Volume 16 - 2011 Editor: Giovanni Torello |
Fevereiro de 2011 - Vol.16 - Nº 2 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites
1) HISTÓRIA DA LOUCURA Doutor Eliezer de Hollanda Cordeiro
Quando apresentamos o livro do Dr. Claude Quetel, intitulado HISTOIRE DE LA FOLIE (História da loucura), na edição da Polbr de outubro de 2009, tínhamos a intenção de retomar esta questão para desenvolvê-la. Uma entrevista do mesmo autor concedida ao jornalista Patrice Gélinet, deu-me o ensejo de enriquecer o artigo outrora apenas esboçado. INTRODUÇÃO A loucura seria uma doença do corpo ou da alma? A consequência de uma insuficiência física ou psíquica? Um castigo de Deus ou uma obra do Diabo? Sempre existiu uma nosografia da loucura, isto é descrições e explicações sobre este fenômeno, mas esta nosografia mudou ao longo do tempo: na antiguidade falava-se dos frenéticos, maníacos, melancólicos, hidrofóbicos... A própria significação do termo ‘’psicologia’’ mudou: inicialmente descrita como a ‘‘ciência do aparecimento dos espíritos’’(Século XVI) , ela tornou-se ‘’ a ciência da alma’’(Século XVII), como podemos ler no ‘’Dictionnaire étymologique du français’’, Le Robert. No mesmo dicionário, encontramos as datas do aparecimento de outros termos: psiquico(SéculoXVI); psiquismo, psicose, psicopata, psicopatologia(Século XIX); psicótico, psicanálise, psicoterapeuta(Século XX). O termo ‘’psiquiatria’’, empregado pela primeira vez por Johann Christian Reil em 1808, também é uma criação, um momento da história da medicina.’’ Psiquiatria’’ deriva do vocábulo grego psyche ( alma ou espírito) , e iatros (que significa médico ). Literalmente, psiquiatria quer dizer a medicina da alma. OS PRIMÓRDIOS DO TRATAMENTO DA LOUCURA
Claude Quetel, estudou os diferentes tipos de tratamento da loucura, desde os tempos em que ela era considerada em função de crenças religiosas monoteistas ou politeistas. Por exemplo, a descrição de um Deus violento e vingador pelo Antigo Testamento, influenciou os homens a tratarem os loucos de maneira muito dura. Ao contrário, os deuses greco-latinos toleravam a loucura, pensadores meditaram sobre a relação entre a alma e o corpo, uma tradição médico-filosófica muito antiga. Sobre esta questão, o livro de Jacquie Pigeaud, La maladie de l’âme, edição Les belles lettres.com, retoma o coceito de doença da alma, eleborado 500 anos antes de Cristo. Hipócrates, pensava que a loucura era causada pelos humores enquanto outros pensadores descartavam o aspecto demoníaco da loucura, idéia portanto sustentada pela religião cristã. Notemos também o desenvolvimento da dupla versão cultural e médica da loucura no livro de Quetel. O bouffon( bobo da corte) era aceito, desempenhava um papel salutar, caçoava dos cortesãos e até dos reis. Ainda na Idade média, loucos e epilépticos começaram a ser enviados aos Hospitais Gerais, iníciando o processo de internamento a partir de uma perspectiva de assistência e de acompanhamento dos doentes mentais, idéia que começou a prevalecer em medicina. Mesmo um rei inglês foi tratado por um médico. Este ameaçou o soberano: ‘’Se Vossa majestade não quiser se tratar, mando-o para o asilo. O senhor é meu paciente, não é meu rei’’! Contudo, os meios utilizados para se tratar a loucura ainda eram físicos : evacuar os humores ruins, fazer uma sangria, aplicar ventosas, dar vomitivos e substâncias eméticas...Tempos depois surgiu a idéia de que o próprio lugar onde o alienado vivia, podia se tornar um instrumento, um agente terapêutico. Foi o prenúncio da dimensão relacional dos cuidados: falar com o doente, levá-lo a raciocinar, aconselhá-lo, passear com ele... Já existia a busca de um diálogo. No Século XIX, os loucos foram percebidos como pacientes e tratados não somente com os medicamentos da época mas também a partir das idéias contidas no ‘’ tratamento moral’’ inventado por Pinel e aplicado por Esquirol. A Lei de 30 de Junho de 1838 sobre os alienados constituiu um progresso para o acompanhamento dos pacientes, mas os ‘’ resultados terapêuticos eram muito limitados, a farmacopéia pouco desenvolvida, e as curas morais necessitavam meios importantes reservados aos privilegiados’’. Philippe Pinel foi também autor de uma reflexão sobre a loucura, na qual levou em conta a importância da parte sadia do louco durante o seu acompanhamento, uma idéia que contribuiu para a fundação da psiquiatria. A situação dos loucos mudou consideravelmente graças a descoberta de psicotrópicos eficientes nos anos de 1950. Os novos medicamentos revolucionaram os serviços de psiquiatria e permitiram a generalização das psicoterapias aos pacientes psicóticos. A estes eram oferecidas mais chances de retornarem a seus domicílios ou de integrarem estruturas intermediárias.Este processo se desenvolveu na França e deu lugar, em 1960, à criação da psiquiatria de setor .Este movimento continuou nos anos de1970, especialmente com o advento das psicoterapias psicanalíticas. A LOUCURA NEGLIGENCIADA
A loucura continua incomodando, perturbando, desorientando, suscitando medo e ao mesmo tempo ela não interessa muito os governantes. No editorial da Lettre de Psychiatrie Française de janeiro 2011,o Professor Bernard Gibello e o Doutor Jean-Yves Cozic escreveram que ‘’a psiquiatria francesa está sendo ameaçada porque não existe uma política de cuidados bem clara, mas somente uma política sanitária fundada a partir de argumentos contabilísticos. O modelo psiquiátrico francês dito de setor, muito tempo considerado como um dos melhores do mundo, está sofrendo uma degradação contínua.’’ Os autores do editorial pedem a mobilização e a união dos psiquiatras com o objetivo de criar ações para a defeza da psiquiatria . E eu ajuntaria para a defeza dos seus pacientes, especialmente dos loucos, estes eternos seres humanos negligenciados pelos poderes públicos. 2) A EUTANÁSIA E SUA LEGISLAÇÃO NA FRANÇA
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