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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Abril de 2016 - Vol.21 - Nº 4

Psiquiatria na Prática Médica

BAIXOS NÍVEIS DE TESTOSTERONA E SUA RELAÇÃO COM A DEPRESSÃO

Lucas Medeiros Araujo*
Prof. Dra. Márcia Gonçalves**


INTRODUÇÃO

A testosterona é o principal andrógeno da circulação e responsável pelo desenvolvimento e manutenção das características sexuais masculinas e do estado anabólico dos tecidos. Sua sintese é feita a partir do colesterol por uma sequência de cadeias enzimáticas dentro das células de Leydig, localizadas nointerstício do testículo maduro. A secreção testicular de testosterona é modulada, principalmente pelo hormônio luteinizante, esta secreção ocorre em três épocas da vida, (1) no primeiro trimester da vida intra-uterina, transitoriamente; (2) na vida neonatal; e (3) continuamente após a puberdade. Uma pequena porcentagem da testosterona é convertida em metabólitos, biologicamente ativos em determinados tecidos, entretanto a maiora é convertida em metabólitos inativos excretados pelos rins e vias biliares. A testosterona é convertida, pela 5-alfa-redutase, em dihidroepiandrosterona na próstata, mais efetivamente, e em menor extensão na pele e no fígado. A dihidroepiandrosterona é o mais ativo agonista dos receptores de testosterona, que por aromatização, é também convertida em estradiol em menor proporção. No cérebro, a aromatização da testosterona em estradiol tem um importante efeito na regulação da secreção de gonadotrofina e na função sexual e, nos demais tecidos, a importância da aromatização na mediação do efeito da testosterona ainda não esta claro.

A inativação da testosterona ocorre predominantemente no fígado. A rápida metabolização hepática da testosterona leva a baixa biodisponibilidade oral e a curta duração, quando injetada por via venosa.

Os níveis de hormônios sexuais masculinos sofrem alterações com o envelhecimento, independentemente da presença de doenças específicas. É ainda controverso se essas alterações hormonais correlacionam-se ao processo de formação de placas de aterosclerose. Embora a maioria dos hormônios sofra alterações com o processo de envelhecimento masculino, alguns, como estradiol, cortisol/corticosteróides e a dihidrotestosterona não mostram qualquer oscilação. Entretanto, os metabólitos do dihidrotestosterona (androstanediol e androstenediona) apresentam-se reduzidos nos pacientes idosos. Após os 50 anos, a concentração sérica de testosterona apresenta queda de 1% ao ano. Outros fatores como o genético, o tabagismo, a obesidade e o alcoolismo explicam também essa queda.

Acredita-se que os hormônios sexuais (estrógenos, progestógenos, testosterona, dehidroepiandrosterona) exercem papel modulador sobre diversas funções psiquícas, principalmente o humor e a cognição.

 

MÉTODO

Este trabalho foi realizado utilizando um estudo de Revisão de literatura, utilizando trabalhos científicos publicados nas bases de dados: Scielo e PubMed.

 

OBJETIVO

Este estudo teve por objetivo explorar a relação entre baixos níveis hormonais e sua relação com a depressão através de uma revisão de literature, e incentivar maior exploração na area.

 

DISCUSSÃO

Os efeitos da testosterona sobre o humor e o comportamento feminino têm sido melhor explorados em trabalhos recentemente publicados. De modo geral, especula-se uma associação significativa e positiva entre níveis séricos de testosterona em mulheres e traços de comportamento agressivo. Estudos controlados também puderam correlacionar níveis de testosterona circulantes a determinados comportamentos na esfera sexual, como procura/esquiva de situações sensuais ou eróticas, interesse e desejo sexual, frequência masturbatória e procura por parceiros sexuais. Sintomas depressivos e ansiosos, além de redução da libido, também são descritos em mulheres com baixos níveis de testosterona após a menopausa, principalmente quando submetidas à ooforectomia; a reposição de testosterona, entretanto, traria alívio desses sintomas. Em um estudo recente foi estudado o impacto do uso transdérmico de testosterona em 75 mulheres (31 a 56 anos) menopausadas de forma cirúrgica. As pacientes receberam testosterona (150 mg/dia ou 300 mg/dia, administrada por via transdérmica) ou placebo por 12 semanas; todas as pacientes faziam uso de reposição oral com estrógenos conjugados. O grupo tratado com testosterona apresentou melhora significativa de seu bem-estar geral bem como das queixas depressivas ou ansiosas, quando comparado às mulheres tratadas com placebo. Além disso, houve aumento da freqüência e melhora qualitativa da atividade sexual. O tratamento com testosterona por via transdérmica foi bem tolerado, sem o surgimento significativo de acne ou hirsutismo.

Diversos estudos atribuem à dehidroepiandrosterona (DHEA) e a seu metabólito sulfatado (DHEA-S) um efeito modulador sobre o humor. Barret-Connor investigaram 699 mulheres (entre 50 e 89 anos) de uma amostra populacional, buscando uma associação entre queixas depressivas e concentrações séricas dos hormônios sexuais (estrógenos, progestógenos e andrógenos). Apenas os níveis de DHEA e DHEA-S foram relacionados, de forma inversa, à presença de queixas depressivas. Em outro estudo uma população de 394 mulheres idosas (65 anos de idade) apresentou resultados semelhantes. A ação moduladora do DHEA sobre o humor pode ocorrer por diversos mecanismos: por sua biotransformação parcial em testosterona e estrógenos ¾ ambos também com ação presumidamente positiva sobre o humor ¾; por seus efeitos sobre o cortisol e sobre receptores GABA; e por promover o aumento de serotonina em certas regiões cerebrais.

O efeito benéfico da DHEA nos quadros depressivos já foi demonstrado em pequenos estudos clínicos controlados por placebo. Em um deles administraram DHEA (30-90 mg/dia, via oral) por seis semanas em 22 pacientes de 33-53 anos de idade (10 mulheres) com queixas depressivas. Houve melhora significativa do humor no grupo que recebeu DHEA (cinco entre 11 pacientes), o que não ocorreu em nenhum paciente que recebeu placebo. Os pacientes toleraram bem o uso de DHEA, e não houve diferenças de gênero quanto à resposta ao tratamento.

Ainda são necessários mais estudos para definir o papel terapêutico do DHEA nos transtornos de humor. Além disso, é preciso conhecer melhor seus efeitos adversos em médio e longo prazo (ex: possíveis efeitos estimulantes sobre tumores hormônio-sensíveis).

Estudos clínicos preliminares sugerem que homens com baixas concentrações de testosterona, quando submetidos à reposição desse hormônio, podem se beneficiar com aumento de densidade mineral óssea, aumento da força muscular, além de redução de sintomas de angina cardíaca. Assim como descrito para as mulheres (nestas, em menor escala), níveis circulantes de testosterona em homens têm sido correlacionados a maior comportamento agressivo em populações carcerárias e durante atividades esportivas. No entanto, não há evidências clínicas de que o uso de testosterona possa promover melhora da atividade ou da potência sexual entre homens que não apresentem quadro prévio de hipogonadismo.

 

CONCLUSÃO

Em resumo, o uso da testosterona como agente antidepressivo (monoterápico ou adjuntivo) merece mais investigações, estimuladas principalmente por resultados positivos de estudos bem-controlados. É provável que a testosterona ganhe espaço nos próximos anos para auxílio no tratamento de situações psiquiátricas específicas como depressão pós-menopausa, quadros depressivos leves, homens com sintomas depressivos e hipogonadismo.

* Interno do vurso de medicina da Unitau

** Professora coordenadora de Psiquiatria da Unitau.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

 

1.    Leibenluft E. Foreword. In: Leibenluft E, editor. Gender Differences in Mood and Anxiety Disorders. Washington (DC): American Psychiatric Press; 1999.  

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