Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

Junho de 2012 - Vol.17 - Nº 6

Psiquiatria na Prática Médica

DOENÇA DE PARKINSON e TRANSTORNOS DEPRESSIVOS

Prof. Dra. Márcia Gonçalves


 INTRODUÇÃO

A doença de Parkinson (DP), descrita por James Parkinson em 1817, é uma das doenças neurológicas mais comuns e dos dias de hoje. É uma doença de distribuição universal e atinge todos os grupos étnicos e classes sócio-econômicas.  Estima-se uma prevalência de 100 a 200 casos por 100.000 habitantes. Sua incidência e prevalência aumentam com a idade. A prevalência da DP no Brasil não é conhecida.1

A (DP) é  progressiva e crônica do sistema nervoso, envolvendo os gânglios da base e resultando em perturbações no tônus muscular, posturas anormais e movimentos involuntarios1. Pode ser considerada a segunda doença neurodegenerativa senil mais comum, acometendo cerca de 1% a 2% da população acima dos 65 anos de idade.2

Os sintomas motores mais comuns entre os pacientes acometidos por DP  são rigidez muscular, tremor de repouso, instabilidade postural e bradicinesia, e o diagnóstico clinico e feito por exclusão.

FISIOPATOLOGIA

Foi somente na década de 60, após a identificação das alterações patológicas e bioquímicas no cérebro de pacientes com DP, que surgiu o primeiro tratamento com sucesso, abrindo caminho para o desenvolvimento de novas terapias efetivas.

Os sintomas da doença de Parkinson resultam da atividade muito reduzida das células  pigmentadas secretoras de dopamina (dopaminérgicos); as células na região compacta pars da substância nigra (literalmente "substância negra"). Estes neurônios se projetam para o estriado e sua perda leva a alterações na atividade dos circuitos neurais dentro do gânglio basal que regulam o movimento, em essência, uma inibição da via direta e excitação da via indireta. 2

O caminho direto facilita o movimento e a via indireta inibe o movimento, assim, a perda dessas células leva a um distúrbio dos movimentos hipocinéticos.2

A falta de dopamina resulta numa inibição maior do núcleo ventral anterior do tálamo, que envia projeções excitatórias para o córtex motor, conduzindo assim a hipocinesia. 2

Há quatro caminhos principais de dopamina no cérebro: A via nigroestriatal  e o movimento mediador  são os  mais visivelmente afetados na doença de Parkinson precoce. 2  As outras vias são a mesocortical, o mesolímbico, e os tuberoinfundibulares.

 A Interrupção de dopamina ao longo das vias não-estriatal provavelmente explica muito da patologia neuropsiquiátrica associada à doença de Parkinson. 2

O mecanismo pelo qual as células do cérebro em Parkinson são perdidos podem consistir de uma acumulação anormal da proteína alfa-sinucleína obrigado a ubiquitina nas células danificadas.Esse acúmulo de proteína formas proteicas inclusões citoplasmáticas chamadas de corpos de Lewy. 2

 O mecanismo preciso pelo qual tais agregados de alfa-sinucleína danificar as células não são ainda conhecidos. A morte de neurônios dopaminérgicos por alfa-sinucleína é devido a um defeito no maquinário que transporta proteínas entre os dois principais organelas celulares - o retículo endoplasmático (ER) e do aparelho de Golgi. Certas proteínas como Rab1 pode reverter esse defeito causado pela alfa-sinucleína em modelos animais. Acumulações excessivas de ferro, que são tóxicos para as células nervosas, também são normalmente observados em conjunto com as inclusões de proteína.

DEPRESSÃO E DOENÇA DE PARKINSON

Mais de 90% dos pacientes com DP idiopática sofrem ou já sofreram de complicações psiquiátricas, entre elas, depressão maior.3

A depressão como comorbidade psiquiátrica se mostra subdiagnosticada, principalmente pela sobreposição dos próprios sintomas da DP.

A real prevalência da depressão e de suas relações com os sintomas motores, idade de inicio da DP e tempo de doença em pacientes com DP pode possibilitar o desenvolvimento de práticas direcionadas ao tratamento da depressão e a melhora na qualidade de vida de tais pacientes.3

 

O’Sullivan e Schmitz,  mostram cinco classificações da DP: 4

1-       Parkinsonismo idiopatico, cuja etiologia e desconhecida e refere-se aos pacientes portadores da DP verdadeira (seu diagnóstico e essencialmente clinico, portanto, antes de ser feito, deve-se excluir tremor essencial ate 20 vezes mais frequente e outras causas de parkinsonismo; 4

2-       Parkinsonismo pós-infeccioso , (ou pós-encefálico), cuja causa e atribuída a encefalite viral;

3-       Parkinsonismo tóxico, cujos sintomas que caracterizam a doença ocorrem em indivíduos expostos a agentes químicos, venenos industriais e algumas drogas; 4

4-       Parkinsonismo arteriosclerótico (ou vascular), cujos sintomas podem estar diretamente relacionados a lesões no tronco cerebral, envolvendo a substância negra, os tratos nigro-estriais ou gânglios da base;4

5-       Parkinsonismo atípico, que representa um grupo de varias patologias, cuja DP aparece associada a outras anormalidades neurológicas.3,4

 

A prevalência da depressão em pacientes com doença de Parkinson (DP) deve ser conhecida  para o desenvolvimento de práticas direcionadas ao tratamento da depressão e a melhora na qualidade de vida  dos pacientes. Em 20 artigos da literatura as taxas de prevalência de depressão variaram de de 1,8% a 68,1%.3

 

Os primeiros sinais da doença de Parkinson são a lentidão de movimentos e perda de expressão facial que são confundidas com a falta de iniciativa,  que constitui sinal depressivo, e o doente com DP pode ser erradamente diagnosticado como depressivo sem o estar. É bem compreensível que alguém que esteja de boa saúde e de repente adoeça, reaja negativamente. Uma cuidadosa avalição no  doente e familiares sobre o estado psicológico do doente é fundamental.3

Em muitos estudos, constatou-se correlação positiva entre piora do quadro motor, avaliada por escalas neurológicas especificas, e presença de depressão, corroborando a hipótese de que, ao comparar pacientes deprimidos e não deprimidos, o quadro motor é mais grave na presença de sintomas depressivos. 3

 

Os sintomas depressivos são as manifestações não motoras mais frequentes entre os pacientes acometidos pela DP. 5  Entretanto, o diagnóstico da depressão em pacientes com DP  se confunde com a  sobreposição dos sintomas depressivos e os sintomas motores. Sintomas como alterações no sono e apetite, perda de peso, perda de interesse , perda da  concentração , comprometimento da memória e redução da libido são comuns tanto em pacientes com depressão quanto em pacientes com DP.6

 

 

EPIDEMIOLOGIA

DOENÇA DE PARKINSON E TRANSTORNO DEPRESSIVO.

 

Observando os dados relatados, verificou-se que não houve um consenso quanto a taxa de prevalência de depressão na DP, e esta variou de 1,8%8 a 68,1%9, com mediana igual a 32,2%.

Mayeux et al. e Santamaria et al. a respeito da idade, demonstraram que os pacientes com DP com depressão eram mais jovens comparados aos pacientes com DP sem esse transtorno de humor. Observaram que a manifestação da depressão poderia ocorrer anos antes do primeiro sintoma parkinsoniano.7,8  

Errea e Ara verificaram a correlação estatística significativa entre a presença de sintomas depressivos e a duração da DP.9

 

Segundo Santamaria et al.8, a depressão pode ser considerada um aspecto agravante para a qualidade de vida do paciente. A depressão, tanto no inicio precoce quanto no inicio tardio da DP, poderia estar relacionada ao prejuízo nas atividades diárias. 3,8

 

Leentjens et al. avaliaram uma população de 105.416 pessoas e verificaram um risco relativo de subsequente desenvolvimento de DP em sujeitos com diagnóstico de transtorno depressivo de 2,4 .11

 

Em 2002, Schuurman et al. realizaram um estudo de coorte retrospectivo, por meio de um banco de dados,  com 68.928 sujeitos de uma comunidade e observaram que o risco relativo de subsequente DP para sujeitos que apresentavam diagnostico registrado no banco de dados de transtorno depressivo ou psicose afetiva era de 3, 3, corrigido por idade, sexo e condição socioeconômica.10

 

DOENÇA DE PARKINSON  E PREJUÍZO COGNITIVO

 

Prado e Barbosa encontraram uma correlação positiva entre os sintomas depressivos e prejuízo cognitivo.12

 

 

Divergências e contradições marcam o conjunto de estudos sobre cognição, DP e depressão.

Há limites tênues entre os déficits cognitivos relacionados à depressão e à própria DP.13

 

Em uma revisão sobre depressão  Silberman et al  demonstram que a depressão tem impacto sobre o desempenho cognitivo dos parkinsonianos.14

 

O diagnóstico precoce de depressão pode diminuir as controvérsias sobre a ocorrência de demência na evolução da DP, uma vez que este diagnóstico diferencial nem sempre é simples.13

 

Não foi possível definir a depressão como um fator de risco para transtornos cognitivos na DP.13

Estudos que utilizem critérios diagnósticos definidos e com amostras representativas da população podem trazer esclarecimento sobre o assunto. 14

 

A interação entre depressão e DP é complexa e bidirecional.14  Está associada com avanço da gravidade da DP, estágio avançado de Hoehn e Yahr, alta pontuação na Unified Parkinson’s Disease Rating Scale (UPDRS), ocorrência de quedas, baixa pontuação no Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e na Escala Schwab e England, déficit cognitivo, bradicinesia axial, alterações

na marcha e no balanço, idade mais avançada, sexo feminino e presença de alteração do pensamento.15

A depressão é um fator de risco para DP, assim como DP é um fator de risco para depressão.

 

É possível se traçar um perfil mais homogêneo do paciente deprimido com DP que evolui com transtorno cognitivo, mas não foi possível definir a depressão como um fator de risco para transtornos cognitivos na DP.14

 

 Estudos que utilizem critérios diagnósticos definidos e com amostras  representativas da população podem trazer esclarecimento sobre o assunto.14

 

PROGNÓSTICO DA DP

PD não é considerado uma doença fatal por si só, é progressiva. A expectativa média de vida de um paciente PD é frequentemente  menor do que para as pessoas que não têm a doença.15

PD pode causar complicações, tais como asfixia, pneumonia, e as quedas que podem levar à morte. A progressão dos sintomas em PD pode levar 20 anos ou mais, e em alguns paceitnes progride mais rapidamente. O  curso da doença é individual. Com tratamento adequado, a maioria das pessoas com DP levam vidas produtivas por muitos anos após o diagnóstico. 15

Um sistema comumente utilizado para descrever como os sintomas do progresso PD é chamada de Hoehn e Yahr escala.14

Outra escala comumente utilizada é a Escala de Avaliação da Unified Parkinson Disease (UPDRS). Essa escala muito mais complicada tem classificações múltiplas que medida a função motora, e também o funcionamento mental, comportamento, humor e atividades da vida diária. 15

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.                   http://www.opas.org.br/medicamentos/docs/pcdt/do_d12_01.pdf

2.                   http://www.news-medical.net/health/Parkinsons-Disease-Pathophysiology.aspx

3.                   Tatiana Iuriko Kawasaki Nakabayashi, Marco s Hortes Nisihara Chagas, Ana Carolina Lemos Corrêa,Vito r Tumasa, Sonia Regina Loureiro, José Alexandre S. Crippa  Prevalence of depression in Parkinson’s disease 2008

4.                   O’Sullivan SB, Schmitz TJ. Fisioterapia: avaliação e tratamento. 2a ed.

           São Paulo: Manole; 1993.

5.                   Cummings JL. Depression and Parkinson’s disease: a review. Am J

Psychiatry. 1992;149:443-54.

6.                   . Rickards H. Depression in neurological disorders: Parkinson’s disease, multiple sclerosis and stroke. J Neurol Neurosurg Psychiatry.

2005;76(1):48-52.

7.                   10. Mayeux R, Stern Y, Rosen J, Leventhal J. Depression, intellectual impairment, and Parkinson disease. Neurology. 1981;31(6):645-50.

8.                   Santamaria J, Tolosa E, Valles A. Parkinson’s disease with depression: a possible subgroup of idiopathic parkinsonism. Neurology.1986;36(8):1130-3.

9.                   . Errea JM, Ara JR. Depression and Parkinson disease. Rev Neurol.1999;28(7):694-8

10.                Schuurmann AG, Akker M, Ensinck KTJL, Metsemakers JFM, Knottnerus JA, Leentjens AFG, et al. Increased risk of Parkinson’s disease after depression. A retrospective cohort study. Neurology 2002; 58:1501-4.

11.                Leentjens AFG, Lousberg R, Verhey FRJ. Markers for depression in Parkinson’s disease. Acta Psychiatric Scand 2002; 106:196-201.

12.                  Prado RC, Barbosa ER. Depression in Parkinson’s disease: study of 60 cases. Arq Neuropsiquiatr. 2005;63(3B):766-71.

13.                Lacks J.; Silberman C.D. Engelhardt E.,; Uma revisão sobre depressão como fator de risco na Doença de Parkinson e seumimpacto na cognição 3 R. Psiquiatr. RS, 26'(1): 52-60, jan./abr. 2004

14.                Silberman Cláudia Débora, Laks Jerson, Rodrigues Cláudia Soares, Engelhardt Eliasz. Uma revisão sobre depressão como fator de risco na Doença de Parkinson e seu impacto na cognição. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul  [serial on the Internet]. 2004  Apr [cited  2012  June  26] ;  26(1): 52-60. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082004000100008&lng=en.  http://dx.doi.org/10.1590/S0101-81082004000100008.

15.                Hoehn MM, Yahr MD. Parkinsonism: onset, progression, and mortality. Neurology 1967; 17:427-42.

 

1-      Coordenadora da Disciplina de Psiquiatria do Departamento e Medicina da Universidade de Taubaté – UNITAU. [email protected]

 

 

 


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