Taís Naiara Cardoso(1), Luiza de Aquino Vieira(2), Nicole de Oliveira Garcia(3), Paula de Oliveira Leão(4), Rafaela Evangelista Ferreira Marra(5), Thatyanne Silvestre Ribeiro(6), Yasmin Gonçalves Amaral(7), Claudio Herbert Nina-e-Silva(8).

 

(1)Acadêmica de Medicina, Faculdade de Medicina (FAMERV), Universidade de Rio Verde (UniRV). [email protected].

(2)Acadêmica de Medicina, FAMERV/UniRV. [email protected]

(3)Acadêmica de Medicina, FAMERV/UniRV.. [email protected].

(4)Acadêmica de Medicina, FAMERV/UniRV.. [email protected].

(5)Acadêmica de Medicina, FAMERV/UniRV.. [email protected].

(6)Acadêmica de Medicina, FAMERV/UniRV.. [email protected].

(7)Acadêmica de Medicina, FAMERV/UniRV.. [email protected].

(8)Orientador. Professor de Neuropsicofarmacologia, Laboratório de Psicologia Anomalística e Neurociências, Faculdade de Psicologia, Universidade de Rio Verde. Professor de Habilidades de Pesquisa, FAMERV/UniRV. [email protected].

 

Resumo: Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura acerca dos principais efeitos adversos da quetiapina no tratamento farmacológico da esquizofrenia a partir de consulta às bibliotecas virtuais PubMed e SciELO. A amostra de análise foi composta por quatro artigos que satisfizeram os critérios de inclusão de artigos para análise neste estudo. Concluiu-se que os principais efeitos colaterais da quetiapina são sedação, dor de cabeça e aumento de peso.

Palavras–chave: Esquizofrenia, Antipsicóticos Atípicos, Psicofarmacologia.

 

Abstract: This study aimed to carry out an integrative review of the literature on the main adverse effects of quetiapine in the pharmacological treatment of schizophrenia through consultation with the PubMed and SciELO virtual libraries. The analysis sample consisted of four articles that met the criteria for inclusion of articles for analysis in this study. It has been concluded that the main side effects of quetiapine are sedation, headache and weight gain.

Keywords: Schizophrenia, Atypical Antipsychotics, Psychopharmacology.

 

Introdução

A esquizofrenia é um tipo de psicose crônica que tem caráter idiopático, ou seja, não apresenta uma causa específica, embora fatores genéticos, psicossociais e de neurodesenvolvimento estejam associados ao desenvolvimento desse transtorno psiquiátrico (SILVA, 2006; GABBARD, 2016; SADOCK et al. 2017).

De acordo com Vallada Filho e Samaia (1996), os primeiros sinais e sintomas dessa psicose aparecem, principalmente, durante a adolescência ou início da idade adulta. Inicialmente, os sintomas são pouco específicos, como perda de iniciativa e interesses, negligência com a aparência pessoal e higiene, humor depressivo, comportamento inadequado e isolamento. Depois de algumas semanas ou meses os sintomas mais característicos do transtorno começam a se manifestar como, transtornos de pensamento e fala, alucinações, déficits cognitivos, perturbação de emoção e do afeto e delirious (VALLADA FILHO; SAMAIA, 1996; GABBARD, 2016; SADOCK et al., 2017).

A intervenção terapêutica principal para os portadores de esquizofrenia se dá por meio de fármacos denominados de antipsicóticos (STAHL, 2014). Os antipsicóticos são empregados para controlar os sintomas e ajudar os pacientes a recuperar parte de seu nível de funcionamento pré-mórbido (STAHL, 2014; SADOCK et al., 2017).

A quetiapina é um antipsicótico atípico derivado da dibenzotiazepina que tem sido amplamente prescrito para o tratamento da esquizofrenia desde 1997 (MIODOWNIK & LERNER, 2006; HUTTON et al,.2015). Do ponto de vista químico, a estrutura da quetiapina se assemelha à da clozapina (OLIVEIRA, 2000). Apesar dessa similaridade química, a administração de quetiapina não necessita do mesmo padrão de monitorização sanguínea para prevenção da netropenia e da agranulocitose indispensável para o emprego terapêutico da clozapina (OLIVEIRA, 2000).

Estudos randomizados têm demonstrado a eficácia da quetiapina em relação ao placebo tanto no tratamento agudo quanto no manejo clinico a longo prazo da esquizofrenia (KASPER et al., 2001; BUCKLEY, 2004; MIODOWNIK & LERNER, 2006). A quetiapina tem sido descrita como especificamente eficaz na melhoria dos sintomas positivos, negativos e depressivos da esquizofrenia, bem como na redução da agitação, agressividade e hostilidade (BUCKLEY, 2004).

A quetiapina apresenta perfil aceitável de segurança e tolerabilidade em jovens adultos (OLIVEIRA, 2000; TIMDAHL et al., 2007; HASHIMOTO et al., 2015). O perfil de segurança da quetiapina a longo prazo em crianças e adolescentes foi semelhante ao descrito para adultos (OLIVEIRA 2000). Além disso, a quetiapina foi descrita como tendo um perfil de efeitos extrapiramidais mais favorável do que o haloperidol, a clorpromazina e a risperidona (TIMDAHL et al., 2007). Embora menos eficaz do que a clozapina no tratamento de pacientes portadores de esquizofrenia refratária, a quetiapina foi apresentou um perfil de tolerabilidade e de menor frequencia e intensidade de efeitos adversos do que a clozapina (KUMAR et al., 2017).

Além do tratamento da esquizofrenia, a quetiapina também é utilizada no tratamento de outros distúrbios, como crise de ansiedade, insônia e transtornos de personalidade (THURSTONE & ALAHI, 2000). A literatura tem descrito casos de dependência do uso de quetiapina no tratamento da esquizofrenia e desses distúrbios e, por conseguinte, chamaram esse status de “síndrome de abstinência de quetiapina” (THURSTONE & ALAHI, 2000; MICHAELIDES et al., 2005; KOHEN & KREMEN, 2009). A “síndrome de dependência de quetiapina” tem sido considerada um efeito colateral significativo desencadeado pela terapia farmacológica com quetiapina, visto que foi descrito pela literature que a sua suspensão ou a redução da dose do fármaco podem provocam efeitos bastante desagradáveis no indivíduo, como discinesia (MICHAELIDES et al., 2005), distúrbios do sono, nervosismo, ansiedade, palpitações cardíacas, tonturas, náuseas e vômitos (THURSTONE & ALAHI, 2000; KOHEN & KREMEN, 2009).

Assim, o objetivo deste trabalho foi descrever os principais efeitos adversos suscitados pelo uso da quetiapina no tratamento da esquizofrenia.

Material e Métodos

Este trabalho foi uma pesquisa bibliográfica, de natureza quantitativa, por meio de uma revisão integrativa da literatura médica atual. Para nortear a revisão integrativa, formulou-se a seguinte questão: quais são os efeitos colaterais do uso medicamentoso da quetiapina no tratamento de esquizofrenia? A busca das produções científicas foi realizada no US National Library of Medicine National Institutes of Health (PubMed) e no The Scientific Electronic Library Online (SciELO).

Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram os seguintes: 1) artigos publicados nos idiomas português e inglês, com resumos disponíveis nessas bases de dados; 2) artigos publicados nos últimos cinco anos; e 3) ensaios clínicos que abordassem os efeitos colaterais do uso de quetiapina no tratamento de esquizofrenia. Foram excluídos artigos que, apesar de apontarem fatores sobre efeitos adversos, não possuíam informações relevantes. Foram empregadas, para a busca dos artigos, as seguintes palavras-chave e as suas combinações nas línguas portuguesa e inglesa: “quetiapina AND esquizofrenia”, “quetiapine AND schizophrenia”.

A busca foi realizada por meio do acesso on-line. Os artigos encontrados passaram por uma triagem por meio da leitura dos resumos, sendo que só foram analisados completamente aqueles artigos que atendiam simultaneamente aos três critérios de inclusão na amostra. Os artigos selecionados para análise foram então copiados das bibliotecas virtuais e organizados conforme a ordem de seleção. Depois disso, cada um dos artigos foi lido integralmente e os dados foram analisados por meio da estatística descritiva.

Resultados e Discussão

A busca nas bibliotecas virtuais PubMed e SciELO, a partir dos termos de busca, produziu 33 artigos. Contudo, apenas quatro artigos satisfizeram aos critérios de inclusão e foram analisados.

O Quadro 1 ilustra os principais efeitos adversos do uso da quetiapina no tratamento da esquizofrenia descritos por cada um dos artigos analisados.

 

Quadro 1 – Principais efeitos adversos da quetiapina descritos pela amostra de artigos analisados.

Estudo Efeitos Adversos
Findling et al. (2013)

 

Sonolência;

Dor de cabeça;

Sedação;

Aumento de peso;

Diminuição do colesterol (LDL);

Aumento dos níveis de triglicérides

Hutton et al. (2015) Sedação;

Aumento de peso.

Pan et al. (2015) Dor de cabeça;

Exacerbação da psicose;

Disúria.

Piróg-Balcerzac et al. (2015) Dependência psicológica;

Síndrome da abstinência associada ao abuso da substancia.

 

A partir da análise da amostra de artigos, verificou-se que a sedação, dor de cabeça e aumento de peso foram os efeitos adversos do uso da quetiapina mais citados pela literatura analisada.

Esses resultados poderiam ser explicados pela farmacologia da quetiapina. O fármaco quetiapina de libertação imediata (IR) tem como composição o hemifumarato de quetiapina, o qual é indicado no tratamento de esquizofrenia, monoterapia ou adjuvante no tratamento dos episódios de mania e de depressão associados ao transtorno afetivo bipolar (TEUTO BRASILEIRO, 2016).

A quetiapina e seu metabólito ativo no plasma humano, a norquetiapina, interagem com ampla gama de receptores de neurotransmissores. A quetiapina e a norquetiapina exibem afinidade pelos receptores de serotonina (5HT2) e pelos receptores de dopamina D1 e D2 no cérebro (TEUTO BRASILEIRO, 2016). Esta combinação de antagonismo ao receptor com alta seletividade para receptores 5HT2 em relação ao receptor de dopamina D2 contribui para as propriedades antipsicóticas clínicas e reduz a suscetibilidade aos efeitos colaterais extrapiramidais da quetiapina em comparação com os antipsicóticos típicos (TIMDAHL et al., 2007; TEUTO BRASILEITO, 2016).

A quetiapina não possui compatibilidade pelo transportador de norepinefrina (NET) e tem baixa afinidade pelo receptor de serotonina 5HT1A, enquanto a norquetiapina tem alta relação por ambos . O impedimento do NET e a ação agonista parcial do receptor 5HT1A pela norquetiapina podem cooperar para o êxito terapêutico do Hemifumarato de quetiapina como um antidepressivo. A quetiapina e a norquetiapina têm também alta afinidade pelos receptores histamínicos e alfa1-drenérgicos, e ligação moderada pelos receptores alfa2- adrenérgicos. A quetiapina também possui baixa afinidade pelos receptores muscarínicos, enquanto a norquetiapina tem afinidade moderada à alta por vários subtipos de receptores muscarínicos, o que pode esclarecer os efeitos anticolinérgicos (muscarínicos).

Conclusão

De acordo com a análise dos artigos, os principais efeitos colaterais da quetiapina foram a sedação, a dor de cabeça e o aumento de peso.

Referências Bibliográficas

BUCKLEY, P.F. (2004). Efficacy of quetiapine for the treatment of schizophrenia: a combined analysis of three placebo-controlled trials. Current Medical Research and Opinion, 20(9):1357-1363.

GABBARD, G.O. (2016). Psiquiatria psicodinâmica na prática clínica, 5. ed., Artmed, Porto Alegre.

HASHIMOTO, N. et al. (2015). Long-term efficacy and tolerability of quetiapine in patients with schizophrenia who switched from other antipsychotics because of inadequate therapeutic response—a prospective open-label study. Annals of General Psychiatry. 14:1. doi:10.1186/s12991-014-0039-6.

KASPER, S. et al. (2001). Quetiapine: efficacy and tolerability in schizophrenia. European Neuropsychopharmacology, 4(Suppl):405-413.

KOHEN, I.; KREMEN, N. (2009). A case report of quetiapine withdrawal syndrome in a geriatric patient. World Journal of Biological Psychiatry, 10(4):985-986.

KUMAR, M. et al. (2017). Efficacy and tolerability of clozapine versus quetiapine in treatment-resistant schizophrenia. Indian Journal of Psychological Medicine, 39(6):770-776.

MICHAELIDES, C. et al. (2005). Reversible withdrawal dyskinesia associated with quetiapine. Movement Disorders, 20(6):769-770.

MIODOWNIK, C.; LERNER, V. (2006). Quetiapine: efficacy, tolerability and safety in schizophrenia. Expert Review of Neurotherapeutics, 6(7):983-992.

OLIVEIRA, I.R. (2000). Antipsicóticos atípicos: farmacologia e uso clínico. Revista Brasileira de Psiquiatria. 22(Suppl I):38-40.

SADOCK, B.J.; SADOCK, V.A.; RUIZ, P. (2017). Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica, 11. ed., Artmed, Porto Alegre.

SILVA, RCB. (2006). Esquizofrenia: uma revisão. Psicologia USP. 17(4):263-285.

STAHL, S.M. (2014). Psicofarmacologia: bases neurocientíficas e aplicações práticas, 4. ed., Guanabara Koogan, Rio de Janeiro.

TEUTO BRASILEIRO (2016). Quetiapina. Responsável técnico Andreia Cavalcante Silva. Anápolis: Teuto Brasileiro. Bula de remédio.

TIMDAHL, K. et al. (2007). An analysis of safety and tolerability data from controlled, comparative studies of quetiapine in patients with schizophrenia, focusing on extrapyramidal symptoms. Human Psychopharmacology, 22(5):315-325.

THURSTONE, C.C.; ALAHI, P. (2000). A possible case of quetiapine withdrawal syndrome. Journal of Clinical Psychiatry, 61(8):602-603.

VALLADA FILHO, H.P.; SAMAIA, H. (2000). Esquizofrenia: aspectos genéticos e estudos de fatores de risco. Revista Brasileira de Psiquiatria. 22(Suppl I):2-4.

 

 

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