Atentados terroristas, agressões sexuais, guerras, assédio… A revista ENFANCES & PSY aborda a questão atual do traumatismo e de suas consequências sobre o desenvolvimento psíquico da criança. Como compreender tais acontecimentos que causam consequências duradouras?

Uma dezena de artigos evocam a necessidade do acompanhamento dos menores estrangeiros que chegam na França. Uma boa parte desses trabalhos aborda a questão do traumatismo, por exemplo, o duma mãe traumatizada pelo seu bebê ou duma criança afetada pelo câncer de seus pais.

Os autores insistem sobre a necessidade de organizar consultas não somente em casos de urgência (as células de urgência médico-psicológicas), mas também para acompanhar a vivência depois do trauma.

Um artigo evoca mais particularmente as questões das violências sexuais sofridas na infância ou na adolescência, bem como nas suas repetições. E os autores lembram que a adolescência é um período de transformações intensas, podendo reativar traumatismos antigos, mesmo os de outra geração.

 

QUESTÃO SOCIAL, RESPOSTA PSI?

Referência : Claude Coquelle , presidente de Psypol.

 

A vida social engendra muitos sofrimentos, especialmente psíquicos.  Desta forma, porque os psis não poderiam propor respostas políticas em tais circunstâncias? Foi o que fez a Associação Psypol  ao organizar uma jornada de estudos em Nantes, em 28 de novembro último. O objetivo foi bem definido: “Favorecer intercâmbios e enriquecimentos mútuos entre dois universos geralmente separados: o mundo psi (psicologia, psiquiatria, psicanálise, psicoterapia) e os mundos político, sindical e associativo, sem esquecer a filosofia, as ciências sociais e a cultura quando elas levam em conta questões relacionadas com o viver juntos e o engajamento do cidadão”. Citemos algumas questões:

*Nas empresas, pessoas ficam estressadas, deprimem-se, sentem-se oprimidas, temem não aguentar as cargas de trabalho, inquietam-se com o futuro.

*Famílias   passam por dificuldades econômicas e financeiras num clima social marcado pela insegurança e o desprezo.

*Adolescentes procuram um lugar numa sociedade cada vez mais violenta, competitiva, exclusiva.

*A vida do casal é marcada por tensões podendo se terminar em violências conjugais.

*Estrangeiros chegam de muitos países à procura de uma vida melhor, mas encontram numerosas dificuldades e raros apoios.

Ora, examinando bem, todas essas situações são ao mesmo tempo sociais, por atingirem grupos que vivem problemas bem precisos, mas elas são também ressentidas, subjetivamente, por pessoas que sofrem sem poder superar suas dificuldades. Na realidade, os «psis» devem deixar de negligenciar e mesmo de negar a dimensão social do sofrimento em muitas pessoas.

 

OS OBJETIVOS DE PSYPOL

Este constato feito, os organizadores da jornada reconhecem que, graças ao apoio dos poderes públicos, respostas “psis” (escuta, acompanhamento, apoio, psicoterapia, desenvolvimento pessoal, etc.), estão crescendo em todo o país. Mas estas respostas precisam ser afinadas, explicitadas, adequadas às situações que devem ser tratadas.

Para Françoise Champion, pesquisadora nos domínios da sociologia das religiões e da laicidade, as divergências existentes sobre as origens dos dist­úrbios psíquicos e seu acompanhamento, continuam suscitando debates, notadamente diante das mudanças constatadas nas políticas de saúde pública.  Assim, a pesquisadora desenvolveu a ideia de que “as representações sociais do sofrimento, do mal-estar e da felicidade’’ devem ser levadas em conta quando abordamos a questão psicoterapêutica.

 

RESPOSTA PSI OU POLÍTICA?

 

Muitas pessoas criticam e se inquietam com o que elas chamam ‘’a psicologisação da sociedade’’. De fato, dar respostas ‘’psis’’ a todas as questões que tocam o sofrimento humano pode conduzir ao risco de desviar nossa atenção dos verdadeiros problemas que engendram o isolamento das pessoas. Neste caso, é possível que, em certas situações ou para certas pessoas, a mobilização coletiva seja uma ‘’terapia’ ’preferível às terapias propriamente ditas.

Mas podemos também supor que a resposta individual psi seja a primeira condição para que uma pessoa possa avançar, se engajar em combates políticos, coletivos e mudar suas condições sociais.

Deixando de lado a questão polêmica binária “a favor ou contra a psi”, não poderíamos perguntar qual seria a política de saúde pública apta a atenuar a exclusão, o isolamento, a precariedade das pessoas?

CONCLUSÃO

‘’Quais são as práticas ou  os quadros de referências capazes de oferecer às pessoas ao mesmo tempo uma resposta adaptada aos seus sofrimentos subjetivos  e a oportunidade de continuar sua construção individual? E sem perder de vista a dimensão coletiva e política da existência pessoal e das situações sociais’’?

 

INTERCÂMBIO DE MENSAGENS COM AFFONSO BARROS DE ALMEIDA (primeira parte)

Affonso: Comecei o meu estágio no Serviço de Daumézon em 1965.

Lembro que fomos discípulos do Mestre Lucena, em cujo Serviço de Psiquiatria do Hospital Pedro II, nos anos 60, iniciamos no “métier” na condição de estagiários.

Você precisa, como autor do artigo, se identificar profissionalmente.Bom, eis algumas parcas observações após a primeira leitura do seu importante e excelente artigo.

Caríssimo amigo Eliezer,

A tese de Lucena preparada, em parte, no Serviço de Daumézon, versou sobre ” o campo da consciência após o choque insulínico”. Não sei se o título foi exatamente esse, mas o tema abordado, foi.

O José Otávio não fez nenhuma estadia na França, mas ele participou de Congressos internacionais na Europa, inclusive em Paris. Conta-se que falava bem francês e que conhecia muito bem os trabalhos de Henri Ey e de Georges Daumezon, além dos trabalhos dos psiquiatras franceses que antecederam e influenciaram os dois.

Eu tive o privilégio de “preparar a sua cama” no Serviço de Daumezon, que soube, por meu intermédio, da simpatia do Mestre Lucena por você e com quem cheguei a conversar algumas vezes sobre ele, quando o Mestre Daumezon me transmitiu possuir admiração e deferência por Lucena.

Assim, na verdade, quem lhe abriu as portas do Henri Rousselle foi o professor José Lucena, eu fui, apenas, intermediário. Esse fato foi mais um, dentre outros, que desagradou a Zé Lins, o qual, não sabendo nada de psiquiatria, dizia-se discípulo do Mestre Lucena. Na verdade, antes de se interessar pela psicanálise, ele foi gastroenterologista, tendo “migrado” do Serviço de Arnaldo Marques para a Clínica Psiquiátrica do Pedro II, apoiado por Galdino Loreto, onde atuou como “psicoterapeuta” do grupo coordenado por Galdino e que tinha como clientes estudantes de medicina e de outros cursos, dentre eles, eu, Carlos Nicéas, Zuleika Portela, Paulo Gustavo Viana Lira, Lygia Câmara, Fernando Rocha, Cristina Jucá, Ana Belo, etc.

Você está me tornando nostálgico. Lembras que eu fui o único brasileiro da “confraria” a te receber em Orly? Lembras quem estava comigo e para onde tu foste levado?

Fraternal abraço,Affonso.

29/09/07

Oi Eliezer,

Hoje no Recife existem, pelo menos, três “Grupos de Instituições e de Psicanalistas”: Os Freudianos, os Lacanianos e os Carusianos”.

O casal Lins de Almeida, quando chegou no Recife (1969/1970), apresentou-se como “detentor” do saber psicanalítico. Na verdade, o interesse, sobretudo do José Lins, era “mercadológico” e não doutrinário. Ele, o José Lins, apresentou-se na época, com o apoio dos cariocas, como “analista didata”!!!.

Você já se perguntou por que o “Comité Catholique Contre La Faim et pour le Développement” deu apoio a esse projeto?

Eu já. Mas ainda não tenho resposta!

Como você sabe, voltei de Paris para Recife após o Zé Lins e não foi fácil me fazer reconhecer. Mesmo assim “briguei” pela criação do nosso ” núcleo de Psicanálise”.

Ivanise Ribeiro, hoje Presidente da “Sociedade”, nunca foi aceita pelo “grupo” do Zé Lins, embora tenha sido uma das suas pioneiras.

Muitos dos membros dos três “Grupos” se “iniciaram” comigo, o que me deixa muito a vontade… … …! Aguardando a sua réplica, fraternal abraço do amigo. Affonso.

Oi Affonso,

Você tem razão ao falar de História oficial para designar os revisionistas que reescrevem os fatos passados, mesmo quando eles são baseados não somente em palavras proferidas por testemunhas auditivas e oculares, mas que recusam até os arquivos conservados, como os filmes que mostram a realidade dos acontecimentos. Assim, aqui na França, como em outros lugares, ‘’historiadores’’políticos de extrema-direita, saudosistas hitlerianos, chegam a negar até mesmo a existência dos Campos de concentração nazistas, por conseguinte o próprio genocídio dos judeus.

No que diz respeitro à história da Sociedade de Psicanálise de Recife, guardadas todas as proporções, percebemos, por razões diversas que deveriam ser esclarecidas, a mesma tendência negacionista: recusar, deformar, esquecer digamos ‘’pequenos detalhes’’, como a sua participação na criação do ‘’Núcleo de Psicanálise’’ ou  quando não me  informaram  sobre o  acordo passado com o Comité.

Em recente trabalho que li na internet sobre a ‘’História da Psicanálise Brasileira’’, os autores  não somente privilegiam a corrente lacaniana, deixando apenas migalhas aos freudianos, mas dizem  bobagens em certas ocasiões, mostrando-se tendenciosos  em todas as circunstâncias. Por exemplo, escreveram que as primeiras traduções das Obras Completas de Freud em português (editora Delta), foi muito boa e causa de admiração para os analistas brasileiros.

Ora, Dona Elza Ribeiro Hawelka (psicanalista brasileira trabalhando em Paris) deu-me de presente dois volumes dessa edição, traduzidos por pessoas cuja língua materna não era o português. Ela escreveu com um  lápis muitas observações e  mostrou os frequentes erros gramaticais  que aparecem em vários artigos dos dois volumes. Ela quis mostrar ainda que se trata de uma tradução do espanhol e não do original alemão. E citou exemplos para provar isso: ela consultou a edição espanhola e comparou com a portuguesa. Resultado, encontrou os mesmos erros, as mesmas lacunas nas duas traduções, exatamente nos mesmo lugares e passagens,  provando  assim que se tratava de  uma tradução da tradução espanhola !!

Ainda sobre a criação do Núcleo de Recife: eu não sabia que Daniel Lagache tinha desempenhado o papel que você lembrou. Sei que Daniel Widlöcher e Serge Lebovici (respectivamente secretário e presidente da IPA na época) estiveram em Recife e acho que foram eles que reconheceram oficialmente a sociedade recifense de psicanálise. Questão: Lucia Lins não fez uma supervisão com Lagache?

Outra coisa: fiquei decepcionado com Ivanise, a qual, em sua casa, disse estar interessada em fazer um trabalho sobre a história da psicanálise pernambucana e fingiu mostrar-se interessada quando eu lhe disse haver escrito um artigo à pedido de Georges Dumézon:‘’A penetração dos conceitos psicanalíticos na semiologia psiquiátrica no Brasil’’. Trocamos nossos endereços, escrevi duas vezes a Ivanise, que nunca me respondeu!!!

Eu também não entendo porque você nunca me respondeu sobre a possibilidade de conversarmos pelo MSN, o que faço com amigos e familiares pelo Brasil afora. É facílimo, prático e gratuito!! Seu amigo Eliezer

 

ESTADOS UNIDOS: OS OPIÁCEOS CAUSAM MAIS MORTES DO QUE AS ARMAS

Referência: Hélène Fouard: revista Sciences, Humaines, Janeiro de 2018, N° 299.

Os opiáceos causam mais mortes do que as armas comuns: 90 por dia. Este é o triste balanço das superdoses por eles causadas nos Estados Unidos.

Depois de alguns anos, esta toxicomania aumentou de maneira preocupante. As substâncias consumidas vão da heroína até as moléculas prescritas para combater a dor e que são desviadas de suas indicações. É o caso, notadamente do Fentanyl, uma molécula 80 vezes mais forte do que a morfina. Chamada por seus utilizadores, Drop Dead ou Lethal injection. Alguns, vão até mesmo utilizar o Carfentanil- a versão veterinária do Fentanyl- destinada aos grandes animais, e, por conseguinte, muito mais forte.

Esta epidemia começou no fim dos anos de 1990: na época, as companhias farmacêuticas encorajavam a prescrição de moléculas para combater dores, argumentando o fato de que o uso delas não causavam dependência. Resultado, as prescrições aumentaram, mas também os abusos.

Esta epidemia, que mata mais do que as armas, preocupa profundamente as autoridades sanitárias dos Estados Unidos.

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