Volume 15 - 2010
Editor: Giovanni Torello

 

Dezembro de 2010 - Vol.15 - Nº 12

France - Brasil- Psy

Coordenação: Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

Quem somos (qui sommes-nous?)                                  

France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on  line”oferto aos  profissionais do setor da saúde mental de expressão  lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de sites.

Qui sommes- nous ?

France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais  concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et d’associations, sélection  de sites

SOMMAIRE (SUMÁRIO):

 

  • 1. A MEDICINA GERAL É UMA CIÊNCIA?
  • 2. REVISTAS
  • 3. ASSOCIAÇÕES
  • 1)A MEDICINA GERAL É UMA CIÊNCIA?

    Entrevista dada por François Dagognet a Serge CANNASSE para os Carnets de santé.

    Tradução e resumo:Eliezer de Hollanda Cordeiro

     

    Nota do tradutor: Autor de dezenas de livros, como podemos ler na Wikipédia francesa, François Dagognet é filósofo e médico, com sólida formação em neuro-psiquiatria. Foi aluno  de Georges Canguilhem. Ensinou filosofia na université de Lyon III, depois na université Paris I.

     

    Entre os livros que publicou, citemos :’’La Raison et les Remèdes’’(A Razão e os Remédios), 1964, PUF; ‘’Le Vivant’’ (O Vivente), juin 1988, Bordas/Philo ;  ‘’Pasteur sans la légende’’(Pasteur sem a legenda), Empêcheurs de Penser En Rond, 1994 ;  ‘’Pour une philosophie de la maladie’’(Por uma filosofia da doença), entrevista com Philippe Petit, Les éditions Textuel ; ‘’Conversations pour demain’’(Conversações para amanhã), Paris, 1996 , (ISBN 2-909317-18-8) ;   ‘’Le Catalogue de la Vie’’ (O Catálogo da Vida): estudo metodológico da taxinomia, (avril 2004), PUF/Quadrige ;  La subjectivité(A Subjetividade), Empêcheurs de Penser En Rond, 2004 ;  Philosophie du transfert (Filosofia da transferência), Michalon, 2006.

    Para o filósofo e médico François Dagognet, a separação entre medicina geral e medicina especialisada é nítida: a primeira se funda na relação, a segunda na razão; uma é clínica, outra é técnica.

    Para ele,o termo medicina ‘’geral’’ significa que  toda doença concerne o organismo inteiro, tende a influenciar a totalidade do corpo vivente.

    Assim, falar de medicina geral é uma redundância porque  não existe doença isolada e que  a medicina é geral ou ela não é.

     

    Entrevista

    Serge CANNASSE: Quais são as diferenças entre médicos clínicos e  médicos especialistas?

    Os médicos clínicos  dão importância ao aspecto relacional,são pertos do doente, buscam os sintomas mas interpretam-nos  levando em conta o contexto do doente. Os especialistas privilegiam o racional, são hipertécnicos.As duas orientações são diferentes, seus  objetivos não são idênticos, os resultados também não. Elas também  não demandam a mesma motivação, nem a mesma formação.

    A separação entre as duas medicinas é inevitável?

    O que atualmente percebemos é uma separação das duas medicinas.  Ora, isto é péssimo para o exercício da medicina porque as duas práticas mencionadas  são indispensáveis, embora sejam divergentes.Na realidade,a clínica  geral está se empobrecendo, vive sob a dependência da medicina hipertécnica,  a dos serviços hospitalares e dos professores que neles trabalham. O médico hipertécnico tem a última palavra.

    Isto significa que os generalistas não cuidam dos pacientes?

    Naturalmente, os médicos generalistas continuam cuidando de pacientes,  mas 80 % das pessoas que consultam-nos são pseudo doentes! Isto é, o médico  generalista recebe pacientes com problemas que necessitam, antes de tudo,  conselhos dietéticos sobre a maneira como devem viver, a necessidade de deixar de fumar,de fazer exercícios, etc. A intervenção do médico generalista é frequentemente  profilática.   Como ocorre com pacientes que têm cifras de hipertenão arterial elevadas mas não apresentam outros sintomas.

    A medicina geral não seria uma ciência ?

    Sim, é a ciência da leitura dos sintomas.Não é uma ciência no sentido físico-matemático, mas uma disciplina rigorosa que  procura tranquilizar os pseudo doentes  que somatizam, uma hermenêutica que seleciona estes doentes para envia-los ao hipertécnico. Somatizar é algo muito sério, decriptar uma somatização é uma verdadeira proeza que  exige muito talento. Imaginem, por exemplo, os distúrbios da vida sexual. Para compreendê-los, é preciso conhecer a vida do doente,  levá-lo a falar, escutá-lo. O hipertécnico não se ocupa com isso, não precisa dos sentimentos do doente.

    Uma comparação pode ser feita entre medicina geral e psiquiatria?

    Isto não é possivel   porque o médico generalista não aprendeu a psiquiatria, é  impotente  diante de um doente psiquiátrico. Por exempo, uma mulher é hospitalizada por um delírio agudo, rapidamente sedado por um tratamento neuroléptico; ele recebe alta ao fim de duas semanas. Dias depois, é preciso hospitalisar seu marido, porque ele vai bem quando sua mulher está doente e cai doente quando ela fica boa. É preciso ser muito forte para designar como doente aquele que, aparentemente, está bem de saúde. E considerar como sadio aquele que está com uma doença aguda!   O generalista não possui os meios para fazer esta estraordinária ginástica. Ele ocupa-se dos distúrbios e dos funcionamentos. A medicina geral é uma ciência humana, como  a psicanálise. Hoje, Freud é detestado, embora seja um modelo para os generalistas.Esquecemos que ele foi um clínico genial: inventou uma disciplina que ajuda a identificar sinais que não tínhamos o hábito de levar em conta. Por exemplo, eventualmente considerar como um sintoma fundamental o atrazo de um paciente.Ainda mais, Freud mostrou que o próprio médico já é um remédio.

    Como formar os médicos generalistas?

    O ensino deve comportar as ciências humanas, como a sociologia, porque os doentes não são separados do meio ambiente. Sobretudo, é preciso dar mais importância à clínica. Tive a sorte de não começar meus estudos de medicina

    numa faculdade, mas numa escola de medicina.O essencial do ensino era feito por médicos da cidade e não pelos grandes mestres da faculdade, que não se interessavam nem pelos estudantes nem pelos doentes. Durante os dois primeiros anos de estudos, os alunos iam todos os dias ao hospital. Os cursos teóricos eram feitos a tarde.Cada estudante atendia tres ou quatro doentes ao dia. Mergulhávamos na prática. Frequentemente,o chefe de serviço pedía para que explicássemos o que havíamos notado.Em seguida,   ele discutia conosco.

    Infelizmente, este tipo de ensino desapareceu completamente. Desde o primeiro ano de medicina,os estudantes são submetidos a uma inimaginável quantidade de noções físicas, químicas, matemáticas, etc.  Eles não vêm um único doente, sendo  imediatamente uniformizados pela medicina hipertécnica. As provas para avaliar suas capacidades e aptidões são de uma estupidez inenarrável.Parecem jogos televisuais! Seu único interesse é o de poder rapidamente atribuir uma nota aos alunos, sem levar em conta se eles são sensiveis às nuances, às circunstâncias. A formação deles é unilateral, hipertécnica e, ainda pior, terrorista ! Ela condiciona os médicos para o resto da vida. Por isto, não é surpreendente que os jovens médicos prefiram não escolher a medicina geral: eles só aprenderam a outra!Foram criados no cientifismo.

    A separação entre as duas medicinas é tão grande?

    Digo mais uma vez que as duas medicinas são indispensáveis, mas que elas estão separadas. A síntese das duas parece-me dificil. Há efetivamente duas medicinas, a clínica e a técnica. Os estudantes só são formados para a técnica. Ensinham-lhes apenas rudimentos sobre o colóquio singular, a interpretação, a importância da escuta, do palpar, do tocar. Ao se tornarem médicos, mesmo generalistas, eles deixam de fazer isto, desprezam todos esses gestos, todos esses rituais que só servem para mudar a relação com o paciente.

    Existe uma separação, um divórcio entre as duas concepções da medicina, separação que prejudica a medicina clínica, que está muito longe de ser revalorisada.Por sua vez, as medidas tomadas pelo governo são derrisórias.Esta dualidade da medicina sempre existiu.Não é um mal recente, pensemos na dualidade cirurgião-médico no Século XVIII,  ou, antes desta, na dualidade entre o médico e o farmacêutico, o médico e o algebrista(pessoa que‘’restaurava ossos deslocados ou fraturados’’).

    A atual separação é bem aceita?

    Não! Esta situação  descontenta os dois tipos de médicos. Eu encontro hipertécnicos muito traumatizados porque têm a impressão de terem sido transformados em máquinas. Eles querem recobrar o relacional. Felizmente, as associações de pacientes encorajam-nos a fazer isto. Existe uma nova disciplina que pode reconciliar clínicos e técnicos : a biotécnica, isto é o exame das condutas, do que podemos fazer ou não podemos fazer.A biotécnica é  um terreno comum às duas medicinas, ela coloca as duas em relação, permitindo-lhes de abordar, juntas, problemas dificeis que devem resolver.Refiro-me aos inúmeros problemas que necessitam a competência das duas medicinas. Por exemplo, sabendo-se que a jurisprudência autorisa a  interrupção médica da gravidez quando a radiografia mostra que o feto não tem braços, será que a futura mãe tem o direito de pedir a interrupção quando a imagem ecográfica mostra que o embrião  só tem um braço?

    Os médicos mais jovens estão satisfeitos com esta evolução porque ela permite o reconhecimento e oferece a possibilidade de  encontrar os meios de atenuar a separação entra as duas  medicinas.

     

    2. REVISTAS

    L’évolution pychiatrique

    L’information psychiatrique

    Impacte medecine

    La revue française de psychiatrie et de psychologie medicale 

    L’encephale

    Psychiatrie française

    L’autre, culture et societes

    3. ASSOCIAÇÕES

    Mission nationale d’appui en sante mentale

    Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp)

    Association française de musicotherapie (afm)

    Association art et therapie

    Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc)

    Association francophone de formation et de recherche en therapie comportementale et cognitive (afforthecc)

    Association de langue française pour l’etude du stress et du trauma (alfest)

    association de formation et de recherche des cellules d’urgence medico  psychologique (aforcump)

    Association pour la fondation Henri Ey


     


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