Volume 14 - 2009 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Abril de 2009 - Vol.14 - Nº 4 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites
1. QUEM PODE SE CONSIDERAR PSICOTERAPEUTA? Eliezer de Hollanda Cordeiro Referência : ‘’La Lettre de Psychiatrie Française’’ (Março 2009) Num artigo intitulado UM ESTATUTO PARA OS PSICOTERAPEUTAS(novembro 2003) escrevemos que as instituições legislativas francesas deviam aprovar um projeto de lei determinando que o título de psicoterapeuta fosse reservado exclusivamente aos médicos e psicólogos clínicos. De fato, naquela época qualquer pessoa podia auto-proclamar-se psicoterapeuta, inclusive quando pertenciam a seitas religiosas, cujo objetivo era na realidade o de ganhar novos adeptos. Agora, em 5 de Março de 2009, o decreto foi finalmente aprovado pelo Conseil d’Etat. O projeto coloca a formação teórica e prática em psicopatologia clínica como a condição devendo ser preenchida por todos os profissonais desejando se inscrever no registro nacional dos psicoterapeutas. Para tanto, os candidatos devem ter um diploma de doutorado, permitindo-lhes de exercer a medicina na França ; ou um diploma de master em psicologia ou psicanálise. DISPENSA DA FORMAÇÃO TEÓRICA E PRÁTICA EM PSICOPATOLOGIA *Os doutores em medicina, as pessoas que têm o título de psicólogo e os psicanalistas regularmente registrados nos anuários de suas associações podem obter uma dispensa total ou parcial do curso de formação em psicopatologia clínica. *Os profissionais que exerceram a prática psicoterápica durante pelo menos cinco anos poderão se inscrever no registro nacional dos psicoterapeutas Assim, foram necessários seis anos de debates no Senado e na Assembléia Nacional, seis anos de manifestações, reuniões e protestos organizados por associações de psicólogos, de psicanalistas e de psiquiatras para que um compromisso fosse obtido, dando lugar ao novo projeto que acaba de ser adotado. FIM DA BATALHA ENTRE OS PSIS? No artigo intitulado A BATALHA ENTRE OS PSIS
CONTINUA( Fevereiro 2006) referimo-nos da seguinte maneira às divisões existentes
entre os ‘’psis’’ sobre o direito a usar o título de psicoterapeuta : ‘’Uns
contra os outros, analistas contra psicoterapeutas, freudianos contra
lacanianos, defensores das terapias comportamentais e cognitivas contra
psicoterapeutas das relações, a batalha entre os pys continua’’. Podemos duvidar se levarmos em conta o artigo, verdadeiro manifesto assinado por influentes psiquiatras e publicado na ‘’ La Lettre de Psychiatrie Française’’ de Março de 2009. Os autores dizem que ‘’os psiquiatras não reivindicam o monopólio do tratamento do sofrimento psíquico(…) e que a ética médica não pode ignorar outras éticas, notadamente a da psicanálise ou de outras concepções da relação humana’’. Mas eles ajuntam : ‘’ Se os psiquiatras não pretendem satisfazer todas as demandas, eles podem se prevalecer de uma formação que lhes dão competências diagnósticas e terapêuticas, permitindo-lhes de levar em conta todos os aspectos encontrados durante uma psicoterapia’’. Uma tomada de posição que parece constituir uma advertência aos poderes públicos, na medida em que os autores exigem ‘’que o projeto de formação teórica e prática em psicopatologia clínica para os não médicos seja de alto nivel(…) conjugando ao mesmo tempo ensinos teóricos abertos à diversidade dos enfoques e uma formação clínica em instituições de cuidados habilitadas e capazes de supervisar o trabalho dos estgiários’’. Tudo isso em nome da ‘’proteção das pessoas frágeis que sofrem, que se encontram em situação de angústia, de aflição, de desespero, ou que são doentes’’. 2. VIDA DE TRAVESTI Eliezer de Hollanda Cordeiro Por ocasião do ‘’V Encontro de Travestis e Transexuais do Nordeste’’, o escritor Urariano Mota escreveu um trecho intitulado ‘’Vida de Travesti’’, relatando passagens da reportagem que fez com tres pessoas que participaram deste encontro : Nena, Gleiciane e Flávia. Desde que li o artigo, convenci-me de que iria aprender alguma coisa sobre o assunto, algo que eu tivesse negligenciado ou não houvesse percebido em minhas atividades clínicas. Quero precisar que, do meu ponto de vista, os psiquiatras e psicanalistas têm muito a ganhar quando lêm escritores que se interessam pelos problemas humanos. O filósofo francês Michel Serres disse um dia : ‘’Lá onde os discursos filosóficos, psicológicos… não passam, pode ocorrer que a literatura passe’’. Os comentários que seguem são uma tentativa para articular a maneira como ‘’fui lido’’ pela veia literária de Urariano Mota.
A primeira coisa que o escritor notou com muita perspicácia foi ‘’que seus nomes [das travestis] não são simples nomes de guerra. Os nomes são as suas pessoas’’. E ele confessou mais adiante : ‘’o que não podíamos sequer adivinhar: o sexo macho de nascimento, para elas, é larva. Porque a sua plenitude é ser mulher. Daí que prefiram, exijam ser chamadas sempre com todos os substantivos e adjetivos no feminino. São as travestis’’. Então, quando lí que Flávia D. havia ‘’escolhido um sobrenome francês, cheio assim de significação... um sobrenome mais forte’’, isto me deixou intrigado. Procurando entender a ‘’significação forte’’ de que fala Flávia, mas que ela não explicitou mais além, notei que o sobrenome escolhido corresponde à palavra portuguesa ‘’desejada’’, forma passiva feminina do verbo desejar, o qual vem do substantivo desejo, ‘’ação de desejar’’. Flávia ‘’Desejada’’ seria o menino, o rapazola, o jovem, a pessoa de sexo masculino que, se sentindo diferente mas não podendo desejar, decidiu disfarçar o seu sexo pelo trajar ? Única maneira de se sentir desejada ? Outra questão :como as tres vivem suas transformações ? Nena P. diz que se renascesse, voltaria a ser
travesti’’. Mas ela evoca a dor, sem poder explicar se tinha mais dor ou mais
delícia : ” Acho que é mais... é muita dor, mas também não poderia ser de
outra forma’’. Estóica sem dúvida, mas também esperançosa :’’Espera
encontrar um dia um bom marido’’. Após haver mudado o próprio corpo, será que ela
gostaria de mudar de vida, de profissão ? Notemos que, se ela tomou
hormônios, não cedeu à tentação do silicone. Porém, o mais tocante é quando Flávia D.conta haver dito à sua mãe : “quando um dia eu morrer, eu não quero reencarnar no corpo de uma travesti mais não. Porque eu não aguento mais. É uma vida muito sofrida, porque todo o mundo apedreja’’. Das tres, ela é aquela que foi muito além nas ‘’transformações’’, as duas outras se contentando em trajar roupas do sexo feminino. E, graças a algum doutor complacente, Flávia disse ‘’ter tudo siliconado’’, o que não é o caso das outras. Será que o silicone lhe deu o sentimento de habitar realmente seu corpo, satisfazendo assim o seu desejo ? Penso que não foi o caso, se julgarmos o final do artigo, quando ela não poude se deixar fotografar os pés! Ela permanece a mesma, inconformada, insatisfeita, insaciável. Flávia me parece ter sido uma pobre criança infeliz, vivendo um pesadelo perpétuo, expiando não sei o quê, enfrentando adultos perversos, sem o amparo dos pais -ela fala da mãe, mas teria tido um pai?- Então teria decidido de jogar a última cartada, passando da transformação do corpo à sua metamorfose -na esperança de tentar juntar o desfeito, dar um sentido aos elementos discordantes, reconciliar o inconciliável e unir as oposições masculina /feminina ? E também salvar a sua pele, escapar à loucura ? O que une as tres pessoas traavestis ? Nenhuma poude contar com alguém capaz de reconciliá-las com a vida ordinária, a do sofrimento banal inevitável. E, como tantas outras crianças, nenhuma poude contar com o socorro da impiedosa sociedade brasileira. 3. REVISTAS *La revue française de psychiatrie et de psychologie medicale 4. ASSOCIAÇÕES *Mission Nationale d’Appui en Santé Mentale *Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp) *Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc) *Association de langue française pour l’etude du stress et du trauma (alfest) *Association de formation et de recherche des cellules d’urgence medico-psychologique (aforcump) *Association pour la fondation Henri Ey *Association internationale d’ethno-psychanalyse (aiep) *Collectif de recherche analytique (cora) *Groupement d’études et de prevention du suicide (geps) *Groupe de recherches sur l’autisme et le polyhandicap (grap) *Groupe de recherches pour l’application des concepts psychanalytiques a la psychose (grapp) *Société française de thérapie familiale (sftf) *Société française de recherche sur le sommeil (sfrs) *Société française de relaxation psychotherapique (sfr *Société de psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française *Union nationale des amis et familles de malades mentaux (unafam)
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