Volume 14 - 2009 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Janeiro de 2009 - Vol.14 - Nº 1 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites
1. ATRIBULAÇÕES DA
PSIQUIATRIA FRANCESA Eliezer de Hollanda
Cordeiro Referências :
Christine GINTZ e Pierre FARAGGI No artigo « O Presidente quer dar mais
segurança », escrevi sobre o projeto de lei destinado a reformar o
funcionamento dos hospitais públicos franceses. O projeto inclui, entre outras
medidas, a hospitalização obrigatória
dos doentes julgados perigosos, o contrôle rigoroso de suas permissões de saída, o aperfeiçoamento da segurança nos estabelecimentos
psiquiátricos e o uso de uma pulseira eletrônica. LOUCURA E
PERICULOSIDADE O projeto está sendo ressentido como perigoso por muitos
psiquiatras e atores da saúde pública, donde as manifestações de
descontentamento, as petições e manifestos que circulam nas mídias e na
Internete, denunciando a assimilação que o projeto de lei corre o risco de estabelecer
entre loucura e periculosidade. Ao mesmo tempo, os peticionários clamam que a falta de recursos humanos e materiais são a
causa dos recentes disfuncionamentos
ocorridos nos hospitais.Porém, o
governo sustenta que o problema não decorre de uma falta de
investimentos mas de uma organização deficiente dos serviços existentes. Foi neste contexto
que Christine GINTZ escreveu o artigo ‘’La Psychiatrie Française est
devenue folle’’( A Psiquiatria Francesa virou louca), publicado no blog Bakchich Infos (9/12/2008). Notemos as
seguintes passagens :‘’Uma coisa é certa, os loucos não são os mais
perigosos no mundo em que vivemos. Por trás do louco existe a sociedade e o que
ela faz da instituição psiquiátrica(…) Quando esta sociedade aplica soluções
rápidas e egoistas, quando ela
gerencia a psiquiatria como se
fosse uma empreza, e considera que a demência pode ser
rentabilizada, a sociedade torna-se mais louca do que os loucos, ela se
torna perigosa.’’ A colega psiquiatra testemunha : ‘’Desde que me formei em
psiquiatria, nunca tive problema com a agressividade ou com a violência de meus
pacientes. Nunca tive a impressão de exercer um trabalho arriscado.’’ Ela
deplora que o drama de Grenoble- o homicídio de um estudante de 26 anos, cometido por um esquizofrênico
fugido do hospital- tenha tornado os doentes mentais suspeitos, em vez
de suscitar um questionamento sobre a evolução imposta à psiquiatria nos
últimos 20 anos. E isto ‘’em
nome do modelo econômico universal no qual pedem-nos para entrar.’’ RELAÇÃO
MÉDICO-PACIENTE OU RELAÇÃO CUSTO-EFICIÊNCIA ? Christine GINTZ ataca
o projeto do governo com outro argumento : ‘’não se pode negar que a descoberta dos neurolépticos tenha sido um progresso extraordinário para a
psiquiatria, permitindo que muitos loucos deixassem os hospitais e
fossem tratados em ambulatórios. Mas a predominância do modelo econômico atual
transformou a revolução dos neurolépticos em
pretexto para se esvaziar os hospitais psiquiátricos, portanto o único
lugar onde determinados pacientes podem se refugiar e se tratar. Foi assim que o esvaziamento dos hospitais
transformou bom número de
esquizofrênicos, que precisavam de tratamentos,
em pacientes sem domicílio fixo ou em detentos.’’ Mais ainda, ela
denuncia a lógica mercantil que conduziu à redução acelerada não somente do
número de leitos mas também do número de psiquiatras e enfermeiros. Nesta
perspectiva, o que conta não é a relação médico-paciente, mas a
relação custo-eficiência. Mas em que consiste a
eficiência em questão ? E qual é o projeto terapêutico que norteia esta
eficiência? Sabendo-se que um
autêntico projeto terapêutico é
necessariamente longo e implica uma continuidade dos cuidados, deduzimos que a
lógica do modelo econômico em vigor, baseada
na procura de soluções rápidas, não constitue uma resposta terapêutica
apropriada. Consequência : ‘’os terapeutas
não têm mais tempo para se dedicar ao diálogo com os pacientes. Nem para canalizar a agressividade e o delírio. Eles não têm
outra solução porque a contingência
impõe o medicamento e o quarto de
isolação.’’ SERVIÇOS ABERTOS OU
FECHADOS ? A política que
restringe os meios atribuidos à psiquiatria explica porque quartos e janelas estão
sendo fechados.Assim, procurando
adaptar-se às novas exigências
administrativas, a psiquiatria tornou-se mais repressiva. Resultado :os
mesmos serviços que haviam aberto as
suas portas quando a psiquiatria de
setor foi instaurada, pouco a pouco fecharam-nas
de novo. Christine GINTZ dá um
exemplo. Ela encontrou recentemente uma
enfermeira que retomou o trabalho no mesmo serviço em que trabalhara anos atrás.
Quando partiu, a enfermeira havia deixado um lugar aberto. Ao voltar e
encontrá-lo fechado, perguntou para a
equipe : quem tomou a decisão de trancar as janelas ? De fechar as portas ? E porque ?
Ninguém foi capaz de lhe dar uma
resposta. Resultado, hoje em
dia, quando um doente salta pela janela, a questão que se coloca não é mais : ‘’porque o paciente fez
isto’’ ? Mas, ’’a maçaneta da janela era conforme às normas ?’’
Ela termina dizendo haver conhecido a psiquiatria hospitalar numa época em que a abertura dos hospitais
psiquiátricos era uma realidade. E que os colegas mais antigos afirmavam ‘’que
isto havia levado a uma diminuição considerável da violência .’’ Esta idéia é também
defendida por Pierre
FARAGGI, presidente da Confederação
dos psiquiatras dos hospitais, no artigo ‘’ Le
fou, ou les figures de la peur’’( ‘’O louco ou as figuras do medo’’, publicado
no jornal Le Monde de 30 de dezembro 2008). Ele escreveu que a ‘’ofensiva consistindo em
estigmatisar o doente mental(…) reforçou a idéia de que a
loucura é perigosa. Mas as
estatísticas policiais e judiciárias provam o contrário : o doente
mental é muito mais vítima do que autor de atos agressivos. E, quando ele comete
um homicídio,trata-se de uma ocorrência muito rara e que se passa, na maioria dos casos, no meio intra-familiar.’’ 2. DOENTES MENTAIS TRANCADOS
NAS RUAS Nota do tradutor : A jornalista Virginie Roels, acompanhou
uma brigada da prefeitura de polícia
parisiense, encarregada de dar assistência às pessoas que vivem nas ruas. Ela relatou
sua experiência em artigos publicados na edição em linha da revista Marianne,
cuja tradução resumida apresentamos aos leitores de nossa coluna. QUINTA-FEIRA 18 DE DEZEMBRO DE 2008 ENFERMÉS DEHORS, PAR VIRGINIE
ROELS Tradução e resumo:
Eliezer de Hollanda Cordeiro ‘’Os distúrbios psíquicos são uma das razões capazes de explicar o
processo que leva uma pessoa a viver na rua. E os mesmos distúrbios psíquicos constituem obstáculos para aqueles que procuram ajudar os SDF (Sem domicílio fixo).
Com efeito, como entender que os SDF recusem tantas vezes serem
ajudados, receberem um cobertor, tomarem
um café, mesmo quando o frio é tão grande ? Foi o que pudemos constatar, acompanhando
uma equipe da BAPSA
(Brigada de assistência às pessoas sem alojamento)
pelas ruas de Paris. Constatámos que era quase impossivel, para quem não
conhecesse a psiquiatria, tentar
encontrar tais pessoas com o intuito de ajudá-las.
Virginie Roels cita o historiador
Roland Hureaux, a propósito
do aumento dos SDF na França. ‘’As críticas de
Michel Foucault e de outros autores sobre o encarceramento,
bem como as correntes da antipsiquiatria,
explicam porque somente poucos pacientes são hospitalizados. Os outros devem ser treinados para
viverem
de seus próprios recursos, voltarem
para as suas casas e serem acompanhados fora dos hospitais. A
finalidade de tudo isto não é de se fazer economias : cortar a França em setores psiquiátricos, quadriculando a
totalidade da população, custa mais caro do que
os antigos asilos. [O que se passa atualmente] ‘’é o resultado desta
política louca, postulando que todo doente é um homem potencialmente com boa
saúde e que basta ajudá-lo um pouco na vida (na rua) para que volte a ser um
homem normal.’’ A JORNALISTA
ENTREVISTA O DOUTOR MERCUEL. Ela quer saber
porque tantos pacientes recusam ser ajudados. ‘’Buscando encontrar uma explicação para esta atitude,
encontramos o Doutor Alain Mercuel, psiquiatra no Hospital Saint Anne, em Paris, que organizou um
serviço inteiramente dedicado à ajuda
psiquiátrica dos SDF. A equipe que ele dirige propõe ajudas terapêutica em ambulatórios mas também
nos próprios locais onde são encontrados.
O psiquiatra nos explicou que os SDF as vezes recusam uma ajuda porque interpretam-na como uma
agressão.’’ QUE PENSA O FUNDADOR DO SAMU
SOCIAL? ‘’Pedimos também uma explicação ao Doutor Xavier Emmanuelli,
fundador do Samu Social. Há 15
anos que suas equipes fazem um trabalho formidável nas ruas, ajudando física e
psicologicamente os marginalizados. Para ele, a sociedade é responsável pela
situação atual e deve encontrar uma solução
consistindo em obter não somente um alojamento digno e espacioso para os
SDF, mas também dar-lhes uma assistência psiquiátrica permanente. E não somente
quando
há uma urgência.’’ 30% DOS DESABRIGADOS SOFREM DE UMA DOENÇA MENTAL
GRAVE. ‘’Trata-se de uma
porcentagem tabu porque recobre duas realidades que amedrontam : a vagabundagem e a loucura.
Como a cada inverno, a França descobre seus
pobres, se inquieta e promete encontrar um domicílio para todos els. Infelizmente,
os SDF tornaram-se o que o jargão da imprensa chama um castanheiro : um sujeito que volta a cada ano na mesma época. Por
causa da crise, o número dos SDF parece ter aumentado ainda mais do que nos anos
precedentes. Veremos então as mesmas
reportagens, as mesmas histórias sobre esta
engrenagem terrivel - desemprego-divórcio-aluguel não pago - que conduzem
um cidadão de poucos recursos à
vagabundagem. Mas, Avalia-se que 30%
dos SDF sofrem de patologias mentais graves.Alguns dizem que a
porcentagem das pessoas apresentando distúrbios psíquicos pode atingir os 80%. De qualquer maneira, este assunto é muito pouco abordado, e, quando
isto ocorre, é somente esboçado. Na realidade, os SDF são
duas vezes vítimas : da crise
econômica e da crise da psiquiatria francesa.
A rua não é um espaço de liberdade para eles. É o asilo mais insuportável.’’ 3. REVISTAS *La revue française
de psychiatrie et de psychologie medicale *L’encephale 4 ASSOCIAÇÕES *Mission Nationale d’Appui en
Santé Mentale *Association
française pour l’approche integrative et eclectique en psychotherapie (afiep) *Association française de
psychiatrie et psychologie legales (afpp) *Association
française de musicotherapie (afm) *Association française de therapie comportementale
et cognitive (aftcc) *Association de langue
française pour l’etude du stress et du trauma (alfest) *Association de formation et de
recherche des cellules d’urgence medico-psychologique (aforcump) *Association nationale
des hospitaliers pharmaciens et psychiatres (anhpp) *Association
scientifique des psychiatres de secteur (asps) *Association pour
la fondation Henri Ey *Association internationale
d’ethno-psychanalyse (aiep) *Collectif de recherche analytique
(cora) *Groupement d’études et de prevention du
suicide (geps) *Groupe de
recherches sur l’autisme et le polyhandicap (grap) *Groupe
de recherches pour l’application des concepts psychanalytiques a la psychose
(grapp) *Société française de
gérontologie *Société française de thérapie
familiale (sftf) *Société française de recherche sur le sommeil
(sfrs) *Société française de relaxation
psychotherapique (sfrp) *Fédération française
d’adictologie *Société de
psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française *Union nationale des amis et familles de malades
mentaux (unafam)
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