Dezembro de 2021 – Vol. 26 – Nº 12

Sérgio Telles

 

  • Resenha do último livro de Adam Phillips, o prolifico analista e escritor inglês, que – como diz o autor do texto – mais uma vez traz curiosidade, prazer e dúvidas em relação à pratica psicanalítica, com a linguagem acessível e estilo instigante aprendidos com Winnicott, tema de seu primeiro livro. Phillips afirma que “não há cura na psicanálise”, pois nossos sintomas são nossas tentativas espontâneas de nos curarmos. Para os que procuram a psicanálise para se livrar do sofrimento ou encontrar a felicidade, a promessa (única) de “melhorar pela fala” pode parecer muito pouco. Mas não o é, diz Phillips. Paradoxalmente, pode-se” melhorar” falando sobre “o que é melhorar”, essa fala pode driblar os implacáveis e repetitivos mandatos do superego e nos fazer não só tolerar nossas idiossincrasias, como até mesmo ter prazer com elas. Afinal, a própria exigência de “melhorar” não seria uma exigência superegóica?

 

What can Adam Phillips teach us? – New Statesman

 

  • “Epistemic Injustice” (Injustiça epistemológica) é um longo e informativo artigo que mostra o nível e a complexidade dos debates teóricos, éticos e legais sobre as questões de gênero, especialmente referente aos “trans”, na Inglaterra. Escrita por uma profissional do Gender Identity Development Service (GIDS), o único serviço público (do National Health Service – NHS) que atende jovens com essa demanda e situado na prestigiosa Tavistock Clinic de Londres. É grande a polarização ideológica em torno da questão, dificultando o estudo aprofundado necessário para melhor encaminhá-la.  A disputa atinge tons agudos quando se trata do uso de hormônios bloqueadores da puberdade em crianças e adolescentes com disforia de gênero, o que deve ser feito dentro de uma janela temporal especifica. O GIDS tem sido acusado tanto de acelerar excessivamente o processo de avaliação dos casos, facilitando indevidamente a transição, como do inverso, de prorrogar burocraticamente o tratamento, com o aumento do sofrimento dos interessados. São muitos as interrogações em jogo, como: quem pode autorizar o processo – a família, os médicos, os pacientes?  Tendo em vista que são menores de idade, estariam aptos para assumir a gravidade da decisão? Em caso de futura desistência (arrependimento da transição) quem deveria assumir a responsabilidade?

 

Bernadette Wren · Diary: Epistemic Injustice · LRB 20 November 2021

 

  • Pesquisa realizada nos Estados Unidos com psicanalistas mostra como o atendimento à distância (on line ou teleconsulta, como chamam) veio para ficar. O universo pesquisado mostra que apenas 9% dos analistas pretende retornar integralmente ao atendimento presencial; 38% pensam de combinar o presencial com o on line, dando preferência ao presencial; 43% farão o mesmo, com preferência pelo on line e 5% declara que atenderá exclusivamente on line. O autor diz que os protocolos legais e securitários já estão providenciando as mudanças necessárias para dar conta dessa mudança e vê a escassez de literatura específica sobre o tema como a maior dificuldade a ser vencida.

 

The Data Are In: Telehealth Is Here to Stay | Psychology Today

 

  • A pandemia acabou? Tendo como gatilho essa questão, Christian Dunker discorre sobre as peculiaridades simbólicas do tempo, as marcações que indicam o inicio e o fim de qualquer acontecimento humano, a etimologia e a semântica das palavras que expressam esse processo.

 

Acabou? Psicanálise mostra processo mental para marcar fim da pandemia (uol.com.br) 

 

  • Hervé Mazurel, historiador francês e professor da Universidade da Borgonha, lança um extenso livro (600 pp), “L´ inconscient ou l´oublie de l´histoire – La Découverte” (“O inconsciente ou o esquecimento da história – A descoberta”). Nele critica o que julga ser uma posição ahistórica da psicanálise, uma das razões de seu atual “declínio”. Para interrompê-lo, deveria reconhecer a intima dependência que ela tem da evolução dos costumes, normas e tabus sociais. Como prova de que os fatos psíquicos estão ligados ao contexto sociocultural, afirma que a instalação do superego coincide com o momento em que o estado centralizado adquire o monopólio da violência legitima e impõe uma certa paz nas relações sociais, impedindo que cada um faça a justiça com as próprias mãos.

 

Psychanalyse : on a lu “L’inconscient ou l’oubli de l’histoire” de Hervé Mazurel (marianne.net)

En conférence à la librairie française, Hervé Mazurel alerte sur le déclin de la psychanalyse | lepetitjournal.com 

 

  • “O nome da coisa: Fascismo, Populismo, destruição?” é a palestra promovida pela Faculdade de Filosofia, Letras, Ciência Humanas (fflch), da USP, feita pela professora Nádia Urbinacci, da Universidade de Columbia, Nova York, e por Renato Lessa, da PUC-Rio.

 

Fascismo: ontem e hoje? Mesa 3: O nome e a coisa: Facismo, Populismo, destruição? –                       YouTube

 

  • Artigo visando o grande público sobre a “síndrome do impostor”, interessante pelo aspecto descritivo e informativo, mas limitado, na medida em que ignora a clara dimensão inconsciente superegoica envolvida nesse sintoma e aponta como recurso terapêutico a abordagem cognitivo-comportamental.

 

Syndrome de l’imposteur : comment le surmonter ? (medisite.fr)

 

  • A tese de doutorado de Ana Paula Musatti-Braga, que aborda o racismo estrutural e foi orientada por Miriam Debieux, é publicada agora como livro intitulado “Os muitos nomes de Silvana – Contribuições clínico-políticas da psicanalise  sobre mulheres negras”.

 

Livro discute racismo estrutural e psicanálise a partir de histórias de mulheres negras – Jornal da USP

 

  • O Sigourney Award é o prêmio mais importante outorgado pela IPA àqueles que promovem o crescimento do pensamento psicanalítico. Sua última edição agraciou o Erikson Institute for Education, Research and Advocacy of the Austin Riggs Center, os norte-americanos David Sharff e Jill Savage Sharff, e o argentino Jorge Claudio Ulnilk.

 

The Sigourney Award-2021 Honors Three Recipients With Distinguished International Prize for Advancing Psychoanalytic Thought (yahoo.com)

 

  • Notícias sobre experiências realizadas com “sonho lúcido”, condição apresentada por algumas pessoas que são capazes de manter um grau de consciência e sonhar ao mesmo tempo. Sem referência à psicanálise, tais pesquisas procuram investigar as peculiaridades desse estado.

 

Psychanalyse : ce qu’est le rêve lucide et comment un groupe de scientifiques a appris à s’y plonger – BBC News Afrique

 

  • Em 1891, Madame Benvenisti, uma paciente vienense de Freud, o presenteou com um divã, móvel que veio a se transformar na marca visual da psicanálise. O vídeo de um canal francês comemora os 130 anos do acontecimento.

 

Le divan de Freud (europe1.fr)

 

  • A articulista fala brevemente sobre sua experiência positiva ao trocar de psicoterapeuta, constatando que a segunda terapia não era uma mera continuação da primeira, pois não fora só o terapeuta que mudara, ela também não era a mesma pessoa que começara uma terapia anos atrás.

 

Can we and why change psychiatrists? | Slate.fr

 

 

 

 

Similar Posts