Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Outubro de 2016 - Vol.21 - Nº 10 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites 1. O Partido Comunista Francês e o
Inconsciente(Segunda parte) Referência: Jornal 30 de
setembro de 2005 • 1947. O Partido Comunista
Francês começou novamente a se interessar pela psicanálise. Com o plano
Marshall a França descobriu a coca-cola, Humphrey Bogart, os Levis, as camisas
bordadas de lã, John Steinbeck, o modo de vida dos americanos (way of life), e,
graças ao Readers digest e aos jornais femininos, a maneira
como a psicanálise era percebida na América. Adotando completamente uma
interpretação particular do princípio do prazer, ela era percebida como o amor
pelo outro. Todos os conflitos entre esposos, vizinhos, trabalhadores e
patrões, entre nações, eram apenas a expressão duma utilização negativa da
agressividade, uma defesa do ego. Mas, graças à intervenção do psicanalista e
um melhor conhecimento de si mesmo, os divórcios, as greves, as revoluções e as
guerras iriam desaparecer. Em outubro de 1947, no Comitê
Central do Partido Comunista Francês, o discurso de Maurice Thorez
foi centrado « Nos procedimentos do partido americano na
França ».A guerra fria havia sido oficialmente declarada na França, cada
comunista devendo estabelecer uma lista de exemplos sobre a penetração
americana, denunciando assim suas consequências na sociedade
francesa. • Em 1948, os intelectuais
engajaram-se. Intelectual brilhante e sutil, Laurent Casanova,
resistente, membro suplente do Bureau Politique, tornou-se
responsável deste setor. Em torno dele, Jean Kanapa, escritor,
filósofo, filho de banqueiro e antigo secretário de Jean-Paul Sartre, Victor
Leduc e Annie Besse Kriegel, esta última sendo uma intransigente protetora da
integridade ideológica e moral em sua qualidade de especialista dos processos
em heterodoxia e exclusões. Eles eram encarregados de fazer com que a linha do
partido fosse aplicada inteiramente no setor intelectual. Na realidade, eles
devem somente encorajar ligeiramente um movimento contra o americanismo,
presente não somente nos comunistas, mas também numa grande parte da
sociedade francesa. O marxismo, isto é o materialismo
dialético e o materialismo histórico, especialmente o desenvolvido por Marx,
Engels, Lénine e Stalin, era, sobretudo um guia prático. Mesmo acostumados, os
leitores da Évolution Psychiatrique (Evolução Psiquiátrica) ficaram
surpresos com este gênero de publicação editada na revista deles, a qual
não era considerada como o laboratório psiquiátrico do Kominform. Henri Ey, chefe da redação, escreveu dois artigos com L.
Bonnafé sobre a relação entre marxismo e psiquiatria. O artigo
de Bonnafé: «Essai d’interprétation du fait psychiatrique» (Ensaio sobre a
interpretação do fato psiquiátrico), segundo o método histórico de K. Marx e F.
Engels; o segundo artigo foi escrito por Swen Follin: «La méthode
en psychiatrie à la lumière du matérialisme historique» (O método da
psiquiatria à luz do materialismo histórico). Não é necessário analisar detalhadamente
esses dois artigos, os quais, apesar do emprego moderado da logomaquia estalinista
então vigente naquela época, colocam questões sempre pertinentes sobre o objeto
da psiquiatria. Foi o caso do artigo de Bonnafé pretendendo explicitar a importância
da oposição dos comunistas ao que a psicanálise era naquela época:
uma concepção do mundo. Ao mesmo tempo, em outubro, são
publicados no n° 20 da revista ‘’La Pensée’’ dois artigos cujos conteúdos
são muito diferentes: um do Dr. Victor Laffitte, «Destin de la
psychanalyse" (Destino da psicanálise), outro do Dr. Serge Lebovici, «La psychanalyse est une thérapeutique» (A psicanálise é uma terapêutica). Se os
dois têm por objetivo criticar a utilização social da psicanálise
pelos Americanos, o texto de S. Lebovici denuncia as tentativas
freudiano-marxistas que pretendem «associar a liberação pela psicanálise à
revolução do proletariado», querendo assim dar à análise um estatuto de ciência
autônoma e fazendo dela uma terapêutica, por conseguinte um objeto que não se
pode reduzir ao debate entre ciência proletária e ciência burguesa. O artigo do Dr. Victor Laffitte
resume a opinião dos comunistas sobre a psicanálise: «ela é uma doutrina
irracional” cuja renovação vai aumentar o obscurantismo atual,
favorecendo ao mesmo tempo o Wall Street e o Vaticano; a psicanálise
contribui de maneira muito interessante quando ela aborda a sexualidade
infantil, mas, do fato de sua natureza irracional e idealista, ela só pode
pretender ao estatuto de um misticismo indeciso. É verdade que esse psicologismo
analítico parece ser muito mais uma caricatura do que o emprego pertinente dos
conceitos freudianos. A revista Psyché organizou na Abadia de Royaumont
uma semana de estudos sobre o tema do homem coletivo. A diretora da revista,
Maryse Choisy, católica e amiga da princesa Marie Bonaparte, sendo também uma
escritora e jornalista da revista Marie-Claire, foi analisada por Sigmund
Freud em 1924: numa única sessão, uma interpretação do mestre foi bastante para
que ela tomasse a decisão de partir imediatamente para Paris… O programa dessa semana é um tanto
eclético : assim, o Padre Bernaert aborda
o papel afetivo da Virgem Maria no catolicismo ; Octave
Mannoni, a da
psicanálise do colonizado ; W. Perroti fala da fobia
do comunismo; M. Williams da psicanálise e antropologia e Serge Tchakhotine do
estupro psíquico das multidões e da solução biológica concernente
ao problema da Paz. Mais inquietante para os
comunistas, a difusão na grande imprensa feminina de conselhos validando
uma utilização social da psicanálise, a sexualidade do casal ou a
educação dos filhos, tendo como objetivo a
psicologização da vida social e a individualização dos destinos
pessoais. A psicanálise tornou-se uma
concorrente ideológica na medida em que ela também possui uma concepção
do mundo. Contudo, pretendendo se endereçar ao povo, ela
entra em concorrência direta com o P. C. F., aliás, empregando a mesma
maneira que a burguesia no início do século para difundir as
regras de higiene, de boa moral e de educação das mulheres . No vigésimo
arrabalde de Paris, o patrão de uma empresa de fabricação de sapatos
empregou um psiquiatra a fim de facilitar a liquidação dos complexos de suas
empregadas! Dos Estados-Unidos veio um tipo de magma sociopsicanalítico
fazendo, da agressividade e do complexo de Édipo, o ponto central para a
explicação de uma psicopatologia da vida política e social: « Os
revolucionários odiavam seus pais por serem símbolos da autoridade e da ordem
dominantes ». 2. DISTÚRBIOS MENTAIS
ATINGEM IMIGRANTES: UM DRAMA DE SAÚDE PÚBLICA NA EUROPA REFERÊNCIA: MEDIAPART,11 DE OUTUBRO DE
2016 Os imigrantes que chegam à Europa
sofrem, sobretudo de distúrbios psicológicos: síndrome de estresse
pós-traumático, ansiedade, depressão. A Europa deparou-se com o
maior afluxo de refugiados depois da Segunda Guerra mundial. Se esses
emigrantes, cuja maioria vem de países em guerra – Síria, Iraque,
Afghanistan – vivem de maneira precária e sofrem também de distúrbios
mentais. Certo número de pesquisadores e de clínicos tentam
diagnosticar e tratar essas perturbações, relata a revista Nature. Emily Holmes, psicóloga clínica no Instituto Karolinska, na
Suécia, começou uma pesquisa sobre a síndrome do estresse pós-traumático.
Ela interrogou refugiados chegando à estação de Stockholm e
perguntou-lhes quantas vezes por dia eles tinham
« flashbacks », lembranças de momentos traumatizantes fazendo
irrupção nos seus espíritos. Os refugiados interrogados responderam que eles
tiveram cerca de dois flashbacks por dia, muito mais do que os pacientes
sofrendo de estresse pós-traumático que ela tratava habitualmente. O problema dos distúrbios mentais nos
refugiados constitui um verdadeiro drama de saúde pública. Segundo outro
psicólogo clínico, Thomas Elbert, da universidade de Constance, na
Alemanha, mais da metade dos refugiados chegados neste país sofrem
de distúrbios mentais, e um quarto da síndrome do estresse pós-traumático, de
ansiedade ou de depressão de tal modo intenso que esses distúrbios não
podem melhorar sem uma terapia. 3. SOBRE A COORDENAÇÃO FRANÇA-AMÉRICA
LATINA DE PSIQUIATRIA Referência: La Lettre
de Psychiatrie Française
n°242, agosto-setembro de 2016. Autores: Dominique WINTREBERT, Sérgio
WILLASENOR BAYARDO, Alberto VELASCO. As relações da psiquiatria francesa
com a América latina são antigas e variadas. Lembremos somente alguns
acontecimentos recentes que contribuíram para a promoção desses intercâmbios: -Em 1994, foi criada a Associação
Franco-Mexicana de Psiquiatria e de Saúde Mental (AFMPSM). -Em 1997, nasce a Associação
Franco-Cubana de Psiquiatria e de Psicologia (AFCPP) . -Neste mesmo ano ocorreu o primeiro
encontro franco-argentino no quadro do congresso anual da Associação dos
Psiquiatras Argentinos (APSA), premissa de um longo intercâmbio. -Em seguida, uma Associação
Franco-Argentina de Psiquiatria e de Saúde Mental foi criada na Argentina (AFAPSAM). -Em 1999, uma secção francesa da
Associação Franco-Argentina de Psiquiatria e de Saúde Mental (AFAPFM) foi
também criada. -Em 5 de Outubro de 2001, um primeiro
colóquio franco-latino americano ocorreu na Maison de l’Amérique
latina, em Paris, que podemos consultar no site internet da l’AFAPSM. Depois, cada uma dessas associações
continuou sua atividade, organizando colóquios, noitadas de estudos, etc.
favorecendo a comunicação recíproca entre os estagiários de diferentes países.
Leiam, por exemplo, no Psy déchaîné (N°17, Julho 2016),
a revista dos internos em psiquiatria, o formidável artigo duma interna
contando seu estágio de seis meses no México. -Neste verão de 2016, essas
associações binacionais (AFAPSAM,AFAPSM,AFCPP e AFMPSM), às quais veio se
ajuntar GLADET (Grupo Latino-Americano de Estudos Transculturais)
fizeram uma proposta a FFP (Federação Francesa de
Psiquiatria) e a APAL (Associación Psiquiátrica da América Latina),
consistindo em criar conjuntamente a Coordenação França-América
Latina de Psiquiatria(COFALP). Essas sete primeiras associações que
assinaram a convenção estabelecendo os estatutos da COLFALP, encontraram
a direção do Centre hospitalier Saint-Anne, em
Paris, no dia 9 de setembro de 2016. A direção aceitou que o dito
hospital seja a sede dessa coordenação. -O objetivo da COFALP consiste em
restaurar os laços históricos que unem nossa disciplina e seus práticos
nessas duas partes do mundo. A COFALP pretende facilitar e
enriquecer o debate clínico, conceitual e institucional entre os
profissionais da saúde mental franceses e latino-americanos. Para tanto,
congressos, jornadas científicas, web-conferência, acontecimentos
culturais, edição e difusão de livros, permutações de bolsistas e
de estagiários são previstos afim de reforçar os laços nos dois
sentidos. Concebida como uma estrutura flexível
e acolhedora, a COFALP terá por objetivo essencial o de estudar com seriedade
toda iniciativa implicando as relações da França com os diferentes
países da América latina. . Leiam, por exemplo, no último número
do Psy déchaîné (N°17, juillet 2016, revista dos internos em psiquiatria), o
formidável artigo de uma interna contando seu estágio de seis meses no México. 4. OS ELETROCHOQUES SERÃO
PROIBIDOS NOS ESTADOS UNIDOS ? Referência: ‘’Le Cercle Psy’’,revista trimestral, WWW.le-cercle-psy.fr O tratamento da depressão pelos
eletrochoques abrange cerca de cem mil pessoas por ano nos Estados Unidos.
Segundo a APA (Associação Americana de Psiquiatria), este procedimento foi
provado nos casos de depressão muito severas e resistentes aos medicamentos e
às psicoterapias. Neste caso, porque evocar atualmente a possibilidade de
uma interdição desse procedimento nessa região além do Atlântico? Quais foram as razões dessas
manifestações organizadas em Montreal (Québec), em maio de 2011, contra
o emprego dos eletrochoques ? Não é sua eficiência que está sendo
colocada em causa atualmente, mas seus efeitos secundários, até então
subestimados. Uma comissão consultiva de peritos da Food and Drug
Administration (FDA)- a autoridade americana encarregada da autorização de
venda de medicamentos- recomendou que os aparelhos de terapia fossem submetidos
aos mesmos testes que os medicamentos e outros tratamentos. Ora, se a FDA considerar que os
riscos são muito importantes, seria possível que a maior parte dos
aparelhos fosse retirada do mercado, conduzindo de fato a uma interdição. Os
tratamentos pelos elotrochoques comportam riscos que não devem ser
negligenciados: perturbações da memória, da orientação e das funções cognitivas
podendo durar até seis meses depois do tratamento. O desafio é considerável, segundo um
artigo do New York Times, que mostra de maneira maliciosa uma consequência
dessa interdição potencial: os tratamentos pelos eletrochoques são muito
lucrativos para os psiquiatras – entre 1000 e 2500 dólares a cada sessão. A
supressão desse tratamento representaria uma importante perda de renda para
esses médicos.
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