Psyquiatry online Brazil
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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Maio de 2017 - Vol.22 - Nº 5

France - Brasil- Psy

Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Quem somos (qui sommes-nous?)                                  

France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise.

Qui sommes- nous ?

FRANCE-BRASIL-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line” offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse.

SOMMAIRE (SUMÁRIO):

 

  • 1. SALOMON RESNIK, PSIQUIATRA E PSICANALISTA ARGENTINO
  • 2. MICHEL SCHNEIDER E DANIEL MELGUISH
  • 3. DEPRESSÃO OU MAL-ESTAR ?


  • 1. SALOMON RESNIK, PSIQUIATRA E PSICANALISTA ARGENTINO

    REFERÊNCIA: LE MONDE | 08.03.2017 à 12h02 |Por Elisabeth Roudinesco

    SALOMON RESNIK nasceu em Buenos Aires em 1/4/1920 e morreu em Paris em 16/2/2017, onde morava desde 1968. Ele começou sua atividade formando alunos na Itália, notadamente em Veneza. Clínico benévolo e jovial, ele consagrou sua vida acompanhando doentes mentais, antes e após o aparecimento dos tratamentos químicos que dominam hoje o saber psiquiátrico.

    Filho de imigrantes judeus vindos de Odessa começou seus estudos de medicina aos 18 anos, evoluindo depois para a psiquiatria. Foi assim que encontrou os pioneiros da psicanálise na Argentina, e, notadamente, Enrique ­Pichon-Rivière (1907-1977), que o formou. Este mestre melancólico havia fundado com alguns amigos, em 1942, a Associação Psicanalítica da Argentina (APA), reconhecida imediatamente pela International Psychoanalytical Association (IPA, 1910). Em seguida, começou a ensinar a clínica das psicoses e os diferentes tipos de práticas de grupo. Por sua concepção da « doença única», ­Pichon-Rivière, clínico eclético de grande capacidade, defendeu a idéia de que a loucura devia ser abordada do ponto de vista social, psíquico e psicossomático.

    COMPREENSÃO INATA

    SALOMON RESNIK restará o herdeiro desta tradição humanista, da qual ele se tornou um ilustre representante. Como sublinhou seu amigo e colega Pierre Delion, professor de pedopsiquiatria em Lille, « Salomon conhecia inúmeras línguas – espanhol, francês, italiano, russo, ucraniano, yiddish –, mas ele também falava o psicótico » (Encontro com Salomon Resnik. Cultura, fantasma e loucura, Erès 2005).

    Do mesmo modo, Resnik tinha uma compreensão inata da língua da loucura. E foi por isto que, em 1957, como muitos outros Argentinos, ele deixou Buenos Aires para viver na Europa, primeiro na França, afim de aperfeiçoar sua formação com os mais importantes representantes da psicoterapia institucional. Inventada em 1952 pelo psiquiatra Georges Daumezon (1912-1979), este termo designa uma terapêutica da loucura que tem por objetivo reformar a instituição asilar, privilegiando uma relação dinâmica entre pacientes e atendentes.

    Já adepto desta perspectiva, Salomon Resnik encontrou François Tosquelles (1912-1994) e Jean Oury (1924-2014). Entretanto, interessado por novos pontos de vista, ele foi para Londres a fim de se formar com os clínicos mais importantes da escola inglesa: Melanie Klein (1882-1960), célebre psicanalista de crianças, e Herbert Rosenfeld (1910-1986), com quem fez  uma segunda análise, participando ao mesmo tempo dos trabalhos da Tavistock Clinic.

    Nesta perspectiva, Resnik entrou em contacto com Wilhelm Ruprecht Bion (1897-1979), clínico de origem indiana, personagem vistoso e turbulento, analista de Samuel Beckett e especialista dos estados-limites (borderline states) freqüentemente comparado com Jacques Lacan pelas suas inovações.

    Quando Resnik decidiu se instalar novamente em Paris, ele havia adquirido a cultura psiquiátrico-psicanalíticos do século XX: escola argentina (grupal), escola francesa (dinâmica), escola inglesa (intrapsíquica). Do mesmo modo ele tornou-se, por suas diversas migrações, um professor admirável.

    Lembraremos apenas três trabalhos importantes de Resnik: Temps des glaciations (Tempo das glaciações), Voyage dans le monde de la folie (Viagem no mundo da loucura. Erès, 1999), nos quais ele mostra como o paciente psicótico tenta evitar sofrimentos desenvolvendo alguns mecanismos de defesa específicos, e Biographie de l’inconscient (Biografia do Inconsciente (Dunod, 2006), onde ele descreveu, como num romance, as diversas ­facetas da vida intrapsíquica.

    Resnik explicava, de bom grado, que seu desejo de estudar o mundo da loucura datava duma lembrança de sua infância:« quando eu era menino, ficava fascinado por um vestido preto de minha mãe¸ o qual me dava à impressão dum universo estrelado e assombroso onde cada pequeno cristal cintilante era como um pequeno sol. »

    Salomon Resnik em cinco datas

    1-4-1920: Nascimento em Buenos Aires

    1968: Alojamento em Paris

    1999; Livro :« Temps des ­glaciations. Voyage dans le monde de la folie » (Erès)

    2006 « Biografia do inconsciente » (Dunod)

    16 -2-2017 Morre em Paris

    Elisabeth Roudinesco



    2. MICHEL SCHNEIDER e DANIEL MELGUISH

    Um prazer enorme ao ouvir Michel Schneider e num programa da emissora de rádio France Culture, apresentado por Pierre Assouline. Dois eruditos extraordinários que a França, com a sedimentação de uma cultura muito antiga, pode oferecer ao mundo. Fiquei pasmado diante do encadeamento vertiginoso das idéias constitutivas deste saber.

    Michel Schneider foi convidado por haver escrito dois livros sobre a Ópera, onde ele mostra suas inúmeras relações com a psicanálise. A própria escritura, os cenários, a definição das regras, a relação entre os cantores são cheios de sexualidade e de erotismo, donde o interesse do psicanalista pela Ópera.

    Bernard Shaw (https://pt.wikipedia.org/wiki/George_Bernard_Shaw) disse que a Ópera é uma peça em que o barítono passa seu tempo a tentar impedir que o tenor durma com o soprano.O que conta a ópera é estranho, como um inconsciente onde as paixões não podem ser controladas e as diversas figuras edipianas estão presentes, nas quais a mãe fálica é, de uma certa maneira, representada pelo contralto. Ela é uma mãe terrível, poderosa, contundente e que a psicanálise considera como geradora da maior parte do inconsciente humano.

    Melghish fala da obra de Racine (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Racine), intitulada Esther. Fazendo-se passar por uma árabe, ela vai casar com o rei árabe Aman. Mais tarde ela revelará que é judia.

    Deus, diz um profeta, é aquele que sabe o que faz. Melghish diz que Deus é aquele que sabe que não sabe o que faz.

    Melghish questiona as relações entre o passado e o presente, tanto nas obras clássicas como na história dos indivíduos.

    Duas atitudes são possíveis diante de uma obra como Esther: ela foi escrita no século XVI, o ponto de partida é o contexto em que o autor escreveu a obra, que deve ser adaptada em conseqüência disto. Sua adaptação deve representá-la nesse contexto.

    Outro ponto de vista: é necessário adaptar a obra ao presente, este presente em movimento continuo. Melghish prefere misturar passado e presente, passar de um a outro, sem desprezar nenhum deles, num vai-e-vem continuo.

    Ele pensa mesmo que o século XVII foi talvez mais importante do que o atual.

    É certo que Racine não leu Freud, mas este leu, entretanto Sófocles, como Racine leu Sófocles.

    Michel Schneider: A Ópera suscita a verdade dos sentimentos, das emoções.



    3. DEPRESSÃO OU MAL-ESTAR ?

    Referência: artigo publicado no Journal de toutes les psychologies, n°1, 2011.

    A depressão é freqüentemente associada, sem razão, a um estado de tristeza ou de melancolia passageira. Segundo a Organização mundial da saúde (OMS) e a Associação de psiquiatria americana, o episódio depressivo mais importante (EDM) se caracteriza exatamente por um ‘’humor depressivo’’, uma perda de prazer durante pelo menos duas semanas consecutivas, associadas pelo menos a quatro sintomas:cansaço, lentidão psicomotora, mudança do apetite ou do peso, insônia, dificuldade para se concentrar, desvalorização, culpabilidade, idéias de morte recorrentes e tentativas de suicídio.

    Se 45% das pessoas interrogadas reconhecem que passaram por um episódio de tristeza no decurso de suas vidas, o EDM propriamente dito só concerne 18% da população. Uma cifra apesar de tudo importante e que continua sendo o motivo principal da consulta terapêutica.

    Antes dos 25 anos, as pessoas depressivas passam freqüentemente por uma situação de precariedade social e profissional. Entre 25 e 54 anos, os homens sofrendo de depressão vivem freqüentemente sozinhos, sem crianças, enquanto as mulheres de mesma idade têm tendência a soçobrar quando elas têm mais de cinco crianças e uma baixa renda. Entretanto, a depressão não é causada por um único fator, mas por um conjunto de processos cujo desenvolvimento ignoramos.


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