Novembro de 2022 – Vol. 27 – Nº 11

Walmor J. Piccinini

Na grande imprensa americana são frequentes as reportagens sobre uma nova fronteira que se abre para tratamentos psiquiátricos utilizando drogas conhecidas há uns 80 anos, os chamados “psicodélicos”. Há intensa disputa por patentes que chegam a extremos como patentear o mobiliário utilizado na psicoterapia assistida. A técnica é a mesma utilizada com outras drogas como a maconha por exemplo; começa com o uso medicinal para doenças raras, depois tenta se provar em doenças psiquiátricas comuns e por fim o uso recreativo. A saúde da população fica eduzida a importância secundária. As primeiras pesquisas com as chamadas drogas psicodélicas foram permitidas para doenças terminais como forma de alívio na hora terminal. Depois foi relatado o uso benéfico em PTSD de veteranos de guerra e ultimamente para alcoolismo e fumo.

As drogas em geral parecem circularem em ciclos e a cada dez ou 15 anos se produz uma epidemia por drogas diferentes. A heroína por exemplo foi o demônio das drogas nos anos 1970. Pelo menos nos EUA, no Brasil não chegou a causar problemas por ser muito cara. Entre nós (Brasil) a maconha sempre foi destaque. Novamente nos EUA, nos anos de 1980 apareceu a epidemia de Crack, depois reapareceu a heroína nos anos 90, nos anos 2000 a metanfetamina e depois em 201º os opioides receitados por médicos por último o fentanil e ouros opioides que estão vendendo como heroína.

No Brasil a ordem segue mais ou menos assim, maconha, cocaína, pasta de cocaína, crack, maconha agora disfarçada de droga medicinal.

Estamos publicando artigos sobre estas novas drogas, os psicodélicos:

DROGAS SINTÉTICAS – Psychiatry on line brasil (polbr.med.br)

NOVAS OU ANTIGAS FRONTEIRAS EM PSICOFARMACOLOGIA; OS PSICODÉLICOS – Psychiatry on line brasil (polbr.med.br)

O AVANÇO DOS PSICODÉLICOS (2) – Psychiatry on line brasil (polbr.med.br)

Pode ser pouco usual, mas pesquisei a opinião de leitores de um grande jornal e selecionei algumas mensagens de leitores que se mostraram bem-informados sobre esta discussão> Como não tenho consentimento, selecionei trechos para o que nos interessa:

Comentários sobre “psychedelics”. Muitas empresas tentam patentear produtos nesta linha de pesquisa.

 

  1. O medicamento combinado de dieta Fen-Phen foi retirado do mercado porque a Fenfluramina causa doença cardíaca valvular (VHD). A fenfluramina causa VHD ligando-se e ativando os receptores 5-HT2B na válvula cardíaca. Existe uma forte correlação entre VHD e ativação de 5-HT2B. O MDMA e a psilocina (o metabólito ativo da psilocibina) se ligam (com alta afinidade) e ativam o 5-HT2B (a psilocina é um agonista parcial). Há uma probabilidade muito forte (e evidências na literatura) de que ambos também causem VHD (como Fenfluramina de Fen-Phen). Se eles forem aprovados para terapia, provavelmente virão com um aviso de caixa preta. Não acho que a discussão deva focar nos lucros, mas sim na segurança.
  2. “Os resultados do primeiro estudo randomizado controlado por placebo (RCT) de psicoterapia assistida por MDMA para TEPT foram publicados em 2010 (Mithoefer et al., 2010). Doze pacientes resistentes ao tratamento receberam 2 sessões com 125 mg de MDMA (mais um opcional reforço de 62,5 mg), enquanto 8 pacientes receberam um placebo. Os resultados mostraram que 83% dos pacientes no grupo MDMA não preenchiam mais os critérios para TEPT, de acordo com os escores de corte da Escala de Sintomas de TEPT administrado pelo clínico (CAPS-IV), em comparação com 25% no grupo placebo. Um acompanhamento de longo prazo demonstrou que os efeitos do tratamento foram estáveis durante um período de 3,5 anos (Mithoefer et al., 2013). Esses resultados foram replicados em 2 outros estudos (Mithoefer et al.., 2018; Ot’alora et al., 2018) … Com base nesses resultados, o FDA concedeu ao MDMA uma designação de terapia inovadora para o tratamento de TEPT.”

Fonte: E. Krediet et ai., Int. J. Neuropsicofarmacol. 2020 junho; 23(6): 385-400).

 

  1. Se alguém acredita que a maioria das pessoas que recebem psicodélicos para o tratamento de transtornos mentais também receberá a psicoterapia necessária junto com eles, tenho uma ótima ponte para o Brooklyn para você. Quando os adesivos de nicotina para parar de fumar foram estudados e aprovados pela FDA, os estudos sobre sua eficácia foram realizados com indivíduos também recebendo psicoterapia junto com eles e isso deveria fazer parte do regime de tratamento. Uma vez disponíveis, praticamente ninguém se preocupou com a psicoterapia. Se eu fosse um apostador, apostaria a casa que a mesma coisa vai acontecer com os psicodélicos.
  2. Nós não queremos essas substâncias, que por serem tão facilmente obtidas ou cultivadas em casa, são relativamente baratas, sendo controladas por nossas atuais grandes corporações farmacêuticas ou por novos grandes negócios que colocam o lucro antes do nosso bem-estar. Ambos as tornarão financeiramente inacessíveis a muitos que poderiam ter se beneficiado deles e os empurrarão para muitos que talvez

Não as necessitem.

  1. Para um exemplo de como as drogas atuais e lucrativas criadas e promovidas pela Big Pharma geralmente causam perigo e danos, leia o artigo da The New Yorker:

“O desafio de largar as drogas psiquiátricas (“The Challenge of Going Off Psychiatric Drugs)

  1. Milhões de americanos tomaram antidepressivos por muitos anos. O que acontece quando é hora de parar?” Temos um artigo sobre este assunto na polbr.

 

  1. Coquetéis de vários medicamentos são prescritos sem (e esse é o ponto) nenhum protocolo para retirá-los. Muitas vezes, o suicídio ou tentativa de suicídio é o resultado. Perdemos um membro da família desta forma. As drogas psiquiátricas são muito rentáveis.

 

Muitas drogas têm reconhecido efeitos colaterais psiquiátricos – depressão, aumento da automutilação etc. – e muitas vezes compartilham a propriedade (pelo menos no rótulo) de precisarem ser tomadas para sempre. As estatinas, verdadeiros sucessos de bilheteria, são uma delas: Mudanças de humor, personalidade e comportamento durante o tratamento com estatinas. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5005588/

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