Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Abril de 2015 - Vol.20 - Nº 4 História da Psiquiatria A MAIORIDADE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA: SUA NOVA SEDE Walmor J.Piccinini Quando iniciei meu banco de
dados em psiquiatria (www.biblioserver.com/walpicci) tinha
como motivação a ideia de propiciar aos pesquisadores brasileiros o acesso à
produção dos demais pesquisadores no país. Explico, era frustrante ler ou
assistir teses em psiquiatria ou mesmo artigos em revistas nacionais em que o
autor não citava ninguém do país, da sua cidade e até mesmo da sua rua. Iniciei
meu trabalho em 1995 enquanto participava da equipe de Psychiatric Informatics
da Universidade de Michigan. Quando voltei de An
Arbor, MI tinha uns 800 trabalhos coletados. Levei um disquete para o Congresso
de Brasília em 1997. Foi o maior sucesso, era uma grande novidade. Hoje, com 21
mil Record, não recebo tantas recomendações. O Brasil mudou, surgiu a
pós-graduação, o Scielo, um intenso intercambio via
Internet e a citação de autores nacionais tornou-se uma constante. Melhoraram
as publicações, começou o reconhecimento internacional e assim por diante. A construção deste grande
banco de dados me fez ler muitos artigos, muitos resumos e conhecer muitos
autores. Meu problema deixou de ser a citação de autores nacionais e
deslocou-se para os historiadores da psiquiatria. Os autores podiam ser
psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, historiadores, mas a maneira de abordar
a história da psiquiatria obedecia a influência dos
seus orientadores e política dos serviços ao qual pertenciam. A história era vista
pelo ângulo do marxismo e depois sob as ideias de Foucault. O exame desta
questão foge ao motivo desta minha comunicação. Afastado da influência
acadêmica fui construindo uma série de dados sobre a história da psiquiatria e
aqui estou como um historiador baseado em documentos e na história oral.
Facilita o fato de eu trabalhar em psiquiatria desde os 18 anos de idade e
estar trabalhando como psiquiatra há 50 anos. Como a ABP vai completar 50
anos em 2016 estamos lembrando alguns pontos de uma história que eu e alguns
outros colegas vivenciamos neste período todo. Desde sua fundação, a
Associação Brasileira de Psiquiatria, através dos seus dirigentes, sonhava com
uma sede própria. Fiquei feliz em ouvir que a Diretoria liderada por Antonio
Geraldo da Silva completou as negociações e adquiriu, no Rio de Janeiro, um
andar no centro da cidade, na Rua Buenos Aires, próximo a Av. Rio Branco. Este
será o endereço definitivo da ABP Como
Entidade maior dos psiquiatras brasileiros a ABP teve um início difícil.
Fundada numa Assembleia que reuniu psiquiatras de vários pontos do país,
começou do nada. Seus primeiros passos foram numa sala do Sanatório Botafogo cedida pelo Dr. Ulysses Vianna Filho. Sem recursos
para despesas mínimas, começou com as despesas financiadas pelo Dr. Oswald
Moraes de Andrade que, além de pagar correspondência e outros gastos, cedeu
dois funcionários o Sr. Vanor Ferreira e L. Hime (sua
sobrinha que também era secretária da Clínica Pitangui). Pagava seus salários
do próprio bolso. Com o passar do tempo à questão dos gastos foi sendo
resolvida com a mensalidade dos sócios e posteriormente com a renda dos
Congressos. O primeiro, em 1970 ocorreu graças a APAL na figura do seu
presidente o Dr. Clóvis Martins, que abriu espaço no congresso para que
ocorresse o Primeiro Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Posteriormente, já na
década de 80 estabeleceu-se uma sede em São Paulo que funcionava numa sala nos
fundos do consultório do Professor Marcos Ferraz. Mais adiante foram adquiridas
salas num prédio da Avenida Presidente Vargas que logo se tornaram acanhadas. Foi então alugado um conjunto de salas na Av.
Presidente Wilson e após ampla reforma tornou-se a sede moderna da ABP. O inconveniente era que o prédio tinha
problemas críticos e o edifício foi condenado. Voltou a ABP a peregrinar em
salas alugadas. Lembramos para conhecimento de todos a Ata de Fundação: http://www.polbr.med.br/ano02/wal1002.php Este período
inicial foi assim descrito por Othon Bastos, ex-presidente e figura notável da
psiquiatria de Pernambuco: "Desde sua criação e durante cerca de vinte anos,
esteve a ABP diretamente ligada a um endereço, aquele da Rua Álvaro Ramos, 450,
onde funcionou durante várias décadas o Sanatório Botafogo. O Prof. Ulysses
Vianna Filho, na condição de um dos proprietários do estabelecimento, abrigou
zelosamente a Secretaria Geral da Associação e também sua Tesouraria, nos
primeiros anos de sua implantação. Ele viria a ser o sétimo psiquiatra a ocupar
a presidência da ABP. Outro endereço que se notabilizou junto aos sócios, a
partir do final dos anos 70, foi o da Rua Borges Lagoa, 394, em São Paulo,
consultório do Prof. Marcos P. T. Ferraz, que gentilmente o cedeu para
funcionamento da tesouraria e da Revista da ABP, depois Revista ABP/APAL, até
1995 (Othon Bastos)". Vamos lembrar alguns detalhes da fundação da
ABP. Em 1965, foi preparado em Porto Alegre, para discussão no Congresso de
Fortaleza, o Protocolo de Fundação da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Esse protocolo era assinado pelo Dr. José Luiz Flores Soares, Presidente da
AMB, pelo Dr. Fernando Megre Veloso, Presidente do Departamento de Psiquiatria da AMB, pelo Dr. Jurandyr Manfredini, diretor do
Serviço Nacional de Doenças Mentais e representando a antiga Sociedade
Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal, pelo Dr. José Leme
Lopes, Presidente do Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria da
Universidade do Brasil e pelo Dr. Manoel Antonio Albuquerque pela Sociedade de
Neurologia, Psiquiatria e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul. Já
estava estabelecido pelo protocolo que o nome da entidade a ser formada seria o
de Associação Brasileira de Psiquiatria. Era proposta coleta de assinaturas dos
psiquiatras do país. Já em dois de abril de 1966 foi escolhida uma comissão
provisória para elaborar o anteprojeto dos estatutos que foi composta por João
Caruso Madalena, Carlos Alberto Bastos, Jorge Paprocki e Clóvis Martins. A assembleia de fundação da ABP foi realizada
no dia 13 de agosto de 1966, no Hospital Pinel do Rio de Janeiro. Foi presidida
por Raul Bittencourt, vice-presidente e futuro presidente da Aperj e
secretariada pelo Dr. Clóvis Martins (SP). Toda essa introdução é
necessária para ilustrar a importante participação do Dr. Ulysses na Assembleia
de fundação da ABP. Foi dele o substitutivo que propunha que, em vez de sócios
individuais, que fosse constituída uma associação federativa das outras
associações então existentes ou por fundar. Uma votação preliminar deu grande
maioria a esse princípio federativo, que foi aprovado na parte da tarde da
Assembleia. “Estava assim estabelecido o princípio nunca contestado de
federação (Ulysses Vianna Filho)”. O crescimento da ABP colocou
em questão a ideia de federação e surgiu uma disputa entre os que defendiam a
federação e os defensores do voto direto dos associados. Esta tese se tornou
vitoriosa e seus líderes, Antonio Geraldo da Silva, Itiro Shirakawa, João
Romildo Bueno, acompanhado de muitos coparticipantes assumiram a direção da
ABP. O crescimento da ABP foi vertiginoso. Apesar de alguns recalcitrantes e até
muitos ex-presidentes, os novos líderes da ABP passaram a dar um ritmo
estonteante para a administração. O resultado disto foi conseguir uma poupança
que permitiu a compra da nova sede.
O tempo passou e a ABP acabou adquirindo uma sede no Rio de Janeiro e
nos anos oitenta uma pequena sede foi instalada em São Paulo. Uma sala foi
comprada em Brasília. Posteriormente foi alugado um imóvel na Av. Presidente
Wilson onde foi feita uma grande reforma. De repente o prédio entrou em
reformas e a ABP ficou sem teto. A sede antiga do Rio de janeiro havia sido
vendida por 60.000, reais, a de Brasília já havia sido vendida por ser pequena
e sem serventia. A sede de São Paulo funcionava precariamente.
No Congresso da ABP no Ceará aconteceu o improvável, uma chapa de
oposição foi eleita. Sua grande promessa era de realizar eleição direta para
presidente e para isto precisaria da mudança do Estatuto Social. A eleição de
uma chapa de oposição criou uma série de problemas para antigos
administradores, o maior foi o de ter que prestar contas. Aconteceu uma
debandada de antigos dirigentes que entregaram a Associação com cerca de 150
mil reais em caixa e dois milhões em dívidas. Este é um assunto que foi
discutido internamente nas Assembleias Gerais.
Estamos na segunda gestão do Dr. Antonio Geraldo da Silva, a primeira
eleito pela Assembleia de Delegados e a segunda por voto direto dos
psiquiatras. Dizer que Antonio Geraldo da Silva e sua diretoria são bons
administradores é pouco. Depois de quatro anos de mandato as finanças foram
saneadas. Foi adquirida uma nova sede em Brasília
(SGAS 910, Conjunto B, Bloco E, Sala 139 – Asa Sul – Brasília). A Sede de São Paulo passou por extensa
reforma e recebeu o nome de um grande batalhador O Professor Itiro Shirakawa. A angústia de estar sem sede no Rio de
Janeiro foi aplacada pela cessão de um prédio histórico pelo governo do Estado
da Guanabara. Insuficiente para sede poderá ser o futuro Museu da Psiquiatria
Brasileira ou algo semelhante.
A gestão primorosa da ABP, os controles dos gastos, o aumento das
captações fora das mensalidades criou um superávit e uma ideia do presidente.
Temos capital para comprar uma sede definitiva.
Foi criada uma Comissão de colaboradores. A Gerente Simone Paes, o
ex-presidente e atual tesoureiro João Romildo Bueno, a Dra. Fátima Vasconcelos
e o Dr. Talvane de Moraes passaram a visitar inúmeros imóveis que poderiam
servir para a Sede da ABP. Foram iniciadas as negociações com vários imóveis e
um foi selecionado. Ai a Diretoria foi inspecionar o mesmo. Depois desse foram
visitados vários outros. Durante uma reunião em São Paulo, com a participação
de vários membros de comissões e presidentes de Federadas de houve a seleção de dois imóveis para novas
negociações. Foram feitas novas tratativas e o resultado foi apresentado na
assembleia de Delegados de 2014 que escolheu o imóvel e aprovou a compra.
Nesta etapa o presidente Antonio Geraldo da Silva assumiu as rédeas da
negociação e sua maneira de agir em defesa dos interesses da ABP merece
elogios. O pedido inicial foi de R$6.671.000,00. Ao final da rodada de
negociação o preço ficou em R$5.784,00. O Valor final ficou em R$ 4.950.000,00.
O vendedor ainda se comprometeu com a construção de mais dois banheiros e uma
área de copa/convivência para os funcionários. A área comprada tem 482 m2. 01 auditório
para 70 pessoas, 02 salas pequenas para reunião; 01 sala grande para reunião;
01 sala para diretoria; 01 almoxarifado grande (para diminuir custos com
armazenagem de arquivos); 03 banheiros femininos, 03 banheiros masculinos; 01
banheiro para deficientes; 01 copa/cozinha conveniência para funcionários; área
para alojar os seis departamentos da ABP e seus funcionários (28). O
que ainda não foi definido foi o nome a ser dado para a nova sede. Muitos merecem
a honra, mas tem um que sem ele não existiria nova sede e acho justo que receba
seu nome.
Depois de tanto trabalho e incompreensões acho que é muito merecida a indicação que a nova sede da ABP leve o nome do atual
presidente Antonio Geraldo da Silva. Esperamos que a Assembleia de Delegados reconheça o trabalho realizado.
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