Psyquiatry online Brazil
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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Agosto de 2016 - Vol.21 - Nº 8

COLUNA PSIQUIATRIA CONTEMPORÂNEA

A PSIQUIATRIA NO BRASIL DO SÉCULO XXI

Fernando Portela Câmara
psiquiatra e escritor

Infelizmente, a moderna era da saúde mental, que trouxe grandes conquistas para o tratamento e controle dos transtornos mentais, foi invadida por aventureiros ideológicos que buscavam excluir a psiquiatria das politicas de saúde. Com isso milhares de padecentes ficaram desassistidos, devido à eliminação de leitos essenciais para os gravemente afetados, chegando-se mesmo a se propor decretos para se proibir tratamentos psiquiátricos reconhecidamente eficazes, negando à população padecente a liberdade de escolha do seu tratamento. Mais de vinte milhões de brasileiros precisam de alguma ajuda psiquiátrica nesse momento, e não será com ideologias de “luta de classes” que se resolverá esse problema, pois o transtorno mental é uma realidade da natureza humana que não se resolve com ideologias, mas com ações efetivas diretas e pragmáticas. A psiquiatria promove a cidadania, ao devolver a liberdade de escolha e capacidade de decidir sobre seu destino, impedidas pela doença mental.

Estes são alguns dos problemas que a psiquiatria nacional enfrenta. O transtorno mental é um fato, está presente em todas as culturas e épocas, é tão antigo quanto o homem, variando apenas nas interpretações e crenças de cada cultura, mas sempre reconhecido como algo perturbador. Assim, por exemplo, o Antigo Testamento descreve a típica depressão profunda de Saul, ou a igualmente profunda depressão de Jó para a qual ele procurava em vão uma resposta, ou ainda os falsos profetas e falsos messias, maníacos exaltados, como Simão o mago, que confundiam os fieis. Os exemplos se multiplicam da antiguidade ao presente, com as religiões antigas desempenhando as primeiras tentativas de devolver ao doente o seu humor, hora gravemente deprimido, ora excessivamente aumentado, como forma de clarear o culto à divindade. Loucura de reis e rainhas, príncipes com doença do pânico, princesas anoréxicas, paranoicos e histriônicos queimadas no fogo da Inquisição como bruxas e bruxos, são relatos comuns na literatura medieval que perduraram até o século XIX (já no século XVI vemos alguns médicos ilustres saírem em defesa das vítimas da Inquisição como doentes “melancólicos”). Entre nossos índios, e nas culturas primitivas as mesmas doenças mentais que afligem nosso mundo moderno estão presentes de modo inequívoco ao longo de toda evolução humana. Os transtornos mentais sempre existiram, são realidades da vida humana. Não é possível negá-los, mas é perfeitamente possível tratá-los. Esta é a missão do psiquiatra.


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