Abril de 2022 – Vol. 27 – Nº 4

Adriana Piccinini Higashino

Journal of Architecture and Planning (Transactions of AIJ)

Abstract

O jogo de areia dos adultos trabalha o gênero e a bagagem cultural, libera imagens espaciais arquetípicas. Neste estudo, discutiremos quando a diferença cultural aparece e seu significado. Experimentos de sandplay foram realizados com crianças japonesas e brasileiras e analisados de acordo com a direção, a posição e a ordem em que os brinquedos foram colocados na caixa e por quanto tempo as crianças brincaram. As obras de areia das crianças japonesas expressavam um sentimento de unidade com o mundo circundante em contraste com as obras de areia das crianças brasileiras que desde cedo se separam do mundo e têm uma tendência autônoma.


Neste estudo, por meio de experimentos de sandplay realizados com crianças japonesas e brasileiras, discutiremos quando, do ponto de vista desenvolvimental, aparece a diferença cultural e seu significado. Em pesquisas anteriores, os trabalhos de sandplay mostraram várias imagens espaciais arquetípicas. A imagem denominada singularidade espacial masculina possui um eixo central que integra todos os elementos da caixa de areia. Tem um eixo vertical passando pelo centro e geralmente é simétrico. Esse tipo de imagem ocorreu frequentemente nas obras de sujeitos masculinos de origem continental, com origem cultural ocidental ou oriental. A imagem denominada pluralidade espacial mostra uma distribuição assimétrica e horizontal dos brinquedos na caixa, e apareceu nas obras de sujeitos masculinos japoneses. A imagem denominada singularidade espacial feminina tem toda a organização espacial centrada em torno de um determinado espaço. Inclusão, clausura e intimidade são as principais características desse tipo de estrutura espacial, que apareceu nas obras de sujeitos femininos em geral, independentemente de sua nacionalidade ou origem cultural. Neste experimento, comparamos os trabalhos de sandplay de crianças japonesas e brasileiras do jardim de infância. Analisamos as obras de acordo com a direção, a posição e a ordem em que as crianças colocaram os brinquedos na caixa e por quanto tempo as crianças brincaram. As crianças japonesas levaram mais tempo (tempo médio de brincadeira 36min) e gostaram muito de brincar com a caixa de areia e brinquedos do que as crianças brasileiras (tempo médio de brincadeira 20min). Todos os trabalhos infantis apresentaram uma escala que vai do caótico, enumerativo, arranjo parcialmente estruturado, até um arranjo estruturado na forma como as crianças colocam os brinquedos na caixa. As obras estruturadas tinham imagens espaciais arquetípicas: singularidade espacial masculina e pluralidade espacial em obras de meninos e singularidade espacial feminina em obras de meninas. A maioria das crianças japonesas começou a colocar os brinquedos do lado esquerdo (mundo interior) e a espalhar os brinquedos gradualmente para o lado direito (mundo exterior). Em contrapartida, crianças brasileiras a partir dos 5 anos colocaram os brinquedos do centro da caixa para fora (meninos) e de cima para baixo (meninas). As crianças brasileiras demonstraram domínio do espaço da caixa como um todo, de forma proativa, expressaram agressivamente seu ego, e mostraram uma forte força empurrando para o mundo exterior. Os trabalhos infantis brasileiros apresentaram maior agressividade na colocação dos brinquedos. Além disso, em comparação com crianças japonesas, um número mais significativo de obras de areia de meninos brasileiros apresentou as características típicas da singularidade espacial masculina, que expressam a agressividade masculina. As obras de sandplay das crianças japonesas revelaram um sentimento de unidade com o mundo circundante em contraste com as crianças brasileiras que desde cedo se separam do mundo e têm uma tendência autônoma. Em resumo, os meninos brasileiros desde tenra idade mostraram em seus trabalhos de caixa de areia a singularidade espacial masculina, imagem espacial arquetípica de adultos masculinos de origem cultural continental. As meninas brasileiras também apresentavam a singularidade espacial feminina arquetípica, mas havia traços de agressividade na maneira de colocar os brinquedos. As obras de sandplay das crianças japonesas indicam um sentimento de unidade com o mundo exterior em contraste com a autonomia das crianças brasileiras, que foram criadas em um ambiente mais hostil. O aparecimento de imagens espaciais arquetípicas em idades mais precoces em obras de areia infantil brasileiras confirma que a relação com o mundo exterior tem impacto nos indivíduos desde a primeira infância.

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