Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Maio de 2015 - Vol.20 - Nº 5 Artigo do mês
AS IMPLICAÇÕES DO USO DO CRACK: UM ESTUDO FENOMENOLÓGICO
Arythana de Freitas Soares Resumo: Na
contemporaneidade quando se fala a respeito de drogas, há uma amplitude em
diversos tipos, e as implicações no seu uso. Porém, verifica-se que os jovens
têm-se envolvido principalmente com as
drogas ilícitas como a maconha, cocaína, heroína, ecstasy e entre outras de
fácil acesso ao vício. Este artigo teve como foco principal o estudo da vivência
de um indivíduo que usa o crack, como um psicotrópico, adentrando-se no estudo
fenomenológico buscando através dessa vivência, uma abertura para novas
compreensões e conhecimentos acerca de quando e como o indivíduo tem acesso à
esta droga, com a presença dos relatos inclusos na entrevista e o apoio da
literatura para uma maior compreensão do objeto de estudo. Os resultados
apontam para vários riscos e consequências em vários contextos presentes na
história de vida. Palavras–chave: Drogas,
crack e psicotrópicos. The
implications of crack use: A phenomenological study Abstract: Talk about drugs in contemporary enable a breadth in many kinds, and
implications of your use. However, what can be prioritized, are the illicit
drugs as marijuana, cocaine, heroin, ecstasy and other of easy access to
addiction. But this article focused the study of an individual experience who
uses crack, as a psychotropic, entering in a phenomenological study seeking
through this experiences, an opening for new comprehensions and knowledges
about when and how the individual has the access to this drug, with the
presence of the herein reports on interview and the support of the literature
to a greater coercion from object of study. And this contribution was
gratifying to show how the use of this drug takes the individual encounter with
many risks and consequences in several contexts present in life history. Introdução Esta pesquisa teve como o objetivo mostrar a
vivência de um indivíduo no seu uso do crack como uma substância psicotrópica
através de um relato verbal, também, abordando os indicadores dependentes de
cada situação em que a droga está presente e ressaltando os possíveis ambientes
onde pode ser utilizada. A experimentação segundo Lima e Azevedo (2003) em
detrimento à OMS (organização mundial de saúde), os principais motivos para a
experimentação são a satisfação de curiosidade a respeito dos efeitos da droga,
necessidade de participação em um grupo
social, expressão de independência, nova e emocionantes sensações de
relaxamento. Os estudos com enfoque
no uso de drogas em jovens, mostraram a importância das variáveis
sociodemográficas, como idade, sexo e classe social e fatores sociais, como
influência dos amigos e as relações interpessoais dentro da família (BAUS,
KUPEK E PIRES, 2002). As reações sob o efeito psicoativo leva a uma melhor
descrição possibilitando maior compreensão de como é o indivíduo com e sem a
presença no uso do crack, que podem ser causados conforme quando o usuário
mantém uma freqüência mais ativa no uso. Dada a freqüência, ela pode esclarecer se é realmente o próprio efeito
alucinógeno que provoca a motivação no indivíduo ou também, outro dado que possa
não estar explícito para a compreensão, que surgirá através da entrevista
fenomenológica com o participante. Contudo, pode-se ter uma percepção
abrangente de que o crack é uma droga especialmente perigosa que provoca grande
degradação física e mental, contíguo a isso, com mínima freqüência de seu uso,
poderá causar dependência física e ambiental rapidamente, sendo provável
ocorrência de paranóias e sensação de ameaças constantes. Uma pesquisa da
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo divulgada no ano de 2009,
constatou-se que o crack avança rapidamente entre os mais abastados, como o
crescimento entre pessoa com renda superior a vinte salários mínimos foi de
139,5% e através dos números e dos dramas pessoais,se entende que a química do
crack corrói toda a sociedade, nas clínicas particulares, que custam aos
viciados que tentam se livrar desta droga alucinógena milhares de reais ao mês,
multiplicando-se universitários,empresários,professores e militares (CUMINALE,
2010) . O tratamento desta
dependência, pode-se afirmar que não há medicamentos que impeça que o
dependente tenha recaídas, nas clínicas, o viciado geralmente toma
antidepressivos ou ansiolíticos e passa por sessões de auto-ajuda para que
consiga escapar da “fissura”, a vontade de voltar à droga pois os jovens que conseguem
sair do vício são os que percebem que estão muito doentes e têm de se tratar
(NARLOCH, 2008). De acordo com Sapori (2010), na percepção do paciente, a cura
está associada à ver-se livre de um comportamento ou encômodo as avessas dos
modelos sociais, ou seja, da deliquência, das perdas de vínculos sócio
afetivos, de decadência física e problemas clínicos, assim o paciente não
parece querer ficar livre do crack embora façam referências negativas a
respeito deste, e sim, daquilo que atravessa na sua respectiva relação, ou de
suas conseqüências, nesse contexto o uso da droga seria uma técnica de
administração do prazer e da evitação da angústia da vida. Com base em
observações correntes, foi possível mensurar freqüências de relatos de pessoas que
já fizeram uso do Crack, e de como agiam quando estariam sobre o efeito deste
psicotrópico. Por esta razão, este projeto de pesquisa tem como intuito de
descrever estes efeitos alucinógenos devido ao uso dessa substância, tendo como
tangência, outrossim, possibilidade de ações que envolvem degradações tanto
para o próprio usuário da droga quanto para as pessoas que o circundam. Material e
métodos O método da pesquisa é qualitativo com enfoque
fenomenológico com as seguintes etapas, conforme Giorgi (1999) citado por Motta
(2005): a) a descrição fenomenológica: é o uso da linguagem para articular os
objetos intencionais da consciência dentro dos limites da evidência intuitiva.
A explicação vai levar a um ato racional, o que leva o indivíduo a fazer tais
coisas internas, surgindo a emoção. Essa etapa se divide em: 1) Estimulativa: Onde o
entrevistador irá estimular o participante a falar, de forma ingênua após a
pergunta alvo do pesquisador (a); 2) Reflexiva: O pesquisador irá captar a fala do participante da
entrevista, e levantar todos os temas nas falas centrais, colocando-as de
maneira científica, no saber científico e posteriormente colocando de volta à
pessoa, fazendo a nova reflexão. b) a redução fenomenológica é a
construção global significativa da estrutura da fala do indivíduo, que leva ao
participante a dar um passo atrás,descrevendo-as e examiná-las como uma
presença. São identificadas as unidades temáticas de sentido em duas
categorias: 1) Unidade de sentido variante: é ocasional e não está presentes em
todos os momentos; 2) Unidade de sentido invariante: está sempre presente em
todos os momentos do relato verbal do indivíduo, determinando a conduta
estudada. c) a interpretação fenomenológica:
Traz a perspectiva para o dado para uma possível coerção dos fenômenos
avaliando-os quer sob o ponto de vista
de uma teoria ou de razões
pragmáticas. Foi entrevistado um participante do sexo
masculino 30 anos durante maio e junho do ano de 2010, usuário e dependente de
crack, solteiro e morador da cidade de Santa Helena de Goiás. Este participante
promoveu informações de suas experiências acerca das vivências sobre o uso do
crack e os efeitos psicotrópicos. O material utilizado foi um gravador sonoro
portátil para armazenar informações requeridas de suas experiências acerca do
objeto de pesquisa, que foram transcritas e analisadas posteriormente. Resultados e
discussão Os resultados
foram colhidos através da entrevista. Como a pesquisa foi qualitativa e adepta
ao método fenomenológico em que a consciência é aberta a um objeto, e esse
objeto é entendido em seu sentido mais amplo possível. Posteriormente os dados
foram inseridos nas unidades de sentido e no gráfico, as porcentagens:
Unidades de
Sentido Na construção da estrutura global da experiência estudada percebeu-se
que 44,44% das unidades temáticas de sentido são variantes, e 55,56% são
invariantes. As unidades temáticas de sentido invariantes revestem-se de um
significado especial, pois determinam a conduta estudada. Este é o postulado
básico da doutrina fenomenológica a respeito da intencionalidade, a conduta de
um indivíduo é determinada pelo seu mundo fenomênico (BRENTANO, 1973 citado por
MOTTA, 2005). A seguir serão descritas algumas das unidades de sentido
invariantes:
Figura 1.
Gráfico de barra comparando a porcentagem das unidades variantes e invariantes. Descrição Fenomenológica Tema: Tendência à compulsividade gerada pelo crack “...é aquela vontade doida mesmo, sabe? De
você querer mais e mais e mais, tudo que tem dentro de casa você quer vender,
fica andando na rua de madrugada...é ruim demais...” “...eu tava indo era pro buraco, eu usava hoje
pensando no dinheiro pra comprar amanhã...” Redução Fenomenológica No
decorrer da entrevista, o participante relatou várias vezes a vontade do uso da
droga que tinha a cada momento, se tomando uma compulsão. Interpretação Fenomenológica Sapori (2010) o crack pelo efeito rápido e de pouca
duração leva à compulsão, possivelmente à dependência por propiciar sensações
de prazer e euforia ao usuário, e para a manutenção do uso, os usuários compram pequenas e repetidas doses/pedras de crack desta forma, é considerada uma droga barata, acaba por
surtir um efeito danoso nas economias do usuário. Descrição Fenomenológica Tema: Sentido negativos em relação ao uso do crack “...isso é ruim demais, dá agonia a pessoa emagrece
demais fica só coro e osso, Deus me livre...” “...Ave Maria, é ruim demais, esse trem só me deu
prejuízo...” Redução Fenomenológica A experiência na vivência do uso do crack,
proporcionou ao participante em alguns relatos inclusos da entrevista,
sensações angustiantes, trazendo à compreensão de que após o uso da droga, este
traz momentos desconfortantes para o sujeito. Interpretação fenomenológica Cuminale (2010) afirma que após o uso prolongado do
crack, pode provocar no individuo momentos de depressão, ansiedade,
irritabilidade, distúrbio no humor e paranóia. Alguns efeitos físicos também
são notórios como aumento da frequência cardíaca, pressão arterial alta,
vertigens, espasmos musculares, como também identificadas, as lesões cerebrais
nos usuários da droga ( TEIXEIRA, 2014) Conclusões Através desta pesquisa pode-se verificar que
atualmente a livre oferta de drogas no nosso país está aberta para todas as
classes sociais e o número de adolescentes e jovens que ingressam nesse mundo
obscuro das drogas é cada vez maior seja por curiosidade ou necessidade de se
inserir em algum grupo ou contexto social. Mas quando se fala do crack, o
problema se torna mais amplo, pois uma vez que uma pessoa se torna adepto a
essa droga, a dificuldade de largar o vício é maior pelo fato deste propiciar
um vício bem mais acentuado do que outras drogas, ou seja a
compulsividade, em que quanto mais se
utiliza,mais se quer consumir. Pôde-se analisar também nesta pesquisa que a
disponibilidade de tratamentos para dependentes de crack no nosso país se torna
cada vez mais escassa, e que a consciência da sociedade à respeito do usuário
ainda é de um marginal e não de um dependente químico que necessita de um
minucioso tratamento no combate às drogas, levantando um interesse maior
através desta pesquisa, a abertura para outras buscas e novos resultados acerca
do uso do crack, possibilitando mais saberes e cientificidade Trabalho apresentado dia 26 de junho de 2010 na
Unirv- Universidade de Rio Verde, Rio Verde - GO. Referências BAUS, J., KUPEK, E., e PIRES, M (2002). Prevalência e fatores
de risco relacionados ao uso de drogas entre escolares. Revista de Saúde Pública.36: 41-45. CUMINALE, N. Os desafios para o tratamento do
usuário de crack. Revista Veja
.(2010) 60-67 LIMA E.S.;AZEVEDO, R.C.S (2003). Programa de prevenção ao uso de substâncias psicoativas lícitas e
ilícitas na Unicamp. Pró Reitoria de Desenvolvimento Universitário da
UNICAMP. Campinas,SP. MOTTA, H. L (2005). Significados das figuras
parentais, feminina do outro e com a própria sexualidade vivenciados por
detentos condenados por estupro em crianças.
Dissertação de mestrado da Pontífica Universidade Católica de Goiás. .
Retirado em 05 de março de 2010 em do World Wide Web:http://tede.biblioteca.ucg.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=159. NARLOCH, L. Crack: Confissões de quem saiu do
inferno. Revista Veja .(2008)
ed. 2087. p. 37-50 SAPORI, F (2010). Os impactos do crack na saúde
pública e na segurança pública. Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico .Pontifícia
Universidade Católica de Minas. P.14-20 TEIXEIRA, G. Crack. Manual antidrogas: guia preventivo para pais e
professores.1 ed. Best seller. Rio de Janeiro (2014)p. 96-99.
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