Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Giovanni Torello |
Fevereiro de 2014 - Vol.19 - Nº 2 Psiquiatria na Prática Médica COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS E ARTRITE REUMATÓIDE Luis Fernando de Carvalho Lopes Introdução Há pessoas
que, depois de alguma condição médica, mudam sua maneira de ser. Algumas vezes
de maneira definitiva, outras temporariamente. Essas alterações no modo de ser,
logo, na personalidade, podem aparecer no dependente químico, e em outras
patologias que de uma forma ou de outro promovam mudanças significativas na
rotina de um indivíduo. Estas alterações
comportamentais podem
ser observadas quando a pessoa apresenta uma mudança em sua maneira de se
relacionar com o seu mundo social e individual, depois de ter sofrido alguma
condição médica, psicológica, neurológica ou existencial. É como se
passasse a ser outra pessoa, com reações e comportamentos bem diferentes
daqueles que a caracterizavam antes. Este quadro chama-se Alteração da Personalidade. Na CID.10,
aparece como Transtorno Orgânico de Personalidade, no DSM.IV
como Alteração da Personalidade
Devido a uma Condição Médica Geral, mas o quadro é o mesmo. Para a
psiquiatria o termo "personalidade" se refere à totalidade de traços
emocionais e comportamentais que caracterizam o indivíduo na vida cotidiana. Transtorno de Personalidade é uma variação destes traços além
da faixa de variação encontrada na maioria das
pessoas. Quando a disposição geral da personalidade resulta em traços
inflexíveis e mal-ajustados, pode-se pensar em transtornos de personalidade.
Para o CID.10 (Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de
Saúde - OMS), transtornos de personalidade são “tipos de condição que abrangem padrões de comportamento permanentes e
profundamente arraigados no ser, os quais se manifestam como respostas
inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Elas representam
desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada
cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros”. Artrite reumatoide e mudanças
comportamentais. A artrite reumatóide é considerada a mais destrutiva e
incapacitante doença articular degenerativa. Geralmente é bastante agressiva,
determina dores quase permanentes, deforma as articulações, prejudicando
drasticamente a qualidade de vida e a auto-imagem. A artrite reumatóide é uma doença inflamatória articular de
evolução crônica, caracterizada por episódios dolorosos e deformidades físicas,
com conseqüentes limitações no trabalho e nas atividades cotidianas. Ela
apresenta uma prevalência de transtornos depressivos e ansiosos acima da média
habitualmente encontrada na população em geral, variando de 13% a 47%. Essa
grande diferença provavelmente se deve à variedade das populações estudadas. Não há consenso na literatura sobre a
origem da maior prevalência dos sintomas psiquiátricos na artrite reumatóide.
Estes poderiam ocorrer em razão de seqüelas de uma doença incapacitante ou da
própria atividade clínica de uma doença inflamatória crônica. A alta prevalência de psicopatologia entre os doentes
reumáticos é bastante conhecida. Ela aparece em 33% dos portadores de artrose
de quadril, em 36,8% dos doentes de artrite reumatóide e 48,6% dos pacientes
com fibromialgia. O diagnóstico mais comum é mesmo a depressão, com ocorrência
em 16,8%; 20,4% e 29,3% respectivamente. Quando se
tenta estabelecer relações entre artrite reumatóide e Alterações
da Personalidade isso
não acontece. Os estudos mostram sim relações entre traços de personalidade e
pessoas com artrite, o que não é a mesma coisa que Alterações de Personalidade, algo que muda a maneira da
pessoa ser de um acontecimento na vida em diante. O envolvimento deformante e estrutural é
menos marcante na artrose e completamente ausente na fibromialgia. Apesar de
importante, o sofrimento físico , por si só, não justifique
a ocorrência de depressão nas pessoas com artrite reumatoide, reumatologistas e psiquiatras reconhecem que o paciente com
fibromialgia tem alguns traços de personalidade próprios , traços estes
diferentes dos portadores de AR e do paciente com A.anquilosante.
Traços de personalidade são descritos nas pessoas com artrite reumatoide, em
comparação a grupos controle: Tendem a ser propensas a auto-sacrifício,
inibidas, tímidas, auto-conscientes e perfeccionistas.
Tendem a reagir exageradamente à sua doença. A dor crônica decorrente da inflamação articular, a presença de deformidades e a
limitação para atividades laborais e sociais, contribuem para a ocorrência de
depressão e alterações comportamentais nesses pacientes. Também é frequente a
associação com síndromes dolorosas funcionais, como a fibromialgia. Tratamento da Artrite
Reumatóide O tratamento medicamentos
envolve 5 diferentes abordagens: (1) Controle da dor
com analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais;
(2) Glicocorticóides em baixas doses; (3) Drogas antirreumáticas modificadores
da doença; (4)Terapia biológica (inibidores de fator de necrose tumoral alfa);
(5) Drogas imunossupressoras Tratamento de depressão A depressão deve ser tratada
sempre com medicamentos. As classes de medicamentos de antidepressivos
disponíveis são: (1) Triciclicos; (2) Inibidores da
MAO; (3) Inibidores seletivos da recaptação de
serotonina; (4) Outros (Mirtazapina, Venlafaxina e Trazodona). Interação Medicamentosa O tratamento simultâneo das
patologias acima envolve medicamentos que quando administrados em conjuntos
realizam competição por sitio ativo e de transporte, diminuindo assim a
biodisponibilidade de ambas as drogas no organismo, reduzindo seu efeito. A
principal droga competidora com os antidepressivos são os
glicocorticóide. Medicamentos que podem
causar depressão O tratamento medicamentoso
da artrite reumatóide pode ainda despertar depressão devido ao uso dos
seguintes remédios: Corticoides e AINES. Referências – com o autor. 1 - Luis Fernando de Carvalho
Lopes – acadêmico do 6º ano de medicina da Unitau 2- Prof. Dra. Márcia Gonçalves –
Professora coordenadora da disciplina de Psiquiatria da UNITAU Email – [email protected]
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