Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Agosto de 2015 - Vol.20 - Nº 8 História da Psiquiatria NOTA BIOGRÁFICA DO PSIQUATRA MÁRCIO PINHEIRO Karla Maria Barbosa Miranda
Nota breve: Márcio Pinheiro Conheci
Dr. Marcio de Vasconcellos Pinheiro em 1981, no meu décimo segundo período da
Faculdade de Medicina. Tinha desistido de ser psiquiatra, uma vez que as
residências de psiquiatria disponíveis na época em BH eram todas em Hospitais
que me pareciam extremamente desumanas; um dia eu e alguns colegas vimos no
saguão da Faculdade um pequeno anúncio convocando estagiários para um Hospital
Psicanalítico que seria fundado sob sua coordenação e de mais cinco colegas.
Candidatei-me e fui selecionada, curiosa para conhecer o método inovador que se
anunciava para o tratamento de pacientes graves no recém-fundado Centro
Psicoterapêutico. Soube então que já funcionava em frente, um Hospital
Dia, coordenado pela mesma equipe. Dr.
Márcio, já então cidadão americano, e com vasta experiência de trabalho como
psiquiatra e psicanalista em Baltimore, tinha voltado ao Brasil em
1974, saudoso das Minas Gerais, e ansioso por compartilhar os
conhecimentos acumulados durante seus anos na América, como gostava de dizer.
Veio passar um período em BH, onde se dedicou a ensinar aos estudantes de final
de curso de medicina, psicologia, enfermagem, terapia ocupacional, e serviço
social. Tinha uma visão privilegiada do trabalho em equipe, e de como usar o
relacionamento entre membros da equipe como termômetro das projeções dos
pacientes, e torná-lo instrumento terapêutico. Lá
aprendemos de tudo: desde a psicofarmacologia, psicoterapia
de grupo, psicanálise, psicopatologia, nosologia
psiquiátrica, análise institucional, socioterapia, e
terapia familiar, seja em discussões clínicas ou em cursos formais.
Éramos também estimulados a complementar nossa formação participando de cursos
oferecidos na comunidade. E estudávamos dia e noite, dávamos plantão, e todos,
todos, mesmo, deitávamos nos divã dos nossos analistas para elaborar as nossas
neuroses (naquele tempo tínhamos convicção de que éramos todos neuróticos, no
mínimo). Anos intensos e felizes. Esperávamos ansiosos as quartas feiras e
sábados, quando enfim, nas reuniões clínicas, íamos ter alguns minutos de VOZ
nas reuniões de equipe sob sua coordenação, e com sorte, sairmos aliviados da
tensão acumulada durante a semana. Vez por outra ele levantava um
questionamento que nos angustiava em dobro e nos deixava mais conscientes da
nossa ignorância e da nossa miséria humana... e
então...sessão extra de análise, era o máximo que poderíamos ter como
alento. Bons tempos. Sabíamos que tudo aquilo tinha um propósito
maior... que estávamos caminhando a passos largos rumo
ao amadurecimento e em breve seríamos verdadeiros psiquiatras e psicoterapeutas
bem preparados, como tanto desejávamos. Retomei
meu gosto pela psiquiatria, mas outra psiquiatria, aquela que contempla o ser
humano em todas as suas dimensões. Depois da graduação, continuei no Centro Psicoterapêutico
por mais três anos aprendendo com ele, antes de seguir minha
carreira solo. Dr.
Márcio costumava dizer que queria ser jornalista. Como médico, publicava em um
blog: http://www.drmarciovasconcellospinheiro.com. Foi aluno da mesma Faculdade que
eu, a Faculdade de Medicina da UFMG, e era militante do movimento estudantil,
tendo fundado um jornalzinho para o Diretório Acadêmico. Formou-se na UFMG
em 1957, e seguiu para fazer residência em Clínica Médica nos EUA, tendo
posteriormente optado pela psiquiatria. Casou-se nos Estados Unidos com Erika
Pinheiro, paulista de Bauru, companheira de toda uma vida. Em Maryland, exerceu
brilhantemente a psiquiatria durante 30 anos. Foi pioneiro na luta contra o
domínio das operadoras de planos de saúde na América do Norte, encabeçando um
forte movimento do qual saiu vencido. Trabalhou junto a importantes nomes da
Psiquiatria da Psiquiatria e Psicanálise Norte Americana, experimentando
modelos inovadores de tratamento de doentes mentais, notadamente
psicóticos esquizofrênicos. Foi
também analista didata do Círculo Psicanalítico de
MG, entidade conceituada na época. Sempre questionador e polêmico, por onde ele
passava nunca as coisas permaneciam no mesmo lugar. Cansado
das trapalhadas do nosso país tupiniquim, lá foi ele de volta para a
América, em 1987, de mala e cuia...até a volta
definitiva 2001, já aposentado das suas atividades em Baltimore. Mas
aposentar mesmo, ele nunca aposentou... Adorava seu trabalho. Trabalhou até os
últimos dias de sua vida, aos 82 anos, antes da sua hospitalização. E nem
sempre por dinheiro. As vezes cobrava, outras não. O
prazer de ser útil e minorar o sofrimento das pessoas muitas vezes eram sua
recompensa. Tive
a alegria de ter meu consultório junto com ele e sua querida esposa Erika
Pinheiro, em sua casa por 3 anos, de 2009 a 2013. Formávamos um trio
profissional, os dois psiquiatras e a Erika, uma expert
em Psicoterapia de família. Anos fecundos. Agradeço à vida estes 34 anos de
profunda amizade e muita aprendizagem. Deixou três
filhos maravilhosos, todos residentes em Los Angeles:
Vanessa, Marcos e Alessandra; a neta Sofia, e um bebê que está por vir.
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