Psyquiatry online Brazil
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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Junho de 2015 - Vol.20 - Nº 6

Psiquiatria na Prática Médica

NEUROPSIQUIATRIA HIV-AIDS

Camila Castro*
Prof. Dra. Márcia Gonçalves**


 

Introdução

O HIV-aids é uma doença que, sem dúvidas, marca profundamente a pessoa acometida, pois, afeta o seu bem-estar físico, mental e social e envolve sentimentos negativos como depressão, angústia e medo da morte, interferindo em sua identidade e autoestima. O estigma que há em torno da doença torna-se um destruidor invencível e produz atitudes refratárias à busca do diagnóstico, retardando essa descoberta. 1,2

A natureza das alterações neurológicas é muito variada e qualquer parte do neuroeixo pode ser acometida. O determinante mais importante da susceptibilidade é o grau de imunossupressão. O diagnóstico diferencial é amplo e envolve etiologias infecciosas, neoplásicas, cérebro-vasculares, tóxico-metabólicas, nutricionais, Alterações cognitivas na infecção pelo HIV e Aids autoimunes e relacionadas ao próprio vírus como neuropatias, mielopatias e alterações cognitivas. Também podem ocorrer associações de etiologias no mesmo paciente, o que é uma particularidade do imunodeprimido. No curso da infecção pelo HIV o vírus entra no SNC podendo resultar em transtornos da função cognitiva causando déficits dos processos mentais, tais como atenção, aprendizado, memória, rapidez do processamento de informações, capacidade de resolução de problemas e sintomas sensoriais e motores. Recentes avanços no tratamento da infecção pelo HIV aumentaram a expectativa de vida dos pacientes tornando mais provável que médicos e psicólogos encontrem na prática clínica diária pacientes com manifestações neuropsiquiátricas da doença.

O HIV e a demência

O diagnóstico das alterações cognitivas da AIDS Os termos Complexo Demência-Aids, Demência-HIV, encefalopatia pelo HIV e complexo demência associado-HIV ou Aids são sinônimos. Graus menores de dano cognitivo, motor e funcional, na qual não são suficientes para o diagnóstico de demência é chamado transtorno cognitivo-motor menor associado-HIV e nem sempre pacientes com estes transtornos evoluem para franca demência. 2

O termo Complexo Demência associado ao HIV refere-se à constelação de sintomas e sinais cognitivos, motores e comportamentais e é classificado como uma demência “subcortical” conforme estudos de neuroimagem e anátomo-patológicos, portanto tem alguma similaridade com a demência das doenças de Huntington e Parkinson. A característica essencial do Complexo Demência associado ao HIV-1 é o seu comprometimento cognitivo que pode ser acompanhado de disfunção motora, comportamental ou ambas. 2 No entanto, alguns pacientes com alterações cognitivas podem não ter alterações comportamentais e outros podem não ter alterações motoras. O início da demência pelo HIV é insidioso e em seus estágios iniciais o paciente pode queixar de dificuldade de concentração, apatia e lentidão mental. Estes sintomas podem ser confundidos com depressão. Nos estágios mais tardios a síndrome progride aparecendo alterações mais específicas de perda de memória, dificuldade de leitura e alterações da personalidade associadas à lentidão motora. O desenvolvimento da demência ocorre tipicamente em semanas e meses, sendo que a ocorrência de sintomatologia aguda aponta para outra etiologia. Alguns pacientes podem mostrar estabilidade do quadro por vários meses ou anos com progressão muito lenta.1,2

O HIV e a depressão

A infecção pelo HIV/Aids é freqüentemente associada a transtornos psiquiátricos. Dentre eles, a depressão é o mais comum. O diagnóstico e o tratamento dos transtornos depressivos são fundamentais para melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Esta revisão tem como objetivo sintetizar e discutir os resultados mais importantes da literatura a respeito das particularidades do tratamento dos transtornos depressivos em indivíduos infectados pelo HIV. São discutidos a epidemiologia, o quadro clínico, a influência da depressão na evolução da infecção, o tratamento farmacológico com antidepressivos, testosterona e psicoestimulantes e a interação farmacológica entre os antidepressivos e benzodiazepínicos e as drogas antivirais. Conclui-se que o tratamento antidepressivo nessa população é eficaz, seguro e não promove imunossupressão nos indivíduos afetados.3

A Aids tem se tornado objeto de interesse por parte de psiquiatras, psicólogos e outros profissionais de saúde mental essencialmente por duas razões: o tropismo do HIV pelo sistema nervoso central (SNC) e o impacto psicológico do diagnóstico e da evolução da infecção nos indivíduos afetados. .3 Diante disso, desenvolveram-se duas grandes áreas de interesse. A primeira situa-se nos limites da psiquiatria e da neurologia e tem como foco de interesse as conseqüências clínicas da ação do HIV e de outras patologias associadas como por  exemplo: neurotoxoplasmose eneurocriptococose) no cérebro. A segunda situa-se nos limites entre a psiquiatria, a psicologia e as ciências sociais e estuda as reações psicológicas, as complicações psiquiátricas da infecção e as repercussões sociais. Dentre os transtornos psiquiátricos mais comumente observados em indivíduos infectados pelo HIV, a depressão é a mais prevalente, merecendo investigação sistemática de sintomas depressivos nessa população. Essa investigação é fundamental, já que a depressão é uma patologia com alto índice de melhora quando tratada, inclusive em indivíduos infectados pelo HIV. .3

. . Essas diferenças e contradições, observadas nos resultados dos estudos acima descritos, revelam a dificuldade de generalização dos achados ao se estudar as alterações psicopatológicas em pacientes com comportamento de risco ou infectados pelo HIV. Além do estágio da infecção em que se encontra a casuística, a heterogeneidade dos indivíduos que apresentam comportamento de risco para a infecção pelo HIV têm sempre de ser levada em conta. O indivíduo infectado pelo HIV pode ser usuário de drogas injetáveis, homossexual ou bissexual masculino, homem ou mulher heterossexual que não utiliza preservativos em suas relações sexuais, mulher monogâmica infectada pelo seu parceiro, além de receptor de sangue ou hemoderivados. As prevalências de transtornos depressivos nessas populações são diferentes, independentemente dos indivíduos estarem infectados ou não.1

Conclusão

Com este trabalho podemos concluir que os pacientes HIV positivos (assim como muitos com doenças crônicas) tem maior probabilidade de sofrerem com distúrbios psiquiátricos, pois se sentem excluídos e discriminados pela sociedade.

Além disso existe o fato do vírus do HIV atingir diretamente o sistema nervoso central, lesando o mesmo, causando também, sintomas psiquiátricos.

Ou seja, a fonte dos sintomas pode ter tanto origem psicológica, bem como  relacionadas com a neurotransmissão e fisiológica, e ambas devem ser tratadas adequadamente e separadamente.

Referências

1.  BALENA, Alfredo, Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 242-

2.  FILHO, José Roberto Pacheco; SANTOS, Flávia Heloísa. Estudos brasileiros sobre demência associados ao HIV.

3.  MALBERGIERA,  André; SCHOFFELC, Adriana.Treatment of depression in HIV-infected individuals.

* Interna do Departamento de Medicina da UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ

** Professora coordenadora da Psiquiatria e Psicologia Médica – UNITAU

Email: [email protected]


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