Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Agosto de 2016 - Vol.21 - Nº 8 Psiquiatria na Prática Médica TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS RELACIONADOS AO USO DE DROGAS E SUAS IMPLICAÇÕES OFTALMOLÓGICAS Danilo Augusto Blanco dos Santos * UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ DEPARTAMENTO DE MEDICINA
RESUMO
O uso e abuso de substâncias transformou-se em um grave problema de saúde pública em praticamente todos os países do mundo. O uso crônico dessas substâncias pode causar dependência química. A maioria das substancias utilizadas têm efeitos oftalmológicos que em muitos casos, são irreversíveis. Objetivos: avaliar o impacto da dependência química sobre as lesões oftalmológicas. Metologia: o trabalho desenvolvido seguiu os preceitos do estudo exploratório, por meio de uma pesquisa bibliográfica.
Palavras-chave: Álcool; LSD; Cocaína; Lesões Oculares; Distúrbios psiquiátricos.
ABSTRACT
The use and abuse of substances became a serious public health problem in almost every country in the world. Chronic use of these substances can cause addiction. Most substances used have Ophthalmic effects in many cases is irreversible . Objectives: To assess the impact of addiction on the eye injury. Methodology: the work followed the precepts of the exploratory study , through a literature search .
Keywords:. Alcohol; LSD; Cocaine; Eyes Disease; Psychiatric Disorders
INTRODUÇÃO Por décadas, temos visto mudanças na sociedade, novos hábitos, demandas, drogas, moda, etc. Esse novo modelo trouxe consigo aumento das patologias causadas por vícios (Kanski JJ, 2004) . O uso e abuso de substâncias transformou-se em um grave problema de saúde pública em praticamente todos os países do mundo. (Chalub & Telles, 2006; Kolling, Silva, Carvalho, Cunha & Kristensen, 2007; Nassif, 2004). O uso crônico dessas substâncias pode causar dependência química, consequência da relação patológica entre um indivíduo e uma substância psicoativa. (Brusamarello, Sureki, Borrile, Roehrs & Maftum, 2008). Nos EUA, o Estudo Nacional de Comorbidade verificou índices altos de comorbidades psiquiátricas em dependentes de substância, principalmente transtornos (Kessler & cols., 1994), sendo mais frequentes os Transtornos do Humor e de Ansiedade (Pulcherio, Vernetti, Strey & Faller, 2008). Define-se como abuso de drogas, o uso de qualquer substância utilizada para fins não médicos, capazes de produzir uma alteração no comportamento do indivíduo (Rocca, 2002). A maioria das substancias utilizadas têm efeitos oftalmológicos que se estendem da hiperemia conjuntival e alteração do tamanho das pupilas (midríase-miose) até alterações na qualidade de visão por alterações da retina, do nervo óptico, e do fluido intra-ocular. Em muitos casos, não há possibilidade de reversão dos sintomas. A perda visual pode ser total e permanente, dependendo de o tipo de droga, do tempo de utilização e da patologia instalada (Gonzalez, 2003).
A toxicidade e aparelho ocular
É considerado tóxico para qualquer substância capaz de causar danos à saúde, tanto pela sua natureza intrínseca ou mesmo sendo uma droga, tais como efeitos colaterais (Ventre, 2005). Uma droga pode ser tóxico quando utilizado durante um longo tempo, ou for excedida dosagem. No aparelho ocular, a retina é o local mais sensível, por isso alguns sintomas sugestivos de toxicidade da retina incluem visão turva, percepção de cores, alucinações, senso de cor anormal, fotofobia e diminuição progressiva visão (Ventre, 2005; Pinheiro, 2004)
OBJETIVOS Avaliar o impacto da dependência química sobre as lesões oftalmológicas
METODOLOGIA O trabalho desenvolvido seguiu os preceitos do estudo exploratório, por meio de uma pesquisa bibliográfica, que, segundo Gil (2008, p.50), “é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído de livros e artigos científicos”.
DISCUSSÃO As drogas de abuso possuem diversas estruturas químicas e mecanismos de ação. Na administração cada droga se liga a um sítio de ação próprio e desencadeia uma série de comportamentos, sensações e efeitos fisiológicos. Essas drogas são recompensadoras (o que leva à repetição do seu uso) e produzem sintomas emocionais negativos na sua abstinência, pExistem várias evidências que todas as drogas de abuso convergem a um circuito comum no sistema límbico cerebral (NESTLER, 2005).
Drogas de abuso consideradas e seus efeitos oftalmológicos:
Álcool O consumo de álcool produz estados de deficiência, como a deficiência de vitaminas B1, B6, B12, niacina e riboflavina, o que pode levar à perda lenta e progressiva da visão binocular, associado com escotoma central. Estudos mostram que a intoxicação alcoólica crônica induz a formação de radicais livres em todos os tecidos oculares, que levam perda gradual de visão, acompanhada por uma alteração significativa de visão de cores. O nervo óptico pode perder suas fibras e macula pode definitivamente destruída com consequente cegueira irreversível (MD Pinazo-Durán, 2006).
Maconha O uso desta substância no corpo causa hiperemia conjuntival e síndrome dos olhos secos. Há também durante o consumo midríase e fotofobia. Em casos de intoxicação aguda é possível para observar nistagmo (Gisbert Calabuig JA, 2003; Gonzalez EE, 2004).
Cocaína A cocaína estimula o córtex cerebral com uma ação imediata no sistema nervoso autônomo levando a taquicardia, aumento da pressão arterial e midríase com fotofobia. Frequentemente a inflamação e infecção dos canais lacrimais que pode ocorrer em viciado cocaína inalatória, manifestando-se com dor e inchaço na região do saco lacrimal. Muitas vezes, a substância esta misturada a talco (silicato de magnésio) ou amido e estas partículas podem formar granulomas pulmonares e atingir a circulação geral, alcançando a retina. As partículas alojam-se nos capilares das camadas internas da retina produzindo isquemia macular, com a consequente perda de acuidade visual. Não é incomum para encontrar descolamento de retina com as suas graves consequências. (Ventre, 2005; Pinheiro de Freitas LA, 2004).
LSD O ácido lisérgico dietilamida, e um alucinógenos sintético com estruturalmente semelhante à da serotonina, por conseguinte, limita os efeitos do neurotransmissor e aumenta a quantidade de dopamina. Seus efeitos podem durar mais de 12 horas e distribuídos em três fases. O primeiro, com a ação fora do sistema nervoso central, aumento da frequência cardíaca, pupilas dilatadas e temperatura elevada. Na segunda fase, juntamente com os efeitos sensoriais, pode ocorrer sinestesia, causando sensações como "ver o som". Na terceira fase há riscos de rompimento da retina em virtude da pela hipertensão (Ventre, 2005; Gisbert Calabuig JA, 2003).
Morfina, Heroína e Derivados do Ópio Esses medicamentos têm efeitos semelhantes ao nível ocular. Durante o uso ocorre miose, olho seco, enquanto na abstinência ocorre midríase com fotofobia e lacrimejamento. O impacto sobre a visão relacionada com os efeitos neurotóxicos e alterações no campo visual. (Ventre, 2005; Gisbert Calabuig JA, 2003).
CONCLUSÕES Na conjuntura atual, o abuso de drogas constitui um problema sério que acarreta desordens psiquiátricas e lesões orgânicas, em muitos casos, irreversíveis. Considera-se de grande importância, além do tratamento psiquiátrico, o acompanhamento multidisciplinar de possíveis danos orgânicos. Especialmente os de natureza oftalmológica, que podem ser irreversíveis, principalmente, quando acometem a retina. Uma melhor entendimento das comorbidades acarretadas pelo vício e uma melhor qualidade no atendimento e na integração das equipes médicas são necessárias para um atendimento mais adequado dessa população.
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Kessler, R. C., McGonagle, K. A., Zhao, S., Nelson, C. B.,Hughes, M., Eshleman, S., Wittchen, H.U., & Kendler, K. S (1994). Lifetime and 12-month prevalence of DSM-III-R psychiatric disorders in the United States. Results from the National Comorbidity Survey. Archives of General Psychiatry, 51, 8-19. Pulcherio, G., Vernetti, C., Strey, M. N., & Faller, S. (2008). Transtorno de estresse pós-traumático em dependente do álcool. Revista de Psiquiatria Clínica, 35, 154-8 GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6o ed. São Paulo: Atlas, 2008. NESTLER, E. J.; Is there a common molecular pathway for addiction? Nature neuroscience, v.8, n.11, p. 1445 – 1449, 2005 * Interno do dep. Med. Unitau. **Coordenadora da disc. psiquiatria-Unitau [email protected]
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