Setembro de 2025 – Vol. 31 – Nº 9
Dr. Carlos Francisco Almeida de Oliveira,
Dr. Walmor J. Piccinini
Os antidepressivos, em geral, provocam certo embotamento nos desejos sexuais
e na vivência das emoções afetivas. Esse efeito adverso, embora conhecido, é
frequentemente suavizado ou mesmo ignorado por médicos psiquiatras com o
intuito de evitar que o paciente abandone a psicofarmacoterapia — o que poderia
comprometer a fundamental redução da angústia. A angústia, por sua vez, é um
sentimento complexo que atravessa a vontade de vivenciar, impactando
diretamente aspectos da tristeza, do desencanto e até mesmo da esperança.
Custo-benefício emocional da psicofarmacoterapia
Com isso, confrontamos um dilema: de um lado, os benefícios incontestáveis da
medicação no alívio dos sintomas da depressão; de outro, o alto custo emocional
imposto por seus efeitos colaterais. Essa dualidade exige do médico psiquiatra
uma conduta ética e sensível, baseada na construção de uma relação sólida com
o paciente, para que, juntos, possam encontrar caminhos viáveis diante do que
parece — à primeira vista — um beco sem saída.
Evitando armadilhas terapêuticas
Trocar o medicamento impulsivamente pode ser a pior saída, principalmente
quando o psicofármaco em uso proporciona melhorias significativas. Outra
postura prejudicial é a indução psicológica via frases como: “isso é apenas
impressão sua”, que invalida a experiência subjetiva do paciente e compromete a
confiança no vínculo terapêutico.
Uma abordagem dialógica e humanizada
A melhor direção clínica é acolher o paciente na complexidade de seu sofrimento,
reconhecendo que tanto o diagnóstico quanto o tratamento da depressão
possuem raízes profundas, muitas vezes estabelecidas desde a infância. Ainda
assim, é possível construir uma trajetória de melhora concreta por meio da
compreensão progressiva da doença como parte da existência — e da crença de
que mente e corpo, com apoio adequado, podem criar alternativas de elaboração
para esse impasse.
A vida em movimento: sentido e esperança
Sobretudo, é essencial transmitir ao paciente que a vida não está em espera
durante o tratamento. Ao contrário, sua vastidão oferece compensações afetivas
e fontes de prazer capazes de sustentar o desejo de viver — mesmo entre dores
intensas. Manter o curso da vida, portanto, é um ato de sintonia com a própria
história, que merece ser vivida com autenticidade e esperança.