Março de 2022 – Vol. 27 – Nº 3

Sérgio Telles

 

  • Nesse podcast o psicanalista entrevistador conversa com a também psicanalista Claudia Heilbrunn, sobre seu livro “What happens when the analyst dies: unexpected terminations in psychoanalysis”, publicado em 2019 pela Rutledge. Como indica o título, o livro versa sobre as interrupções inesperadas de uma análise em função da morte do analista e os efeitos sobre os analisandos. A autora parte de sua inusitada experiência própria de ter perdido três analistas consecutivamente. Ao constatar a inexistência de artigos sobre o tema, resolveu escrever sobre o mesmo. Ela aponta a inexistência de prontuários nas instituições que regulem as medidas a serem tomadas nessas circunstâncias. Por exemplo, como lidar com o arquivo confidencial do analista morto (fitas gravadas de sessões, escritos confessionais ou literários que os pacientes produziram e lhe deram em momentos específicos do processo etc.); como dar apoio e contenção aos pacientes que perderam o analista, cujo luto não encontra acolhimento na sociedade que não tem ideia da dimensão da perda sofrida. Complicadas questões éticas são levantadas sobre como o analista deve lidar com sua doença e morte próxima, levando em conta que ele precisa trabalhar e ganhar dinheiro para seu sustento. Deve ele avisar aos pacientes sobre seu estado? Temeria difundir sua condição, pois com isso diminuiriam os encaminhamentos?

 

https://podcasts.apple.com/br/podcast/new-books-in-psychoanalysis/id423338807?i=1000548327612

 

 

  • Na mesma linha do anterior, mas agora voltado para o grande público, o artigo fala sobre a morte do terapeuta no correr de uma análise. Como o paciente lida com uma perda desse tipo, que tem peculiaridades únicas? Ao contrário da morte de um familiar, que é imediatamente compreendida e desperta geral empatia, o paciente encontra-se muito sozinho para lidar com esse luto, para o qual a sociedade não tem repertorio para compreender.

 

Mon psy est mort, faudrait que  je lui en parle | Slate.fr

 

 

 

  • Artigo fala sobre o impacto que as duas guerras mundiais tiveram sobre Freud, fazendo-o abandonar o inicial otimismo baseado na crença da importância da sexualidade e da repressão causadora das neuroses, e voltando-se para a importância da destrutividade (Tânatos) e das pressões sociais geradoras do incontornável mal-estar.

 

Freud and the World Wars | Psychology Today

 

 

  • Excelente comentário sobre “O mal-estar na cultura” de Freud, escrito em função de uma nova edição comentada publicada agora nos Estados Unidos. O autor conta a ampla repercussão dessa obra de Freud e as reações de marxistas, liberais, conservadores cristãos, feministas e sionistas. Mais que uma visão política e sociológica, Freud faz uma profunda reflexão sobre as “contradições, incertezas e ambigüidades da existência humana”.

 

Freud and the Miseries of Politics | The New Republic

 

 

  • Em curto e irônico artigo, Peter Salmon, autor da mais recente biografia de Derrida, aponta para o erro freqüente da direita norte-americana que, nas intermináveis guerras culturais que se desenvolvem naquele país, coloca Derrida e Foucault sob o mesmo rótulo de “filósofos franceses mestres do pós-modernismo” e defensores de um absoluto relativismo quanto à verdade. Salmon diz que Derrida e Foucault muito se surpreenderiam de serem colocado como pensadores próximos, pois seus campos de investigação são distantes e muitas vezes entraram em franca discordância. Além do mais, é importante frisar que Derrida não nega a existência da verdade, apenas desconstrói aquilo que se apresenta como tal e que são contrafações forjadas por interesses variados. Diz ele: “Os dois (Derrida e Foucault) frequentemente se viram às voltas com a questão da verdade, e com a acusação de serem completos relativistas por afirmarem que ela (a verdade) é construída. Derrida rejeitou sempre claramente essa posição. Para ele, afirmar que a verdade é construída, e, portanto, pode ser desconstruída, não elimina a possibilidade de que ela Seu alvo primário era como a noção de “verdade” é abordada na filosofia: uma entidade monolítica unitária, auto-explicativa, semelhante a como o conceito de “Deus” funciona na religião. Pode-se ter fé nele, podem-se gerar conceitos em torno dele, mas não se pode prová-lo”.

 

https://www.prospectmagazine.co.uk/philosophy/foucault-derrida-post-truth-culture-wars-marxism

 

 

 

  • De forma semelhante ao artigo acima, o autor faz uma defesa de Foucault contra aqueles que atacam o que os americanos chamam de “French Theory” – uma série de autores, os mais visados sendo Foucault e Derrida, tidos como responsável pela onda WOKE (os que “acordaram”) que varre os campi norte-americanos, com as políticas identitárias e o ativismo queer, pós-colonial, antirracista e os ligados a gordofobia (fat ativism). O autor acredita que o radicalismo desses movimentos não deve ser atribuído aos filósofos franceses e sim ao movimento político-cultural norte-americano iniciado nos anos 60. As questões identitárias não fazem parte do ideário de Foucault.

 

https://unherd.com/2022/01/in-defence-of-michel-foucault/

 

 

 

  • Oportuno artigo sobre as questões trans. Trata-se do caso clínico de uma paciente, “Maya”, que, após ter feito o processo de transição de gênero, se arrepende e inicia o trajeto inverso, tentando recuperar sua condição inicial. A autora aborda várias as questões envolvidas e vê de modo critico o “modelo afirmativo” de encaminhamento para realinhamento de gênero, entendido por ela como um equívoco, pois leva ao pé da letra as demandas dos adolescentes, sem levar em conta que elas têm uma dimensão simbólica inconsciente.

 

Gender detransition: a case study – Marchiano – 2021 – Journal of Analytical Psychology – Wiley Online Library

 

  • Fern Schurman Chapman autor desse artigo e do livro “Brothers, Sisters, Strangers: Siblings – estrangement and the road to reconciliation”, fala sobre a rivalidade fraterna que, apesar de freqüente e decisiva na vida afetiva, é uma questão pouco abordada diretamente em psicanálise. Haveria uma intolerância social a esse problema, fazendo que as pessoas não se sintam à vontade para reconhecê-lo e tratá-lo. O autor indica instituições na Inglaterra e nos Estados Unidos, páginas de Facebook, podcast e grupos de auto-ajuda no Zoom que dão suporte aos interessados.

 

What Resources Can Help Those Estranged From a Sibling? | Psychology Today

 

 

  • O Belvedere Museum de Viena faz uma exposição, “Freud-Dali”, em torno da obsessão do pintor espanhol pelo pai da psicanálise. Dali tomou conhecimento de Freud ao ler, na adolescência, a “A Interpretação dos sonhos”, reconhecendo em si mesmo a veracidade das descobertas sobre o inconsciente. Desde então acompanhou a obra de Freud e por diversas vezes foi a Viena com o objetivo de se encontrar com o mestre, sem consegui-lo, o que só ocorreu bem mais tarde, em Londres, por intermédio de Stefan Zweig. A exposição foi visitada pelo Rei e pela Rainha de Espanha.

 

 

À Vienne, une exposition revient sur «l’obsession freudienne» de Dali ET ses interprétations des rêves (lefigaro.fr)

 

A surreal encounter between Salvador Dalí and Sigmund Freud is the topic of a new Viennese show (theartnewspaper.com)

 

Freud’s influence on Dalí – The Times Hub

 

  • João Frayze-Pereira faz a resenha do último livro de Luis Meyer, “Navegação Inquieta – Ensaios de Psicanálise (Editora Blucher). Salienta a originalidade do pensamento do autor ao exercer o que W. Benjamin chama de “pensamento cruel”, ou seja, aquele que tira o leitor de sua zona de conforto, desalojando certezas e convicções.

 

Livro discute força libertária da psicanálise e interroga cultura contemporânea – 29/01/2022 – Ilustríssima – Folha (uol.com.br)

 

 

  • Denso artigo de Eleutério F. S. Prado, fazendo aproximações entre o marxismo e a psicanálise, seguindo ideias de Vladimir Safatle e do filósofo norte-americano Adrian Johnston.

 

Marxismo e psicanálise: o mito do egoísmo inato – Outras Palavras

 

 

  • Dois artigos da série “Democratização da Psicanálise e inclusão social”, de Christian Dunker, publicados em seu blog. Os temas são muito interessantes e abordam questões de grande atualidade, como se depreende de seus títulos: “Psicanálise no YouTube, Instagram, podcasts – ela está mais acessível?” e “Com a tecnologia a psicanálise alcança mais gente ou vira mercadoria?”.

 

Reconhece a elite da psicanálise com e sem aspas? (uol.com.br)

 

Formação do psicanalista: onde a tecnologia entra? (uol.com.br)

 

 

  • A ação da série “Vienna Blood” se situa na Viena do início do final do século XIX e começo do século XX, os personagens são fictícios, mas muito do ambiente cultural baseia-se em fatos históricos, nos quais a presença de Freud e a descoberta da psicanálise tem grande vulto.

 

The Real History Behind ‘Vienna Blood’ | WTTW Chicago

 

 

 

  • O Sigourney Award, oferecido pela fundação de mesmo nome, dado àqueles que ajudam ao crescimento e divulgação do conhecimento psicanalítico premiou esse ano instituições e profissionais,não pertencentes à IPA, que oferecem formação analítica e desenvolvem trabalhos com grupos e famílias, preocupados com uma abordagem social. Nesse boletim, há também informações sobre a Lei Goldwater (analistas e psiquiatras podem dar opiniões profissionais sobre pessoas públicas – como os políticos – que não são suas clientes?), assim como sobre o impacto das questões ecológicas na clínica psicoterápica (uma nova demanda de pacientes ansiosos com a crise climática e o futuro da humanidade).

 

Our Work and What the Award Means to Us: 2021 Sigourney Award Winners (psychiatrictimes.com)

 

 

 

 

  • Dia 12 de fevereiro a Google homenageou Lou Andreas-Salomé com um “doodle” – desenhos que celebram datas especiais que ilustram o mais famoso buscador da internet.

 

Lou Andreas-Salomé: Google doodle celebrates 161st birthday of Russian-born German poet, biographer, and novelist – Feature Weekly

 

 

 

 

  • Curta resenha do livro “Psychoanalysis and Revolution”, de Ian Paker e David Pavon-Cuellar. Os autores do livro consideram a psicanálise como uma teoria e prática revolucionária que foi transformada num instrumento de acomodação social. Criticam a ênfase no mundo interno e pulsional e enfatizam a dimensão das forças sociais na constituição do sujeito.

 

Book Review Psychoanalysis can serve revolutionary change | Morning Star (morningstaronline.co.uk)

 

 

 

 

  • Baseada na teoria do apego de Bowlby, o novo modismo nas terapias de casais enfatiza os 4 estilos de apego descritos por aquele autor – seguro, inseguro-ambivalente, desorganizado e evitativo – padrões que dominariam as relações afetivas e amorosas, condicionando seu bom andamento.

 

Do “attachment styles” really matter in relationships? | Salon.com

 

 

  • Em entrevista em canal do YouTube, Christian Dunker fala sobre seu novo livro “Lacan e a democracia”.

 

Lacan e a democracia, com Christian Dunker – YouTube

  • Artigo fala da crescente participação de psicanalistas em blogs, Instagram, vídeos do YouTube. Maria Homem, por exemplo, tem hoje 285 mil seguidores no Instagram e 221 mil no seu canal de YouTube. Um fenômeno novo, um novo perfil público do analista diferente do modelo anterior, do analista “neutro”, resguardado, que pouco falava?O que pensar disso?

 

Do divã para as redes: como a psicanálise conquistou a internet – Jornal O Globo

 

 

 

Similar Posts