INTRODUÇÃO:

Os estudos de qualidade de vida em pacientes com dermatoses são diversos e apontam essa variável como fortemente prejudicada na vida das pessoas com afecções de pele.

As afecções dermatológicas produzem um efeito negativo na vida dos pacientes. Além disso, sublinham que aspectos psicológicos têm papel importante no desencadeamento e nas consequências de diversas dermatoses

Os índices de depressão, ansiedade, estresse e qualidade de vida específica em pacientes com dermatoses tem sido sistematicamente objetivado. LUDWIG, Martha Wallig Brusius et al. Avaliou Aspectos psicológicos em dermatologia. Participaram da pesquisa 151 sujeitos, homens e mulheres, entre 20 e 89 anos de idade. O delineamento do estudo foi transversal, descritivo e correlacional.

Os instrumentos utilizados foram BAI, BDI, DLQI-BRA e ISSL. Os resultados demonstraram que os índices de ansiedade e depressão têm média considerada leve, de acordo com as características do instrumento (BAI: 10,76±9,21; BDI: 13,49±11,45). Sobre estresse, 60,3% da amostra obteve resultado positivo para estresse, sendo a área psicológica a mais afetada. Os resultados de qualidade de vida específica em dermatologia ficaram um pouco abaixo da média de estudos brasileiros (3,69±3,72). Verificou-se correlações moderadas e altamente significativas (0,01) para os índices de ansiedade, depressão, estresse e qualidade de vida específica, nos quais podemos evidenciar as relações entre adoecimento físico e psíquico, colocadas pela literatura. Estima-se que um terço dos pacientes com doença dermatológica possua aspectos emocionais associados.

A avaliação da prevalência de sofrimento psíquico em pacientes com dermatoses do espectro dos transtornos psicocutaneos (DETP), bem como relacionar o grau de sofrimento psíquico com doença, tempo de evolução, sexo e idade do paciente é alvo de estudos. Um estudo descritivo transversal onde Foram incluídos 76 pacientes com DETP, de ambos os sexos e idade de 15 a 60 anos foi realizado. Foi
aplicado questionário de triagem de doença mental, o SRQ-20 (Self Reported Questionnaire), elaborado pela OMS. Como resultado observou-se a presença de sofrimento psíquico em 25% dos pacientes, sendo que as pacientes dermatológicas apresentaram. Os dados confirmaram a alta prevalência de sofrimento psíquico em pacientes com algumas dermatoses. Além disso, sugerem que doenças crônicas e inestéticas, como vitiligo e acne, podem estar associadas a maior grau de sofrimento nessa população.

A acne é uma doença crônica caracterizada pela inflamação da unidade pilo sebácea, promovendo assim a formação de pústulas, pápulas, comedões, nódulos ou pseudocistos. Acomete principalmente os jovens durante a puberdade, podendo surgir a partir dos 11 anos de idade, e aumentando a prevalência quando há casos de existência no histórico familiar ou conforme a idade aumenta

Até 1940 não existia terapia efetiva contra a acne, utilizava-se tratamentos tópicos praticamente ineficazes ou apenas esperavam a cura natural. Em 1955 foi sintetizada a isotretinoína e utilizada pela primeira vez em 1976 na Europa e em 1980 nos Estados Unidos para o tratamento de acne grave.

No Brasil, foi utilizada pela primeira vez em 1982, sendo desde então um medicamento revolucionário na terapia contra acne grave e resistente devido aos seus diversos mecanismos de ação que envolve a redução do tamanho da glândula sebácea, inibição de sua atividade e diminuição de sebo, além do efeito imunológico e anti-inflamatório e da eliminação do Propionibacterium acnes no folículo pilo sebáceo.

A isotretinoína oral pode causar inúmeros efeitos colaterais e tem grande potencial teratogênico. Dessa forma o tratamento para acne deve ser indicado aos casos mais graves (graus III e IV) e quando há uma resistência a outras terapias.

METODOLOGIA:

O estudo foi realizado com avaliação de referencial bibliográfico de artigos publicados entre 2005 a 2016. Foram utilizados para as buscas os bancos de dados Google Acadêmico e Scielo. Exploraram-se os termos isotretinoína, acne, efeitos colaterais da isotretinoína e sintomas psiquiátricos.

DISCUSSÃO:

A isotretinoína é um retinóide do grupo de compostos relacionados à vitamina A. Seu principal mecanismo de ação ocorre na glândula sebácea, reduzindo seu tamanho, atividade e quantidade de sebo produzido em até 75%, depois de apenas quatro semanas de tratamento. A dose utilizada diariamente é de 0,5 a 2 mg/kg, onde o tratamento deve durar no mínimo cinco meses, até atingir a dose total mínima de 120mg/kg, a fim de obter resultados mais efetivos.

O tratamento dura em média de 4 a 6 meses e somente após 1 a 2 meses se observa uma diminuição da acne. Os resultados são vistos primeiro nas lesões da face e depois no tronco, e as pústulas melhoram antes das pápulas e nódulos.

As formas graves dessa doença podem deixar os pacientes deprimidos ou com suspeita de quadro depressivo, devido principalmente às erupções faciais. Assim a isotretinoína pode ser considerada um mediador onde sua eficácia em doses mais baixas, obtendo a cura sem deixar sequelas, pode reverter quadros depressivos com impacto psicológico positivo.

Depressão, sintomas psicóticos (problemas de percepção, julgamento, raciocínio e de comportamento), raras tentativas de suicídio e suicídio foram relatados nos pacientes tratados com isotretinoína. Embora uma relação causal não tenha sido estabelecida, cuidados especiais precisam ser tomados.

Se tiver histórico de depressão, e deve ser supervisionado quanto à ocorrência de sinais de depressão e encaminhado para tratamento apropriado, se necessário. A interrupção de isotretinoína pode não resultar em alívio dos sintomas, e a avaliação psicológica ou psiquiátrica pode ser necessária.

CONCLUSÃO:

A acne e patologias tem impacto significativo na auto-estima e qualidade de vida dos doentes. Diversos estudos demonstram alterações psicológicas incluindo ansiedade, inibição social, depressão e ideação suicida nos doentes com acne. Ainda é controversa a relação da isotretinoína com depressão. Apesar disso, a droga se encontra entre as 10 mais relacionadas a efeitos adversos para depressão e tentativas de suicídio. Pequenos estudos encontraram uma relação entre o uso dessa droga com o aumento da depressão. Ocorre, no entanto, que revisões sistemáticas concluíram que o comportamento suicida e a depressão durante o tratamento com isotretinoína não tem uma relação causal bem estabelecida.
O impacto da acne, muito além do impacto cutâneo, impõe que o reconhecimento dos sinais psicológicos pertinentes seja uma rotina na consulta, de modo a estabelecer estratégias de tratamento adequadas, individualizadas caso a caso

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Cristiane Medeiros do Nascimento* Acadêmica sexto ano de medicina UNITAU
Prof. Dra. Márcia Gonçalves** Prof. De Psiquiatria , Psicologia médica e Psicopatologia – Dep. De Medicina da UNITAU

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