Psyquiatry online Brazil
polbr
Janeiro de 2013 - Vol.18 - Nº 1
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

 

Janeiro de 2013 - Vol.18 - Nº 1

France - Brasil- Psy

Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Quem somos (qui sommes-nous?)                                  

France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on  line”oferto aos  profissionais do setor da saúde mental de expressão  lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de sites.

Qui sommes- nous ?

France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais  concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et d’associations, sélection  de sites

SOMMAIRE (SUMÁRIO):

 

  • 1. HOMENAGEM A J.-B. PONTALIS
  • 2. LIVROS RECENTES
  • 3. REVISTAS
  • 4. ASSOCIAÇÕES
  • 1) HOMENAGEM A J.-B.  PONTALIS

     

    Eliezer de Hollanda Cordeiro (psiquiatra, psicanalista, inscrito no quadro da Ordem dos Médicos da França (Departamento do Loiret)

    O falecimento de Jean- Bertrand Pontalis, no dia 15 de janeiro de  2013, aliás no dia em que completaria 90 anos, deu lugar a muitas homenagens em jornais, revistas e emissões  de rádio franceses,teve  repercussão no Brasil e acelerou,  de maneira substancial, o desenvolvimento de sua biografia nas Wikipédias francesa e portuguesa.

    Seus estudos superiores levaram-no inicialmente à filosofia. Foi aluno de Jean-Paul Sartre e  tornou-se professor  desta disciplina, antes de engajar-se na grande aventura da psicanálise.

    A obra de Pontalis é considerável: mais de 25 livros, entre os quais,  o célebre‘’Vocabulaire de la psychanalyse’’, escrito  juntamente com Jean Laplanche ,publicado em 1967  sob a direção de Daniel Lagache,  traduzido em 25 línguas. Pontalis, também escreveu mais de uma dezena de livros com outros parceiros, sendo também  autor de muitas traduções e de um número incalculável de artigos.

    Pontalis, pertencia à terceira geração psicanalítica francesa. Ele fez uma análise com Jacques Lacan, análise de curta duração,  ele criticou seu analista  em seus livros, ironizando sobre  a duração das sessões ditas ‘’elásticas’’, que  eram, na realidade, sempre ‘’encurtadas’’, nunca ‘’alongadas’’, denunciando a  desenvoltura  de Lacan durante as sessões: ele se levantava, tomava café ou chá, atendia o telefone, não respeitava o horário das sessões e  as vezes deixava Pontalis esperar muito tempo numa sala cheia de clientes. Todas estas decepções  levaram-no a  romper  com Lacan e  a se aproximar de Daniel Lagache.

    Foi assim que um grupo de analistas, entre os quais Pontalis e Laplanche,  reuniram-se em torno de  Lagache e fundaram a  Association psychanalytique de France(APF,1964).

    Foi em 1970 que Pontalis  criou a famosa Nouvelle Revue de Psychanalyse (NRF),  editada por Gallimard, revista que deixou de ser publicada em 1994. Vários números da NRF foram reeditados recentemente.

    O psicanalista francês, Claude Janin, publicou uma biografia de Pontalis na P.U.F (Coleção Psychanalystes d’aujourd’hui,1997, 128 páginas).   Nesta biografia, Claude Janin explicou que a “Confiança total na escritura e a desconfiança relativa na linguagem (...)forjou  a obra complexa e secreta de Jean-Bertrand Pontalis: homem público e psicanalista, editor e escritor, ensaista e romanceiro(...).’’  E Claude Janin, ajuntou:’’Sua obra literária é indissociável de sua obra psicanalítica”.

    PSICANÁLISE E ESCRITURA

    Em seu livro, Travessia das sombras, pg. 179, J.-B. Pontalis explicou as analogias que percebia entre a psicanálise e a escritura dita literária: “ Embora as duas fossem muito diferentes,pelos seus procedimentos, exigências e finalidade, creio que são, quero que sejam próximas(...)Vejo agir nelas, uma palavra em movimento, avançando para o desconhecido,uma palavra sonhante que tenta livrar-se de tudo o que constrange no discurso organizado”.

    “Tudo o que constrange no discurso organizado”, me faz lembrar o artigo que escrevi na POLBr de Junho 2004, ‘’Os limites do analisável’’, onde podemos ler  a citação de J.-B.Pontalis:“O dogma esconde-se na clínica subjetiva da mesma maneira que o fantasma se deixa entrever no discurso que se diz científico.

    Percebemos aqui uma vontade resoluta de pensar por si mesmo, de colocar em questão os conceitos psicanalíticos e filosóficos, de não ceder à tentação de transformá-los em dogma, em verdade indiscutível. J.-B. Pontalis, não escreveu que  os conceitos [são] nossos instrumentos do dia,e nada mais? [E que eles] ignoram a sombra, recusam a noite ?»  (Traversia das sombras, pg. 181-182). Mas é tambem provável que esta atitude inscreva-se na sua própria história psico-afetiva, ponto importante para entendermos as rupturas que marcaram o seu percurso : com a filosofia, com Jean-Paul Sartre, com Jacques Lacan, e, de uma certa maneira, com Jean Laplanche. Tais rupturas, traduziriam o interesse permanente que ele manifesta, ao longo de suas obras, por temas como a perda e a separação?

    Sua ruptura com a filosofia? Ele evocou esta questão em várias ocasiões, por exemplo numa entrevista concedida a Psychologies Magazine, intitulada “Até onde podemos mudar?”, cuja tradução publicamos na POLBR Outubro 2006  .

    Sua ruptura com Sartre, responsável da revista Les Temps Modernes, da qual deixou o Comité de direção por divergências politicas? “Eu precisava antes de tudo libertar-me dos mestres, especialmente de Jean-Paul Sartre, o qual, embora generoso, era por demais esmagador” , disse na entrevista mencionada.

    Sua ruptura com as teorias de Jean-Paul Sartre e Jacques Lacan ? Pela necessidade de “desprender-se dos conceitos  (...) Desconfio [deles], esses produtos de um pensamento desencarnado, quando pretendem tudo elucidar’’ (Traversée des ombres pg. 181).

    Claude Janin, cita o post-scriptum”de Pontalis em Après Freud (p.379) ,onde ele fala novamente de suas relações com Sartre et Lacan: [Foram] “duas separações(...) mas na realidade uma só.Em alguns anos de distância, um duplo laço se desfez.Sim, vejo nisso um desenlaço, um desprendimento, e não duas rupturas.Teria eu pressentido que, para cessar de me situar, não sem dificuldade, entre Sartre e Lacan, ser-me-ia necessário dar adeus a cada um?.

    Num encontro realizado na Sociedade psicanalítica de Paris, em 21/06/1994, Pontalis voltou a falar, não de sua desconfiança dos conceitos, mas de sua preocupação em libertar-se deles,do que pretendem cercar, captar.

    Nesta espécie de “cerimônia de adeus” a Sartre e Lacan, para empregar a bonita expressão de Claude Janin, Pontalis precisou seu pensamento: “Tudo me distancia da crença,da adesão a uma causa, a uma doutrina, a um discurso que pretende ditar as suas leis, mostrar autoridade,o discurso político sendo somente um modelo do gênero. Considero como suspeito o pensamento que, mesmo se defendendo, tem resposta para tudo e deixa de lado sua própria incerteza. No centro desta reticência, encontro a recusa de identificar uma linguagem à verdade”(Amours des commencements,páginas 96-97).

    Na mediateca de Orléans, encontrei por acaso um documento contendo uma entrevista de Pontalis. Nesta entrevistas, ele  responde questões colocadas por  Daniel FRIEDMANN(CDROM 1983 ), na série LES PSYCHANALYSTES, sob o patrocínio do CNRS(Centro Nacional da Pesquisa Científica). Interrogado sobre suas relações com Lacan, Pontalis  respondeu:

     “Lacan foi importante para mim, durante meus anos de formação. A palavra dele era nova, ele contribuiu para a inserção cultural do analista, despertou a análise francesa. Era um homem excepcional, tive a chance de ter seguido o seu ensino no começo, quando não era ainda famoso. Prefiro este momento em que o pensamento dele começou a surgir. Quando ele começou a imobilizar-se, este período interessou-me menos. (…)Isto é assim, deve ser assim (…) , não pode ser de outra forma (…), numa posição de domínio do saber. Houve uma sacralização dos textos de Lacan (…) Desinteressei-me quando Lacan tornou-se o lacanismo. (…)Não podia reconhecer-me na escola lacaniana, nela eu não poderia me situar, dispor da possibilidade de me exprimir com minhas próprias palavras. O que seria contrário à experiencia analítica, que dá a possibilidade ao analista de falar com suas próprias palavras. A análise se faz por meio da lingua comum e não a do analista ».

    E sua separação de Jean Laplanche, após uma colaboração muito frutífera entre os dois grandes analistas?Lembremos que foram analisados por Lacan e que  escreveram juntos o Vocabulaire de la psychanalyse e também  o célebre artigo: Fantasmes des origines et origines des fantasmes. As relações entre os dois esfriaram, não o respeito mútuo nem o reconhecimento intelectual recíproco.

    Como prova,  ouvi num congresso da Association Psychanalytique  de France, Pontalis dizer aos participantes: “desnecessário apresentar Jean Laplanche, o maior exegeta mundial de Freud”.

    “Foi em torno dos problemas de tradução que surgiram divergências importantes entre os dois: Laplanche empreendeu a publicação das Obras completas de Freud na P.U.F.(Presses Universitaires de France), enquanto Pontalis dirigiu a publicação das Nouvelles traductions (Novas traduções) das obras de Freud, na editora Gallimard’’, explicou  Claude Janin.

    Recentemente, analistas da Associação Psicanalítica da França tomaram a iniciativa de homenager Pontalis, num colóquio em Cerysi, intitulado: O Reino Intermediário em torno dos escritos psicanalíticos e literários de Jean-Bertrand Pontalis. Homenagem merecida a um analista cujos escritos, como escreveram os organizadores do colóquio, “têm a particularidade de situar-se, constantemente, nas fronteiras, ocupando este reino intermediário de que falava Freud(…)[A singularidade do homem Pontalis, sua curiosidade e afável lucidez atravessam as distinções convencionais entre o trabalho científico, a clínica analítica e a escritura”.

    Entre os participantes e conferencistas: Jean-Michel DELACOMPTÉE, François GANTHERET et Jean-Bertrand PONTALIS, Jacques ANDRÉ, Guy GOFFETTE, Pierre BAYARD, Antoine BILLOT Colette FELLOUS, Roger GRENIER, Laurence KAHN, Edmundo GOMEZ-MANGO, Jean CLAIR, Catherine CHABERT, Daniel PENNAC, Miguel DE AZAMBUJA, Maurice OLENDER,Jean-Claude ROLLAND, Michel Gribinski.
    Conceitos

    Autografia: Numa entrevista com  Pascale Arguedas, Pontalis abordou novamente a maneira como conseguiu reconciliar psicanálise e literatura, suas maiores paixões. Ele explicou  a significação do conceito:  autografia é um livro onde não se escreve sobre si mas escreve-se.

    Imagem: em seu livro La traversée de l’ombre (pg. 380), Pontalis pergunta “A imagem não seria a fonte do pensamento?(...) E o pensamento não viria após, para dar uma forma lógica ao irracional, para delimitar o caminho, utilisando com muita força demonstrações, argumentos, provas; por medo de perder-se? Se eu procurasse o vínculo entre as imagens que se impõem a mim, qual seria o fio que me conduziu a associá-las em suas disparidades?(...)Eu encontraria o quê?Qualquer coisa que se situaria entre hesitação e surpresa, uma falha imprevista,próxima de uma revelação(...)Então é todo o regime do pensameneto, mais ou menos seguro que oscila, uma mudança de estado(...)De súbito a incerteza, a perturbação, a inquietação; perdidas as marcas e as balisas, derrota da ordem do discurso, desarranjo que poderia até anunciar a loucura”.

    A mágica e a potência da imagem, sem as quais as palavras seriam ineficazes, escreveu Pascale Arguedas sobre L’amour des commencements.

     Referências

    *Wikipedia

    *Claude Janin: J.-B. Pontalis, coleção Psychanalystes d’aujourd’hui, PUF,Paris,1997.

    2)LIVROS RECENTES

    *Le travail du psychanalyste en psychothérapie

    François RICHARD-Catherine CHABERT,

    Thierry BOLANOWSKY-ANDRÉ GREEN

    Ed. Dunod,  2012, 22

    *Mon analyse avec le Professeur FREUD

     Sous la direction d’Anna KOELLEREUTER

    Ed. Flammarion, 2012-10€

    *Introduction à la psychopathologie de l’adolescent : approche psychanalytique

    Pierre SULLIVAN

    Ed. Dunod, 2012-22,90€

    *Psychopathologie du bébé

    Christelle BENONY, Bernard GOLSE, Nicolas GEORGIEFF, sous la direction de  Jean-Louis PEDINELLI

    Ed. Armand Colin, 2012- 9,80€

    *Le pervers narcissique et son complice

    Alberto EIGUER

    Ed. Dunod, 2012 – 26,90€

    *Même les kangourous se détachent de leur mère: essai sur les limites de l’amour maternel.

    Jean MAISONDIEU

    Ed. Payot, 2012-21,50€

    *Comment la dépression est devenue une épidémie

    Philippe PIGNARRE

    Ed . La Découverte, 2012-8,50€

    *De la cure à l’écriture: l’élaboration d’un héritage traumatique

    Janine ALTOUNIAN

    Ed. PUF, 2012-27€

    *Petite histoire de l’empathie

    Jacques HOCHMANN

    Ed. O. Jacob, 2012-22,90€

    *Seize leçons sur le trauma

    Louis CROCQ

    Ed. O. Jacob, 2012-25,90€

    3) REVISTAS

    L’EVOLUTION PYCHIATRIQUE

    L’INFORMATION PSYCHIATRIQUE

    IMPACTE MEDECINE

    LA REVUE FRANÇAISE DE PSYCHIATRIE ET DE PSYCHOLOGIE MÉDICALE 

    L’ENCEPHALE

    PSYCHIATRIE FRANÇAISE

    L’AUTRE, CULTURE ET SOCIÉTÉS

    4)ASSOCIAÇÕES

    MISSION NATIONALE D’APPUI EN SANTE MENTALE

    *ASSOCIATION FRANÇAISE DE PSYCHIATRIE ET PSYCHOLOGIE LEGALES (AFPP)

    *ASSOCIATION FRANÇAISE DE MUSICOTHERAPIE (AFM)

    ASSOCIATION ART ET THERAPIE

    *ASSOCIATION FRANÇAISE DE THERAPIE COMPORTEMENTALE ET COGNITIVE (AFTCC)

    *ASSOCIATION FRANCOPHONE DE FORMATION ET DE RECHERCHE EN THERAPIE COMPORTEMENTALE ET COGNITIVE (AFFORTHECC)

    *ASSOCIATION DE LANGUE FRANÇAISE POUR L’ETUDE DU STRESS ET DU TRAUMA (ALFEST)

    *ASSOCIATION DE FORMATION ET DE RECHERCHE DES CELLULES D’URGENCE MEDICO  PSYCHOLOGIQUE (AFORCUMP)

    *ASSOCIATION POUR LA FONDATION HENRI EY


    TOP