Abril de 2013 - Vol.18 - Nº 4 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Abril de 2013 - Vol.18 - Nº 4 História da Psiquiatria CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA PESTE NEGRA (1) Walmor J. Piccinini Durante séculos o Khan Janipeg foi considerado o pai a Guerra biológica,
fama alcançada sem que soubesse que estivesse espalhando o bacilo da praga na
sua guerra contra os genoveses e seu entreposto comercial em Caffa (atual
Feodosyiia) na Criméia. O bacilo que em 1884 recebeu o nome de Yersina Pestis
teria vindo do interior da Ásia nos alforjes dos correios do Khan. Logo a
doença espalhou-se nas tropas tártaras e centenas de soldados morreram.
Imaginando afugentar os genoveses com o mau cheiro, Janipeg utilizou as
cataduplas que antes jogavam pedras, para jogar cadáveres por sobre os muros da
cidade sitiada e o efeito foi devastador. Como tudo na História existem outras
versões, mas o resultado foi o mesmo, morreram os atacantes e os atacados e os
que puderam fugir, rumaram nos seus barcos para a Europa e com eles levaram os
agentes transmissores da doença. Os genoveses foram acusados de ter levado a
praga para a Europa com seus navios mercantes. Contaminaram Constantinopla, a
Sardenha, Genova e Marselha. Em Nesta altura, o habitual
leitor da Coluna sobre História da Psiquiatria deve estar se perguntando aonde
queremos chegar com a história da Peste. Em primeiro lugar, o tema é
fascinante. Em segundo lugar, ainda não se sabe bem os efeitos desta catástrofe
na História europeia e do mundo. Segundo John Kelly a Escala de Foster, uma
espécie de Escala Richter de desastres humanos, somente a Segunda Guerra
Mundial produziu mais mortes, destruição física e sofrimento emocional do que a
“Black Death”. A Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos utilizou a
pestilência medieval como modelo para destacar as possíveis consequências de
uma guerra nuclear. A “Black Death” chega perto de imitar a guerra nuclear na
sua extensão geográfica, no início abrupto e na escala de perdas. Mulheres e
crianças que permaneciam nas suas casas foram as mais atingidas. Torrey e Miller examinaram a
doença mental sob a perspectiva da praga e publicaram um texto que não teve
muita repercussão, mas que merece nossa atenção: A Praga Invisível: o
crescimento da doença mental de 1750 até o momento atual. Ideias sobre as consequências
da praga vão aparecendo aqui e ali, mas faltam dados mais conclusivos que
permitam afirmar com certeza. Uma delas, é que a Black Death foi responsável
pela mudança da relação entre o proprietário de terra e seus agricultores que
até então, trabalhavam em troca de comida. A escassez de mão de obra passaram a
ter seus braços requisitados e a ganhar salário. O poder do senhor feudal foi
perdendo força e com as frequentes guerras foram empobrecendo. A Igreja perdeu o domínio absoluto e começaram os
movimentos para um afastamento de Roma. Na Inglaterra, o Latim perdeu força e o
afastamento culminou com o rompimento e fundação da Igreja Anglicana. Na
Alemanha o processo culminou com a Reforma de Martinho Lutero. A perda do
domínio intelectual pelos mosteiros trouxe novos desenvolvimentos para a
medicina e as Ciências Um fato extraordinário é que a
Peste bubônica que devastou o mundo em 1346/52, só te seu bacilo identificado
em 1844 Há grande produção literária sobre a Peste Negra, muitos questionam sua
identidade, causas e efeitos de desastres epidêmicos do passado. Nós tentaremos
discutir o impacto das epidemias do passado e a maneira como foram
interpretadas. Antes do século XVII não havia uma noção clara que as doenças
eram entidades específicas, pensava-se que uma doença se transformava em outra.
A epidemiologia da praga era difícil de entender, bem como sua etiologia.
Alguns autores se perguntavam por que algumas cidades ou alguns países eram
menos atingidos? As hipóteses são várias. Galeno observava a constituição da
vítima para descobrir o que o predispunha ele ou ela para a infecção. Concluía
pela desarmonia dos humores. Hipócrates atribuía ao meio ambiente, o tempo, as
águas, condições de habitação e dieta prevalente em alguns lugares. Uma
terceira abordagem eram as teorias de contágio. Estas três abordagens da
doença, com foco respectivamente no indivíduo, no meio ambiente e modos de
transmissão são comuns à maioria das civilizações suscetíveis a epidemias e
doenças da aglomeração de pessoas. A Praga foi especial por causa dos seus sintomas horríveis e, também por
combinar alta mortalidade com altos riscos de infecção. Sua associação com as
condições de vida e a pobreza é evidente. Aos poucos pretendemos
estabelecer alguma relação com outras grandes epidemias. A de influenza de
1918/19 (gripe espanhola). HIV/AIDS de Ao longo dos anos fui reunindo uma pequena biblioteca a respeito da
Peste Negra E ela será minha fonte. Cantor, Norman. In the Wake of the Plague.
Harper Perenial 2002 Cartwright, Frederick E.
Disease and History Defoe, Daniel. Um Diário do Ano da Peste. Artes e Ofícios Editora. 2002
(O livro é de 1772). Kelly, John. The Great Mortality.
Harper Perennial, 2005 McNeill, William H. Plagues
and Peoples. Monticello Editions, 1976 Scott, Susan e Slack, Paul. Praga: Uma
curta introdução. Torrey, E.
Fuller e Judy Miller. A Praga Invisível: O crescimento da
doença mental de 1750 até o Presente. Rutgers University Press. 2001
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