Sérgio Telles

 

  • Olga Tokarczuk, a polonesa vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, diz que a leitura de “Além do princípio do prazer”, de Freud, realizada quando era adolescente, foi o primeiro passo para se transformar numa escritora. Ali descobriu que “a interpretação é a chave da realidade”. Apesar de disso, diz que sua literatura, como a de toda Europa Central, é mais meândrica, não segue uma estrutura linear, por não ser tão influenciada pela psicanálise. Tokarczuk foi estudante de psicologia, trabalhou com drogaditos e é considerada uma “arqueóloga da psique coletiva” de seu país. Talvez por isso mesmo é atacada pela direita polonesa, na medida em que desafia a história oficial e expõe aquilo que, para muitos, deveria continuar secreto.

 

https://www.theguardian.com/books/2018/aug/24/olga-tokarczuk-reading-freud-was-my-first-step-to-becoming-a-writer

 

https://frieze.com/article/nobel-laureate-olga-tokarczuk-archaeologist-collective-psyche

 

 

  • Artigo fala sobre a pouco conhecida tentativa realizada pelo México para salvar Freud dos nazistas. Na ocasião, o presidente Lázaro Cárdenas havia aberto as portas do México para intelectuais, socialistas e comunistas fugidos da Guerra Civil Espanhola. Sindicatos e movimentos de esquerda o pressionaram para dar asilo a Freud e seus familiares.

 

https://thereader.mitpress.mit.edu/mexico-attempt-save-freud-nazis/

 

 

  • Resenha escrita pelo premiado escritor irlandês Colm Tóibín sobre o livro “The Lives of Lucian Freud: Youth, 1922-68” de William Feaver. Neto do criador da psicanálise, Lucian foi desde a infância uma pessoa rebelde, não se adaptando aos padrões sociais. Teve uma vida muito acidentada, exercendo sua sexualidade com homens e mulheres, com várias das quais teve 14 filhos e foi um pai completamente ausente. Terminou por se firmar como um grande pintor, seguindo uma trilha muito pessoal, sem se filiar a escolas e modismos.

https://www.lrb.co.uk/v41/n19/colm-toibin/falling-in-love-with-lucian

 

  • Universidade americana promove debate com Slavoj Zizek, no qual os super-heróis são colocados no divã. Um dos palestrantes faz uma comparação entre Superman e Batman, mostrando que os dois representam aspectos cindidos de uma mesma personalidade. Batman, com sua incapacidade de superar o assassinato dos pais, expõe o lado negro do Superman. Zizek estuda a relação de Batman com Coringa, apontando a semelhança entre eles, salientando que Coringa é o que não nega e aceita sua própria maldade. O debate provocou reações fortes na plateia e teve de ser abruptamente interrompido.

 

http://www.dailyprincetonian.com/article/2019/10/professors-offer-superhero-psychoanalysis

 

 

  • Nova polêmica polariza os psicanalistas franceses. Recentemente 80 deles assinaram um manifesto expressando preocupação com o que julgam ser uma hegemonia do pensamento descolonial, que supervaloriza as reivindicações identitárias e comunitaristas. Isso lhes parece inadequado, desde que alegam ser próprio do trabalho psicanalítico analisar e desconstruir formações identitárias. Em seguida, 150 outros analistas e intelectuais respondem com outro manifesto, apontando para o crescente preconceito e ataques contra raça, cor e religião (como o que ocorre com o islã), o que os leva a entender o recrudescimento das formações identitárias como uma forma necessária de resistência política.

 

https://www.liberation.fr/debats/2019/10/03/panique-decoloniale-chez-les-psychanalystes_1755259

 

https://www.marianne.net/debattons/billets/ce-que-la-psychanalyse-nous-apprend-de-la-pensee-decoloniale-et-intersectionnelle

 

https://blogs.mediapart.fr/blaz/blog/270919/fraternite-psychanalytique

 

  • Interessante artigo que mostra como se tenta patologizar os partidários do vegetarianismo e do veganismo, com falsas informações e estatísticas. Na opinião da autora, tais preferências decorrem de escolhas morais, realizadas por pessoas realmente mais sensíveis do que a maioria, que padecem mais intensamente com a agressiva oposição que lhes é dirigida, num mundo onde o uso e abuso dos animais é uma prática universal, naturalizada e inquestionada. Os vegetarianos ou veganos, em sua opinião, não são doentes mentais. São pessoas saudáveis e responsáveis, perdidas num mundo perturbado e mau.

 

https://blogs.psychcentral.com/veganism/2019/10/is-veganism-a-mental-disorder/

 

 

 

  • Densa entrevista do Los Angeles Review of Books com Alenka Zupancic – psicanalista e marxista – sobre política feminina e diferença sexual, onde defende que as questões referentes à sexualidade não devem ser pautadas pela problemática da identidade.

 

https://lareviewofbooks.org/article/sex-without-identity-feminist-politics-sexual-difference/

 

 

  • A analista e filósofa francesa Sabine Prokhoris reflete sobre o atual movimento de busca da identidade do pai por parte de filhos de doadores anônimos de sêmen, que promovem manifestações para mudar a atual lei que não reconhece seu direito de conhecer o pai. A autora comenta o cartaz usado pelos manifestantes, que trocaram o famoso lema da Revolução Francesa, ‘Igualdade, Liberdade, Fraternidade”, por “Igualdade, Liberdade, Paternidade”, desatentos às incongruências e implicações teóricas advindas dessa mudança. Prokhoris aborda ainda questões ligadas ao colonialismo e descolonização, que envolvem o explosivo tema da “raça” (veja item 5).

 

https://www.liberation.fr/debats/2019/10/17/de-l-usage-autoritaire-des-theories_1758191

 

 

  • As polêmicas sobre a relação entre psicanálise e literatura são retomadas no livro de Michel Crouzet, “Psychanalyse et culture literaire”, examinado nessa resenha feita por Gregoire Tavernier.

 

https://www.fabula.org/revue/document12420.php

 

 

  • Em estrevista, Elisabeth Roudinesco fala sobre vários assuntos, como a eleição de Trump e Bolsonaro, o populismo na política, o efeito das redes sociais na sociedade, seu novo livro “Vocabulário Amoroso da Psicanálise” e outras questões atuais.

 

http://www.vermelho.org.br/noticia/324034-1

 

 

  • Lançado agora o filme com a história de Judy Garland, com Renée Zellweger. Segundo o texto, o roteiro traça um “perfil psicanalítico” da cantora, enfatizando sua difícil infância e a perda da custódia dos filhos em função do abuso de álcool e drogas, perda que não conseguiu superar.

 

https://www.henleystandard.co.uk/news/cinema/144813/theres-no-place-like-hollywood.html

 

  • Titular do departamento de filosofia da Pensylvania State University discorre no Foley Institute sobre como a teoria psicanalítica pode ser útil para a compreensão do populismo de direita e a polarização política em andamento em vários países, como nos Estados Unidos. Usando o referencial kleiniano, a professora analisa como líderes autoritários manipulam, em função de seus próprios interesses, a persecutoriedade e a paranoia da população.

 

https://dailyevergreen.com/63452/news/guest-explains-causes-of-political-polarization/

 

 

  • O artigo comenta e recomenda seis filmes centrados em dramas que envolvem personagens em tratamento psicoterápico ou necessitados de internação psiquiátrica. São eles: “The Mountain” (2018), de Rick Alverson; “Spellbound” ou “Quando fala o coração” (1945); “The Cobweb” ou “Paixões sem freio” (1955), de Vincent Minelli; “Monster in the box” (1992), de Nick Bloomfield; “O quarto do filho”, de Nanni Moretti e “Rois et Reine” (“Reis e Rainha”, 2004), de Arnauld Desplechin.

 

https://www.chicagoreader.com/chicago/movie-tuesday-psychotherapy/Content?oid=74061178

 

 

(*) Publicado anteriormente no site do Instituto Sedes Sapientiae, Departamento de Psicanálise

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