Fevereiro de 2020 – Vol. 25 – Nº 2

Walmor J. Piccinini

Tudo começou em 1995 em Na Arbor, Micchigan, seda da Universidade com o mesmo nome. Fui para lá acompanhando a Dra. Helena Schmid que tinha sido aceita para realizar seu pós-doutorado na área de diabetes. Depois de um tempo para adaptação procurei uma atividade que me interessasse. No departamento de psiquiatria da faculdade de medicina da U.de Michigan descobri o grupo de psiquiatria informática comandada pelo Dr. Norman Alessi.

Fui aceito para me ligar ao seu grupo e tive o prazer de conviver com pessoas talentosas. Entre as atividades do grupo existia a possibilidade de conhecer e desenvolver novos softwares. Dentre os softwares para testar encontrei um indexador bibliográfico desenvolvido por bibliotecários da Universidade. Tratava-se do ProCite. Mais tarde comprado pela Thomson -Reuters e abandonado em favor do EndNote.

Aprendi a trabalhar com o ProCite e desde então se tornou meu favorito.

Na época, nas Faculdades de Medicina do Brasil e do mundo o grande indexador era o Index Medicus da National Library. Todo pesquisador buscava nas suas páginas referências bibliográficas para qualquer trabalho. Funcionava assim, você descobria os artigos que lhe interessavam, fazia um pedido e pagava o xerox do artigo desejado. Isto consumia um mês ou dois entre idas e vindas. Para o pesquisador levava uma “eternidade” para obter o artigo desejado. Nas teses apresentadas nas Faculdades de Medicina do Brasil eram raras as citações de autores brasileiros. Algo explicável porque a maioria das nossas Revistas Médicas não eram indexadas. Isso ocorria em todas as especialidades médicas. A psiquiatria sofria do mesmo problema.

Dentro desta dificuldade imaginava um banco de dados das publicações brasileiras em psiquiatria. Projeto nada modesto, mas que levei a cabo com muita dedicação. Nasceu assim o Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria. Cada artigo originava um record e meu último balanço contava com 22.535 registros. O primeiro em 1830 até os dias atuais, ou melhor, até dezembro de 2019.

Em 1977, em Brasília, durante o Congresso Brasileiro de Psiquiatria, apesentei a primeira amostra do meu trabalho. Era um disquete com cerca de 800 referências. Era algo extraordinário para a ocasião, poisa maioria dos colegas ainda não tinham entrado no mundo digital. No ano seguinte, no Congresso de São Paulo, levei um livro e um CD com cerca de 9 mil referências. Uma das consequências foi o fato do Presidente da ABP Miguel Jorge me convidar para administrar a homepage da ABP. Comecei do zero, desde o registro do nome até a participação na organização do CBP. Tudo com custo mínimo para a ABP.

Viajando pela Internet descobri um grupo de pesquisadores da Universidade de Talin, na Estônia. Eles criaram o Biblioserver um aplicativo que permitia colocar online a bibliografia do ProCite. Maravilha, pude colocar à disposição de todo mundo, o índice Bibliográfico. Nos primeiros anos paguei, depois traduzi o Biblioserver para o português e recebia hospedagem gratuita. Isto durou até 2016 quando novas tecnologias foram surgindo e os Estonianos terminaram com o seu projeto. Foi uma lástima, mais um grupo talentoso atropelado pela competição implacável. Com a morte do ProCite, morreu o biblioserver. Como na Inernet nada morre totalmente, minha última publicação datada de 2016 ainda está disponível no site: http://www.biblioserver.com/walpicci.

Nestes anos de trabalho foram surgindo excelentes opções de busca com publicações de artigos completos. O Scielo.br, por exemplo publica todos os artigos na íntegra e tem excelente sistema de busca. Procurei integrar o Scielo no meu Índice, mas foi ficando um trabalho redundante. Desta forma fui amadurecendo uma decisão e neste 10 de janeiro de 2020 resolvi terminar com o Índice Bibliográfico. Tantas outras coisas desapareceram e   esta é apenas mais uma delas. É o fim de quase trinta anos de um trabalho anônimo e que ainda renderá frutos, pois a maioria das referências antigas só nele existem. Para a História tem grande valor, para o dia a dia, nem tanto.

Fica desta forma encerrado um trabalho silencioso de preservação a memória da psiquiatria brasileira. Certamente será útil para todos os historiadores da psiquiatria brasileira.

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