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Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

 

Fevereiro de 2014 - Vol.19 - Nº 2

História da Psiquiatria

VIVENDO A HISTÓRIA: TOMA POSSE A DIRETORIA DO CINQUENTENÁRIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA

Walmor J. Piccinini

    Numa bonita festa que contou com inúmeras autoridades do meio médico do Rio de Janeiro e associados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), ocorreu a posse da primeira diretoria eleita pelo voto direto dos seus associados.

Presidente: Antonio Geraldo da Silva

Vice-Presidente: Itiro Shirakawa

Diretor Secretário. Cláudio Meneguello Martins

Diretor Secretário Adjunto: Maurício de Rezende

Diretor Tesoureiro: João Romildo Bueno

Diretor Tesoureiro Adjunto: Alfredo José Minervino

Diretor Regional Centro-Oeste: Juberty Antônio de Souza

Diretor Regional Norte: Aparício Carvalho de Moraes

Diretor Regional Nordeste: Fábio Gomes de Matos

Diretor Regional do Sudeste: José Gebara

Diretor Regional Sul: Ronaldo R. Laranjeira

O Conselho Fiscal Titular será composto por Francisco Baptista Assumpção Júnior, Florence Kerr-Correa e Sérgio Tamai.

    Caberá a esta diretoria a tarefa de organizar as comemorações dos cinquenta anos que ocorrerá em 2016. Com o cinquentenário em vista, está sendo alterado o cronograma de cidades hospedeiras do Congresso Brasileiro de Psiquiatria (CBT) ,e Rio de Janeiro sediará o congresso do cinquentenário. A novidade é que a ABP será responsável  pelo congresso e parte do lucro será rateado com todas as Federadas.

    A posse da nova diretoria, a realização de um encontro com coordenadores de departamentos e membros de comissões para realizar o planejamento estratégico da ABP, nos dá oportunidade de reviver alguns momentos e algumas curiosidades da história da ABP.

    No passado as eleições ocorriam na Assembleia de Delegados e existiam disputas entre as Federadas através dos seus delegados. Na primeira eleição, em 1966, existiam duas forças em busca da liderança e toda preocupação era que isso não levasse a uma inviabilização da recém-criada Associação.  São Paulo, com o professor Antonio Carlos Pacheco e Silva e Clóvis Martins desejavam a presidência em oposição ao Rio de Janeiro liderado pelo Professor José Leme Lopes.  A posição de Leme Lopes não era tranquila, pois dentro do Rio de Janeiro sofria oposição de J. Alves Garcia. O apoio do General médico Jurandir Manfredini, diretor da DINSAN, foi decisivo na sua escolha com representante do Rio de Janeiro. Os demais estados, com a liderança de José Lucena no Nordeste e Manoel Antonio Albuquerque no sul, apoiaram Leme Lopes que ganhou a eleição para presidente.  Como forma de compensação decidiu-se que a Revista Brasileira de Psiquiatria “pertenceria” a São Paulo. Ficou estabelecido como uma regra não escrita que ocorreria um rodízio na presidência, um ano para o sul, sudeste, no ano seguinte para o nordeste. Isto começou na verdade depois da presidência de Antonio Carlos Pacheco e Silva. Esta regra não escrita sofreu algumas modificações, mas se manteve como uma meta a ser alcançada.

Assim tivemos como primeiro presidente o Professor José Leme Lopes, o seguinte foi o Professor Antonio Carlos Pacheco e Silva. Depois dele foi à vez do nordeste com Álvaro Rubin de Pinho da Bahia. Rubin de Pinho acabou ficando de 1968 a 1970, os anteriores tiveram mandado de um ano. Inaugurava-se o período de dois anos de mandato. Depois do nordeste a presidência veio para o sudeste e Fernando Megre Veloso de Minas Gerais foi o escolhido. Jose Lucena levou a presidência para o nordeste novamente. Em 1975 foi à vez do Rio Grande do Sul com David Zimmermann. Nova reforma de estatutos e a duração do mandato passa para três anos e quem assumiu foi o secretário geral da gestão anterior, Ulysses Vianna Filho do Rio de Janeiro.  O grande problema inicial da ABP era a falta de recursos. Os dirigentes pagavam do próprio bolso as despesas com correspondência e manutenção da sede que foi instalada numa sala no Sanatório Botafogo, emprestada por Ulysses Vianna Filho. Esta falta de recursos acabou criando uma grave crise com Clóvis Martins que pagou do próprio bolso as primeiras edições da Revista Brasileira de Psiquiatria. As diretorias da ABP não pagavam alegando falta de recursos. Irritado Clóvis Martins registrou a revista em seu nome, e só muitos anos depois concordou em cedê-lo novamente para a ABP. Sucedeu a Ulysses, o professor Marcos Pacheco de Toledo Ferraz que cedeu um local anexo ao seu consultório como sub sede da ABP em São Paulo. Ferraz foi sucedido por João Romildo Bueno que presidiu a ABP de 1983 a 1986.

    Graças a sua intensa atuação junto a ABP, o próximo presidente veio de Mato Grosso do Sul e foi o Professor Luiz Salvador Miranda e Sá. Mineiro por nascimento, nordestino por adoção e com intensa atividade nas diretorias anteriores foi o escolhido. O seguinte foi do nordeste, o Dr. William Azevedo Dunninghan da Bahia em 1989-92. Era esperado que a presidência viesse para o Sul, mas acabou assumindo o Professor Othon Coelho Bastos Filho de Pernambuco. A presidência acabou vinda para o sul na pessoa de Rogério Wolf Aguiar. Depois se seguiram Miguel Roberto Jorge de São Paulo, Marco Antonio Alves Brasil do Rio de Janeiro, Josimar Mata de Farias França de Brasília, João Alberto Gomes de Carvalho e finalmente o 18º. Presidente, Antonio Geraldo da Silva que interrompeu os acordos tradicionais e elegeu uma chapa de oposição. Uma das suas promessas de campanha era a do voto direto dos psiquiatras brasileiros e isso foi conseguido. Nas eleições realizadas por ocasião do XXXI Congresso Brasileiro de Psiquiatria foi reeleito, mas na verdade foi o primeiro psiquiatra a ser eleito numa eleição direta.

     Uma eleição com forças opostas sempre causam ressentimentos e amarguras. Passada a campanha devemos todos nos unir em torno do ideal comum que é a Associação Brasileira de Psiquiatria.

        Minha participação pessoal na ABP através dos tempos foi sempre de colaborar dentro das minhas possibilidades. Foi assim que construí a página da ABP na Internet, colaborei nos Departamentos de História e de Informática e participei dos Congressos desde o primeiro em 1970. Não participei das articulações da chapa vencedora e tenho amigos queridos nos dois grupos. Nessa minha longa jornada posso testemunhar que Antonio Geraldo da Silva fez o que chamaria um “choque de gestão”.  Muitas medidas objetivas foram tomadas, a principal é que ninguém mais seria remunerado por serviços prestados a ABP. (Elaboração de Provas, Concurso de títulos e vários outros). A segunda foi de que só associados falariam nos Congressos. É claro que ficam de fora conferencistas estrangeiros e pessoas de outras áreas convidadas a falar no CBT. Os verdadeiros associados da ABP se sentiram prestigiados, alguns que se julgavam acima dos demais foram se juntar ao coro dos descontentes.  Os funcionários foram valorizados e custos como da Revista e do PEC foram diminuídos. A Revista Brasileira de Psiquiatria atingiu o índice de impacto de 1,86 o maior em revistas científicas de todas as áreas da América Latina. O número de associados cresceu de 3.800 para mais de 5.000, houve o desligamento de quase dois mil inadimplentes e uma verdadeira renovação do corpo de associados. A sede de São Paulo foi reformada, foi comprada uma sede em Brasília e há perspectivas de se comprar uma nova sede para o Rio de Janeiro. Constatamos progressos na atuação política, presença maciça na mídia e uma disposição para o enfrentamento destemida. Aproximação com AMB e CFM é uma realidade. Melhora na relação com o Ministério Público e Magistrados.

    Um aspecto que deixou muitas pessoas magoadas foi à redução dos departamentos de 14 para quatro. O motivo básico foi à necessidade de adequação do Estatuto da ABP com o da AMB que só reconhece quatro áreas de atuação. Não resta dúvida que o loteamento do congresso entre os departamentos criou pequenos feudos que não contribuíam para o crescimento. Se existiam 14 departamentos, com 4 horas cativas no congresso, 56 horas ficavam nas mãos desses departamentos o que viria a inviabilizar o congresso. Começaram a surgir propostas de novos departamentos somente para ter espaço.   O andar das experiências vai esclarecer o que é melhor para a ABP. Espero que os que ficaram magoados e se sentiram excluídos reflitam e retornem ao convívio dos demais.

    A Psiquiatria brasileira vive um momento bastante complicado e paradoxal. A sua associação vive momento de grande entusiasmo e com grandes realizações, por outro lado sofre ataques de gestores do Ministério da Saúde e críticas a sua existência. O lançamento do DSM-5 foi recebido com muitas críticas, muitas do tipo “não li e não gostei”. Nessa hora observamos uma forte tendência associativa e uma resposta muito positiva das lideranças psiquiátricas.


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