Psyquiatry online Brazil
polbr
Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Maio de 2016 - Vol.21 - Nº 5

COLUNA PSIQUIATRIA CONTEMPORÂNEA

NOTA SOBRE O RECENTE ESTUPRO COLETIVO DE UMA JOVEM

Fernando Portela Câmara


O recente caso de mais um estupro coletivo ocorrido em uma comunidade da cidade do Rio de Janeiro, reflete o que o secretário de segurança do Estado definiu, tempo atrás, como uma “nação do crime” e o “estado de barbárie” em que vivemos. A frouxidão moral e a educação libertina que a sociedade brasileira contemporânea foi mergulhada, o distanciamento da autoridade responsável pela lei e ordem, e a sensação de impunidade é um incentivo à prática de delitos e crimes como este. O jovem perde o sentido da moralidade e ética, bens que são lhes introjetados a partir da sociedade, e assim se desorienta e se torna uma espécie de zumbi social, sem controle e identidade de cidadão, negada pela sociedade bárbara em que vive. O resultado é que tanto vítima quanto criminoso perde a noção do certo e do errado, da cidadania e da submissão, da ordem social e da impunidade, e por fim desumanizam-se. A anomia em que a sociedade brasileira e suas instituições mais fundamentais submergiram produziu uma tremenda dissonância cognitiva nas pessoas, especialmente nos jovens das comunidades desfavorecidas que vivem lado a lado com o crime e acabam absorvendo essa cultura desagregadora da condição humana. Nascem daí os monstros que estão assombrando a nossa sociedade, e que já vem submetendo-a a provações terríveis. A conduta antissocial é uma característica estrutural da personalidade que incide em cerca 3 a 5% da população e são os que, em sua maioria, se envolvem em delitos. Entretanto, no Brasil, a conduta antissocial entre os jovens atingiu níveis absurdamente altos, não porque muitos deles tenham um déficit estrutural que o torne um antissocial nato, mas simplesmente porque a maioria deles é incentivada pela confusa condição em que vivemos, pela perversão da autoridade da lei e ordem, e pela cultura da impunidade. São fenocópias de personalidades antissociais, isto é, não são realmente antissociais, mas frutos de uma distorção socioeducativa, do abandono do estado, e estes jovens, a grande parte dos que delinquem reincidentemente, são perfeitamente recuperáveis e querem que isto aconteça. Na recente barbárie do estupro coletivo, dos crimes contra homossexuais e da violência contra a mulher, todos nós somos vítimas.


TOP