Prof. Dra. Márcia Gonçalves*

 

 

O termo Burnout foi utilizado em 1953 por Schwartz e Will. Eles evidenciaram o caso clínico da ‘Miss Jones’, que era uma Enfermeira psiquiátrica desiludida com o seu trabalho.

 

Em 1960, Graham Greene, descreve o quadro clínico de ‘A Burnout Case’, onde um arquiteto que abandonou sua profissão devido aos sentimentos de desilusão gerados por ela.

 

A Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.

A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.

 

Os sintomas e sentimentos descritos pelos dois profissionais são os que se conhece hoje como Burnout. (Maslach e Schaufeli, 1993).

 

Em 1974, o médico Herbert Freudenberger, refere um quadro onde existe sentimento de fracasso e exaustão, causado por um excessivo desgaste de energia e recursos.

 

Perlman e Hartman, em 1982 refere que foram incluídos em 1975 e 1977 os comportamentos de:

 

  • Fadiga,
  • Depressão,
  • Irritabilidade,
  • Aborrecimento,
  • Perda de motivação,
  • Sobrecarga de trabalho,
  • Rigidez e inflexibilidade

 

 

O esgotamento pessoal que interfere na vida do indivíduo, mas não necessariamente na relação com o trabalho.

 

 

A Síndrome de Burnout envolve nervosismo, sofrimentos psicológicos e problemas físicos, como dor de barriga, cansaço excessivo e tonturas.

 

O estresse e a falta de vontade de sair da cama ou de casa, quando constantes, podem indicar o início da doença.

 

Os principais sinais e sintomas que podem indicar a Síndrome de Burnout são:

 

  • Cansaço excessivo, físico e mental.
  • Dor de cabeça frequente.
  • Alterações no apetite.
  • Insônia.
  • Dificuldades de concentração.
  • Sentimentos de fracasso e insegurança.
  • Negatividade constante.
  • Sentimentos de derrota e desesperança.
  • Sentimentos de incompetência.
  • Alterações repentinas de humor.
  • Pressão alta.
  • Dores musculares.
  • Problemas gastrointestinais.
  • Alteração nos batimentos cardíacos.

 

A síndrome que envolve atitudes e condutas negativas com os usuários, clientes, organização e trabalho.

 

Em 2017 Salvagioni DAJ et al realizou uma revisão sistemática analisou 36 trabalhos relatando correlações e as consequências da Síndrome de Burnout no bem-estar físico/emocional e no trabalho.

 

No aspecto Físico observa-se:

 

  • Hipercolesterolemia
  • Diabetes tipo 2
  • Doença coronariana
  • Hospitalização por doença cardiovascular
  • Dor de cabeça e musculoesquelético
  • Fadiga prolongada
  • Distúrbios gastrointestinais
  • Problemas respiratórios
  • Doenças severas e mortalidade abaixo de 45 anos

 

Sob a óptica trabalhista atualmente temos o Decreto nº3048/99, que é a Regulamentação da Previdência Social (Anexo II):

 

A Síndrome esta categorizada entre os Agentes Patogênicos causadores de Doenças Profissionais, conforme previsto no Art.20 da Lei nº8.213/91: Transtornos Mentais e do Comportamento relacionado com o trabalho (Grupo V da CID-10), no inciso XII: Sensação de Estar Acabado (“Síndrome de Burnout”, “Síndrome do Esgotamento Profissional”) (Z73.0).

 

As implicações financeiras da Síndrome de Burnout podem estar relacionadas com a insatisfação, absenteísmo, rotatividade e aposentadoria precoce. World Health Organization, 2003.

 


Os profissionais mais afetados pela síndrome de Burnout são os que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros.

 

Os profissionais mais atingidos são os que trabalham diretamente com pessoas.

 

Observamos também pessoas com personalidade vulnerável, que são excessivamente críticas, muito exigentes consigo mesmas e com os outros e que têm maior dificuldade para lidar com situações difíceis.

 

Uma maior vulnerabilidade foi encontrada em pessoas que possuem Idealismo elevado, com excesso de dedicação, alta motivação, perfeccionismo e rigidez.

 

O impacto da síndrome sobre o sobre o trabalhador atinge diversas dimensões a saber:

 

Emocional

 

  • Insônia
  • Sintomas depressivos
  • Sintomas ansiosos
  • Uso irregular de medicamentos psicotrópicos e antidepressivos
  • Hospitalização por doenças mentais

 

No Trabalho

 

  • Insatisfação
  • Absenteísmo
  • Sensação de maior demanda
  • Presenteísmo
  • Aposentadoria por invalidez

 

 

Em um estudo com mais de 1500 profissionais (anestesiologistas, enfermeiros e médicos intensivistas) Mion G, Libert N, Journois D; em 2018 encontrou as seguintes correlações da síndrome do Burnout com transtornos psiquiátricos:

 

  • Depressão 36%
  • Aumento no consumo de álcool 6%
  • Drogas químicas 4%

 

Já foi também observado entre os portadores da Síndrome:

 

  • Maior conflito nos relacionamentos
  • Distúrbios do sono
  • Ideação suicida
  • Acidentes
  • Sedentarismo,
  • Obesidade
  • Dores musculoesqueléticas

INTERVENÇÕES PARA PROTEÇÃO DO COLABORADOR CONTRA SÍNDROME DO BURNOUT

 

O primeiro passo é ser consciente da possibilidade de prevenir o a síndrome de Burnout:

 

  • Atitudes INDIVIDUAIS:

 

  • Expressar emoções (pensamentos, sentimentos, memórias e sensações físicas) conversar com amigos, membros da família, psicólogo, guia espiritual sobre experiências de trabalho
  • Cultivar a espiritualidade (transcendência) – Duarte J, Pinto-Gouveia; 2017
  • Condutas saudáveis evitam o desenvolvimento da doença, assim como ajudam a tratar sinais e sintomas logo no início.

 

 

As principais formas de prevenir a Síndrome de Burnout são:

 

 

  • Defina pequenos objetivos na vida profissional e pessoal.
  • Participe de atividades de lazer com amigos e familiares.
  • Faça atividades que “fujam” à rotina diária, como passear, comer em restaurante ou ir ao cinema.
  • Evite o contato com pessoas “negativas”, especialmente aquelas que reclamam do trabalho ou dos outros.
  • Converse com alguém de confiança sobre o que se está sentindo.
  • Faça atividades físicas regulares. Pode ser academia, caminhada, corrida, bicicleta, remo, natação etc.
  • Evite consumo de bebidas alcoólicas, tabaco ou outras drogas, porque só vai piorar a confusão mental.
  • Não se automedique nem tome remédios sem prescrição médica.
  • Descansar adequadamente, com boa noite de sono (pelo menos 8h diárias).
  • Procurar ajuda psiquiátrica assim que os sintomas começarem a ficar evidentes e perceptíveis, seja pelo próprio individuo ou pela família ou amigos e colegas.

 

 

  • Procurar fazer uma revisão salarial, no sentido de reajustamento e buscar promover possíveis mudanças na contabilidade familiar e mudanças comportamentais, quando não existir possibilidade de reajustes.

 

  • Redimensionamento de Recursos Humanos

 

Observar e propor melhorias no local de trabalho como por exemplo, segurança no trabalho, medidas sócio educativas na empresa.

Criar programas de atenção aos profissionais de saúde: como   programas de saúde, capacitações, áreas de convívio com om vistas a um aumento na resolutividade dos atendimentos

e diminuição da violência contra os profissionais, quando se tratar de serviços onde existe grande exposição

(por exemplo, profissionais de telemarketing, atendimento direto ao público etc.)

 

  • Negociação visando a diminuição da carga horária de trabalho semanal.

 

A essência de do bem-estar e qualidade de vida reside na difícil dinâmica de se manter o equilíbrio entre o trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas.

 

*Prof.  Dra. Márcia Gonçalves: Psiquiatra – Adultos, Infantil e Forense – ABP/AMB; Mestrado e doutorado – UNICAMP; Professora de Psiquiatria, psicologia médicas] e psicopatologia da Universidade de Taubaté

Referências com o autor – [email protected]

Similar Posts