Psyquiatry online Brazil
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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Janeiro de 2017 - Vol.22 - Nº 1

France - Brasil- Psy

Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Quem somos (qui sommes-nous?)                                  

France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on  line”oferto aos  profissionais do setor da saúde mental de expressão  lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de sites.

Qui sommes- nous ?

France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais  concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et d’associations, sélection  de sites

SOMMAIRE (SUMÁRIO):

 

  • 1. OS EFEITOS NEFASTOS DA HIPOCONDRIA SOBRE O CORAÇÃO
  • 2. A FÁBRICAÇÃO DOS NEUROLÉPTICOS (primeira parte)
  • 3. AS FACULDADES DE MEDICINA SERIAM INFLUENCIADAS PELOS LABORATÓRIOS?


  • 1. OS EFEITOS NEFASTOS DA HIPOCONDRIA SOBRE O CORAÇÃO 

     

    Referência: artigo de Sophie Lacoste, publicado na revista TV MAGAZINE Centro, França.

    Tradução: Eliezer de Hollanda Cordeiro

     

    A hipocondria é uma síndrome que se manifesta por uma ansiedade e um medo imenso de cair doente, ao ponto de prestar uma atenção obsessiva a qualquer reação de seu organismo, mesmo pequena, e interpretá-la como o sinal de uma doença grave. Uma pequena dor de cabeça e a pessoa pensa que é vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), uma dor no ventre e ela imagina um câncer do estômago mesmo quando todos os exames médicos provam o contrário…

     

    Existem três formas de hipocondria: neurótica (a pessoa é consciente de seu distúrbio), demencial (com senilidade e distúrbios psicomotores), e psicóticas (com ideias delirantes e alucinações).

     

    Este distúrbio pode causar um handicap, não somente por causa da ansiedade permanente que ele engendra - com a necessidade constante de consultas médicas e exames-, mas também,  como pesquisadores acabam  de demonstrar, o distúrbio submete o coração a uma dura provação.

     

    UM RISCO DE DOENÇA AUMENTADO DE 70%

    Cientistas da Noruega, da divisão psiquiátrica do hospital universitário Sandviken em Bergen, dirigiram um estudo durante doze anos a fim de analisar os efeitos da hipocondria. Eles observaram mais de 7 000 pessoas adultas e submeteram-nas a controles medicais. O resultado deste estudo, recentemente publicados no The Guardian, indica que a ansiedade e o estresse permanentes  que afetam os hipocondríacos aumenta de 70% o risco de doença cardíaca.

     

    Algumas vezes, a importância da angústia é tal que o médico pode prescrever um tratamento, mas, em longo prazo, a solução consiste antes de tudo no acompanhamento sob a forma de uma psicoterapia cognitiva comportamental.    

      

    2. A FABRICAÇÃO DOS NEUROLÉPTICOS

    Referência: Le Cercle Psy: L’histoire de la psychologie en 100 dates, Novembre e Décembre 2016.

    Medicamentos e psicoterapias não são antagonistas, mas complementares. 

    Se a pesquisa de Hans Eysenck colocando em causa a eficiência e mesmo a utilidade da psicoterapia teve tanta ressonância nos anos de 1950 foi porque as pesquisas se multiplicaram no domínio farmacológico. Em vez de perder seu tempo com um terapeuta às vezes silencioso, ou  então fazer curas de sono artificial por meio de barbitúricos, talvez fosse nitidamente mais eficiente, rápido e vantajoso tomar pequenas pílulas milagrosas. Tanto mais que os efeitos secundários indesejáveis não foram ainda isolados…

    Em 1950, os laboratórios Rhône-Poulenc sintetizaram a clorpromazina, (vendida com o nome de Largactil), um anti-histamínico que o cirurgião Henri Laborit (1914-1995) constatou  possuir efeitos calmantes nos esquizofrênicos operados.

    Em 1952, os psiquiatras Jean Delay (1907-1987) e Pierre Deniker(1917-1998) submetem a testes durante várias semanas 38 pacientes apáticos  sofrendo de distúrbios psiquiátricos e hospitalizados em Saint-Anne, Eles tiveram então a ideia de continuar o mesmo tratamento após o desaparecimento dos sintomas no exterior do hospital, no ambulatório, e, se necessário, nos seus gabinetes. No mesmo ano, a iproniazide, um medicamento empregado contra a tuberculose, parece agir sobre a depressão: ele foi comercializado em 1958, mas retirado do mercado três anos depois por causa de efeitos secundários importantes, especialmente no fígado.

    Em 1955,  a imipramina foi testada em pacientes esquizofrênicos, mas os resultados foram decepcionantes. Delay e Deniker constataram dois anos depois que o produto era útil para combater a depressão. Ele foi comercializado com o nome de Tofranil, o primeiro dos antidepressivos triciclos, cujos efeitos colaterais são notadamente o aumento do peso e distúrbios sexuais.

    Em 1958, chega a rispéridone (Risperdal) proposto pelo farmacólogo belga Paul Janssen (1926-2003). Um de seus amigos, novamente por acaso, havia notado que os atletas dopados com anfetamina manifestavam certos comportamentos comparáveis aos dos esquizofrênicos paranoicos… donde a ideia de fabricar antagonistas das anfetaminas. Em  consequência, os hospitais psiquiátricos começaram enfim a se esvaziar, inúmeros pacientes  podendo retomar uma vida social melhor e a capacidade de se tratar em ambulatório.

    3. AS FACULDADES DE MEDICINA SERIAM INFLUENCIADAS PELOS LABORATÓRIOS?

    Referência: Jérome Vincent, jornalista da revista Le Point,

    As 37 universidades francesas de medicina não são impermeáveis à influência dos laboratórios farmacêuticos, segundo um trabalho da associação Conflict of Interest Policies at French Medical Schools: Starting from the Bottom, Plos One, 10 janvier 2017. E, segundo nossa própria investigação, 30 dos 37 decanos franceses beneficiaram de vantagens da indústria farmacêutica entre 2012 e 2016. Nosso balanço apoia-se sobre a base de dados públicos: Transparence santé (Transparência saúde), base tornada obrigatória pela lei de 29 dezembro de 2011 relativa ao reforço da segurança sanitária do medicamento, a qual permite o acesso à totalidade das informações declaradas pelas empresas sobre as relações que elas têm com os atores do setor da saúde.

    Os lucros obtidos por esses professores são diversos: restaurante, hospedagem, transporte, inscrição num congresso, remuneração… Se alguns decanos só tiram  poucos proveitos dessa situação, outros batem recordes: 179 vantagens para um, 275 para outro ! Aceitar as vantagens de um industrial vai levá-lo a tomar decisões em favor do mesmo? Em princípio, os decanos e a estrutura que eles dirigem garantem a proteção de seus alunos contra toda influência comercial indevida.

    A questão sobre a capacidade de resistência dos médicos às pressões dos laboratórios suscita muitas paixões. Com efeito, somente três decanos entre os 37 responderam ao primeiro inquérito do gênero realizado na França pela associação médica independente Formindep sobre a independência que as universidades médicas podem garantir a seus estudantes, por conseguinte aos futuros prescritores de medicamentos, com relação aos laboratórios. Buscando pela Internet os nomes  das faculdades e interrogando seus professores, os autores deste projeto concluíram que somente as faculdades médicas nacionais de Lyon Est, Angers, Aix Marseille, Lyon Sud, Paris-Descartes, Paris-Diderot, Rennes-I, Strasbourg e Toulouse Purpant tomaram iniciativas para se premunir contra os conflitos interesseiros  podendo surgir por causa das relações  entre os estabelecimentos ou seus professores com a indústria do medicamento. Vários trabalhos concluem que os estudantes formados nessas faculdades prescrevem de uma maneira menos orientada pela publicidade dos laboratórios e mais favorável aos pacientes.

       

     

     


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