Volume 16 - 2011 Editor: Giovanni Torello |
Março de 2011 - Vol.16 - Nº 3 France - Brasil- Psy Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO Quem somos (qui
sommes-nous?)
France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on
line”oferto aos profissionais do setor da saúde mental de expressão
lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar
traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a
psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões
e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de
sites. Qui sommes- nous ? France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on
line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression
lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des
traductions et des articles en français et en portugais concernant la
psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques
habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et
d’associations, sélection de sites
1) TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS, TELEVISÃO E INTERNETE Eliezer de Hollanda Cordeiro Num chat com leitores do jornal Le
Monde(18.02.11 ), moderado pela jornalista
Emmanuelle Chevallereau, o psiquiatra
e psicanalista Serge Tisseron, colaborador da revista Psychiatrie Française e especialista das novas
tecnologias, discutiu com
internautas sobre o seu livro mais
recente , " Faut-il interdire les
écrans aux enfants’’?(É preciso
interditar os écrans às
crianças?") ( éd. Mordicus, com Bernard Stiegler, 2009. Fiz então o resumo
da troca de idéias entre o autor e os leitores deste importante jornal francês.
INQUIETAÇÃO DOS
PAIS Psicólogos e psiquiatras estão constatando
o aumento das consultas de crianças e adolescentes com transtornos
relacionais e do comportamento ligados à utilização excessiva e precoce da internete e da televisião. Professores também chamam a atenção sobre a
recrudescência de comportamentos instáveis e dificuldades de
concentração em alunos, em torno dos 9
anos de idade. Os pais desses grandes utilisadores de jogos videos e das
redes sociais têm razão de se mostrarem
inquietos, muito embora nem todos os jovens venham a sofrer mais tarde de
transtornos psicológicos relacionados com tais práticas. Contudo,os pais e os adultos responsáveis devem tomar
precauções, como por exemplo as enumeradas pela Academia Americana de
Pediatria em 1999. Ela publicou um guia postulando a interdição da televisão
e da Internete antes dos 3 anos, recomendando sua utilização 1 hora por dia de
Notemos entretanto que uma
interdição tão drástica pode
comportar o risco de marginalizar
crianças, suscitando-lhes conflitos
inúteis com os seus desejos, em fase com a época em que vivem. Se o tempo de utilização dos écrans pelas crianças
deve ser determinado, os adultos podem se conduzir de maneira mais inteligente, interessando-se pelo conteúdo dos programas que elas olham e
a maneira como brincam.. RISCOS DE TRANSTORNOS MENTAIS O uso intensivo dos
computadores e televisões pode causar transtornos mentais? Os especialistas, admitem em
todo o caso que isto pode modificar a relação da criança com e espaço e o tempo, perturbando-lhe a
construção da identidade, notadamente quando as atividades lúdicas são
solitárias. Mesmo assim, a porcentagem
de crianças apresentando transtornos mentais não parece haver aumentado muito
depois do aparecimento da televisão e da internete. Entretanto, pesquisadores
pensam que o hábito de passar horas a
jogar, a praticar a Internete, a olhar a televisão pode ser comparado ao uso de uma droga e aos efeitos
químicos(dopamina) e psicológicos que ela produz. Aviel Goodman, por
exemplo, defendeu em 1990 a idéia de
que pode haver fenômenos adictos sem substâncias. Se fosse o caso, os efeitos
produzidos pela Internete e a televisão
seriam equivalentes aos comportamentos adictos
dos que se drogam com medicamentos? A maioria dos especialistas rejeita
esta hipótese, outros salientam, ao
contrário, os efeitos benéficos que crianças e adolescentes podem obter quando participam de bincadeiras em linha ou conversam com
amigos pelas redes sociais. Cuidados particulares devem ser levados em conta entre
3 e 6 anos de idade, período em que a criança
precisa utilizar os 10 dedos.É a
razão pela qual o programa de ensino
nesta faixa etária comporta atividades manuais como cortar,colar,
dobrar, colorir, etc. De fato, a
ativação dos dez dedos permite a maturação das regiões cerebrais, levando a
criança a apreender objetos em tres
dimensões. BRINCAR SOZINHO É UM SINAL DE ALARME O problema começa quando as crianças brincam sozinhas. A simples
observação mostra que as redes sociais oferecem a possibilidade de trocas de
informações e idéias em tempo real. E que os jovens, ao
contrário dos adultos, encontram sobretudo, nessas rede, pessoas da mesma idade e que elas
conhecem.Mas por precaução, os pais sempre devem perguntar aos filhos se eles
brincaram sozinhos ou com amigos. Se a
resposta for que eles brincaram com outras crianças, sobretudo com colegas de
aula,os pais podem ficar tranquilos. Se disserem que brincaram
com pessoas desconhecidas, os pais devem procurar saber quem são estas pessoas. Se disserem que brincaram sozinhos, os pais devem evitar os riscos de uma
relação virtual solitária dos filhos com
as máquinas. Naturalmente, os pais devem dar
o exemplo e oferecer pontos de referências aos filhos para que eles
não identifiquem aos
modelos que percebem nas telas.
As novas tecnologias não devem tomar o lugar dos adultos na transmissão de normas e valores. De um modo geral, todos os jogos eletrônicos são
capazes de sociabilisar a criança,
levando-as a colocar questões e a
resolver problemas imprevistos, favorecendo o seu desenvolvimento. Ao contrário,
todas as atividades e jogos
repetitivos, estereotipados e sobretudo solitários são inquietantes. Muitos pais, preocupados com a influência das
imagens sobre os filhos, preferem visionar DVDS
em vez de ligar a televisão. Esta fórmula apresenta uma vantagem
enorme : ela permite que a criança
possa escolher o que ela quer ver, decidir de rever o filme várias vezes para melhor entender
a história, o que pode favorecer o desenvolvimento da memória. IMPORTÂNCIA DO EXEMPLO PARENTAL Os adultos são muitas vezes
os primeiros a dar o máu exemplo, passando inúmeras horas por semana a
consultar seus correios ou a contactar amigos nas redes sociais. Um recente trabalho americano mostrou que as crianças
que mais olham televisão são aquelas cujos pais olham demasiadamente a
televisão... Dito de outra maneira, se os pais quiserem que seus filhos
olhem menos a televisão, é melhor que
eles comecem a reduzir o tempo que passam a olhar programas. Enfim, a propósito das redes sociais, é importante que a família tenha momentos onde cada
pessoa possa falar da maneira como ele
utiliza a televisão e a internete.O
melhor momento para abordar este assunto é durante o jantar, quando a família está reunida e a televisão desligada. Se os pais nunca ligam a televisão, é melhor que eles
expliquem aos filhos porque tomaram esta
decisão, prontificando-se a discutir com
eles se quiserem olhar a televisão fora
de casa. O PAPEL DO ENSINO ESCOLAR Comos os pais, a escola também desempenha um papel
muito importante na educação das
crianças, ensinando-as a se
familiarisar com o vasto domínio das novas tecnologias. A escola deve explicar
às crianças, desde o curso primário, as tres regras básicas da Internete:tudo o
que se coloca nela pode cair no domínio
público, vai permanecer eternamente e nem sempre é verdade. A escola deve também explicar os modelos econômicos que existem por trás de
Facebook, YouTube, Dailymotion... bem como a importância do direito das pessoas
à dignidade e à imagem. Enfim, a escola não
deve ser somente um lugar para o ensino das novas tecnologias, ela deve também
cuidar do nível de conhecimento dos
professores para que eles possam ser capazes de alertar as crianças sobre os perigos e as ciladas
contidos na internete. 2)
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA BUSCA NOVOS BENEFÍCIOS (Comentários
da jornalista Marie Cailletet a prpósito do documentário Les nouveaux jackpots de l’industrie pharmaceutique, realizado por
Sophie Bonnet, visto na cadeia de
televisão Planète,em 17 de Março de 2011 Tradução
e resumo:Eliezer de Hollanda Cordeiro A
jornalista, Marie Cailletet, comentou na revista semanal Télérama, a estratégia rentável que laboratórios
farmacêuticos estão adotando atualmente. A jornalista coloca as seguintes
questões: depois do sucesso
do Viagra
, os laboratórios farmacêuticos estariam procurando encontrar algo semelhante
para as mulheres?O fato é que eles começaram uma grande campanha de
comunicação publicitária sobre os ‘’disfuncionamentos’’ de 43% da
população feminina que sofreria de
frigidez.Isto não seria uma maneira de preparar o terreno para a nova pílula
milagrosa que deve acabar com este
presumido flagelo? Marie
Cailletet, cita ‘’a indignação e o protesto do sexologista Jacques Waynberg, afirmando que
somente A
jornalista elogia ‘’as vozes que discordam e denunciam esta mensagem
venal, (...) as dos
serviços de marketing das emprezas, as opiniões de experts nem sempre
independentes’’, defendendo a idéia de
que deve haver um medicamento para cada
pessoa porque todo mundo é doente ou é um doente que se ignora’’. Foi assim que ‘’a impotência e a
ejaculação precoce entraram no repertório das doenças mentais do DSM, o manual de referência
editado pela Associação Americana de Psiquiatria.’’ ‘’Ainda
mais, um
especialista prevê que
outras doenças mentais vão aparecer este ano: infidelidade, angústia
relacionada com o aquecimento planetário, pessoas que somente comem alimentos
biológicos...” ‘’Baseando-se
em exemplos bem conhecidos( impotência, obesidade, colesterol...), a reportagem
denuncia, de maneira implacável, os conluios
que podem existir entre médicos e laboratórios. Dificil de não ver em
tudo isto um plano recorrente, após o episódio pitoresco
da campanha nacional de vacinação contra
a gripe A(H1N1) na França e o escândalo sanitário
do Médiator.Sem versar na paranóia, seria bom que fossem criados comitês independentes para a avaliação dos
riscos e das indicações terapêuticas.’’
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