Volume 4 - 1999 Editor: Giovanni Torello |
Março de 1999 - Vol.4 - Nş 3 ATENÇÃO e ESQUIZOFRENIA AUTORES: Ivette C.J.Kairalla; Marlene A. Vieira; Paulo Mattos; Itiro Shirakawa; Os distúrbios da atenção têm sido um dos aspectos clinicamente mais evidentes e mais amplamente estudados na psicopatologia da esquizofrenia (Seidman, 1983; Kremen e col., 1992; Braff, 1993; Medalia e col., 1998). Além disso, resultados obtidos numa variedade ampla de procedimentos (Tomer & Flor-Henry, 1989; Carter e col., 1992, 1994, 1996, 1997; Sarter, 1994) sugerem a presença de anormalidades específicas da atenção na esquizofrenia. Como se sabe, inclui-se a atenção no grupo das funções psíquicas agrupadas com o nome de funções cognitivas, quais sejam: atenção, memórias de fixação e de recuperação (evocação), sensopercepção, solução de problemas, análise viso-espacial, velocidade de processamento de informações e linguagem (Goldberg e col., 1991; Cipolla-Neto e col., 1992). Discute-se, nos últimos anos até a atualidade, se a gama de alterações cognitivas no paciente esquizofrênico poderia ou não ser decorrente justamente de um distúrbio primário da atenção (Frith, 1979; Kenny & Meltzer, 1991), visto que, como descrito por Lúria, a incapacidade de selecionar as informações poderia levá-lo a uma desorganização tão grande, que nenhuma atividade se tornaria possível. CONCEITOS de ATENÇÃO . capacidade de selecionar e manter o controle sobre a
entrada de informações necessárias num dado
momento. "Se não fosse essa capacidade seletiva da atenção,
a quantidade de informações não selecionadas
seria tão grande e desorganizada que nenhuma atividade se
tornaria possível." . Refere-se a várias capacidades ou processos diferentes
que são aspectos relacionados de como o organismo se torna
receptivo aos estímulos e como ele pode começar a
processar o que foi captado ou responder à excitação
(seja interna ou externa). William James (1890) propôs a seguinte classificação: Reflexa (processo automático) É a capacidade de salientar um ou dois estímulos
ou idéias, enquanto a consciência suprime os demais
que dispersam competitivamente a atenção. A divisão da atenção em "tipos"
é meramente teórica; qualquer atividade mental que
exija atenção, envolve mais de um "tipo".
CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS A
ALTERAÇÕES DA ATENÇÃO:
A maioria dos estudos clínicos e experimentais sugere
que pacientes esquizofrênicos apresentam alterações
mais pronunciadas em relação a determinados setores
do funcionamento cognitivo (Castro, 1998). Particularmente os processos
de atenção e memória, assim como as chamadas
"funções executivas", mostram-se afetados
em grande parte destes pacientes, cujas alterações
podem ser as responsáveis pelos déficits de linguagem
expressiva (Hoff e cols, 1996) e receptiva neles detectados (Condray
e cols., 1995). Além disso, pacientes esquizofrênicos
tendem a apresentar Quocientes de Inteligência mais baixos
que a população em geral (Aylward e cols., 1984). Mediadora da capacidade de executar e controlar as mudanças
de atenção. 2. CÓRTICES FRONTAIS INFERIOR E LATERAL: Mostram-se altamente envolvidos na inibição
do comportamento e na habilidade de conter ou retardar repostas.
Lesão desta área: ocasiona, nas pessoas,
ausência de resposta emocional a estímulos dolorosos,
tornando-as indiferentes, capazes de tolerar dor prolongada (mais
nos casos de lesão à direita). b - Lobos parietais superior e inferior + Junção
parieto-occipital:
4. SISTEMA LÍMBICO:
b - Hipocampo - processamento de informação:
Lesão desta área:
TESTES NEUROPSICOLÓGICOS Para uma avaliação neuropsicológica
da atenção, pode-se utilizar os testes específicos
de exame desta função cognitiva, como os descritos
abaixo, paralelamente ao de outras funções, como memória,
orientação espacial e processamento, o que nos permite
uma análise mais acurada do desempenho geral do paciente.
A descrição de cada um destes pode ser encontrada
em Lezak (1955). Testes de atenção:
Demais funções:
"Não há nenhum teste de atenção...que
permita a alguém ter acesso somente a certo aspecto do comportamento
humano, especificamente relacionado a este componente atenção"
(Van Zomeren & Brouwer, 1992). CASO No 1 P.M.S., c/ 31 anos e 9 meses, solteiro, natural de SP, afastado há 4 anos do trabalho como auxiliar do Judiciário, com 2o grau completo. Paciente com quadro de Esquizofrenia tipo paranóide, com sintomas negativos importantes, história de 10 anos. Já sofreu 2 internações anteriormente, fez 1 ano de psicoterapia antes de chegar ao Proesq, no princípio resistente ao tratamento. Está no Proesq desde 02/7/97, com boa adesão ao tratamento, com melhora do quadro produtivo, mas com persistência dos sintomas negativos e depressão leve. Recebe tratamento medicamentoso (Haldol 5, 2 cp/dia; Fenergan, 2 cp/dia; Tegretol 400, 2,5 cp/dia), psicoterapia individual e terapia ocupacional individual, bem como sua mãe recebe orientação familiar. Há 6 meses foi introduzida Olanzapina, já após 2 meses com uma mudança nítida quanto aos sintomas negativos. Os testes foram realizados antes da introdução da Olanzapina e a frase expressa após a introdução da mesma. Tem exame clínico neurológico normal e EEG normal. Nos testes mostrou grande tensão para realizá-los, recriminando-se continuamente e verbalizando seu esforço para se concentrar. Numa das últimas consultas, o paciente faz a seguinte descrição de si mesmo: "É como se tudo estivesse entrando em mim,
esses barulhos dos pássaros, tudo. Não posso ter surpresa
que me assusto e fico ansioso. Antes eu tinha uma armadura que segurava
a agressividade, mas eu entrava em nóia. Agora sem ela, estou
desprotegido, fraco. Agora estou com medo que o derredor me deixe
louco. Antes eu era contra o meio, agora o meio está contra
mim. Quando estou com um sinto falta do outro. Sinto como fazendo
parte do meio, o vento e a natureza fazendo parte de mim. Mas estas
forças da natureza me dão poder." E.M., c/ 30 anos e 5 meses, solteiro, natural da Bahia,
sem profissão, com 2o série do 1o grau. É o
filho do meio de uma prole de 15 filhos do 2o casamento de seu pai,
ora falecido, que já tinha 9 filhos do 1o casamento. No contato mostrou-se com a crítica parcialmente prejudicada, às vezes respondendo objetivamente às perguntas, outras vezes não, parecendo tentar conseguir mas sem saber como fazê-lo. Desorientado em datas, mas sabia o dia da semana. Memória para fatos atuais prejudicada, às vezes disperso. Está em fase inicial de seu atendimento no setor, em uso de Tegretol 200 (2cp de 8/8hs), Gardenal 100 (1,5 cp/dia), Haldol 5 (3 cp/dia), Akineton (3 cp/dia) e Diazepan 5 (1 cp/dia em fase de suspensão). Tem Ressonância Nuclear Magnética mostrando imagem de limites parcialmente definidos no lobo frontal D adjacente ao átrio do III ventrículo. O restante do parênquima e ventrículos normais. São alterações mais frequentemente encontradas em processo seqüelar (encefalomalácia). Realizou os testes com evidente dificuldade de elaboração
e execução, mas principalmente durante o Trail Making
sua ansiedade ficou evidente, interrompendo a execução,
mudando de assunto, desviando o foco da atenção. Só
se acalmou depois que a examinadora lhe ofereceu um copo com água,
aceitando voltar às suas tarefas, mas realizando-as com evidente
déficit. Podemos notar, no primeiro caso, que a clínica do paciente, através de sua fala, e portanto, como uma vivência predominantemente subjetiva, ilustra nitidamente os aspectos apontados por Lúria e nos permite uma compreensão maior do restante da sintomatologia, considerando todo o processamento descrito por Lesak. Também a avaliação objetiva neuropsicológica evidencia o déficit de atenção. Já no segundo caso, na presença evidente
de uma lesão orgânica estrutural, o déficit
de atenção não é detectado na fala do
paciente, mas sim nos sinais captados de sua atuação
durante a entrevista e nos resultados da aplicação
da avaliação neuropsicológica, portanto, dos
dados objetivos colhidos no exame do paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYLWARD, E.; WALKER, E.; BETTES, B. - Intelligence in schizophrenia: meta-analysis of the research. Schizophr. Bull, 10: 430-459, 1984. BRAFF, D.L. - Information Processing and attention Dysfunctions in Schizophrenia. Schizophrenia Bulletin, 19(2): 233-259, 1993. BUTTER, C.M. - Varieties of attention and disturbances of attention: a neuropsychological aspects of spatial neglect. Ed. Elsevier/North Holland, Amsterdan, 1987. CARTER, C.S.; ROBERTSON, L.C.; NORDHAL, T.E. - Abnormal processing os irrelevant information in chronic schizophrenia: seletive enhancement of Stroop facilitation. Psychiatry Res., 41: 137-146, 1992. CARTER, C.S.; ROBERTSON, L.C.; CHADERJIAN, M.R.; O'SHORA-CELAYA, L.; NORDHAL, T.E. - Attentional Asymmetry In Schizophrenia: The Role of Inlness Subtype and Symptomatology. Progress in neuro-psychopharmacology and biologic Psychiatry, 18: 661-683, 1994. 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1992. RESUMO Dentre as funções mentais mais estudadas na atualidade encontra-se a atenção, quer em suas características de normalidade quer psicopatológicas. O distúrbio da atenção tem sido um dos aspectos clinicamente mais evidentes e mais amplamente estudados na psicopatologia da esquizofrenia como possível fator desencadeante da gama de alterações psicopatológicas deste quadro nosológico. Apresentaremos aqui, os Conceitos, a Classificação e as Características da Atenção, bem como as possíveis regiões cerebrais envolvidas na execução e nas alterações desta função, alguns testes de avaliação neuropsicológica e dois casos clínicos ilustrativos. |
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