Psyquiatry online Brazil
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Setembro de 1996 - Vol.1 - Nº 3
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello


Setembro de 1996 - Vol.1 - Nº 3

Crônica de um Congresso de Psiquiatria em Madrid

Denise Razzouk
Psiquiatra pós-graduanda do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP/EPM e redatora da Psychiatry On-Line Brazil

Madri de agosto. Madri das " paellas", das touradas. Madri do Prado. Madri dos turistas. E neste verão, Madri dos psiquiatras.

Dez mil profissionais da área (quase 2 % da população de Madri) aterrizaram no Palácio de Congressos madrilenho na última semana de agosto. Ao invés de câmeras fotográficas e guias de excursão, "slides", transparências, "notebooks", psiquiatras engravatados, outros nem tanto, psicológos, terapeutas, economistas...

Com o lema " One world , one language" o Xº Congresso Mundial de Psiquiatria reuniu profissionais de todas as regiões do globo, trazendo os mais variados temas para " psiquiatra nenhum botar defeito". Foram 250 simpósios, 16 plenárias, 22 palestras, 29 cursos, 21 fórum, debates, mesa redonda, workshop, 40 vídeos, 12 simpósios satélites e 2200 posters em seis pavilhões e um verdadeiro labirinto de salas. Uma intoxicação de conhecimentos!

A participação do terceiro mundo foi expressiva e apesar da tradicional necessidade da "one language psiquiátrica" um espaço maior foi reservado para discutir as diferenças socioculturais e a adequação dos sistemas classificatórios em diferentes contextos sociais e regionais. Assim, simpósios como o "Social reality and mental health in child and adolescents in Latin America", "The social problem in the international classification" , " Identities and differences in psychiatric assistence" são exemplos de discussões que extrapolaram o universo norte-americano.

Ainda nesta direção, simpósios sobre política e economia em Psiquiatria foram temas prevalentes: a implementação de serviços de saúde mental de atenção primária; o investimento em psicotrópicos segundo o custo-benefício; o mapeamento do ajustamento social de diferentes populações como um elemento norteador de planejamento de serviços de saúde e, sobretudo, a questão da comorbidade.

O tema comorbidade foi o foco de discussão em simpósios de psicopatologia, psicofarmacologia, classificações, epidemiologia. À luz da discussão sobre a ocorrência de duas ou mais categorias diagnósticas concomitantemente não faltaram as propostas de classificações dimensionais como a Psicose única de Crow. Uma brilhante palestra, por sinal. Ainda neste palco, Montgomery brigava para incluir mais uma categoria diagnóstica, a Depressão Breve Recorrente. Algumas horas antes, um encontro memorável entre Sabshin e Berner debatendo sobre os pressupostos da psicopatologia em comparação com o consenso diagnóstico e os DSM. Um encontro histórico...

Ná área de Informática, o espaço foi modesto. Apenas um simpósio para o "Data system in Psychiatry" e uma manhã de demonstração prática. Mas, já é um começo. O frustrante foi o cancelamento da palestra sobre Internet e Psiquiatria.

Pudemos, então, fazer uma viagem no tempo, um turismo pela história da Psiquiatria, com seus pressupostos kraeplinianos até o cruzar das "net" fronteiras do século XXI. O mundo está mudando a sua "cara" e a Psiquiatria também. As sociedades buscando novas formas de organização. Se não temos uma linguagem única temos neste momento uma tentativa de comunicação mais integrada. Em verdadeiro processo de expansão.


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