliess e a extraordinária importância que este último dava ao nariz, estabelecendo paralelos entre ele e os órgãos sexuais, na medida em que ambos possuem tecidos eréteis e responderiam a ciclos regidos por secreções internas. Enquanto as teorias de Freud se firmaram e o deixaram como uma das maiores influências do século XX, Fliess caiu em ostracismo, assim como o sentido do olfato, que segundo o próprio Freud, perdeu sua grande importância para a visão, na medida em que o ser humano se transformou num ser bípede. Poucos analistas ainda valorizam o olfato, como Sandor Ferenczi, que afirmava ter a vagina o cheiro do mar, elemento importante na atração sexual dos machos, por evocar períodos evolucionários arcaicos que remetem à importância dos oceanos como o berço da vida. Vivemos num momento em que os odores corporais são sanitizados e neutralizados com desodorantes e produtos cosméticos. Ainda assim, estudos recentes mostram que as pessoas muitas vezes se aproximam de e se relacionam com aquelas que tem odores semelhantes aos seus.

How Important Our Sense of Smell Really Is – Israel News – Haaretz.com

 

  1. Com as redes sociais, o YouTube, as lives, há um grande número de psicanalistas opinando sobre uma infinidade de assuntos. É adequada essa exposição dos analistas? Interferiria negativamente em seu trabalho clínico? É possível separar o cidadão do analista? Que princípios devem ser respeitados no exercício dessa atividade? Christian Dunker explora de forma clara essas questões, mostrando as implicações, dificuldades e benefícios da participação de psicanalistas no debate público.

Psicanalistas podem falar de tudo? (uol.com.br)

 

  1. Sem abandonar a herança freudiana, o grupo psicanalítico “Après-Coup”, de Porto Alegre, propaga as ideias de uma “amefricanidade” apoiada em valores culturais advindos de indígenas, africanos e latino-americanos, o que daria vez a uma psicanálise não mais exclusivamente “branca” e “eurocentrada” e sim mais próxima dessas identidades locais. O conceito de “amefricanidade” foi criado pela filósofa e historiadora mineira Lélia Gonzales.

Conheça a psicanálise “amefricana”, corrente que busca romper com a escola tradicional de terapia | GZH (clicrbs.com.br)

 

  1. De forma jocosa, o autor afirma que os personagens dos libretos de ópera, com seus excessos afetivos e dramáticos, muito teriam se beneficiado de uma psicanálise. Lista onze deles: 1 – Don Jose (de “Carmen”, de Bizet); 2 – Hermann (de “A dama de espadas”, de Tchaicovsky); 3 – Elektra (da ópera homônima de Strauss); 4 – Don Carlo (de Verdi); 5 – Il conte de Luna (de “Il Trovattore”, de Verdi); 6 – Goulaud (de “Pelleas et Mèlisande”, de Debussi; 7 – She (de “La Voix Humaine”, de Poulenc); 8 – Wozzeck (de Alban Berg); 9 – Fidès (de “O Profeta”, de Meyerbeer); 10 – Otello (de Verdi) e 11 – Elsa von Brabant (de “Lohengrin”, de Wagner).

Dix personnages d’opéra qui auraient été bien inspirés de suivre une psychanalyse | Forum Opéra (forumopera.com)

 

  1. Em nossa cultura, o “estar ocupado” é motivo de orgulho e tido como indicativo de compromisso e responsabilidade profissional. Mas é isso mesmo? O que acontece de fato com as pessoas que estão cronicamente assoberbadas, ocupadas demais? Seu incansável movimento, suas absorventes ocupações não seriam fugas para não se conectarem consigo mesmas, com seus próprios problemas?

The Internal Chaos of Chronically Busy People | Psychology Today

 

  1. Ao invés da rejeitada “inveja do pênis”, o movimento LGBT+ propõe um novo conceito: “inveja de gênero”, que descreve um quadro mais leve do que o de “disforia de gênero”. Trata-se da admiração por um gênero diferente do próprio, o desejo de possuir suas características, mas sem a urgência e intensidade que ocorre na disforia.

What is gender envy? Unpacking this term – LGBTQ Nation

 

  1. Não há por que negar aos mais idosos, como os octogenários, os benefícios de uma terapia analítica. Não estão mais em jogo grandes mudanças na vida e sim como lidar com novas circunstâncias e dificuldades, como perdas, limitações, doenças, depressões, solidão, a perspectiva da morte etc.

What’s the point of seeing a shrink when you’re old? | Slate.fr

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