Dezembro de 2022 – Vol. 27 – Nº 12
Sérgio Telles
- Virginia Bicudo, primeira psicanalista negra do Brasil, nascida em 21/11/1910, foi homenageada pelo Google, com um “doodle” (desenho que ilustra sua página de abertura) e uma pequena biografia.
- Numa tentativa de entender as divisões que enfrentamos e a intolerância com a discordância, quatro analistas “diagnosticam” o Brasil.
- Marcos Antônio Ribeiro Moraes, autor desse texto, usa o instrumental analítico compreender a fascinação das massas por Bolsonaro, repassando textos de Freud, Marcuse e Adorno que jogam luz sobre o sombrio momento que o país atravessa.
- Bruno Fiaschetti, mestrando do Depto. de Sociologia da USP, reflete sobre o uso da psicanálise na análise política da pessoa e dos atos de Jair Bolsonaro. Para tanto, faz a revisão de alguns artigos onde ele é diagnosticado de “perverso”, “ressentido” e “psicopata”. Contrapõe a essa abordagem a posição de Adorno ao estudar as relações entre psicanálise e sociologia, refletindo sobre as implicações de uma “sociologização da psicanálise” e de uma “psicologização do social”.
A psicanálise explica Bolsonaro? – A TERRA É REDONDA (aterraeredonda.com.br)
- Um curioso artigo mostrando alguns episódios históricos mostrando a relação de Freud e da psicanálise com a Eslovênia, a começar com o encontro fortuito de Freud com Lueger, o prefeito antissemita de Viena, quando ambos faziam turismo visitando as famosas grutas Skocjan naquele país. Lueger é tido como o primeiro dos grandes políticos populistas, e Hitler o tinha como seu modelo de homem público.
Freud, Slovenia, and the Origins of Right-Wing Populism – Notes – e-flux
- Stéphane Thibierge, psicanalista francês, presta suas homenagens à memória de Charles Melman, falecido em outubro último. Diz: “Ele notou como passamos de uma economia do desejo, organizada pela relação singular de cada um com a lei e a proibição que anima suas próprias questões e atos, para uma economia do gozo, que visa obter uma relação sem obstáculos à satisfação, agora compreendida como uma questão técnica de um ajustamento efetivo ao objeto”.
- “É possível não gostar da própria mãe?”, pergunta a leitora para a coluna de uma analista francesa. A resposta franca mostra a mistura de fortes afetos que surgem na complexa ligação de uma filha com sua mãe.
«Si la mère n’est pas cette personne de confiance absolue, c’est qui alors?» | Slate.fr
- A importante editora Faber compra os direitos de publicação do livro de Catherine Humble, uma “nova história radical” de três mulheres psicanalistas – Sabina Spielrein, Lou Andreas Salome e Joan Riviere – cuja dimensão e importância não teriam sido até o momento plenamente reconhecidas.
- Dos três livros resenhados na revista “Mad in America”, um deles chama a atenção. Trata-se de “Misogyny in Psychoanalysis”, da analista inglesa Michaela Chamberlain. Como o título indica, aborda a misoginia, que a autora considera como um traço profundamente entranhado na psicanálise e suas instituições, difícil enfrentar e erradicar. Para ela, a misoginia não diz respeito apenas ao passado, é algo ainda muito atual.
Books Under Review: Fall 2022 – Mad In America
- “Lacan pris au mot” de Francis Martens, livro lançado recentemente, conta o episódio em que Lacan amaldiçoou (“lançou um “fatwa” sobre”) seu discípulo Laplanche. O autor comenta as disputas entre psicanalistas e a necessidade de maiores debates epistemológicos para estabelecer seus conhecimentos.