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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Abril de 2016 - Vol.21 - Nº 04

História da Psiquiatria

DESCOBRINDO A PSICOFOBIA

Walmor J. Piccinini

 Psicofobia é um neologismo criado pela Associação Brasileira de Psiquiatria que teve seu presidente Antonio Geraldo da Silva como criador desenvolvedor e propagador. A ideia de dar um nome ao estigma, prejuízo e preconceito que sofrem os doentes mentais foi aceita por legisladores, como o Senador Paulo Davim, pelo Conselho Federal de Medicina, pela Associação Mundial de Psiquiatria, e por várias associações como a Associação Americana de Psiquiatria, a Associação Espanhola de Psiquiatria, a Associação Portuguesa de Psiquiatria e outras mais.”

Introdução.

    Há muitos anos atrás tive que ir até o Hospício para falar com meu preceptor o David E. Zimerman. Por indicação dele eu o substituí no Hospital da Brigada Militar.

A ausência de uma psiquiatra e minha experiência de quatro anos como atendente psiquiátrico e estudante de medicina me deu a condição de chefiar a Quarta enfermaria do Hospital da BM. Bem, mas o assunto que interessa é que fui ao hospício para falar com o David. Ele trabalhava na Enfermaria Pinel que, na época, dizia-se que tinha 1.500 pacientes, todos aglomerados em condições precárias de espaço. Fui levado para um salão e o funcionário abriu a porta e me disse, atravessa o salão e bate na porta do outro lado. Entrei numa boa e de repente me vi num ambiente que deveria ter uns quatrocentos pacientes. Mesmo com minha experiência fiquei com medo. Pensei em retornar, mas a porta não tinha maçaneta e só podia ser aberta pelo lado de fora. No caminhar comecei a pensar na possibilidade de agressão e depois outro medo começou a se infiltrar na minha cabeça. E se eu fosse esquecido aqui dentro? Já me imaginei mais um louco no meio dos loucos. Foi neste lapso de segundo que uma voz saída do meio daquela multidão de pacientes me disse. Oi doutor, o que está fazendo por aqui? Era um “brigadiano” que eu mandara transferir para o hospício. Sua voz, e o fato de ter minha identidade restaurada me acalmaram. Comentei o objetivo da minha visita e ele me disse é naquela porta lá no fundo, me deixa acompanhá-lo.  O dia estava salvo, eu não fiquei trancado e não era mais um possível “louco”.   Esta minha ligeira experiência mostra um dos motivos deste meu artigo. O medo da loucura é assustador e faz muitas pessoas reagirem de forma hostil ao que parece louco.  Eu diria que quanto maior a agressividade e o desprezo pelo ser humano que sofre de doença mental, maior o medo do agressor da loucura. Este medo pode levar a atitudes de prejuízo, preconceito e estigma para quem sofre de doenças da mente.

Psicofobia

Colocado no Google este termo resultou em cerca de 16.700 locais onde o mesmo é referido.  Na Wikipedia temos a seguinte definição:

Psicofobia é o preconceito contra as pessoas que têm transtornos e deficiências mentais. Ao longo da história, doentes mentais foram acusados de bruxaria ou de serem possuídos pelos demônios, ou até mesmo de serem servos do diabo.

Psicofobia – Wikipédia, a enciclopédia livre.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicofobia

 

Por Dicionário informal (SP) em 05-08-2012

Significado de Psicofobia:

Preconceito contra os portadores de deficiências e transtornos mentais.

Exemplo do uso da palavra Psicofobia:

Negar trabalho a uma pessoa que tem transtornos mentais é psicofobia.

Como bem disse o Professor João Romildo Bueno em recente entrevista para a ABPTV, trata-se de um neologismo para marcar o combate ao Preconceito, a Estigmatização e o Prejuízo contra o doente mental.

A jornalista CRISTIANE SEGATTO assim registrou em 30/08/2013 -

Pouco antes de morrer, em março do ano passado, o humorista Chico Anysio decidiu entrar na luta contra o preconceito que cerca as doenças mentais. Ele sofria de depressão e, num sábado à tarde, recebeu em casa o médico Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), para gravar um depoimento.

Durante a conversa, Chico fez um comentário e uma sugestão:

– Antigamente existiam carros usados. Agora chamam de “seminovos”. As coisas hoje têm esses nomes. Crie um nome para o preconceito.

O conselho do comunicador não foi esquecido. Muitas reuniões depois, a ABP lançou o termo “psicofobia”. Atualmente ele é adotado para designar atitudes preconceituosas e discriminatórias contra as deficiências e os transtornos mentais. O uso da palavra se disseminou. Uma busca rápida no Google aponta 16 mil textos em que ela é citada.

A psicofobia pode virar crime. O senador Paulo Davim (PV-RN) propôs uma emenda para incluir esse tipo de preconceito no projeto de lei de reforma do Código Penal Brasileiro. Vários senadores, entre eles Aécio Neves (PSDB-MG), apoiam a proposta.

Outro registro encontrou em:

Psicofobia http://saudedireito.org/glossario-do-gepesades/psicofobia/

 

Psicofobia. O significado original do termo psicofobia é o de medo ou exagerado e irracional da mente. . No entanto, tem sido um termo usando em sentido não clínico no Brasil, podendo neste contexto ser definido como o preconceito ou discriminação contra pessoas com transtornos ou deficiências mentais. Neste aspecto, o sufixo - fobia não é usada de forma clínica, mas no sentido de atitudes negativas ou preconceituosas. O uso do termo para designar a acepção relacionada a preconceito começou no Brasil por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em uma campanha contra este tipo de preconceito, sendo o sufixo -fobia usado provavelmente por causa da difusão do seu uso em iniciativas anti-discriminatórias, tais como as que combatem a homofobia, a xenofobia etc.

Segundo a opinião do Dr. Juberty Antonio de Souza

Psicofobia é crime

 É da natureza humana que fatos desconhecidos tragam ansiedade, e vai-se em busca de explicação. Quando não se tem uma explicação razoável, a pessoa cria uma, e esta passa a ter foro de verdade. No dia a dia vemos isto diariamente. E quando diz respeito às doenças mentais este fato tem atravessado séculos. No modelo médico as pessoas são treinadas para identificar as doenças tendo alguns critérios sendo os principais: o reconhecimento do quadro clínico; certeza dos fatores etiológicos, o conhecimento das opções terapêuticas e a expectativa do prognóstico dependendo de sua evolução; Em se tratando das doenças psiquiátricas pelo desconhecimento dos fatores etiológicos elas foram consideradas como manifestações divinas ou demoníacas dependendo do tempo e da cultura considerada. Isto não mais se justifica em razão dos conhecimentos atuais. Entretanto os doentes mentais continuam sendo discriminados, agredidos e humilhados em diversas circunstâncias, inclusive algumas médicas, como verificado diuturnamente em nosso país, que já dispõe de legislação contra condutas discriminatórias como as verificadas no Código Penal vigente que no Parágrafo 3 do Artigo 140 diz que é crime se a injuria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência; mas que não prevê nenhuma penalidade, e portanto, inócua. Hoje pela desassistência ao doente mental presente no Brasil, verificamos o preconceito e a discriminação na ausência de leitos, na falta de estrutura assistencial tanto hospitalar quanto em equipamentos sociais extra-hospitalares. Como resultado vemos um aumento dos doentes mentais no sistema penitenciário e nas ruas, sem nenhum tipo de assistência e ainda sujeitos à vulnerabilidade legal. Por isto e em consonância com o mundo atual, considerando a reforma do Código Penal, a Associação Brasileira de Psiquiatra, através do Senador Paulo Davin (PV- RN), apresentou ao Senador Pedro Taques (PDT-MT), relator da Comissão de Reforma do Código Penal uma emenda propondo a criminalização. A iniciativa que conta com o apoio da Associação Médica Brasileira e do Conselho Federal de Medicina não tem como objetivo o aumento da população carcerária, mas sim mostrar a sociedade que o doente mental não pode ser vítima de condutas preconceituosa ou discriminatória, e que merecem como cidadãos ser tratados de forma digna e com respeito. Assim a proposição visa incluir no projeto a consideração de que a Psicofobia seja considerada como crime com a redação prevista nos Artigos 472, 475 e 476: Art. 472 – Constitui crime quando praticado por motivo de discriminação ou preconceito de gênero, raça, cor, etnia, identidade ou orientação sexual, religião, condição de pessoa com transtorno ou deficiência mental, procedência regional ou nacional, ou por outro motivo assemelhado indicativo de ódio ou intolerância, com previsão de pena de prisão de dois (2) a quatro (4) anos. Faz-se necessário tal previsão pelo estado atual de desassistência e negação de direitos essenciais aos doentes mentais, que são cidadãos e como tal devem ser tratados.

No livro  “Understanding the Stigma of Mental Illnes (Theory and Interventions) de 2008. Editado pelos eminentes psiquiatras Julio Arboleda Flórez e Norman Sartorius são discutidas em termo mundial os problemas gerados pelo Estigma. O livro começa assim: “O mais frequente contato que o público em geral tem com a doença mental é através da Mídia (imprensa falada e escrita) ou pela observação direta dos delinquentes nas atarefadas ruas das grandes cidades, muitos dos quais são doentes mentais. Infelizmente a mídia retrata  os doentes mentais como imprevisíveis, violentos e perigosos.

A associação de doença mental e violência, é apenas um dos estereótipos negativos e atitudes de prejuízo expressadas pelo público em geral a respeito de pessoas com doença mental. A observação direta de pessoas com doença mental nas ruas amplia a concepção que a doença mental causa uma degradação inevitável para os que dela sofrem. Estas impressões colaboram na perpetuação de atitudes estigmatizantes contra as condições mentais e das práticas discriminatórias contra os pacientes mentais.

Apesar do grande número de doentes mentais não muda a sua condição na sociedade, eles não tem força para reagir. Se não podemos combater o estigma, podemos combater a discriminação com direitos para os quais lutar.”

Os psiquiatras e demais profissionais da saúde que tentam proteger os doentes mentais também são vítimas de Estigma, Preconceito e Prejuízo e isto se apresenta sobre as mais curiosas interferências na sua prática profissional. Nenhuma especialidade médica sofre tanta

ação de legisladores que desejam determinar o que pode ou não pode ser feito. São questionados os métodos terapêuticos, as medicações utilizadas, a necessidade ou não de hospitalização. Todos se julgam no direito de decidir o que é melhor para quem sofre o desgaste de uma doença mental.

No Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria (www.biblioserver.com/walpicci) encontramos 51 trabalhos que tratam do Estigma. O mais antigo é uma Tese de doutoramento da Fac. De medicina do Rio de Janeiro do ano de 1893. “Os Estigmas da Degeneração Psíquica” do Dr. Rocha Barros.

 


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