Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Junho de 2016 - Vol.21 - Nº 6 Psiquiatria na Prática Médica
ANÁLISE DE ASPECTOS PSIQUIÁTRICOS EM CIRURGIAS BARIÁTRICAS: GUSTAVO CARVALHO COSTA * 1) INTRODUÇÃO A
obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura
corporal e vem sendo considerada um grande problema de saúde pública,
principalmente devido aos riscos envolvidos, sendo responsável por
aproximadamente 2% a 8% dos gastos em tratamentos de saúde em vários países do
mundo. Por sua caracterização e etiologia multifatorial, é uma condição que tem
merecido atenção particularmente na área da psiquiatria e a psicologia, uma vez
que, os problemas emocionais são geralmente percebidos como conseqüências da
obesidade e, muitas vezes, como fatores precedentes desta condição. A depressão
e a ansiedade são sintomas comuns e mais frequentes nos gravemente obesos. O
tratamento psicoterápico vem mostrando eficácia, em princípio, relacionados ao
autocontrole de comportamentos alimentares e contexto situacional mais amplo.
Embora o tratamento farmacológico da obesidade não deva ser a primeira opção
terapêutica, seu uso está plenamente aprovado. Entretanto, vários pacientes não
respondem a estas manobras terapêuticas, necessitando de uma intervenção mais
eficaz. A cirurgia bariátrica tem se mostrado uma técnica de grande auxílio na
condução clinica de alguns casos de obesidade. São candidatos para o tratamento
cirúrgico os pacientes com IMC maior que 40 Kg/m2 ou com IMC maior que 35 Kg/m2
associado a comorbidades (hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes tipo 2,
apnéia do sono, entre outras). 2)
ANÁLISE
DOS ASPECTOS PSIQUIÁTRICOS Mesmo que a avaliação psiquiátrica dos candidatos à cirurgia bariátrica seja parte integrante de uma rotina, não restringe-se a um rastreamento de transtornos mentais atuais e pré-existentes, sendo o período pós-operatório é de grande relevância para a avaliação de seu funcionamento psicológico posterior. Pacientes obesos que procuram tratamento para emagrecer não parecem evidenciar um aumento da morbidade psiquiátrica. Porém é visto um aumento da psicopatologia em gravemente obesos (grau III) que procuram tratamento. A respeito das psicopatologias mais frequentemente observadas nestes pacientes, estão os transtornos do humor e alimentares. Necessitando de atenção em relação à possibilidade de ocorrência de novos episódios depressivos em uma situação pós-operatória, que faz necessário um suporte e tratamento especializados. Halmi e cols. encontraram uma prevalência
aumentada, 29% a 51%, de transtorno
depressivo nesta população. Quatro estudos de
seguimento a longo prazo de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica,
reportaram várias condições psiquiátricas como causas de morte no período
pós-operatório, sendo o suicídio a principal ocorrência. Devido a sua associação com a obesidade, a compulsão
alimentar periódica é uma outra síndrome psiquiátrica freqüentemente encontrada
nesta população . Adami e cols. demostraram, através de uma avaliação
transversal no período pré- operatório, que 63% dos pacientes com obesidade grau
III apresentavam CAP, estas taxas foram muito maiores do que daquelas
observadas em pacientes sem obesidade grau III.
Observou-se
que pacientes grau III, na avaliação pós-operatória, tinham uma maior
dificuldade para perder peso e, em alguns casos, teriam até apresentado ganho
ponderal. Bonne e cols demontraram, através do relato de dois casos, que a
anorexia nervosa é um transtorno alimentar que pode ocorrer neste período. Apesar
de numa forma geral encontrarmos nos estudos longitudinais uma tendência de melhora
do funcionamento psicológico após a cirurgia, alguns transtornos psiquiátricos
podem aparecer neste período. Um estudo de seguimento realizado com 157
pacientes durante um período de 3 anos após a cirurgia registrou duas mortes
relacionadas ao abuso de álcool e três por suicídio. Kodama e cols relataram 3
casos de surgimento de depressão após o procedimento cirúrgico. Desaconselha-se
operar pacientes que apresentem “condições médicas que tornem os riscos
inaceitáveis ou impeçam a adaptação pós-operatória, tais como transtornos
psiquiátricos ou dependência de álcool ou drogas”, porém, não pode-se
considerar nenhum tipo de contra-indicação psiquiátrica absoluta. O tratamento
prévio do transtorno psiquiátrico associado à obesidade pode ser fundamental para
o sucesso do procedimento cirúrgico. Devido à esse fato, a avaliação pré e
pós-operatória é tão importante e deve ser realizada por uma equipe
multidisciplinar, e com um paciente habilitado a participar do tratamento e do
seguimento de longo prazo. 3)
CONCLUSÃO A obesidade grau III é uma condição clínica
grave associada a uma alta morbidade e mortalidade, tendo como única
intervenção eficaz a longo prazo, a cirurgia bariátrica, seguindo-se critérios
de avaliação adequados. Porém deve-se atentar para alta prevalência de aumento
de psicopatologia associada a este tipo de obesidade. Sendo assim, é de extrema
importância uma avaliação clínica e psiquiátrica criteriosa, visando a uma
redução de possíveis complicações pós-operatórias, como o tratamento prévio do
transtorno psiquiátrico associado à obesidade, sendo fundamental para o sucesso
do procedimento cirúrgico. 4)
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Uma leitura psicanalítica. São Paulo, SP: Vetor. * Interno do Dep. de Medicina da Unitau ** Coordenadora da disciplina de
Psiquiatria-Unitau
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