Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Giovanni Torello

 

Setembro de 2012 - Vol.17 - Nº 9

Artigo do mês

ANTIDEPRESSIVOS E DISFUNÇÕES SEXUAIS – Parte 2

Carlos Alberto Crespo de Souza

1.      Introdução.

            No artigo anterior - Parte 1 - publicado na POLB em agosto/2012, foi mencionado que a sexualidade humana sofreu mudanças e diversidades ao longo de milhões de anos. Os humanos, como descrito, diferenciaram-se das outras espécies, mormente pelo fato de que possuem a capacidade de praticar o sexo não reprodutivo, de maneira prazerosa num contexto afetivo ou não.

            Outro fato abordado foi o de que muito cedo as atividades sexuais dos seres humanos sofreram influências normativas, quer seja por inspirações divinas, religiosas, culturais, médicas e até políticas. Porém, como citado, as normatizações não refletem a natureza do ser humano e de suas necessidades. 1  

            A parte 1 do artigo ocupou-se, sobretudo, com um breve histórico sobre o estudo da sexualidade humana e encerrou os comentários ao afirmar que, mesmo depois de séculos de avanços e retrocessos, permanece como um campo merecedor de atenção pela complexidade derivada do comportamento do ser humano enquanto composto por aspectos biológicos, psicológicos e sociais.

            A presente comunicação, avançando no tema sobre antidepressivos e disfunções sexuais, preocupou-se em descrever, sumariamente, a evolução da sexualidade humana e o ciclo sexual humano, os quais poderão ser lidos a seguir.      

2.      A evolução da sexualidade humana.

           Sem qualquer dúvida, a evolução da sexualidade humana é o resultado de milhões de anos de evolução. O sexo não começou com o homem e nem foi por ele inventado. A própria anatomia sexual humana é parte da antiga herança biológica do homem.

           Naturalmente, a sexualidade humana evoluiu ao lado de outras características somente encontradas na espécie humana, como o bipedalismo, a pele e a mão. Andar apenas sobre dois membros representou uma adaptação à vida nas savanas e não mais nas florestas. Os pés dos macacos estão adaptados à vida nas árvores, capazes de agarrar os galhos, mas nos hominídeos e humanos foram adaptados para caminhar e correr (A mudança climática na África – a qual determinou que grandes áreas de florestas cedessem lugar a savanas – fez com que uma parte dos ancestrais dos homens e dos macacos se adaptasse à vida no chão, onde é preciso caminhar e correr). 2

           O bipedalismo tem sido apontado como um fator essencial para a evolução humana porque livrou as mãos para outras tarefas. Isso teria não só desenvolvido uma extrema habilidade manual, mas também condicionado o próprio desenvolvimento da inteligência.

           A mão humana possui o polegar mais longo e mais afastado dos outros dedos do que nos chimpanzés e gorilas, o que permite sua utilização combinada com qualquer outro dedo da mão, possibilitando pegar objetos de vários tamanhos com a mesma eficiência em força e precisão. Esse fato deu ao homem uma capacidade muito variada no uso das mãos, permitindo a fabricação de uma infinidade de objetos diferentes.

           A pele humana, por sua vez, como possui poucos pelos e suas glândulas, dez vezes mais abundantes do que as do macaco, permite produzir suor que dissipa com maior eficiência o calor gerado pelo esforço muscular. Com isso, o ser humano pode correr ou manter uma marcha constante durante muito tempo, fazendo com que a resistência do ser humano seja bastante maior que a do macaco. Esse sistema refrescante possui grande importância na medida em que mantém a temperatura do corpo controlada e permite o bom funcionamento do cérebro, o qual possibilitou a sobrevivência dos ancestrais humanos no clima quente da África. 3   

           O cérebro da espécie humana possui o maior tamanho em relação ao seu próprio corpo. A média situa-se em torno de 1.400 cm3, enquanto o de um chipanzé é cerca de um terço disso. Comparações antropológicas têm mostrado uma sensível evolução nesse tamanho. O Homo habillis, de 2,4 milhões de anos atrás, possuía um cérebro de 750 cm3, o Homo ergaster, de 1,8 milhões de anos, já possuía 1.067 cm3 e o Homo heidelbergensis, mais recente, de 800 mil anos atrás, um cérebro de 1.120 a 1200 cm3. 4    

           O aumento do cérebro, em sua evolução, pode estar ligado ao desenvolvimento da inteligência ou, ao contrário, esses cérebros maiores criaram a oportunidade para o desenvolvimento posterior da inteligência.  

           Ao lado dessas alterações morfológicas, houve o desenvolvimento da linguagem articulada, diferenciando ainda mais o homem das demais espécies. De posse da capacidade de se locomover com rapidez graças ao bipedalismo e resistência ao calor, com mãos diferenciadas e habilidosas, com o surgimento da linguagem e da inteligência, com o aumento do cérebro para se adequar a todas essas habilidades, nasceu o Homo sapiens. Ele surgiu no continente africano, depois ocupou o continente asiático, o europeu e, finalmente, o americano.

           Com todos esses predicados, o homem passou a fazer e criar cultura, acumulando conhecimentos e passando-os adiante através da palavra dialógica, de desenhos e da escrita. Na década de 1930, a seleção natural darwiniana foi combinada com a hereditariedade mendeliana para formar a síntese evolutiva moderna, em que foi feita a ligação entre unidades de evolução (genes) e o mecanismo de evolução (seleção natural). Esta combinação teórica, com grande poder preditivo e explanatório, tornou-se o pilar central da biologia moderna, oferecendo uma explicação unificadora para toda a diversidade da vida na terra. 5  

           Acompanhando as alterações morfológicas já descritas (bipedalismo, mãos, etc.), outras estruturas físicas se alteraram. As mamas, nas mulheres, passaram a se localizar no tórax, ao invés de próximas à virilha como nas vacas ou em outros animais quadrúpedes. Com o bipedalismo e a habilidade das mãos, a prole pôde ser alimentada com segurança, quer seja nas árvores ou em outros locais. Ao mesmo tempo, o número de glândulas mamárias passou a ser proporcional ao número da capacidade reprodutiva, refletindo quantos nascem a cada vez. “Porcas e cadelas dão à luz a uma ninhada e têm muitas glândulas mamárias; elefantes e seres humanos dão à luz prole muito reduzida (geralmente apenas um) e têm poucas glândulas”. 6

           A cópula humana – inserção do pênis do macho na vagina da fêmea – não necessita de maiores entendimentos ou explicações sobre esse modo de acasalamento sexual. Este é o padrão geral para todos os mamíferos e deve ser compreendido como parte da herança que o homem adquiriu.

           Sobre a reprodução sexuada cabe mencionar que ela envolve uma transferência de material genético de um organismo a outro da mesma espécie. Com isto, há uma extraordinária vantagem em assegurar a sobrevivência de uma espécie num determinado ambiente em modificação.

           Porém, nesse processo há também desvantagens. Há um período relativamente longo de desamparo na história da vida de um animal nascido da reprodução sexuada, vítima preferencial de predadores. No que concerne aos seres humanos, tal desamparo dura muitos anos e gera sentimentos permanentes em sua existência.

           Sobre esse desamparo biológico nos seres humanos, Lemmertz, citando a Huxley, registra que o homem se caracteriza por um índice de desenvolvimento extremamente lento com relação ao dos outros mamíferos, e que este fato constitui uma característica única do ser humano ao lado de outras situações também pertinentes só a ele. Sob o ponto de vista do comportamento, o desamparo biológico se manifesta pela ausência de padrões rígidos de conduta, o que equivale a dizer que o ser humano não apresenta manifestações de conduta instintiva: “Mesmo o comportamento sexual dos seres humanos, tradicionalmente considerado uma manifestação instintiva, revela uma motivação psicológica que diverge profundamente das hipóteses biológicas”. 7

           Por outro lado, o desamparo biológico desenvolve no ser humano uma condição de dependência conspícua que permeia sua existência e a qual, segundo Lemmertz, “constitui o eixo em torno do qual giram todos os fenômenos da psicopatologia humana”.

           Outras características, ao lado do desamparo biológico, distinguem o homem dos demais seres biológicos. Ele é o único ser que possui consciência de si mesmo, capaz de se objetivar, isto é, de observar-se e investigar a respeito das suas origens e finalidades, e encontra a sua máxima expressão na utilização da linguagem articulada.

           A capacidade de se orientar no tempo, de estabelecer uma discriminação entre passado, presente e futuro constitui outra característica especificamente humana. Isso lhe permite visualizar sua finitude ou a certeza de sua morte e a responsabilidade sobre seu destino. Sua capacidade de poder antecipar o futuro traz consigo a necessidade de realizar escolhas entre diferentes modalidades de ação e torna o homem responsável por suas decisões. Naturalmente, a antecipação do futuro, o qual pode trazer consigo o acaso, o imprevisto e o incontrolável, provoca angústia e, em casos extremos, uma tentativa de negação de qualquer responsabilidade.

           Outra característica do ser humano é sua premente necessidade de autonomia e ilimitada capacidade de realização e superação de obstáculos. A premente necessidade de autonomia se opõe radicalmente aos fenômenos da extrema fragilidade biológica e da dependência psicológica consequente. Com frequência estas duas características entram em choque no mundo psíquico interno das pessoas. As relações interpessoais cruzam com estas características opostas e apenas o equilíbrio entre as duas necessidades é que permite uniões saudáveis, o que não é fácil sem dúvida alguma.

           Lemmertz, ao resumir as características do ser humano, assim se pronunciou: “A pessoa humana não é apenas um ser essencialmente sexual, nem um monstro de agressividade, senão apenas um indivíduo fraco e desamparado. Seus problemas e conflitos não decorrem de motivações instintivas, mas sim das contradições inerentes à própria condição humana; assim nos defrontamos com um ser biologicamente frágil, dependente e que, no entanto, não pode viver satisfatoriamente sem autonomia; não suporta a solidão apesar de que a consciência que possui de si mesmo o torna profundamente só; necessita sentir-se seguro e, no entanto, sua capacidade de prever o futuro e a certeza de sua morte lhe trazem a convicção profunda da precariedade dos planos que estabelece e o conhecimento de que está permanentemente sujeito ao imprevisto e ao acaso; por este motivo tenta com frequência se refugiar na irresponsabilidade e no determinismo, embora verdadeiramente jamais o consiga. Estas contradições constituem o aspecto trágico e terrível da condição humanaIbidem.  

           Todos esses componentes que caracterizam o ser humano irão estabelecer e influenciar as relações humanas de um modo geral e, igualmente ou de forma mais marcante, os relacionamentos sexuais/afetivos. Portanto, os aspectos psicológicos não podem ser desmerecidos ou minimizados quando são avaliados os comportamentos relacionados às disfunções sexuais.

           De acordo com Mott, quando se discute sobre sexualidade humana é fundamental esclarecer os seis principais significados que o termo sexo pode assumir no discurso científico: o sexo genético, gonadal, anatômico, psicológico, social e erótico. 8

           O sexo genético é decorrente dos cromossomas, o código biológico mediante o qual cada pessoa terá suas próprias características físicas. Ao se reunirem dois cromossomas XX o indivíduo será fêmea, se a união dos cromossomas for XY, será macho.

           O sexo gonadal é composto pelas glândulas responsáveis pela diferenciação dos dois sexos. No homem é representado pelos testículos, que produzem espermatozoides e os hormônios masculinizantes (testosterona) e, na mulher, representado pelos ovários que produzem os óvulos e demais hormônios responsáveis pelas características sexuais femininas (progesterona).

           O sexo anatômico é o aspecto exterior do corpo humano que distingue o aparelho sexual da mulher (vulva) do órgão sexual do homem (pênis). São chamados também de órgãos genitais.

           O sexo psicológico é conhecido como “identidade sexual”, forma como cada indivíduo percebe e reconhece sua própria condição existencial enquanto pertencente ao universo masculino ou feminino.

           O sexo social, também chamado de “papel de gênero”, é a forma específica como a pessoa vai representar o personagem que cada cultura atribui historicamente a mulheres e homens através do processo de socialização.

           O sexo erótico é referido como “orientação sexual”, ou seja, o objeto de desejo para o qual o ser humano dirige sua libido, podendo ser heterossexual, homossexual ou bissexual. 

           Tais distinções, no entendimento de Mott, são fundamentais para a compreensão da sexualidade humana, pois diferentemente do que ocorre e é observado no mundo animal irracional - onde a diferenciação e performance sexuais são determinadas geneticamente, sendo a resposta instintiva quase igual e padronizada para todos os indivíduos da mesma espécie – entre os humanos, a vivência sexual é marcadamente polimorfa, dada a complexidade do córtex cerebral e a diversidade das respostas culturais. 

           Como consequência dessa diversidade, um mesmo indivíduo pode ser genética, gonadal e anatomicamente macho e, no entanto, identificar-se e viver psicológica, social e eroticamente como mulher, ou vice-versa. Ibidem

           Cabe assinalar ainda que a reprodução sexuada pode ter outra desvantagem se pensarmos que a reprodução genética pode ser perigosa ou reprodutora de doenças. Cada vez mais, com a descoberta do genoma humano, portadores de um gene deletério e transmissor de alguma patologia grave poderão ter, em futuro próximo, repercussões psicológicas e comportamentais em suas relações com outras pessoas.          

3.      O ciclo sexual humano.         

            Na década de sessenta, Masters e Johnson, em 1966, um casal de pesquisadores/terapeutas norte-americanos, analisou o comportamento sexual de inúmeros casais em seu estudo denominado de Ciclo da Resposta Sexual e publicou um libro que marcou época: A Resposta Sexual Humana. Nesse livro relataram seus resultados na observação de 694 pessoas (382 mulheres e 312 homens), entre as idades de 18-89 anos, que mantiveram relações sexuais em laboratório. O resultado desse estudo dividiu o ato sexual em quatro fases: excitação, platô, orgasmo e resolução. 6 

            Anos mais tarde, já na década de setenta, a psiquiatra Helen Singer Kaplan, também pesquisadora/terapeuta do desempenho sexual de casais, observou que antes da excitação existia o desejo e que a fase de platô não era justificável. Com isto, reformulou o entendimento do ciclo, passando a ser formado por três fases: desejo, excitação e orgasmo, sendo que o desejo está relacionado à atração, o querer o outro e à vontade do contato físico; a excitação envolve as sensações de prazer sentidas e a elaboração do corpo para a relação sexual, e o orgasmo sendo o pico dessa atividade, onde descargas de energia proporcionam uma sensação de prazer intenso. 6,9

            O ato sexual apresenta uma quarta fase que não faz parte do ciclo, porém está presente no sexo masculino, a resolução, onde após todo o processo o corpo sofre um período de relaxamento e bem-estar. Diferentemente, a mulher, logo depois do orgasmo, pode ser novamente estimulada e iniciar outro ciclo excitatório e ter múltiplos orgasmos.               

            Por sua vez, a fisiologia do ciclo sexual envolve uma complexa relação entre fatores neurogênicos, psicológicos, vasculares e hormonais que são coordenados pelo hipotálamo, sistema límbico e centros do córtex cerebral. Na atualidade é aceito que a função sexual humana é influenciada pela intervenção de muitos neurotransmissores, tais como dopamina, serotonina, noradrenalina, acetilcolina, ácido gammaminobutírico (GABA), ocitocina, arginina-vasopressina, angiotensina II, liberação do hormônio do crescimento (GRH), substância P, neuropeptídio Y, colecistocinina 8, entrem outros. 10  

            Além dos neurotransmissores, os hormônios sexuais, com destaque para a testosterona e a ocitocina, são importantes mediadores do ciclo sexual humano (neuromoduladores). Laços complexos de realimentação positivos e negativos afetam essas substâncias. Como exemplo, a testosterona pode ser modulada pela dopamina e pela serotonina, elevações nos níveis de prolactina diminuem a excitação sexual e outras fases do funcionamento sexual. A progesterona pode mediar à receptividade para a aproximação de um companheiro, porém inibir o desejo e a atividade sexual. A ocitocina pode promover a receptividade e o orgasmo. 11 

            Para Traish e cols. as respostas do despertar feminino à estimulação sexual são processos neurofisiológicos complexos consistentes de componentes centrais e periféricos. As respostas periféricas incluem vasocongestão genital, ingurgitamento e lubrificação resultantes de uma onda de fluxo sanguíneo vaginal e clitoriano e esses eventos são mediados por numerosos agentes neurotransmissores e vasoativos. 12   

            A ereção peniana também acontece como resultado de um complexo processo neuropsicológico. Estímulo cortical alto e um arco reflexo sacral mediado pelo parassimpático se combinam para estimular a ereção. O estímulo nervoso viaja através dos nervos pudendos, os quais atravessam a face posterolateral da próstata. Terminando no pênis, esses nervos noradrenérgicos/não colinérgicos ativam a síntese de óxido nítrico, produzindo óxido nítrico, o qual relaxa os músculos lisos ao longo dos espaços sinusoidais que conectam as arteríolas e vênulas dentro do corpo cavernoso. O fluxo sanguíneo dentro do sinusoide aumenta consideravelmente, distendendo-o e comprimindo as vênulas, causando veno-oclusão. O aumento do fluxo e a veno-oclusão, conjuntamente, determinam a rigidez peniana. 13  

            A ejaculação é controlada pelo sistema nervoso simpático. A estimulação alfa-adrenérgica produz contrações no epidídimo, vasos deferentes, próstata e músculos do assoalho pélvico. O orgasmo é uma sensação muito prazerosa que ocorre no cérebro, em geral simultaneamente com a ejaculação Ibidem.             

      Abaixo, tabela com a ação dos neuromoduladores.

 

Desejo

       Excitação

Comportamento

Prazer

Receptividade

Orgasmo

Estrógeno

    +

       +

 

 

 

 

Testosterona

    +

       + (homens)

           +

       +

 

 

Dopamina

    +

       +

 

 

 

      +

Progesterona

   (-)

       +

 

 

           + (-)

 

Ocitocina

 

 

 

 

           +

      +

Norepinefrina

 

      +

 

 

 

 

Serotonina (5-HT2)

    + (-)

 

 

 

 

      + (-)

Prolactina

 

      (-) (quando elevada)

 

 

 

      + (homens)

Óxido Nítrico

    +

       +

 

 

 

 

Peptídeo Intestinal Vasoativo

 

       +

 

 

          +

 

Neumoduladores envolvidos nas fases do ciclo sexual

           O estrógeno e a progesterona são hormônios produzidos pelos ovários e responsáveis pelo desenvolvimento sexual da mulher e pelo ciclo menstrual. Os estrógenos ou estrogênios são realmente vários hormônios diferentes chamados de estradiol, estriol e estrona, porém têm funções semelhantes e estruturas químicas idênticas, por isso sendo considerados como um único hormônio.

           O estrogênio é responsável pelo aumento da musculatura uterina, da vagina, desenvolvimento dos lábios que a circundam, o nascimento dos pelos pubianos, alargamento dos quadris e pela forma ovoide do estreito pélvico (no homem é afunilada), desenvolvimento das mamas e de suas glândulas e concentração do tecido adiposo nos quadris e coxas, conferindo à mulher o arredondamento típico de suas formas.  

           A progesterona tem pouco a ver com o desenvolvimento dos caracteres sexuais femininos; está relacionada com a preparação do útero para a aceitação do embrião e preparação das mamas para a secreção láctea. Também é responsável pela inibição das contrações uterinas que impedem a expulsão do embrião que está sendo implantado ou do feto em desenvolvimento. 

           A testosterona é produzida quase que totalmente nos testículos, sintetizada a partir do colesterol e secretada pelos testículos em resposta ao hormônio luteinizante (HL) que é liberado pela adeno-hipófise juntamente com o hormônio folículo-estimulante (HFS) e a prolactina. É o hormônio sexual masculino mais importante e atua em vários setores do organismo, sendo responsável pela manutenção dos músculos, ossos, gorduras, espermatogênese, etc. e pelos comportamentos como libido, agressividade e emoções.

           A testosterona faz com que se formem os testículos, a próstata, o pênis e as vesículas seminais durante a fase embrionária, na presença do cromossoma Y. Depois dos quarenta anos há um declínio gradual na produção de testosterona, com queda estimada em torno de 1% ao ano. 

           A testosterona é a responsável, ainda, pelos caracteres secundários sexuais dos homens, tais como o crescimento dos pelos na face, ao longo da linha média do abdome, púbis e tórax. Ao mesmo tempo, estimula o crescimento da laringe, o que confere a eles uma voz mais grave, propicia um aumento de depósito de proteínas nos músculos, pele e ossos os quais favorecem o crescimento corporal como um todo.        

           A dopamina exerce efeito sobre o desejo, excitação e orgasmo, sendo considerada como proativa na sexualidade. Em consequência, as medicações que estimulam a produção e ação da dopamina possuem efeitos benéficos sobre a sexualidade, tais como a L-dopa e bromocriptina. Medicações antagonistas podem provocar disfunção eretiva.

           O sistema dopaminérgico é formado por cinco receptores que podem dividir-se em duas subfamílias de acordo com suas propriedades farmacológicas.  

           A ocitocina está claramente envolvida na reprodução humana e exerce um papel importante no estímulo sexual. Medidos, os valores da ocitocina um minuto após o orgasmo foram significativamente mais altos do que os níveis basais, sustentando a hipótese de que exerça papel significativo na resposta sexual, tanto na função neuroendócrina como no comportamento pós coital. Seus níveis se elevam durante o ato sexual e atingem o pico um pouco antes do orgasmo, sugerindo que o hormônio representa uma resposta central ao prazer sexual. 14 

           Tanto a amamentação como o ato sexual dependem de níveis elevados de ocitocina, um hormônio que tanto regula a produção de leite, como também deixa a mulher receptiva ao ato sexual. Importante consignar que, embora raro, é normal ficar a mulher excitada ou mesmo chegar a um orgasmo durante a amamentação. Portanto, podem algumas mulheres experimentar esta sensação e não devem ficar preocupadas ou sentirem-se culpadas caso isso acontecer. Ibidem

           Os níveis de ocitocina elevam-se durante o ato sexual e atingem seu pico um pouco antes do orgasmo, sugerindo que o hormônio é uma resposta central ao prazer sexual. Os níveis de ocitocina também se mostram elevados por ocasião de fantasias sexuais com um determinado parceiro.   

           A norepinefrina ou noradrenalina é um neurotransmissor que possui papel significativo no comportamento sexual, atuando de maneira central e periférica. Sua concentração sérica aumenta durante a atividade sexual tanto masculina quanto feminina, e um aumento no tono central resulta em maior atividade sexual. 

           A serotonina é o neurotransmissor com maior relação com a depressão. Há consenso na literatura de que as medicações utilizadas no tratamento da depressão que utilizam como mecanismo o aumento da concentração de serotonina provoquem paraefeitos sexuais, tais como diminuição do desejo, disfunção erétil, dificuldade ejaculatória e anorgasmia. A frequência de disfunção erétil sugere que a serotonina também deva atuar em nível periférico.

           A prolactina ou hormônio lactogênico é uma glicoproteína secretada pelas células mamotróficas da adeno-hipófise que estão presentes tanto no sexo masculino como no feminino, sendo mais numerosas nas mulheres. Ela atua sobre as glândulas mamárias, estimulando o crescimento das mamas e a produção de leite durante a fase pós-parto.       

           A acetilcolina possui papel limitado na atividade sexual, embora o funcionamento sexual normal dependa de um balanço adrenérgico-colinérgico.  

           O óxido nítrico, um neuropeptídio, é um dos principais responsáveis pela ereção masculina e teria ação sobre a vasocongestão e tumescência clitoriana feminina. 

           O peptídeo intestinal visoativo (VIP) é um hormônio peptídeo com 28 aminoácidos e é produzido em muitas áreas do corpo humano, como no intestino, pâncreas e núcleos supraquiasmáticos do hipotálamo. É responsável pela secreção de água no suco pancreático e biliar. No intestino estimula a secreção de água e eletrólitos, assim como a contração dos músculos entéricos lisos, dilatando os vasos sanguíneos e estimulando o pâncreas.

           Durante uma relação sexual/afetiva ele provoca a lubrificação vaginal na mulher, dobrando o volume usualmente produzido.  

           O sistema gabaérgico é um sistema inibitório por excelência do sistema nervoso central (SNC), formado por neurônios que contêm ácido gammaminobutírico (GABA) e se encontram distribuídos por todo o SNC e atua através de dois tipos de receptores: GABA A e GABA B.

           A seguir, na Parte 3, serão estudadas as disfunções sexuais propriamente ditas e sua relação com os antidepressivos. 

4.      Referências

1.      Crespo de Souza CA. Antidepressivos e disfunções sexuais - Parte 1. Psychiatry on line Brasil. 2012 Agosto; vol. 17, nº 8.

2.      Histoblog – A evolução da espécie humana. Disponível em http://histoblogsu.blogspot.com/2009/10/evolucao-da-especie-humana.html. Acessado em 05/05/2011.

3.      Histoblog – A evolução da espécie: bipedalismo, pele e mão humana. Disponível em http://histoblogsu.blogspot.com/2009/10/evolucao-da-especie-bipedalismo-pele-e.html. Acessado em 05/05/2011.  

4.      Histoblog – A evolução da espécie: o tamanho do cérebro. Disponível em http://histobloggsu.blogspot.com/2009/10/evolucao-da-especie-humana-o-tamanho-do-cerebro.   Acessado em 05/05/2011. 

5.      Evolução – Wikipedia, a enciclopédia livre. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%/A7%/C3%/A3o. Acessado em 08/05/2011.  

6.      Gregersen E. Práticas Sexuais – A História da Sexualidade Humana. São Paulo: Livraria Roca, 1983. 323 p.

7.      Lemmertz J. Psicanálise e Psicoterapia. Editado pelo Autor. Porto Alegre, 1966.

8.      Mott L. Teoria Antropológica e Sexualidade Humana. Disponível em http://www.antropologia.ufba.br/artigos/teoria.pdf. Acessado em 05/05/2011.

9.      Fisiologia do Ato Sexual – Infomedica Wiki. Disponível em http://pt-br.infomedica.wikia.com/wiki/Fisiologia_do_Ato_Sexual. Acessado em 23/04/2011.

10.  Montejo AL, Majadas S. Sexual disturbances associated with antidepressant treatments. In: WPA Bulletin on Depression. Archives 1993-2006. Vol. 9 – nº 28, 2004.

11.  Marzani-Nissen G, Clayton A. Sexual disturbances in depression. In: WPA Bulletin on Depression. Archives 1993-2006. Vol. 9 – nº 28, 2004.

12.  Traish AM, Botchevar E, Kin NN. Biochemical factors modulating female genital sexual arousal physiology. J Sex Med. 2010 Sep; 7(9): 29-46.

13.  Male Sexual Dysfunction: Male reproductive endocrinology Merck manual professional. Disponível em http://www.merckmanuals.com/professional/sec17/ch227/ch227c.html. Acessado em 30/04/2011. 

14.  Ocitocina e Sexualidade. Anestesiologia.com.br. Disponível em http://www.anestesiologia.com.br/anestesinfo.php?itm=85. Acessado em 14/05/2011.

*Parte 2 – extrato de estudo sobre “Antidepressivos e disfunções sexuais”. O texto, em sua íntegra, poderá ser encontrado no livro “O uso de antidepressivos na clinica médica”. Porto Alegre: Sulina, 406 p., Coordenado por Crespo de Souza.  

Endereço para correspondência: [email protected]


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