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Dezembro de 2014 - Vol.19 - Nº 12 Artigo do mês
A INFLUÊNCIA DE FATORES PSICOLÓGICOS SOBRE A ETIOLOGIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Allini Fernandes Santos (1), Lucas Dileno Rodrigues (2), André Diogo Barbosa (3), Olhiga Ivanoff (4), Aline Maciel Monteiro (5), Claudio Herbert Nina-e-Silva (6) Resumo: Estudos recentes têm evidenciado a importância de fatores
psicológicos na etiologia da hipertensão arterial e de outras doenças
cardiovasculares associadas. Os fatores psicológicos também têm sido apontados
como a principal causa da não adesão ao tratamento pela maioria dos pacientes
portadores de hipertensão arterial. Desse modo, o objetivo do presente estudo foi
investigar a influência de fatores psicológicos sobre a etiologia da
hipertensão arterial por meio de uma revisão sistemática da literatura médica
atual. Para tanto, foram analisados 42 artigos publicados a partir de 2001 em
periódicos internacionais com avaliação cega por pares. Os fatores psicológicos
diretamente relacionados à etiologia da hipertensão arterial mais
frequentemente citados na amostra de artigos investigada foram:
raiva/hostilidade, estresse/ansiedade, depressão, afeto negativo; e inibição/isolamento
social. Os presentes resultados demonstraram a influência decisiva dos fatores
psicológicos sobre a hipertensão arterial. Palavras–chave: hipertensão arterial, cardiologia,
psiquiatria, medicina psicossomática, psicopatologia. 1. Introdução A hipertensão arterial tem se tornado um grave problema de saúde
pública, pois se constitui em um fator de risco para a ocorrência de doenças
cardiovasculares graves, tais como a doença arterial coronariana e acidentes
vasculares cerebrais (FRANKLIN, 2009; EORY et al.,
2014). Estudos recentes têm evidenciado a importância de fatores psicológicos
na etiologia da hipertensão arterial e de outras doenças cardiovasculares
associadas (EWART et al., 2011). Por exemplo, a
incapacidade de controlar a raiva e a hostilidade tem sido apontada como um
fator de risco que aumenta a probabilidade de ocorrência de hipertensão
arterial (SANZ et al., 2010; EWART et al., 2011). Apenas um terço dos pacientes hipertensos sob
tratamento farmacológico conseguem alcançar os níveis adequados de
pressão arterial (SANZ et al., 2010). O fracasso no controle da pressão
arterial estaria relacionado à não adesão dos
pacientes tanto à medicação quanto ao programa de mudança de hábitos de vida
prescrito pelo médico (YAN et al., 2003). De acordo com esses autores, a não
adesão ao tratamento estaria diretamente relacionada a fatores psicológicos,
tais como o temperamento impulsivo. Por outro lado, a etiologia da hipertensão
arterial em boa parte dos casos estaria fortemente associada a outros fatores
psicológicos, como o temperamento ansioso, a inibição social e a raiva (SANZ et al., 2010; EWART et al., 2011; XUE et al., 2013). Por sua
vez, segundo Steptoe e Kivimäki
(2013), as evidências clínicas apontam que o estresse agudo, o sentimento de isolamento
social e a ocorrência de sinais e sintomas depressivos são fatores
desencadeadores de doenças cardiovasculares em geral e da hipertensão arterial
em particular. Desse modo, o objetivo do presente estudo foi investigar a influência de
fatores psicológicos sobre a hipertensão arterial por meio de uma revisão
sistemática da literatura médica atual. 2.
Material e Método Este
trabalho foi uma pesquisa bibliográfica, de natureza quantitativa, por meio de
uma revisão sistemática da literatura médica atual. As bibliotecas virtuais
Periódicos CAPES e PubMed (United States National
Library of Medicine) foram consultadas,
utilizando-se os termos de busca “psychological factors and hypertension
and blood pressure”. A
amostra de consulta foi determinada por meio dos dois seguintes critérios de
inclusão: 1) artigos com data de publicação a partir de 2001; 2) artigos
publicados em periódicos internacionais com avaliação cega por pares. Os
artigos fornecidos pelas bibliotecas virtuais em resposta aos termos de busca
passaram por uma triagem, sendo que só foram analisados aqueles artigos que
atendiam simultaneamente aos dois critérios de inclusão na amostra. Os artigos
selecionados para análise foram então copiados das bibliotecas virtuais e
salvos em formato digital PDF. Depois disso, cada um dos artigos foi lido para
que fossem registrados em uma tabela específica os fatores psicológicos
descritos pelas publicações como sendo relacionados à etiologia/comorbidade com a hipertensão arterial. 3.
Resultados e Discussão A partir dos termos de busca e dos critérios de inclusão descritos na
seção de Material e Método, foram obtidos 42 artigos sobre a influência dos
fatores psicológicos sobre a hipertensão arterial. A Figura 1 ilustra a
freqüência de citação de cada fator psicológico apontado pelos artigos da
amostra investigada como sendo relacionado com a etiologia/comorbidade
da hipertensão arterial. Figura 1: Freqüência de citação de cada fator
psicológico apontado pelos artigos da amostra investigada como sendo relacionado
com a etiologia/comorbidade da hipertensão arterial. A raiva/hostilidade (n=31), o estresse/ansiedade (n=28), a depressão
(n=25), o afeto negativo (n=24) e a inibição/isolamento social (n=22) foram os
fatores psicológicos mais frequentemente citados na amostra de artigos
investigada, tendo sido descritos em mais da metade dos artigos analisados.
Esses mesmos fatores, com o acréscimo dos traços de personalidade e de caráter,
já haviam sido descritos por Rozanski et al. (1999) como sendo fatores que contribuem
decisivamente para a patogênese e a expressão da hipertensão arterial e da
consequente doença arterial coronariana. Os fatores psicológicos citados acima estão diretamente relacionados aos
mecanismos patofisiológicos da hipertensão arterial, tais como a ativação
neuroendócrina (hiperativação do eixo
hipotálamo-hipófise-adrenais e do sistema nervoso autônomo simpático) e a
desregulação do sistema renina-angiotensina (ROZANSKI et
al., 1999; SANZ et al., 2010; EWART et al., 2011; XUE et al., 2012; STEPTOE
& KIVIMÄKI, 2013; EORY et al., 2014). A raiva/hostilidade foi relacionada na amostra de artigos com a causa
e/ou facilitação da ocorrência dos seguintes problemas: aumento da pressão
arterial diastólica; aumento da prevalência e da severidade de aterosclerose
das artérias coronária e carótida; maior probabilidade de desenvolvimento de
doença hipertensiva sistêmica; e maior probabilidade de mortalidade associada à
hipertensão arterial. O estresse/ansiedade, a depressão e o afeto negativo foram relacionados
na amostra de artigos com a causa e/ou facilitação da maior probabilidade de
desenvolvimento de doença hipertensiva sistêmica, e maior probabilidade de
mortalidade associada à hipertensão arterial. Já a inibição/isolamento social foi diretamente associada na amostra de
artigos com a causa e/ou facilitação da hiperativação
neuroendócrina e do aumento da prevalência e da severidade de estenose
coronariana associada à hipertensão arterial. Esses resultados corroboram a concepção segundo a qual há relevância na
aplicação dos resultados da medicina psicossomática à cardiologia (YAN et al., 2003; EORY et al., 2014). 4. Conclusão Através de uma revisão sistemática da literatura médica atual baseada em
evidências, o presente trabalho demonstrou a influência decisiva dos fatores
psicológicos sobre a hipertensão arterial. Desse modo, sugere-se a realização
de estudos específicos sobre a comorbidade dos
transtornos de ansiedade e de humor com a hipertensão arterial entre os
usuários do Sistema Único de Saúde no município de Rio Verde, Goiás. 5.
Agradecimentos O
presente trabalho contou com o apoio da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e
Pesquisa da Universidade de Rio Verde na forma de bolsa de iniciação científica
para a primeira autora. 6.
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