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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Janeiro de 2015 - Vol.20 - Nº 1

Psiquiatria na Prática Médica

ALTERAÇÕES COGNITIVAS EM MENINGITES

Natália Chaves de Lima Figueiredo*
Prof. Dra. Márcia Gonçalves**


Maiores naqueles que apresentaram infecção mais precocemente, porém aqueles que apresentam parada cardíaca no intercurso da doença foram os que evoluíram com prejuízos mais intensos. Já em adultos sobreviventes de meningites virais, as funções que apresentaram desempenho inferior foram principalmente as de memória não-verbal, atenção e velocidade no desempenho cognitivo, de acordo com estudos de Sittenger et al. (2002).

Anderson et al (1997) destacaram também a importância da idade no momento da infecção, apontando que quanto mais jovem for o paciente no momento da meningite, maiores são as chances de sequelas cognitivas.

Hoogman et al. (2007) publicaram estudo com sobreviventes de meningites bacterianas e observaram que um terço dos casos apresenta comprometimento cognitivo, o que pareceu ser maior no casos apresentava comprometimento cognitivo, o que pareceu ser maior nos casos de meningites pneumocócicas quando comparados aos casos de meningites meningocócicas. Os testes específicos de memória também se mostraram piores nos pacientes com meningites pneumocócicas. Procentagem semelhante (32%) de crianças com limitações acadêmicas também foi observada em estudo com 182 escolares (Koomen et al 2004).

Os testes de linguagem aplicados a crianças entre 9 e 11 anos, também demonstraram prejuízos no desenvolvimento desta habilidade cognitiva, conforma trabalho de Pentland et al. (2000).

Shingi et al. (2007) concluíram que Escala de Coma de Glasgow menor que oito na admissão é um preditor independente de sequelas neurológicas. Um ano depois Roine et al. (2008), evidenciaram que o nível de consciência é o maior preditor de mau prognóstico.

Alteração neurológica focal e irritabilidade como clínica inicial, apesar de não serem variáveis apontadas usualmente como fatores de mau prognóstico, tiveram uma tendência de serem mais frequentes nos pacientes com complicações neurológicas agudas em um estudo de Antoniuk et al (2014).

Existe uma intersecção entre especialidades médicas no estudo das demências de etiologias infecciosas tais como: Infectologia, Neurologia e Psiquiatria. A introdução de outro método na pesquisa, no caso o neuropsicológico, demonstra a necessidade de uma abordagem interdisciplinar nesta área. Os prejuízos cognitivos não necessariamente ocorrem em todos os pacientes com alguma sequela de neuroinfecção, mas especialmente algumas delas se destacam devido à preferência anatômica da lesão ou pelo mecanismo fisiopatológico envolvido. Observou-se que alterações cognitivas secundárias às neuroinfecções foram relatadas pela literatura científica, no entanto, constatou-se que os aspectos neuropsicológicos nem sempre são valorizados durante a avaliação médica do paciente. Nesse sentido, existe uma carência de estudos que abordem as alterações neuropsiquiátricas nas doenças infecciosas e parasitárias. Esta lacuna repercute diretamente na falta de assistência neuropsiquiátrica desses pacientes portadores de sequelas cognitivas e comportamentais, tanto no acompanhamento em regime de internação quanto ambulatorial. Não existindo o diagnóstico da condição neuropsiquiátrica, não haverá reabilitação do paciente.

REFERÊNCIAS

1. Antoniuk AS, Hamdar F, Ducci RD, Kira ATF, Cat MNL, Cruz CR. Meningite bacteriana aguda na infância: fatores de risco para complicações agudas e sequelas. Jornal de Pediatria vol 87 no6 Porto Alegre, 2011

2. Anderson V, Bond L, Catroppa C, Grimwood K, Keir E, Nolan T. Childhood bacterial meningitis: impact of age at illness and acute medical complications on long term outcome. JInt Neuropsychol Soc 1997;3(2):147-58.

3. Chang LY, Huang LM, Gau SS, Wu YY, Hsia SH, Fan TY, Lin KL, Huang YC, Lu CY, Lin TY. Neurodevelopment and cognition in children after enterovirus 71 infection. N Engl J Med 2007;356(12):1226-1234.

4. Pentland LM, Anderson VA, Wrennall JA. The implecations of childhood bacterial meningitis for language development. Child Neuropsychol 2000;6(2):87-100

5. Singhi P, Bansal A, Geeta P, Singhi S. Predictors of long term neurological outcome in bacterial meningitis. Indian J Pediatr. 2007;74:369-74.

6. Schmidt H, Heimann B, Djukic M; Mazurek C; Fels C; Wallesch CW; Nau R. Neuropsychological sequelae of bacterial and viral meningitis. Brain 2006;129(Pt2): 333-345.

7. Roine I, Peltola H, Fernández J, Zavala I, González Mata A, González Ayala S, et al. Influence of admission findings on death and neurological outcome from childhood bacterial meningitis. Clin Infect Dis. 2008;46:1248-52.

 

* Natália Chaves de Lima Figueiredo – Interna Acadêmica do curso de Medicina da UNITAU

 **Márcia Gonçalves – Professora coordenadora da disciplina de Psiquiatria UNITAU

 

 


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