Psyquiatry online Brazil
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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Dezembro de 2016 - Vol.21 - Nº 12

France - Brasil- Psy

Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Quem somos (qui sommes-nous?)                                  

France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on  line”oferto aos  profissionais do setor da saúde mental de expressão  lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de sites.

Qui sommes- nous ?

France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais  concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et d’associations, sélection  de sites

SOMMAIRE (SUMÁRIO):

 

  • 1. A ARGENTINA, PARAÍSO LACANIANO
  • 2. DEPRESSÃO OU MAL-ESTAR?
  • 3. SÉBASTIEN GUILLAUME, PROFESSOR E PSIQUIATRA NO CHU DE MONTPELLIER
  • 4. PORQUE O TEMPO PASSA MAIS DEPRESSA COM A IDADE?


  • 1. A ARGENTINA, PARAÍSO LACANIANO. 

    Referência: Le CERCLE PSY, n° 23, Dezembro 2016

    Gabriela Trujillo é uma cineasta e pesquisadora de estudos latino-americanos. Segundo ela, ‘’a psicanálise é onipresente na Argentina e em todas as categorias sociais, como um paramento, uma cerimônia ou uma liturgia. Nos anos de 1970, havia mesmo pessoas que faziam regularmente o trajeto Buenos Aires-Paris afim de consultar Lacan. A crise financeira que abalou a Argentina não modificou essa tendência. Os psis (psiquiatras, psicanalistas, psicólogos) representam  o quarto grupo profissional mais numeroso deste país e eles ocupam cargos  nas  universidades públicas e privadas. Existe até em Buenos-Aires um quarteirão chamado « Villa Freud », com uma diversidade de psis por quilômetro quadrado mais importante do que a que existe no sexto e no sétimo quarteirões de Paris! Existe também  na Argentina não somente uma abundante literatura abordando essas questões,  mas também um cinema e um teatro onde a psicanálise e a figura do psicanalista são presentes. Eu vi, em 2005, uma obra literária surpreendente intitulada « Cozarinsky y su médico ». No palco, Edgardo Cozarinsky e seu médico e amigo, Alejo Florin. É uma encenação não somente da relação clínica que os liga, mas também do que ela não aborda: suas cumplicidades intelectuais, suas paixões pelo cinema … ».A priori, não se pode imaginar que isto pudesse ocorrer em Paris.

    2. DEPRESSÃO OU MAL-ESTAR? 

    No mundo, 350 milhões de pessoas sofrem de depressão, segundo a Organização Mundial da Saúde. Em termos de tratamento, a melhor alternativa aos antidepressivos continua sendo a terapia  cognitivo-comportamental (TCC) cuja eficiência é muito documentada na literatura científica. Mas esta  terapia é bastante onerosa e somente praticada por terapeutas muito especializados, o que explica porque ela é tão pouco acessível à população. Na Inglaterra, somente 10 % dos pacientes depressivos são cuidados dessa maneira. A grande maioria deles é tratada com medicamentos porque não existem alternativas ou então porque não  podem beneficiar de nenhuma outra assistência. Desta forma, seria  necessário  desenvolver  outra terapia, menos custosa, mais abordável e que fosse ao mesmo tempo eficaz como a TCC.

    Uma equipe de pesquisa  da universidade de Exeter aceitou o desafio. Seu objetivo: testar a eficiência e a rentabilidade da terapia de ativação  comportamental »(TAC) nos casos de depressão. Se, no fundo, este enfoque terapêutico constitui somente um dos ingredientes da  imprescindível TCC, ele se tornou um tratamento completo. Seu objetivo consiste em levar o paciente a adotar o  bom comportamento (e não o bom pensamento) para que ele possa enfrentar situações delicadas.

    Se a TCC orienta o paciente na direção de uma melhor regulação de seus pensamentos, a terapia da ativação comportamental se focaliza, quanto a ela, especialmente sobre suas ações. Num primeiro tempo, o terapeuta identifica os pontos fracos dos hábitos de vida do paciente (alimentação, sono, atividades sociais, investimento profissional, etc.). Em seguida, o objetivo consiste em substituir os comportamentos evitantes do depressivo por  atividades sociais, esportivas agradáveis e gratificantes: por exemplo, investir-se numa associação caritativa, praticar esporte duas vezes por semana ou ainda convidar seus colegas para jantar.

    O verdadeiro valor desta terapia é sua acessibilidade: ela necessita menos sessões e pode ser dirigida por profissionais da saúde não especializados, a formação sendo menos intensa e menos custosa.

    Os autores deste  projeto, recentemente publicado na  prestigiosa revista The Lancet, recrutaram 440 participantes depressivos com mais de 18 anos de idade e decidiram fazer com que eles seguissem uma TAC dirigida por um profissional da saúde. Um ano depois,  eles interrogaram novamente os pacientes dos dois grupos e fizeram a seguinte atestação: dois terços dos pacientes  apresentavam  uma mesma diminuição de 50 % dos sintomas, que eles tivessem ou não seguido uma TCC ou uma TAC. Mais ainda, a TAC revelou-se, do ponto de vista financeiro, mais econômica do que a TCC.

    A depressão é frequentemente associada, sem razão, ao abatimento, um estado de tristeza ou de melancolia passageira. Segundo a Organização Mundial Da Saúde (OMS) e a Associação de Psiquiatria Americana, o episódio depressivo maior (EDM) se caracteriza precisamente por um ‘’humor depressivo’’ , uma perda de prazer durante pelo menos duas semanas consecutivas e a presença de quatro sintomas, entre os quais :  cansaço, lentidão psicomotora, mudança de apetite ou de peso,  insônia, dificuldades de concentração,  desvalorização, culpabilidade, ideias de morte recorrentes e tentativas de suicídio.

    Se 45% das pessoas interrogadas reconhecem haver sofrido um episódio de tristeza no decurso de sua vida, o EDM propriamente dito só concerne 18% da população. Uma quantidade mesmo assim muito elevada e que continua sendo o principal motivo da consulta terapêutica.    

    Antes dos 25 anos, as pessoas depressivas passam frequentemente por uma  precariedade social e profissional. Entre 25 e 54 anos, os homens que sofrem de depressão vivem muitas vezes isolados, sem filhos, enquanto as mulheres da mesma idade têm tendência a perder o ânimo quando elas têm vários filhos  e um pequeno salário. Contudo, a depressão não é causada por um único fator,mas por um conjunto de processos ainda não muito bem conhecidos.

    3. SÉBASTIEN GUILLAUME, PROFESSOR E PSIQUIATRA NO CHU DE MONTPELLIER.

    Referência: Entrevista dada a Béatrice Jaulin e publicada no Bulletin national des médecins

    , n°46, Novembro-Dezembro 2016

     

    PERCURSO DE SÉBASTIEN GUILLAUME

    *2006: tese de medicina  no CHU  de Montpellier   (« Estudo dos processos emocionais na vulnerabilidade das condutas suicidas »).

    *Nomeado chefe de clínica no CHU (Centro Hospitalar Universitário) de Montpellier, no serviço de urgências psiquiátricas. 

    2007-2010

    *Curso de pós-graduação no Instituto de psiquiatria de Londres.

    2012

    * Obtenção da Habilitação a dirigir pesquisas.

    2013

    *Nomeado  coordenador do Dispositivo de acompanhamento dos profissionais face aos erros médicos e aos incidentes relacionados aos cuidados.

    *Nomeado professor das universidades e prático hospitalar.

    Entrevista dada a Béatrice Jaulin:

    « Eu pertenço a uma família de médicos e, particularmente de cirurgiões que me transmitiram a vocação para a medicina.  Mas não escolhi a  cirurgia como especialidade. Sempre preferi a relação com o paciente ao ato operatório. Eu manifestava também um grande interesse pelo aspecto intelectual da medicina, o diagnóstico e a reflexão sobre as patologias. Quando comecei meu estágio em psiquiatria, dei-me conta que esta especialidade era uma das raras que tinha um enfoque global do paciente e não somente organicista. Descobri ao mesmo tempo o quanto a pesquisa sobre o cérebro era importante. Então decidi me tornar psiquiatra.

    Durante meu internato, comecei a me interessar pelas condutas suicidas e, depois, pelos distúrbios alimentares. Nos dois casos, foi o enfoque global do paciente, combinado ao meu interesse pelo funcionamento do cérebro, que me atraiu.

    Em 2009, fui para a Inglaterra onde fiz estágio no instituto de psiquiatria de Londres. Foi durante meu estágio em Londres que um anestesista do Centro Hospitalar Universitário suicidou-se, em seguida a um erro médico. Um  drama que transtornou toda a comunidade médica. Surgiu então a ideia da criação dum dispositivo de acompanhamento para pessoas responsáveis dos cuidados em situações semelhantes. Era questão de elaborar um projeto inspirado nesta ‘’cultura do erro’’ que encontramos, por exemplo, na aviação, onde cada disfuncionamento é analisado com a finalidade de melhorá-lo.

    Este dispositivo de acompanhamento dos profissionais confrontados ao erro médico e aos incidentes relacionados aos cuidados foi inaugurado em 2013, após um entendimento com a administração do hospital e os representantes dos profissionais da saúde. Ele é ao mesmo tempo um espaço onde se pode  falar e um lugar de recurso para ser aconselhado e orientado. Cerca de vinte pessoas, todas formadas do ponto de vista jurídico sobre os riscos relacionados notadamente com o suicídio e o estresse agudo, animam o dispositivo. Eu aceitei o papel de coordenador deste dispositivo ao lado de uma enfermeira e de uma pessoa da administração porque estou convencido da pertinência desta iniciativa e de sua eficiência numa situação de crise. Não é questão de punir, mas de ajudar e acompanhar aqueles  que cuidam e que estão em dificuldade, qualquer que seja a natureza e a gravidade dessa dificuldade.’’ 

    4. PORQUE O TEMPO PASSA MAIS DEPRESSA COM A IDADE ?

    Referência: JUSTINE CANONNE, LE CERCLE PSY, DEZEMBRO 2016

    As pessoas mais idosas conhecem esta sensação que eles podem até abordar durante as refeições dominicais: quanto mais os anos passam, tanto mais o tempo parece desfilar de maneira rápida. Mas porque a percepção do tempo evolui no decurso da existência? Christian Yates, pesquisador na universidade de Bath, na Inglaterra, examinou esta lancinante questão. Uma das teorias já expostas é a  de uma degradação progressiva de nosso relógio biológico: com a idade que avança, nossa respiração e nossas pulsações cardíacas desaceleram, enquanto nas crianças, uma maior intensidade da atividade biológica pode dar a impressão dum alongamento do tempo.

    Segundo outra teoria, a sensação de um tempo que acelera com a velhice está relacionada com a quantidade de novas percepções às quais o ser humano é exposto ao longo de sua vida. Assim, para uma criança, tudo é novo e desconhecido, de tal modo que seu cérebro reconfirma em permanência suas percepções do mundo exterior. Mais uma vez, esta intensa atividade dá a impressão de um tempo que passa lentamente. Enquanto que para um adulto, é o contrário que ocorre: o aparecimento de situações inéditas é mais frequente e a repetição cotidiana dos mesmos acontecimentos pode dar a impressão de que o tempo passa mais depressa… Como se, paradoxalmente, a rotina desse a impressão de uma aceleração do tempo.

    Outra explicação, talvez um pouco mais plausível, consiste em procurar a pista do ‘’logaritmo’’, como denomina Christian Yates: nossa relação ao tempo seria de fato relativa a idade que temos. Assim, para uma criança com dois anos de idade, um ano equivale à metade de sua vida, enquanto que para um jovem adulto de 20 anos, isto só equivale a 5% de sua vida. É por isso que um ano vivido durante a infância pode nos parecer mais longo do que uma dezena de anos na metade da vida. É assim que podemos compreender este maldito passar do tempo que parece acelerar com a idade…   

     

     

     

     

     

     

     

     


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